LIÇÃO 3: Criação Animal:
Definição de Espécie, Raça e Linhagem
Definição de Espécie, Raça e Linhagem
Olá, aluno(a), nesta lição, você aprenderá um pouco mais sobre a definição de espécie, raça, tipo e linhagem dos animais de produção. Este conhecimento é de extrema importância, visto que um produtor precisará escolher um animal com características que se adequem ao sistema de criação, ou seja, às suas instalações, ao manejo, às expectativas, à região e, é claro, ao produto final desejado. Você, como Técnico(a) em Agronegócio, poderá auxiliar o produtor na escolha do animal que atenda melhor às suas necessidades e às características da região. Como você verá no decorrer das lições, diferentes categorias animais apresentam diferentes necessidades. Por isso, ao conhecer essas diferenças, você será capaz de realizar uma gestão eficiente dentro de uma Produção Animal.
Imagine que seus familiares compraram um sítio e decidiram criar animais com o intuito de ser uma fonte de renda. A princípio, compraram seis vacas com a intenção de vender o leite dos animais. As vacas foram alimentadas com ração balanceada e estavam saudáveis. Porém a produção não foi a esperada, visto que as vacas não produziram uma quantidade significativa para venda. Você seria capaz de dizer o que pôde ter ocorrido? Neste caso, provavelmente, as vacas não possuíam aptidão para a produção de leite! É por isso que é tão importante conhecermos as diferenças entre os animais. Dependendo do produto final que desejamos, nós escolhemos um animal que melhor atenda a essas necessidades!
Outra questão importante é saber que cada tipo, raça e linhagem animal possui características diferentes. Há raças adaptadas ao clima frio e outras, ao clima quente. Há animais que produzem leite em grande quantidade, mas não apresentam rendimento de carcaça satisfatório. Todos esses fatores precisam ser levados em conta! Se, por exemplo, o produtor quiser implementar uma produção leiteira em uma região quente e em sistema extensivo, ele precisará escolher um animal que possua capacidade produtiva para este produto, nesta região e neste sistema de criação.
Você já deve ter percebido, ao longo das aulas, que apenas a escolha da espécie do animal e do produto final desejado não é suficiente para bom retorno econômico e produtivo. Podemos citar, como exemplo, uma produtora rural, Anna, fictícia, que decidiu implementar uma leiteria em sua propriedade. Sua intenção é alta produção diária, com média de 30 litros de leite por animal/dia. A sua propriedade está localizada em Castro, no Paraná, região com invernos frios e rigorosos. Seu investimento será alto, a criação será tecnificada e em sistema intensivo.
Anna não poderá colocar em sua propriedade um animal que não se adapte às suas escolhas. A primeira delas é em relação ao produto final. Uma vaca com alto rendimento de carcaça (ou seja, alta produção de carne) não terá alta produção leiteira. Um animal adaptado a climas quentes, provavelmente, diminuirá a sua produção em dias frios. Por isso, é tão importante o conhecimento das diferentes categorias animais dentro de uma espécie. Da mesma forma, um produtor de aves de corte industrial não colocará uma galinha comum, esperando que esta atinja o peso desejado para o abate aos 42 dias.
Em suínos, ao pesquisar sobre as principais linhagens, você perceberá suas características listadas, como: alta produção de carne magra, fêmeas com alta prolificidade (têm mais filhotes) e habilidade materna (desmamam mais filhotes vivos e pesados), machos com maior libido (ideal para coleta de sêmen para inseminação), entre outras características, cabendo ao produtor escolher a que melhor se adapte a sua realidade.
Agora, estudaremos sobre essas diferenças dentro das principais espécies, pois elas são um dos pontos-chave para uma produção animal lucrativa e eficiente.
Durante este curso, você estudará sobre a criação de diversas espécies diferentes utilizadas na produção animal. Podemos definir, de forma básica, que dois animais necessitam ser da mesma espécie para gerar filhotes férteis (ou seja, filhotes que, também, possuam a capacidade de se reproduzir). Em alguns casos, há o cruzamento entre espécies diferentes, como equinos (cavalos) e asininos (jumentos), resultando em burros e mulas, que não são capazes de gerar descendentes (ROLIM, 2014).
As espécies sempre possuem um nome popular, um nome utilizado comumente no meio técnico e um nome científico. Por exemplo: porco/suíno (Sus domesticus), ovelha/ovinos (Ovis aries) e galinha/frango (Gallus galus domesticus). Dentro da espécie animal, é de grande importância saber o significado de raça, tipo e linhagem, sendo esses:
Rolim (2014, p. 10) definiu a raça como: "Um grupamento de animais da mesma espécie que possuem características físicas e produtivas comuns, e têm seu padrão definido por associações de criadores que definem as características ideais que os animais da raça devem ter. Ao se reproduzir entre si, esses animais produzem descendentes com as mesmas características."
Estas são as principais raças de algumas espécies animais:
Suínos: Landrace, Large White, Duroc, Pietrain, Hampshire e Wessex.
Aves/Galinhas: Plymouth Rock Branca, New Hampshire, Cornish Branca e Sussex.
Ovinos: Suffolk, Hampshire Down, Texel, Ile de France e Dorper.
Caprinos: Saanen, Toggenburg, Murciana e Parda Alpina, Boer e Savanna.
Os animais possuem aptidões, ou seja, são mais aptos a produzir um ou outro produto. Por isso, nós os classificamos, também, de acordo com a sua aptidão, também denominado tipo por alguns autores (CASTRO; VASCONCELOS, 2019). Para compreender melhor a definição de tipo, Rolim (2014, p. 12) cita alguns exemplos:
Bovinos leiteiros tendem a ter o corpo mais magro, com sistema mamário desenvolvido, com a parte frontal mais descarnada. Essa característica é observada em todas as raças leiteiras, mesmo tendo elas sido desenvolvidas em locais distintos, períodos distintos e produzido animais com pelagens, tamanho corporal, formato de cabeça e outras características físicas distintas. Já os bovinos de corte possuem o corpo cilíndrico, musculatura desenvolvida e sistema mamário normal. A isso nós chamamos de tipo leiteiro e tipo corte.
Essas diferenças, também, ocorrem em outras espécies. Os suínos de antigamente eram predominantemente do Tipo Banha, ou seja, acumulavam muita gordura corporal. Com o passar dos anos e a ação humana, por meio da seleção de animais para a produção de filhotes com menor gordura corporal, surgiu o suíno Tipo Carne, que são mais magros e apresentam maior desenvolvimento da musculatura (CASTRO; VASCONCELOS, 2019).
Em ovinos e caprinos, também, observam-se diferenças entre o Tipo Carne e o Tipo Leite, com diferenças físicas semelhantes às relatadas nos bovinos do tipo carne e tipo leite. Na avicultura, as diferenças ocorrem em relação à postura de ovos e à deposição de musculatura. Aves poedeiras apresentam menor deposição de carcaça e maior produção de ovos, e o contrário ocorre nas aves de corte. Por fim, algumas espécies, como as abelhas, não estão tão bem divididas como os outros animais de produção, mas também possuem diferentes aptidões, existindo enxames com maior eficiência na colheita de pólen, em vez de néctar, produzindo, assim, menor quantidade de mel e maior quantidade de pólen apícola (CASTRO; VASCONCELOS, 2019).
Atenção!
Na produção animal, você ouvirá falar muito sobre deposição e rendimento de carcaça. Rendimento de carcaça é a relação entre a carcaça e o peso vivo. São considerados carcaça a musculatura, a gordura e os ossos e não carcaça, o couro, a cabeça, as patas, as vísceras, entre outros. Portanto, um animal tipo corte apresentará maior rendimento de carcaça, ou seja, maior deposição de musculatura e, consequentemente, maior produção de carne.
A linhagem pode ser definida como: "Subgrupos de animais dentro de raças, que foram selecionados para apresentarem características próprias que os distinguem dos demais, sem descaracterizá-los da raça a que pertencem. As linhagens são assim desenvolvidas na tentativa de fixar características produtivas importantes e com isso agregar valor comercial aos animais" (ROLIM, 2014, p. 12).
Por exemplo, dentro da raça Nelore, haverá animais com a característica de maior deposição de gordura subcutânea. Com isso, algumas empresas podem realizar o cruzamento destes animais, resultando em uma linhagem, dentro da raça Nelore. Ou seja, os animais continuarão sendo da raça Nelore, mas a linhagem X será composta por animais que depositam mais gordura abaixo da pele em relação aos outros animais da mesma raça. De acordo com Castro e Vasconcelos (2019 p. 58), “as linhagens são as ‘raças’ trabalhadas geneticamente para uma determinada finalidade”.
A espécie bovina (Bos taurus), ainda, possui uma particularidade, por ser dividida em duas subespécies:
Bos taurus taurus: raças taurinas, também conhecidas apenas como Bos taurus.
Bos taurus indicus: raças zebuínas, ou apenas Bos indicus.
Dependendo do grupo, esses animais podem apresentar características e respostas produtivas diferentes (JORGE, 2013). Veremos cada uma dessas espécies, com mais detalhes, a seguir.
As raças zebuínas são originárias da Índia e adaptadas ao clima quente e árido. Há algumas características que definem os zebuínos: eles apresentam o cupim, nome dado ao grande aumento na parte dorsal da área do pescoço. Essa região é composta por fibras musculares entrelaçadas com gordura. Há, também, a presença da barbela, que é uma grande pele solta abaixo do pescoço. As orelhas são grandes e pendulares. Essas características não são ao acaso, pois essas raças são, originalmente, de climas quentes, com períodos de estiagem (falta de alimento).
Portanto, o cupim atua como reserva de gordura e energia para os períodos de falta de alimento, e a barbela auxilia na troca de calor do corpo do animal quando em altas temperaturas. Esses animais, ainda, apresentam a pele mais escura, o que os protegem do sol, e o pelo mais curto, o que auxilia na troca de calor e dificulta a adesão de ectoparasitas, como os carrapatos. Por fim, pode-se diferenciar os zebuínos das raças taurinas por meio do formato da cabeça, visto que as raças zebuínas apresentam a cabeça mais comprida e estreita.
As raças zebuínas são importantes, especialmente, para a produção de carne. A principal raça zebuína conhecida no Brasil é a Nelore, sendo esta uma raça de corte. Há, também, outras raças de corte conhecidas, como: Brahman, Tabapuã e Guzerá. Por fim, há, também, raças zebuínas de produção de leite, como o Gir Leiteiro.
A Figura 1 mostra, de forma clara, as principais características dos zebuínos. Percebe-se, também, que é uma raça para corte, visto que há grande deposição de musculatura, especialmente na parte traseira. Lembre-se que a característica genética de deposição de musculatura é oposta à característica de produção leiteira.
Os taurinos são animais de origem europeia. Devido à sua origem, esses animais são, ao contrário dos zebuínos, adaptados para o clima frio. As raças europeias não possuem cupim e barbela, e suas orelhas são mais curtas e voltadas para cima. Sua cabeça é menor, quando comparada aos zebuínos, curta e larga entre os olhos. São animais de altíssima produtividade, como a raça holandesa, conhecida por sua alta produção leiteira, e a raça Angus, que possui elevado rendimento de carcaça. Porém esses animais são mais suscetíveis ao estresse térmico e a parasitas, o que dificulta a sua criação em regiões de clima quente.
Algumas das principais raças europeias são, como já mencionado, a Holandesa, de produção leiteira, Angus e a Hereford, de produção de carne, e Simental, de dupla aptidão (carne e leite).
A Figura 2 mostra uma fêmea Bos taurus. Percebem-se diferenças em relação ao formato da cabeça, dos olhos e das orelhas, além da não existência do cupim. Podemos perceber que é uma vaca leiteira, pois seu úbere (mamas do animal) é grande, e há pouca deposição de musculatura, com o formato dos ossos aparentes.
Como visto anteriormente, cada subespécie possui características diferentes, com seus pontos positivos e negativos. As raças europeias (Bos taurus) são conhecidas por sua alta produtividade, porém menor rusticidade (menor resistência a ectoparasitas e ao estresse, como temperatura e nutrição). Em contrapartida, as raças zebuínas, apesar de possuírem menor produção, comparadas às taurinas, apresentam maior rusticidade, sendo mais resistente, especialmente, ao clima tropical do nosso país. Por isso, alguns produtores realizam o cruzamento entre taurinos e zebuínos, buscando um filhote com o “melhor” de cada raça, ou seja, animais mais rústicos e produtivos (PASTOR, FALÇONI; LIMA, 2017).
No mundo todo, há uma infinidade de raças e linhagens diferentes dentro das espécies animais. Agora que você já sabe as diferenças existentes entre as espécies, que tal aplicá-las no seu cotidiano? Ao visitar propriedades rurais ou feiras agropecuárias, tente perceber e anotar as diferenças das características entre os animais. Se tiver oportunidade, pergunte ao produtor a qual raça, tipo e linhagem este animal pertence. Em relação aos bovinos, você perceberá que há animais com características tanto zebuínas quanto taurinas, e isso é o resultado do cruzamento entre as diferentes subespécies.
Você pode, ainda, pesquisar na internet sobre as raças existentes em cada espécie, observar as suas características, pesquisar qual a sua aptidão e conhecer mais algumas curiosidades sobre elas. Esse conhecimento será muito importante no futuro. Como bom(boa) Técnico(a) em Agronegócio, você deve saber todos os detalhes da Produção Animal, a começar pelo seu protagonista! Afinal, imagine recomendar uma raça com aptidão para produção leiteira para um produtor que pretende criar um animal para a produção de carne? Você verá também, no decorrer deste curso, que diferentes espécies, linhagens, subespécies e raças, na grande maioria das vezes, possuem necessidades de manejo, sanidade e nutrição diferentes. Por isso, conhecer as particularidades é essencial para a gestão eficiente de uma Produção Animal.
BRASSIL, M. [Sem título]. [2022]. 1 fotografia. Disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-animal-fotografia-de-animais-gado-animal-da-fazenda-9283816/. Acesso em: 21 nov. 2022.
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.
JORGE, W. A genômica bovina-origem e evolução de taurinos e zebuinos. Veterinária e Zootecnia, v. 20, n. 2, p. 217-237, 2013.
PASTOR, F. M.; FALÇONI, F. M. dos S. de M.; LIMA, D. V. de. Cruzamentos entre a raça Nelore e Bos taurus: um potencial para melhoria do rendimento de carcaça. Pubvet, v. 11, p. 646-743, 2017. Disponível em: bit.ly/3UldEgo. Acesso em: 21 nov. 2022.
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ROLIM, A. F. M. Produção animal: bases de reprodução, manejo e saúde. São Paulo: Saraiva, 2014.