Olá, aluno(a)! Nesta lição, você aprofundará os seus conhecimentos sobre a Suinocultura, nome atribuído à criação de suínos em que o objetivo é produzir carne e seus derivados.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne suína do mundo, graças às pesquisas e às atualizações em relação à genética, à nutrição e à sanidade na suinocultura, sendo uma produção com uma cadeia produtiva organizada. Ademais, a carne suína também é uma das mais consumidas em nosso país. O setor de suinocultura é, portanto, essencial para o agronegócio, e o entendimento sobre essa criação é de extrema importância para você que será em breve um(a) Técnico(a) em Agronegócio!
Imagine que você queira iniciar uma criação de suínos em sua propriedade. Você consegue imaginar todas as decisões que precisam ser tomadas? Escolheria ser um(a) produtor(a) autônomo(a) ou integrado(a)? E se fosse autônomo(a)? A quem venderia seu produto? Qual o modelo de criação a ser escolhido? Escolheria a construção de uma granja de ciclo completo? E em relação à mão de obra e à biosseguridade do local? Ufa! São muitas decisões a serem tomadas antes de iniciar essa criação!
Você já consegue responder a algumas dessas perguntas, pois alguns assuntos já foram estudados previamente neste curso. Entretanto você perceberá que há diferenças importantes na criação de suínos em relação às criações estudadas até esse momento. Vamos em frente!
Um Técnico em Agronegócio foi chamado para auxiliar uma criadora de suínos, chamada Mariana, que gostaria de tecnificar a sua criação, para esta ser mais competitiva e aceita no mercado. Mariana não participava de uma cooperativa e precisava que a sua granja produzisse maior número de animais para o abate por semana, com maior uniformidade no peso desses animais, além, é claro, de estarem saudáveis, para que pudesse suprir a demanda de um frigorífico da região, que exigiu quantidade e padrões de qualidade para comprar o seu produto.
Em um primeiro momento, uma análise geral foi realizada por todo o local, e algumas mudanças foram sugeridas. A primeira sugestão foi a plantação de árvores não frutíferas ao redor das instalações, pois elas atuariam como uma “barreira verde”, evitando a entrada de possíveis patógenos pelo vento. Ademais, um arco de desinfecção foi instalado na entrada para os carros. Os funcionários e qualquer pessoa que adentrasse as instalações, também, deveriam tomar banho e utilizar roupas apropriadas. Afinal, a ocorrência do surto de alguma doença poderia levar ao sacrifício dos animais e a perdas econômicas seríssimas.
Foi estabelecido, também, o manejo dos animais visando a formação de lotes homogêneos. Um grupo de fêmeas passou a ser inseminado no mesmo dia, para que tivessem seus filhotes juntas. Para que os nascimentos ocorressem no mesmo dia, o parto era induzido por meio da aplicação de hormônios. O número de fêmeas da granja deveria permitir o nascimento de um número x aproximado de leitões toda semana e, para isso, precisou-se investir em novas instalações e na compra de novos animais. Afinal, haveria fêmeas parindo, gestantes, amamentando, vazias e prontas para serem inseminadas. Os filhotes, por sua vez, eram criados em lotes, os quais seguiam juntos durante todas as fases da criação. Por fim, a ração foi balanceada e formulada para cada categoria, e o calendário vacinal era rigorosamente respeitado. Com o passar do tempo e as adequações de manejo, a produção se tornou cíclica e homogênea, atendendo ao frigorífico comprador, que adquiria a quantidade e qualidade esperada.
Esse case, mesmo que fictício, mostra-nos que há muito trabalho e detalhes na produção de suínos. Vamos aprofundar o conhecimento nesse assunto?
Suinocultura é o nome atribuído à criação de suínos para a produção de carne e seus derivados. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne suína do mundo, e, para que esse índice de produtividade fosse alcançado, ocorreram vários avanços nas últimas décadas em relação à genética, à nutrição, à ambiência e ao manejo, além da organização da cadeia produtiva (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
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Existe diferença entre um porco e um suíno? Antigamente, os porcos caipiras eram criados em condições precárias, sem os cuidados necessários, e chegavam até a se alimentar de fezes humanas. Por isso, várias ideias passaram de geração em geração, dando a entender que a carne suína não era saudável, além de ser uma carne com alto teor de gordura (tipo banha). Atualmente, por meio do melhoramento genético, das medidas sanitárias e de biosseguridade e do manejo nutricional eficiente, a carne suína é uma das mais saudáveis do mundo, e a esses animais nós damos o nome de suínos. Por isso, ao visitar uma criação tecnificada, lembre-se: são suínos! Entretanto, no dia a dia, as fêmeas reprodutoras costumam ser chamadas de porcas. Esteja atento(a)!
Como Técnico(a) em Agronegócio(a), você precisa saber as principais categorias de suínos e fases de criação da suinocultura, sendo elas:
Leitão: nome dado ao suíno desde o nascimento até o final da fase de creche.
Marrã: fêmea em fase de crescimento ou terminação, que, ainda, não foi utilizada para a reprodução.
Matriz: fêmea adulta utilizada para a reprodução, após o primeiro parto. OBS: em uma criação, existirão as chamadas avós, que produzirão as matrizes da granja. As melhores filhas das avós serão as futuras matrizes, e todas as filhas das matrizes serão para terminação e abate. Essa diferença ocorre porque a genética das avós é voltada para a produção de filhas férteis, enquanto a genética das matrizes é voltada para filhotes com alto rendimento de carcaça!
Cachaço: macho adulto utilizado para a reprodução, seja por monta natural, seja por coleta de sêmen. Alguns machos são utilizados apenas para a detecção de cio, pois as fêmeas no cio apresentam sinais característicos ao entrar em contato com o macho, o que significa que podem ser inseminadas.
Leitegada: nome atribuído ao conjunto de leitões nascidos de uma mesma matriz. Uma matriz pode dar à luz de oito a 15 filhotes por vez, e, caso uma fêmea não tenha muitos ou filhotes muito fracos por duas ou três gestações seguidas, ela será descartada e substituída por uma marrã.
A produção de suínos, também, é dividida em fases, o que é importante visto que os cuidados mudam de acordo com cada fase e, principalmente, a alimentação também muda. Por exemplo: animais na fase de creche possuem uma exigência nutricional diferente de animais na fase de terminação, assim como matrizes que não estão gestantes possuem necessidades nutricionais diferentes de fêmeas gestantes ou amamentando. Por isso, os animais são agrupados e colocados em alas diferentes da granja, de acordo com a sua fase de vida. As fases são divididas da seguinte forma:
Essa fase pode englobar, também, os períodos de reprodução e gestação. As fêmeas inseminadas são transferidas para a maternidade sete dias antes da gestação, que dura três meses, três semanas e três dias. Na maternidade, os leitões nascem e ficam até aos 28 dias de idade. Após o desmame, a fêmea volta para o setor de gestação, onde será inseminada novamente.
Após o desmame, os leitões ficam em um galpão, denominado creche, até, aproximadamente, 70 dias de idade. Nesse período, a temperatura é controlada para que fique em torno de 25 graus. A alimentação, também, é controlada, com a ração sendo trocada gradativamente, evitando, assim, episódios de diarreia, comuns nessa fase.
Nesse período, os animais são separados por peso, formando lotes (grupos) de dez a 20 animais. A taxa de crescimento dos animais é acelerada, porém não são mais filhotes. Geralmente, os suínos entram nessa fase entre 60 e 70 dias de vida, pesando entre 25 e 30 kg, e saem, aproximadamente, aos 100 dias, pesando em torno de 60 kg.
Período em que os animais são alimentados para que alcancem as características de carcaça desejadas pelo mercado, como o peso de abate, que, geralmente, ocorre de 130 a 150 dias, pesando de 90 a 100 kg. Algumas criações realizam o abate de suínos pesados, com média de 130 kg, e em torno de 160 a 170 dias de idade.
Observação: na suinocultura utiliza-se o sistema all in all out, sendo traduzido como “todos dentro e todos fora”. Isso significa que um grupo de animais deve iniciar e terminar uma fase ao mesmo tempo, para que as instalações sejam higienizadas, além de ficarem alguns dias sem a presença de animais, o chamado vazio sanitário. Essa prática é de extrema importância para manter a biosseguridade da granja!
Existem quatro sistemas de produção de suínos, que são classificados conforme o manejo dos animais, sendo eles:
Sistema Extensivo, ou à Solta.
Sistema Semiextensivo.
Sistema Intensivo de Suínos Criados ao Ar Livre (Siscal).
Sistema Intensivo de Suínos Confinados (Siscon).
Independentemente do sistema utilizado, quanto mais distante a criação estiver de estradas, de outras criações e de outras espécies animais, mais protegidos estarão os suínos contra possíveis patógenos (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). Por esse motivo, as instalações são comumente construídas em locais afastados. Além disso, árvores não frutíferas costumam ser plantadas ao redor da criação, atuando como uma barreira verde contra a disseminação de possíveis patógenos, além da desinfecção dos carros que adentrem a propriedade. Lembre-se, a biosseguridade de uma granja é um ponto crucial para o sucesso da produção! Na suinocultura, nós damos o nome de granja às instalações onde ficam os animais, assim como ocorre nas aves.
De acordo com Carvalho e Viana (2011), o sistema extensivo é observado em pequenas criações de subsistência, utilizados, apenas, para o autoconsumo. Nesse sistema, os animais não são divididos em categorias, não havendo diferença na alimentação entre eles. Dessa forma, os animais podem ser criados em conjunto com florestas de pinhos ou pomares, sendo alimentados com restos agrícolas ou de cozinha. Nesse contexto, a criação extensiva não possui importância técnica na cadeia produtiva de suínos.
Nesse sistema, os animais são separados por idade e sexo e ocorre o manejo reprodutivo por meio da seleção dos melhores animais do plantel para serem os pais da próxima geração. Há, ainda, a utilização de instalações para abrigo dos animais e piquetes de contenção. Nesse sistema, as taxas produtivas podem ser melhores por meio do manejo alimentar e sanitário (CARVALHO; VIANA, 2011; CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
No Sistema SISCAL, os animais são mantidos em piquetes nas fases de reprodução, maternidade e creche, para que possam exercer seu comportamento natural, além de conseguirem se movimentar melhor (SILVA et al., 2014). Já as fases de crescimento e terminação ocorrem em confinamento. Esse sistema vem sendo utilizado por alguns produtores que criam leitões para vendê-los para o confinamento, as chamadas Unidades Produtoras de Leitões (UPL), e vem conquistando adeptos devido ao desempenho dos animais e ao menor custo de implantação e manutenção (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Neste sistema, os animais são criados confinados no menor espaço possível, recebendo uma ração específica para cada fase de sua vida, além da assistência técnica especializada (CARVALHO; VIANA, 2011). O manejo ocorre de forma sincronizada, para que as fêmeas entrem no cio ao mesmo tempo, os filhotes nasçam ao mesmo tempo e os lotes formados sejam uniformes, além de apresentarem rotatividade. Entretanto o custo das instalações é alto, além dos problemas em relação ao bem-estar animal e ao manejo dos dejetos. Uma das formas utilizadas para manejo dos dejetos são os biodigestores. Estes utilizam o meio de decomposição por meio de microrganismos anaeróbios (que não utilizam oxigênio) produzindo biofertilizantes e gás por meio da decomposição da matéria orgânica. Os fertilizantes podem ser utilizados em plantações, e o gás pode atuar como fonte de energia sustentável.
As figuras, a seguir, mostram alguns modelos de suínos no sistema de confinamento:
Como em todas as criações, a genética, a sanidade e o manejo trabalham juntos, também, na produção de suínos, além, é claro, da ambiência e do bem-estar dos animais. O primeiro passo para uma criação de qualidade é adquirir suínos de granjas certificadas. Existem granjas reprodutoras cuja principal função é a produção de reprodutores e matrizes para as granjas produtoras de suínos terminados, por exemplo. Podemos dizer que essas empresas vendem a Genética. Aos pais dos reprodutores nós damos o nome de avós.
Existem criações de diversas formas! Alguns produtores compram, apenas, as doses de sêmen para a inseminação de suas matrizes, enquanto outros criam o reprodutor em suas instalações. Tudo dependerá das características da propriedade, das instalações e das escolhas do produtor, e caberá ao(à) profissional auxiliá-lo nessas escolhas.
Alguns produtores apenas produzem leitões até a fase de recria, as chamadas Unidades Produtoras de Leitões (UPL), vendendo esses animais para Unidades Terminadoras (UT), sendo que, nesse caso, o produto final de uma UPL é o leitão. Já outros produtores possuem as chamadas Granjas de Ciclo Completo, ou seja, criam os animais desde o seu nascimento até o abate em uma mesma propriedade. Seja qual for o sistema de criação e produto escolhido, cuidados em relação à biosseguridade, à sanidade, à limpeza e à ambiência serão sempre prioridade.
Como dito anteriormente, os veículos que adentrarem a propriedade devem passar por um arco de desinfecção, o que evita a entrada de microrganismos patogênicos vindos de outras propriedades. Pessoas que adentrem a granja devem utilizar roupas especiais, além de tomar banho ao entrar e sair das instalações. O ideal é que, ao visitar uma granja, não adentre outra granja por um período de 48 a 78 horas, o chamado vazio sanitário, também utilizado nos galpões nas mudanças de lote. Nesse último caso, o recomendado são sete dias entre a saída de um lote e a entrada de outro lote, sendo um dia para limpeza, um dia para desinfecção e cinco dias de descanso.
As baias devem ser limpas diariamente, evitando o acúmulo de fezes, e devem ter espaço para que os animais possam deitar e se virar, não sendo superlotadas. Cortinas são usadas para a manutenção de uma temperatura agradável, sendo que os filhotes necessitam estar sempre aquecidos, enquanto os suínos adultos precisam de um ambiente mais fresco. Lembre-se: a ambiência também é fundamental para bons resultados!
Por fim, a alimentação dos suínos será formulada por um profissional capacitado, para que atenda às necessidades de cada fase da vida do animal. Uma má alimentação pode levar a perdas tanto produtivas (crescimento e peso ao abate) como reprodutivas (perdas gestacionais, nascimento de poucos filhotes e baixo peso ao nascimento), levando a impactos econômicos na produção. Suínos criados em sistema de confinamento são alimentados, exclusivamente, com ração concentrada, e a água deve ser à vontade, limpa e fresca.
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Você sabe como funciona um arco de desinfecção? Procure nas plataformas de pesquisa imagens e vídeos para conhecer o funcionamento desse equipamento essencial para a higiene das granjas! Basicamente, esse arco promove uma limpeza nos veículos antes de adentram os espaços de criação animal.
A suinocultura possui grande importância na economia brasileira. De acordo com a Embrapa (2022), em 2021 foram produzidas 4,701 milhões de toneladas de carne suína. Dessa produção, 76% destinaram-se ao mercado interno, e 24%, ao mercado externo. Tais números fazem o Brasil ser o quarto maior produtor e, também, o quarto maior exportador do mundo. Esses resultados só são possíveis graças à sua cadeia produtiva organizada, à tecnificação de sua produção e aos cuidados em relação à genética, à sanidade, ao manejo e à ambiência.
A cadeia produtiva da suinocultura pode ser constituída tanto de produtores independentes quanto do sistema de integração. No caso de produtores independentes, estes adquirem seus animais e insumos vendendo o produto final diretamente para frigoríficos, sendo pagos de acordo com a qualidade dos animais (carcaça).
No sistema integrado, a empresa integradora (agroindústria) fornece os animais e os insumos, além da orientação técnica, com o produtor contribuindo com as instalações e mão de obra. No final, os produtores são pagos de acordo com a sua produção no momento da entrega do animal para o abate, ou seja, toda a produção do suinocultor será para a empresa contratante. Esse sistema vem sendo cada dia mais utilizado, pois há uma garantia de mercado (comprador) para os animais, mesmo em épocas de alta demanda de animais disponíveis para a venda.
Querido(a) aluno(a), a suinocultura é um sistema de produção já consolidado em nosso país, com uma cadeia produtiva organizada e alta produção. Graças aos investimentos em genética, nutrição e sanidade e aos pesquisadores da área! Entretanto, como em todas as criações, possui os seus desafios; por isso, a produção deve ser sempre acompanhada de profissionais capacitados e eficientes, o que levará ao aumento da eficiência e lucratividade dessa criação, mantendo o nosso país entre os maiores produtores e exportadores do mundo. Por ser um ramo com alta demanda de mercado, você, como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, deve conhecer todas as características e a sua cadeia de produção!
CARVALHO, P. L. C.; VIANA, E. F. Suinocultura SISCAL e SISCON: análise e comparação dos custos de produção. Custos e Agronegócio, v. 7, n. 3, 2011.
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.
EMBRAPA. Estatísticas. 10 maio 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/estatisticas. Acesso em: 29 mar. 2023.
SILVA, T. C. et al. Influência dos sistemas de criação siscal e convencional sobre os valores de pH da carne suína. Enciclopédia Biosfera, v. 10, n. 19, 2014.
PEXELS. Suínos confinados. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/cela-gaiola-animais-domesticos-animal-da-fazenda-11913098/. Acesso em: 17 de março de 2023.
PEXELS. Suíno no celeiro. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/agricultura-animal-bicho-celeiro-4636983/. Acesso em: 17 de março de 2023.
PEXELS. Suínos em baias. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-animal-fotografia-de-animais-animais-bichos-6791938/. Acesso em: 17 de março de 2023.