Olá, aluno(a), nesta lição, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a piscicultura, que é a criação de peixes com o objetivo de produzir uma carne de qualidade e de alto valor nutritivo. Diferentemente da pesca, em que nós pescamos (retiramos) os animais de seu habitat natural, na piscicultura os animais são criados em um ambiente controlado, com o objetivo de aumentar a sua produtividade.
A piscicultura é responsável pela criação de diversos empregos diretos e indiretos, sendo um importante ramo da produção animal. Vamos aprender um pouco mais!
Imagine que você queira iniciar uma produção de peixes em sua propriedade. Por onde você começaria? Qual seria o sistema de produção escolhido? Qual é o espaço disponível em sua propriedade para uma criação? Você escolheria construir tanques? Qual é a melhor espécie de peixe para a criação em sua região? Em relação à água, quais os cuidados necessários?
Ou ainda, imagine que seu primeiro emprego após formado seja auxiliando uma pessoa que está iniciando os trabalhos na criadores de peixes. Quais espécies você indicaria ao criador? Quais seriam os melhores alimentos para esses animais? Será que conseguiria opinar quanto à infraestrutura necessária para a atividade?
Ufa! São muitas coisas para aprender sobre a piscicultura, não é mesmo?
No case desta lição, trazemos a você a situação que aconteceu com um técnico em agronegócio. Ele estava em busca de seu primeiro emprego e foi chamado para auxiliar um produtor, que gostaria de iniciar uma produção de peixes. Esse produtor, apesar de boas condições financeiras para investimento, não possuía muitos conhecimentos sobre esse tipo de criação, visto que sempre atuou na produção de bovinos. Desta forma, ele necessitava de total auxílio.
O primeiro passo do técnico foi a análise da propriedade. Ele observou que o terreno era inclinado e havia uma fonte de água de qualidade na parte mais alta do declive, desta forma, indicou que os tanques poderiam ser construídos de forma a serem abastecidos por gravidade, o que diminuiria os gastos com o bombeamento de água – necessário em locais planos. Os viveiros foram construídos em tanques escavados, e após realizar uma análise da região, a espécie escolhida para a criação foi a tilápia. Também foi indicado que os peixes fossem comprados de um criatório já para a fase de engorda.
Com os ensinamentos e auxílio do técnico em agronegócio, o manejo foi realizado de maneira correta, mantendo a alimentação e a qualidade da água sempre em excelentes valores. O produtor também se empenhou em buscar mais conhecimento sobre a atividade e com o passar do tempo, os investimentos iniciais foram supridos com a produção e venda do pescado, e a criação começou a lucrar!
Esse case, apesar de fictício, nos mostra que a piscicultura pode ser uma excelente fonte de renda para o produtor e, principalmente, como o trabalho do(a) técnico(a) em agronegócio é importante para a atividade!
Piscicultura é o nome atribuído à criação de peixes com o intuito de produzir carne (pescado), alevinos ou peixes ornamentais. Nesta lição, nós aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a produção de carne (pescado). De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), essa modalidade de criação apresentou um grande crescimento no Brasil durante os últimos anos e movimentou a economia. Os autores ainda citam que na piscicultura a criação dos peixes é monitorada, sendo assim, as espécies são controladas desde o início de sua vida até o momento em que estão aptas para o consumo.
Existe uma grande variedade de espécies de peixes, entretanto, citaremos algumas espécies criadas para um fim comercial no Brasil. No entanto, por que é importante conhecê-las? Principalmente devido ao seu modo de criação! Algumas espécies precisam ser criadas em águas com maior temperatura do que outras, alimentação e manejo diferentes, o que impacta totalmente na produção e no resultado final! Além disso, alguns peixes são de água salgada, e outros de água doce, o que também impacta em sua criação. Vamos conhecer alguns tipos de peixes?
A tilápia é um dos principais peixes cultivados no Brasil. A espécie é nativa da África, sendo proibida a sua criação nos estados que compreendem a Bacia Amazônica, pelo risco da introdução de uma espécie não nativa na natureza. A temperatura ideal da água para a tilápia é em torno de 26 a 28 graus, entretanto, elas costumam ser criadas nos estados mais frios também, onde não é indicado que a temperatura da água seja menor que 12 graus.
É uma espécie natural da Amazônia, sendo muito cultivado no norte do país. Por ser um peixe tropical, o tambaqui necessita de águas quentes, em uma temperatura média de 25 até 32 graus.
Espécie originária da América do Norte, são considerados peixes de água fria. A temperatura recomendada da água é entre 15 e 17 graus, com limites de 0 a 25 graus.
São considerados peixes adaptáveis, ou seja, que sobrevivem em condições desfavoráveis. Toleram a temperatura da água de até 16 graus, entretanto, a temperatura ideal para o seu melhor aproveitamento é de cerca de 28 graus. São nativos do Rio Paraná, Paraguai e Uruguai.
A criação de peixes para fins comerciais pode ser dividida em três fases: alevinagem, recria e engorda. A divisão em fases auxilia a produção além de facilitar o manejo, pois cada fase possui as suas particularidades. Vamos entender melhor sobre cada fase:
É a etapa mais crítica da produção, o que requer muitos cuidados. É a fase de desenvolvimento dos peixes ainda filhotes. Normalmente os alevinos são criados em criatórios especializados, sendo vendidos quando já estão com o peso e tamanho ideal para as próximas fases. Na criação de tilápias, os alevinos pesam entre 5 e 10 gramas.
Período que se inicia após a fase de filhote (alevinos) e vai até a fase juvenil. Alguns locais criam os peixes até a fase juvenil, e os vendem diretamente para a engorda, enquanto outros produtores compram os alevinos para a fase de recria. Em tilápias, os peixes juvenis pesam de 10 a 50 gramas.
Fase em que o peixe ganha peso para o abate, que em tilápias ocorre entre 700 gramas e 1 kg. Durante essa fase, as tilápias ganham em média 4 a 5 gramas de peso por dia.
A criação de peixes pode ser dividida em quatro sistemas, sendo estes:
Sistema Extensivo.
Semi-intensivo.
Intensivo.
Superintensivo.
Vamos conhecer cada um desses sistemas de forma mais detalhada a seguir.
Nesse sistema de criação não ocorre o emprego das tecnologias existentes para o controle da criação. Não há fornecimento de ração e a qualidade da água não é controlada. Desta forma, basicamente, os animais são criados em lagos ou represas, onde ficam até a sua captura. O local pode ainda contar com o policultivo, ou seja, a criação de várias espécies diferentes em um mesmo local. Devido à baixa produtividade, a produção extensiva é utilizada apenas para subsistência.
Nesse sistema, os animais geralmente ficam alojados em lagos ou represas, da mesma forma que no sistema extensivo. Entretanto, há o fornecimento de alimentos aos peixes, o que resulta na melhora do ganho de peso e consequentemente da produtividade da criação. O policultivo também costuma ser utilizado nesse sistema.
O sistema intensivo se caracteriza pela construção de locais específicos para a criação dos peixes, denominados viveiros (tanques). O monocultivo (apenas uma espécie) é o mais utilizado, para que o ambiente esteja de acordo com as características desejadas para a espécie.
Os chamados viveiros (tanques) são construídos na terra escavada e são abastecidos por gravidade – quando a fonte de água (represa, rio, nascente) está um nível acima das construções –, ou por bombeamento da água – quando a fonte de água e os tanques encontram-se no mesmo nível. Há ainda o chamado canal de deságue, que auxilia na drenagem da água que irá para tratamento em filtros, retornando ao sistema por bombeamento.
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), o sistema de recirculação da água – que é um método muito utilizado nesse tipo de criação e visa a reutilização da água – é seguro e economicamente viável, além do uso racional da água. Todavia, os autores afirmam que é importante o controle de alguns pontos no sistema intensivo como a temperatura da água, os níveis de oxigênio dissolvido, a amônia e o nitrito – que são controlados pela combinação de troca de água, aeração e biofiltração.
O sistema superintensivo é caracterizado pela alta densidade de povoação, que pode variar de 20 até 100 peixes/m². Para que seja um sistema eficiente, a água deve ser renovada constantemente para a remoção dos dejetos e restos de comida dos animais. A alimentação ocorre através do fornecimento de ração balanceada e o monocultivo é sempre o escolhido. Existem duas principais formas de criação de peixes no sistema superintensivo, sendo essas:
Estruturas flutuantes em que os peixes ficam confinados em reservatórios de água maiores, o que permite o fluxo de água e dos dejetos dos peixes (CODEVASF, 2019).
Tanques de concreto, fibra ou alvenaria com fluxo contínuo de água são chamados de raceways. O fluxo contínuo permite a maior oxigenação da água, o que permite a criação em sua maior densidade.
A qualidade da água é um ponto de extrema importância na criação de peixes, especialmente nas criações intensivas e superintensivas, em que o controle mais rigoroso da água é realizado. De qualquer forma, você já deve ter visto casos em que os peixes aparecerem todos mortos em um rio ou lago e, dentre tantas causas, a alteração das características da água pode levar a diminuição da produção, do peso e em caso mais graves, a morte dos peixes.
Para criar peixes em qualquer sistema, é necessário também “criar a água”, pois há diversos fatores físicos e químicos da água que interferem diretamente no sucesso da criação (CODEVASF, 2019). Os principais fatores são: temperatura, potencial hidrogeniônico (pH), oxigênio dissolvido, transparência e amônia, vejamos com mais detalhes esses fatores.
Este fator precisa ser constantemente monitorado. Como visto anteriormente, cada espécie de peixe adequa-se melhor a uma faixa de temperatura. Uma temperatura inadequada pode levar a diminuição do consumo de alimento e consequentemente do ganho de peso do animal, aumentar o risco de doenças e parasitas e, em casos extremos, aumentar a taxa de mortalidade da criação (CODEVASF, 2019).
Outra questão é em relação a mudança brusca de temperatura da água. Por isso, ao introduzir novos peixes em um local, deve-se colocá-los em contato com a água do tanque ainda dentro de um recipiente com a água em que ele estava anteriormente, e ir realizando essa troca lentamente. A temperatura pode ser medida utilizando um termômetro de mercúrio ou aparelho digital, e é frequentemente realizada às 6 da manhã e às 17 horas, a aproximadamente 20 cm de profundidade. É importante que os animais não sejam alimentados ou manejados (captura e transporte) quando a temperatura não esteja adequada (SENAR, 2017).
Para que haja vida em um corpo d'água, esta precisa ter uma quantidade adequada de oxigênio dissolvido (OD) para que os peixes possam respirar! Quando há muita matéria orgânica no tanque, como excretas e restos de ração, as bactérias utilizam o oxigênio da água para a degradação dessa matéria orgânica, o que diminui a oxigenação da água. Por isso é tão importante a renovação da água, além de atentar-se à capacidade do tanque em relação à densidade populacional. A medição de OD pode ser realizada com um aparelho eletrônico chamado de Medidor de Oxigênio Dissolvido.
O pH é um indicativo do nível de acidez da água e é influenciado pelo solo. Quando o valor do pH é 7, dizemos que está neutro. Abaixo de 7 é um pH cada vez mais ácido, e acima de 7 é um pH cada vez mais básico. Além da influência da acidez do solo, o pH pode ficar mais ácido também por ação da respiração dos peixes, especialmente durante a noite, mas voltando a neutralidade durante o dia, através da fotossíntese realizada pelos fitoplanctons, que estão nos viveiros. A maioria dos peixes se desenvolvem bem em uma faixa de pH de 6,5 a 8, valor que pode variar de acordo com cada espécie. O pH pode ser medido por um kit químico ou um aparelho eletrônico chamado peagâmetro (SENAR, 2017).
É excretada pelos peixes na água, sendo resultado da digestão de proteínas. Quando em grande quantidade, pode prejudicar a saúde e o crescimento dos peixes, especialmente quando o pH está acima de 8 (elevado) (SENAR, 2017).
A transparência é importante, pois indica se a luz solar está penetrando na água. Os fitoplanctons (microalgas), que estão presentes nos viveiros, produzindo oxigênio na água através da fotossíntese, são dependentes de luz. Entretanto, se houver uma quantidade excessiva de fitoplâncton, a água estará verde escura e também atrapalha a entrada de luz e a oxigenação.
O ideal é uma água da cor verde, com transparência entre 40 e 60 cm de profundidade. A argila presente em grandes quantidades na água também pode atrapalhar a entrada de luz, além de machucar as brânquias dos alevinos (filhotes), prejudicando o crescimento e saúde destes (SENAR, 2017).
Para medir a transparência da água, utilizamos um equipamento chamado Disco de Secchi, que é um disco comumente pintado de branco e preto, formando uma espécie de triângulos. Ao mergulharmos o disco na água, registramos a profundidade na qual não é mais visível o seu padrão gráfico.
E a alimentação?
Assim como na produção de outras espécies, a alimentação dos peixes representa 60% a 70% do custo de produção de um peixe. Na piscicultura, além da alimentação estar relacionada à produtividade do animal, ainda está relacionada à qualidade da água, como visto anteriormente.
As rações são balanceadas por um profissional capacitado (geralmente um zootecnista) para atender a todas as exigências nutricionais dos peixes. A ração extrusada é a mais indicada, pois facilita o manejo alimentar, por ser mais estável na água, ao contrário das rações fareladas, por exemplo. Ademais, o ideal é que a ração fique na superfície da água, pois gera menor acúmulo de resíduos na água. Os peixes devem ser alimentados no mínimo 2 vezes ao dia, mas esse número pode mudar de acordo com a fase de vida do peixe.
A tilápia é a espécie de peixe mais produzida no Brasil, sendo responsável por mais de 60% da piscicultura brasileira, e o Brasil é o quarto maior produtor de tilápias do mundo, e o estado do Paraná é o maior produtor de tilápias do Brasil. Já em relação às espécies nativas brasileiras, a produção ainda não é tão alta, especialmente devido a questões ambientais e falta de apoio governamental, além das dificuldades de mercado.
O Brasil também exporta o seu produto. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2022), os maiores compradores do Brasil foram os Estados Unidos, o Canadá e a Líbia, sendo que a tilápia foi o peixe mais exportado, somando 98% das exportações!
A piscicultura vem crescendo a cada ano, mesmo com o consumo pela população ainda sendo considerado baixo em nosso país. Esse crescimento ocorreu graças aos investimentos em qualidade e segurança na produção. Além disso, o melhoramento genético das tilápias também vem sendo realizado e, junto com boas instalações e o manejo correto, a produção tende apenas a aumentar.
Caro(a) aluno(a), nesta lição, você aprendeu um pouco mais sobre a piscicultura, que é a criação de peixes com o intuito de produzir carne (pescado).
O Brasil vem crescendo a cada dia na produção de peixes, devido aos avanços em genética, sanidade e manejo, além do fortalecimento da cadeia produtiva dos pescados. Entretanto, muito ainda pode e deve ser feito, para que possamos aproveitar todo o potencial produtivo do nosso país – e, você, como técnico(a) em agronegócio(a), pode auxiliar nesta empreitada!
CASTRO, F. S.; VASCONCELLOS, P. R. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Viçosa: Editora UFV, 2016. E-book. ISBN 9788595029293.
CODEVASF. Criação de peixes em tanques-rede. 2019. Disponível em: https://www.codevasf.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/biblioteca-geraldo-rocha/publicacoes/manuais/manual-de-criacao-de-peixes-em-tanques-rede.pdf. Acesso em: 27 abr. 2023.
SENAR. Piscicultura: fundamentos da produção de peixes. 2017. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/195-PISCICULTURA.pdf.Acesso em: 27 abr. de 2023.
MAPA. Exportação de pescados dobra no primeiro semestre de 2022. Notícias, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias-2022/exportacao-de-pescados-cresce-100-no-primeiro-semestre-de-2022#:~:text=A%20exporta%C3%A7%C3%A3o%20de%20produtos%20da,de%20Piscicultura%20(Peixe%20BR). Acesso em: 10 abr. 2023.