Como Identificar uma Ave?

A observação de aves é uma tarefa bastante fácil, tendo em conta a capacidade de adaptação que as aves apresentam. A tarefa torna-se difícil é quando se trata de identificar a espécie que observamos. É talvez este "desafio" que cativa as centenas de ornitólogos amadores por todo o mundo. Como é óbvio existem aquelas espécies que por os mais variados motivos nos são familiares e que por isso facilmente as identificamos e distinguimos umas das outras. São bons exemplos: o Pardal (Passer domesticus), o Pintassilgo (Carduelis carduelis), a Rola-Turca (Streptopelia decaocto), o tão conhecido Pombo-Correio que é uma versão domesticada do Pombo das Rochas (columba livia) que se encontra nas nossas cidades com um variadissimo leque de mutações, o Melro (turdus merula), o Pato-Real (Anas platyrhynchos) ou ainda a Cegonha Branca (Ciconia ciconia) um ícone do Alentejo. Todas estas aves são para nós fáceis de identificar e de diferenciar entre si quer pela sua morfologia quer pela sua coloração de plumagem. No entanto, numa saída de campo, a situação muda um pouco de figura pois deparamo-nos com uma panóplia muito grande de espécies, algumas das quais bastante semelhantes entre si. Um bom exemplo de semelhança é o grupo das limícolas que na europa existem mais de 40 espécies, das quais cerca de 30 podem ser observadas em Portugal.

Assim, o "truque" consiste em aprender a olhar para a ave não como um todo mas sim como uma associação de características, se formos isolando cada uma dessas características, alguma delas permitir-nos-á identificar a ave com que nos deparamos.

Essas caraterísticas são:

O Voo: Uma grande parte das observações concretizam-se quando a ave está em voo. Este contacto com a ave, em regra, dura apenas alguns segundos assim, é de extrema importância que consigamos obter o máximo de informação sobre o tipo e forma de voo para que facilmente identifiquemos a ave.

Exemplos:

-> As rolas têm um vou direto com batimentos fortes de asas (voo em linha reta)

-> Os tordos fazem um voo com ligeiras ondulações com batimentos de asas rápidos (voo em onda)

-> Algumas rapinas como o Peneireiro fazem "voo estático" a que se dá o nome de peneirar: é quando a ave fica a bater as asas, parada no ar, o que lhe permite fazer em seguida um "mergulho" em direção ao solo para capturar uma presa (voo estático)

A Morfologia: O tamanho e a estrutura da ave são características que permitem restringir o grupo a que a ave pertence. Estes parâmetros são normalmente avaliado por comparação com aves que estamos familiarizados. Grupos mais comuns: Limícolas, Rapinas, Patos, Andorinhas, Tentilhões...

Forma das Asas: Quanto a forma, as asas podem ser largas como as de um abutre ou um milhafre, pontiagudas como as do esmerilhão (falco columbarius), arredondadas como as da coruja-das-torres (Tyto alba) ou do Gaio (Garrulus glandarius), em angulo como as da perdiz-do-mar (Glareola pratincola), longas e estreitas como as do andorinhão-preto (Apus apus) ou ainda direitas como as da pardela-pequena (puffinus assimilis)

Forma da Cauda: pontiaguda como a do pato-de-cauda-afilada (Clangula hyemalis), bifurcada como a andorinha-dáurica (Hirundo daurica), chanfrada como a andorinha-das-rochas (Hirundo rupestris), arredondada como a do bútio-mouro (Buteo rufinus), quadrada como a da trepadeira-azul (Sitta europaea) ou ainda uma cauda cuneiforme como a do sisão (tetrax tetrax)

Forma e Dimensões do Bico: o bico pode apresentar as mais diversas formas, comprido e de ponta espalmada como o do colhereiro (Platalea leucorodia), comprido-espalmado como o do pato-trombeteiro (anas clypeata) comprido robusto como o da cegonha-preta (Ciconia nigra), comprido-encurvado como o do íbis-preto (plegadis falcinellus), comprido e curvado para cima como o do alfaiate (Recurvirostra avosetta), comprido-largo como o do pelicano-vulgar (Pelecanus onocrotalus), comprido e fino como o do perna-vermelha-escuro (Tringa erythropus), fino e curto como o de uma andorinha-dáurica (Hirundo daurica), fino curto e curvo como o do noitibó (Caprimulgus europaeus), em forma de gancho como o da águia-cobreira (Circaetus gallicus), cónico-curto como o do chapim-azul (parus caeruleus), cónico como o do cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis), cónico-robusto como o do papagaio-do-mar (Fratercula arctica), bico médio e forte como o do pica-pau-malhado-pequeno (Dendrocopos minor), fino e pontiagudo como o da carriça (Troglodytes troglodytes), em forma de punhal como o da trepadeira-azul (Sitta europaea), cruzado como o do cruza-bico (Loxia curvirostra) entre outros.

Comportamento: o comportamento que a ave adota pode ser um fator determinante na sua identificação. Ao passo que um pardal-montês (Passer montanus) saltita, a cotovia-pequena (Lulula arborea) caminha. O melro (Turdus merula) corre como o corpo inclinado para a frente e cabeça baixa. A trepadeira-comum (Cethia brachydactyla) consegue agarrar-se aos troncos, mesmo de cabeça para baixo. O noitibó (Caprimulgus europaeus) pousa com frequência na estrada, levantando voo quando já estamos bastante perto. O trigueirão (Miliaria calandra) pousa no galho mais alto da árvore para cantar. A garça-boieira (Bubulcus ibis) caminha junto ao gado, e chega a pousar em cima dos bovinos para se alimentar dos parasitas dos mesmos. O pilrito-d'areia (Calidris alba) e o pilrito-pequeno (Calidris minuta) avistam-se com frequência em bandos a correr a beira da água. O corvo-marinho-de-crista (Phalacrocorax aristotelis) nada como um pato mas desaparece em mergulhos súbitos ao passo que o pato costuma andar de "rabo no ar" com a cabeça submersa.

Onde e Quando foi Observada: é raro o praticante de bird-watching que não tenha o bloco de notas e é aqui que este se torna necessário - o local e data de observação são o cabeçalho de todas as folhas desse caderno, seguindo-se indicações sobre vento, humidade, luminosidade, uma lista com as aves que é possível observar nesse local e um espaço reservado às raridades que podem surgir nessa região. Com esta informação e com o auxílio dos mapas dos guias de aves, que apresentam a distribuição das aves consoante a época do ano, a identificação de uma determinada ave torna-se numa tarefa menos complicada e o risco de erro é reduzido.

Vocalização: Uma grande parte dos observadores conhece as vocalizações da maioria das aves do nosso país bem como das visitantes. O saber identificar uma ave através de um simples piado que vem do meio de um denso canavial, é sinonimo de poupança de tempo e esforço, uma vez que não andamos em busca de um vislumbre por entre as folhagens. É sem dúvida em campo que melhor se aprende e memoriza os chamamentos das aves mas para um principiante uma boa ferramenta é o youtube que através de uma pesquisa com o nome científico nos oferece uma enorme panóplia de vídeos em que é possível ouvir o chamamento da espécie. Ou neste site: http://www.bird-songs.com/index.php .