Caro(a) aluno(a), nesta lição, você poderá se aprofundar nos conhecimentos a respeito dos principais sistemas utilizados na criação dos animais de produção, os quais podem ser classificados de acordo com o que eles produzem (leite, ovos, carne), bem como segundo a forma como são criados. Se fizer uma rápida pesquisa por imagens na internet relacionadas à bovinocultura e ovinocultura, por exemplo, você encontrará fotos de animais em diferentes condições. Alguns estarão soltos em uma grande pastagem. Outros estarão confinados, recebendo ração no cocho.
As diferentes formas de criar um animal são chamadas de Sistemas de Criação. Conhecer cada uma delas é muito importante, porque um produtor irá criar um animal de acordo com a sua espécie, raça e objetivo final de sua produção.
Você conhece alguém que trabalha com a criação de animais? Já parou para pensar quais os desafios que um criador enfrenta? Se você respondeu sim para alguma das perguntas, provavelmente tem conhecimento de que a criação de animais, especialmente para a produção (ou seja, visando o retorno econômico), não é simples. Por isso, é necessário estudar diversos aspectos antes de escolher o Sistema de Criação, visto que a resposta do animal à produtividade e ao retorno econômico ocorrerão de acordo com o sistema escolhido.
Se você fosse começar com a criação de animais de produção, o que estudaria antes de escolher o sistema de criação? Talvez nesse momento, você não consiga identificar e pensar em todos os pontos necessários, mas isso é o que vamos aprender nesta lição! Para adiantar um pouco o que estudaremos, um produtor precisará conhecer as necessidades fisiológicas e nutricionais do animal, além de compreender como o modelo de criação influencia em sua produção. O produto final também é outro ponto de importância, pois a escolha do sistema também será de acordo com o produto final desejado. Por isso, é importante que você compreenda quais são esses sistemas e quais são os seus impactos em relação à produtividade.
Para que você possa entender melhor a importância dos sistemas de criação, nós podemos citar o caso de uma produtora rural chamada Eliana, que possuía uma grande criação de bovinos de corte. A sua fazenda era extensa e seus animais eram criados soltos na pastagem, praticamente, de modo selvagem. Esses animais não eram suplementados com ração no cocho, por isso precisavam percorrer longos caminhos pelo pasto, para que conseguissem todos os nutrientes necessários. Os machos e as fêmeas ficavam juntos. Por essa razão, a todo momento, havia fêmeas prenhes (gestantes). O parto das fêmeas também ocorria de forma natural, sem auxílio humano.
Eliana não tinha muitos gastos com esses animais, afinal ela não comprava ração ou medicamentos. Ela também não investiu em instalações e novas tecnologias. Porém, devido a esses fatores, a produção desses animais era baixa, visto que eles demoravam longos períodos para ganhar peso. Como a qualidade sanitária da criação também não era a mais adequada, o seu produto não era vendido por um bom preço, visto que os melhores compradores eram também os mais exigentes.
Eliana queria melhorar a rentabilidade de sua produção. Para isso, contratou um técnico em agronegócio. Esse profissional a auxiliou com a mudança do sistema de criação em sua propriedade. A criação de Eliane saiu do sistema extensivo, ou seja, de criação solta, para o sistema intensivo, onde o controle dos animais é muito maior. Para que isso fosse possível, fez-se necessário o investimento em novas instalações, tecnologias, manejo nutricional, ambiência e reprodução. E não foram investimentos baixos! Porém, após a implementação do novo sistema, os animais engordavam mais rapidamente, a taxa de nascimento era monitorada e o controle sanitário agregou valor ao seu produto final. Geralmente maiores investimentos, resultam em maiores lucros!
Os Sistemas de Produção Animal podem ser definidos como o conjunto de tecnologias e de manejo dos animais, visando à espécie, raça, meio ambiente, objetivo e rentabilidade (lucro) da produção (ABREU; LOPES, 2005).
O sistema de criação deve ser escolhido de acordo com os objetivos que o produtor quer alcançar. Para isso, é necessário conhecer as características de cada sistema (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
O Sistema Extensivo de Produção Animal é baseado na criação dos animais com pouca tecnologia, ou seja, aproveitando ao máximo os recursos naturais da propriedade rural, como os rios e pastagens. Em resumo, os animais são criados “soltos no pasto”, onde se alimentam conforme a sua vontade, vão até o rio para beber água e circulam livremente pela pastagem. Utiliza-se o mínimo possível de equipamentos, instalações e mão de obra (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). Por isso, esse sistema é caracterizado por possuir um menor número de animais por unidade de superfície, pouca inovação tecnológica e baixa produtividade por animal (ABREU; LOPES, 2005).
Essa menor produção ocorre devido a alguns fatores:
Um bovino que se alimenta apenas de pastagem nativa (ou seja, apenas do que nasce naturalmente na região de criação) ganhará menos peso do que um animal alimentado com uma dieta balanceada.
Outro fator é o de que esse boi criado “solto”, muitas vezes, precisará percorrer longas distâncias atrás do alimento, o que o faz gastar mais energia e, consequentemente, demorar mais para ganhar peso (ABREU; LOPES, 2005).
Outro fator que influencia esse sistema é a sazonalidade, visto que em muitos locais do país ocorre o período seco, em que a pastagem estará escassa, o que acarretará mais perdas para o produtor.
Alguns produtores, visando à melhor eficiência da produção, fazem o manejo da pastagem desses animais, plantando espécies que sejam mais nutritivas, o que melhora o desempenho da produção, entretanto, a produção ainda se mantém baixa em relação aos outros sistemas. Podemos dizer que os gastos com a produção extensiva são menores, porque não há um grande investimento por parte do produtor. Os ganhos, no entanto, também são menores.
O Sistema Semi-Intensivo pode ser definido como um “meio termo” entre o Sistema Extensivo e o Sistema Intensivo. No modelo semi-intensivo, os animais possuem acesso ao pasto, porém, recebem uma suplementação alimentar no cocho. Nesse sistema, realiza-se o monitoramento zootécnico (anotações sobre a vida produtiva e reprodutiva de cada animal) e o controle sanitário, o que não ocorre no Sistema Extensivo. O animal, portanto, recebe maiores cuidados e parte da sua alimentação é fornecida no cocho, o que é importante especialmente nos períodos do ano em que a pastagem está escassa. Porém, o animal ainda precisa caminhar pela pastagem para obter todos os nutrientes necessários à sua produção, o que o faz gastar energia.
O Sistema Semi-Intensivo, portanto, necessita de um maior investimento, especialmente em relação a instalações, equipamentos e tecnologia, mas os animais ainda não expressam todo o seu potencial de produção. Geralmente, tais cuidados extras visam especialmente ao bem-estar animal, essencial para a maioria dos compradores (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
No Sistema Intensivo, os animais são criados em confinamento, onde recebem uma nutrição especialmente formulada para atender todas as suas necessidades, todas as vacinas exigidas, além de não precisarem caminhar longas distâncias atrás de alimentação. Esse sistema é o que exige maior investimento para a sua implantação, uma vez que necessita de instalações para a manutenção da saúde, produção e bem-estar dos animais. Ele é, no entanto, o sistema que apresenta maior produção!
No Sistema Intensivo, conseguimos controlar grande parte do que acontece durante a criação, inclusive a temperatura, já que os animais ficam estressados quando sentem muito frio ou calor, fator que afeta a sua produtividade. Existem algumas produções, como a dos frangos de corte industrial, que são feitas exclusivamente no sistema de criação intensivo (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Entre os principais benefícios do sistema intensivo, está a padronização dos produtos. Praticamente tudo é planejado e controlado, como a reprodução e o nascimento da progênie (filhotes). Dessa forma, o produtor terá o controle de todo o ciclo de vida desse animal, que será alojado e alimentado de acordo com o objetivo de sua produção (ovos, carne, leite etc.). Esse produtor também saberá o número de animais disponíveis para a venda para o abate, no caso de animais para corte, ou o número aproximado de litros de leite e ovos produzidos por dia.
Para que um produtor possa escolher o melhor sistema de criação, alguns aspectos devem ser levados em conta:
Definição do produto final e seus compradores: esse é o primeiro passo a ser tomado antes da implementação de um sistema produtivo. Há compradores que são mais exigentes que outros, e há produtos que necessitam de um sistema de criação específico para que sejam rentáveis.
Conhecimento sobre a fisiologia do animal a ser criado: esse fator já vem atrelado à questão do bem-estar animal. Deve-se conhecer as necessidades nutricionais do animal (para podermos escolher o melhor alimento e a quantidade correta de cada alimento), suas necessidades ambientais, como, por exemplo, qual a temperatura mais confortável para essa espécie e raça, e seus cuidados em relação a saúde e sanidade. Todo esse conhecimento é de extrema importância para a escolha do sistema de produção mais adequado (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Aspectos socioculturais e econômicos: O produtor precisa estar atento aos aspectos socioculturais e econômicos não apenas da região em que está inserido, mas também da região em estão inseridos os seus compradores.
Durante muitos anos, a criação animal no Brasil foi, em grande parte, extensiva e de subsistência, porém, ela vem se tecnificando a cada dia. Isso tem elevado o nosso país a um novo patamar em relação à produção animal.
Atualmente, algumas criações, como a suinocultura e a de frangos de corte, já são feitas quase inteiramente em sistema de confinamento, com exceção de algumas criações de aves caipiras e pequenos produtores de suínos em algumas regiões. Porém, alguns estudos apontam a tendência à criação semi-intensiva desses animais, visando ao seu bem-estar.
Em relação à bovinocultura, especialmente de corte, grande parte ainda é criada no sistema extensivo ou semi-intensivo. Porém, de acordo com Mecca, Vergani e Eckert (2022), os investimentos em produtividade e no bem-estar animal associam-se de forma a reduzir perdas, que impactam na lucratividade do negócio. Pesquisas científicas visam à melhoria da qualidade da pastagem e à suplementação fornecida aos bovinos, o que auxilia no ganho de peso do rebanho, além da implantação do sistema intensivo (confinamento) em algumas ou em todas as etapas da criação.
Agora de posse de todas essas informações, caberá a você, como técnico em agronegócio, escolher e adequar o melhor sistema de criação às perspectivas do produtor e da cadeia produtiva animal da região.
Caro(a) aluno(a), como técnico, você poderá auxiliar o produtor na hora da escolha do melhor sistema de criação. Além disso, você também poderá auxiliar os produtores que queiram modernizar os seus sistemas, visto que alguns deles iniciam as suas criações apenas para subsistência (ou seja, a criação animal é para atender apenas às necessidades da família, com uma pequena quantidade sendo vendida na comunidade). Antigamente, inclusive, a maior parte das criações no Brasil eram de subsistência.
Atualmente, o Brasil está modernizando os seus modelos de criação a cada dia. Os sistemas de criação extensivos sofrem com problemas especialmente no período da seca, quando a quantidade de forragem diminui no campo, além da falta de controle dessa produção. Nesse ponto, você entra com o seu conhecimento técnico, auxiliando esse produtor a tecnificar a sua criação de forma a aumentar os seus resultados.
Você precisará estar atento às tendências do mercado, inclusive em nível cultural.
Por exemplo, você já sabe que a criação intensiva traz mais lucros ao produtor, porém ela não atende a todos os consumidores. Um exemplo ocorre na avicultura. Nem todos os consumidores querem consumir a carne ou os ovos de uma ave criada em um sistema industrial, totalmente confinada, seja por razões de bem-estar ou mesmo pelo sabor do produto. Nesse ponto, entra a criação de galinha caipira (aves nativas, que não passaram por nenhum melhoramento genético para melhorar a sua produtividade). Essa criação também pode ser dividida entre criação intensiva, semi-intensiva e extensiva, com muitos consumidores atrás desse produto devido ao sabor diferenciado da carne, dos ovos e, é claro, devido à forma de criação desses animais. Caberá a você, como técnico, auxiliar esse produtor a implantar o sistema de criação que melhor se adapte à propriedade e ao consumidor-alvo.
ABREU, U. G. P.; LOPES, P. S. Análise de sistemas de produção animal: bases conceituais. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2005. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/784044/1/DOC79.pdf. Acesso em: 8 nov. 2022.
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029293/. Acesso em: 8 nov. 2022.
MECCA, M. S.; VERGANI, D. C. B.; ECKERT, A. Custos de produção pecuária: análise da lucratividade na criação de bovinos em sistema extensivo e em confinamento. Revista Valore, [s. l.], v. 7, p. e-7039, 2022. Disponível em: https://revistavalore.emnuvens.com.br/valore/article/view/625. Acesso em: 8 nov. 2022.