Querido(a) aluno(a), nesta lição, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a coturnicultura, que é a criação de codornas visando à produção de carne e ovos.
Esse segmento da avicultura vem crescendo em nosso país. Além disso, essa criação é relativamente mais simples do que a criação de frangos, pois as codornas são menores e mais rústicas e possuem ciclo de vida mais curto, o que diminui os custos com o manejo.
O ovo de codorna vem sendo, a cada dia, mais consumido no Brasil, tanto na forma natural quanto na forma de conserva. Vamos aprender um pouco mais sobre essa criação de grande potencial de crescimento?
Imagine que você atenda um produtor que queira implementar uma produção de ovos de codorna em sua propriedade, pois ouviu dizer que essas aves possuem benefícios, como: baixo consumo alimentar, alta produção de ovos e maior rusticidade, resultando em bom retorno financeiro. Você saberia auxiliá-lo corretamente?
Muitas perguntas seriam feitas! Qual o objetivo da criação? Onde adquirir os ovos? Comprar as aves ou incubar os ovos na propriedade? Quais os cuidados necessários nas fases de vida da codorna? Quais instalações são necessárias? Para onde vender essa produção? Quais as perspectivas de mercado?
Como futuro Técnico(a) em Agronegócio(a), ao final desta lição, você estará apto(a) para responder todas essas questões!
Um(a) Técnico(a) em Agronegócio(a) foi chamado para auxiliar um produtor que gostaria de implementar uma criação em sua propriedade de pequeno porte. Após a análise de mercado, a criação escolhida foi a de codornas para a produção de ovos, devido à sua facilidade de criação e ao seu rápido retorno financeiro.
Para iniciar a produção, codornas foram adquiridas de um incubatório comercial. As codorninhas foram criadas em piso com cama de frango até a idade produtiva, então, foram alocadas em gaiolas de postura e, com aproximadamente 42 dias de vida, iniciou-se a postura dos ovos.
Para continuar a produção de novas codorninhas na própria propriedade, uma incubadora com capacidade para 700 ovos foi adquirida. O acasalamento das matrizes era realizado na propriedade, seus ovos eram incubados e os filhotes criados até a fase de postura e reprodução. Após o final do período produtivo das codornas mais velhas, um novo lote de aves era introduzido, os machos eram utilizados como reprodutores e, após o período produtivo, os animais eram vendidos para o abate.
O retorno com a criação das codornas foi rápido, pois, com apenas 42 dias de idade, elas já estavam iniciando a sua postura! Ademais, mesmo com o fato de a linhagem de codornas de postura não ser a mais utilizada para o abate, ela ainda costuma ser vendida para essa finalidade, em algumas regiões.
Esse case fictício nos mostra que a coturnicultura pode ser uma excelente fonte de renda ao produtor!
Dentro da avicultura, existem outras espécies além do frango (Gallus gallus domesticus) que são criadas com o objetivo de adquirir retorno financeiro, por exemplo, as aves ornamentais, como o pavão e, até mesmo, carnes exóticas, como o avestruz.
Entre as várias espécies de aves, a codorna vem apresentando significativo aumento de sua criação nos últimos anos, por isso ela será o foco do nosso estudo, nesta lição. Existem duas linhas de codornas criadas no Brasil, a codorna japonesa (Coturnix coturnix japonica) é utilizada para a produção de ovos, e a codorna europeia (Coturnix Coturnix coturnix) para a produção de carne (BERTECHINI, 2010).
Lembre-se das lições anteriores: a produção de carne é antagônica à produção de ovos!
A criação de codornas apresenta algumas facilidades em relação à avicultura tradicional. As codornas têm crescimento rápido, em aproximadamente 42 dias, já iniciam o seu período de postura e, no caso das codornas de corte, estão prontas para o abate. Além disso, ocupam menor espaço e são conhecidas por sua maior rusticidade (ou seja, são mais resistentes a adversidades). Ainda segundo Silva et al. (2018), nos últimos anos, o desenvolvimento da coturnicultura têm sido significativo graças às tecnologias empregadas na cadeia produtiva, o que aliado ao baixo custo de investimento, aumenta os ganhos dos produtores.
Para iniciar uma criação de codornas, estas podem ser adquiridas de incubatórios ou os ovos podem ser incubados na própria propriedade, por meio de incubadoras comerciais (Figura 1), bem menores do que as encontradas em empresas e incubatórios de grande porte (AINSWORTH; STANLEY; EVANS JUNIOR, 2010).
Para adquirir os ovos à incubação na própria propriedade, coloca-se o macho na gaiola com a fêmea (pode ser até duas ou três fêmeas, no caso de gaiolas maiores). Apesar de os ovos, teoricamente, já estarem fecundados em poucas horas, esse contato costuma durar de 10 a 15 dias, para ter a certeza de que os ovos, realmente, estão fecundados. Eles são coletados e deixados em temperatura inferior a 20°C por até 7 dias, quando são colocados na incubadora. O período de incubação do ovo de codorna é de, aproximadamente, 17 dias.
Atenção!
É interessante adquirir novos machos após o período de dois anos, para que não ocorram problemas genéticos causados pela endogamia (cruzamento entre parentes próximos!). A diversidade genética é importante em todas as criações!
Nos primeiros 21 dias de vida, as codornas necessitam de uma fonte de aquecimento extra, como as lâmpadas, pois ainda não são capazes de se aquecerem sozinhas. Por isso as aves costumam ficar em um galpão forrado com cama de frango, que pode ser feita com os mesmos materiais utilizados na avicultura de corte, como casca de arroz. Em codornas de corte, esse sistema de criação, chamado sistema de criação em piso ou em cama, costuma ser estendido até o abate.
Outro sistema de produção utilizado, especialmente, na fase de recria, é o sistema de criação em gaiolas sobrepostas (aproximadamente 4 gaiolas coletivas, uma em cima da outra), chamado de sistema de baterias. Essas gaiolas são portáteis, pois apresentam rodinhas, o que facilita a locomoção. Em criações maiores, as gaiolas são, muitas vezes, fixas no galpão, na forma de escadas, sendo este o sistema mais caro de implantação.
No caso das codornas de postura, no início do período de produção, as fêmeas são transferidas ao galpão de postura. A construção do galpão deve visar, especialmente, ao conforto térmico, pois as codornas são sensíveis a variações de temperatura, tanto baixas quanto altas, e deve ser construído de forma que não ocorra a incidência direta de luz solar. O programa de luz também é utilizado como nas galinhas, para que elas tenham, ao menos, 15 horas de luz por dia.
Assim como na avicultura de postura, as codornas, comumente, ficam em gaiolas individuais ou coletivas. O ideal é a coleta ocorrer, ao menos, duas vezes ao dia, visto que as codornas costumam colocar ovos em diferentes horários e, também, que um ovo demora, em média, 24 horas para ser produzido. A coleta pode ser manual ou automática, depois, os ovos devem ser armazenados em bandejas e enviados à indústria, onde serão vendidos in natura ou em conserva.
Novamente, as fêmeas não necessitam do macho para colocar ovos! Porém esses ovos não são férteis e jamais darão origem a um filhote.
A ração das codornas é formulada de acordo com a fase de vida: fase de cria (1 a 21 dias de vida); fase de recria (21 a 35 dias); fase de produção (35 dias até o final do período produtivo). Em todas as fases, a água deve ser fresca e à vontade.
Aos 42 dias, espera-se que 50% das codornas já tenham iniciado a sua postura, e o pico de produção ocorre, em média, aos 90 dias de idade, quando a maior parte das aves está apresentando postura diária. As codornas botam ovos por aproximadamente 10 meses até ocorrer a diminuição acentuada da produção, período em que se recomenda a substituição do lote. Para a substituição, realiza-se o procedimento in all in out, além de limpeza, desinfecção e vazio sanitário, da mesma forma que na avicultura de postura.
A cada dia, é possível perceber um maior número de pesquisas envolvendo a genética, a nutrição e o manejo na coturnicultura, o que nos mostra o aumento do interesse pela produção (BERTECHINI, 2010; SILVA et al., 2018).
De acordo com Silva et al. (2018), a criação de codornas pode ser uma boa alternativa, especialmente aos pequenos produtores, pois o retorno do investimento é mais rápido, se comparado à criação de outras espécies, ocorrendo já no segundo ano de produção. Contudo, com o aumento dos estudos envolvendo a tecnificação da criação, a tendência é o surgimento de maiores criações tecnificadas e de grande porte.
Um dos gargalos da produção é em relação ao consumidor final, ainda não acostumado ao consumo diário dos ovos e da carne de codorna. Pesquisas em estratégias de marketing também devem ser realizadas de acordo com as necessidades de cada região produtora, a fim de inserir a cultura do consumo desses produtos, cada dia mais, entre os consumidores finais.
Querido(a) aluno(a), nesta lição, você aprendeu um pouco mais sobre a coturnicultura, que é a criação de codornas voltada à produção de carne ou ovos. No Brasil, ela é utilizada, principalmente, para a produção de ovos.
A criação de codornas possui muitos atrativos, como: facilidade de criação, necessidade de menores investimentos e retorno financeiro mais rápido quando comparado à criação de outras espécies. Entretanto, para que essa produção seja eficiente, lucrativa e competitiva, muito ainda deve ser feito!
AINSWORTH, S. J.; STANLEY, R. L.; EVANS JUNIOR, D. Developmental stages of the Japanese quail. Journal of Anatomy, v. 216, n. 1, p. 3-15, 2010.
BERTECHINI, A. G. Situação atual e perspectivas para a coturnicultura no Brasil. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL, 4.; CONGRESSO BRASILEIRO DE COTURNICULTURA, 3., 2010, Lavras. Anais [...]. Lavras: UFLA, 2010.
SILVA, A. F. et al. Coturnicultura como alternativa para aumento de renda do pequeno produtor. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 70, p. 913-920, 2018.