Olá, estudante! Agora que você adquiriu conhecimentos sobre os principais aspectos das criações das espécies de animais, principalmente em relação às espécies mais criadas no Brasil, e compreendeu a importância da cadeia produtiva de cada uma delas, é hora de explorar a importância do bem-estar animal na produção animal e na respectiva cadeia produtiva.
A questão do bem-estar animal é um assunto bastante discutido em todo o mundo, inclusive a lista de países que levam este fator em consideração na hora de importar um animal aumenta a cada dia! É por isso que o assunto desta lição será este, pois, você, como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, precisará conhecer todos os pontos importantes sobre o bem-estar animal, para auxiliar o produtor tanto na criação quanto na venda de seu produto ao mercado interno ou externo.
Você deve saber que todos os seres humanos possuem direitos garantidos por lei. Educação, saúde, segurança e proteção à infância são alguns exemplos desses direitos. Agora, te pergunto: será que, ao pensarmos nos animais, imaginamos que eles também possuem algum tipo de direito? Se você ainda não sabe a resposta desta pergunta, te direi: sim! Os animais também têm direitos! É claro que não são iguais aos direitos dos seres humanos, então, nesse sentido, quais são os direitos dos animais? Como criar estes seres de forma digna?
Você, como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, conhece as expectativas do mercado de produtos de origem animal, atualmente e para os próximos anos, em relação ao bem-estar dos animais? Como esta questão impacta a cadeia produtiva da produção animal como um todo? Quais os impactos na exportação dos produtos?
Muitas perguntas e algumas sem respostas, não é mesmo? Mas fique tranquilo(a), nesta lição, nos aprofundaremos nestas questões tão importantes e atuais. Vamos em frente!
No case desta lição, apresento você ao Técnico em Agronegócio de nome Juan. Ele foi chamado para auxiliar em uma propriedade rural que criava ovinos, pois o produtor dizia que os animais não estavam produzindo o esperado. Ao chegar na propriedade, Juan já percebeu quais eram os problemas: eles estavam relacionados ao bem-estar desses animais. Estava muito quente, e os animais não possuíam sombra para se abrigar do sol, além de precisarem andar muito para ir até a fonte de água mais próxima, a qual estava suja. Os animais não eram vermifugados há algum tempo, além disso, as instalações estavam sujas, pois o funcionário responsável pela limpeza vinha à propriedade poucas vezes por mês.
Em suma, esses animais estavam estressados, com calor e sede, em um ambiente insalubre e, provavelmente, com verminoses. Não estavam em situação de bem-estar animal, o que estava impactando a produção! Por fim, dificilmente, o produtor conseguiria vender esses animais por um bom preço.
Por meio de alterações no manejo, como: plantação de árvores, acesso à sombra e à água limpa, vermifugação e limpeza das instalações, a produção melhorou significativamente! E o produtor aprendeu uma importante lição: quem gosta de ficar em um ambiente sujo, com calor e sede? Assim como nós não gostamos, os animais também não! Como seres vivos, eles também merecem respeito!
O case desta lição, apesar de fictício, demonstra como o trabalho do(a) Técnico(a) em Agronegócio é importante para realizar alterações assertivas no manejo dos animais e, também, o quanto a atenção ao bem-estar animal é um fator importante a ser observado nas criações. É importante ressaltar que, neste caso, foi exemplificada uma situação na qual a criação de ovinos não resultava na produção esperada, porém, em outras criações, caso haja falta de cuidado com o bem-estar animal, pode acontecer o mesmo!
A população mundial vem crescendo a cada dia e, junto com isso, vem a necessidade de produzir uma quantidade maior de alimento para suprir este aumento populacional. Há, ainda, a necessidade de produzir um alimento que caiba no bolso do consumidor, por isso, a tendência mundial é que a criação animal seja cada vez mais intensificada.
Imagine um galpão de postura de ovos, por exemplo. Se as galinhas forem criadas soltas, caberão menos aves em um mesmo galpão, além disso, galinhas criadas soltas têm mais chances de bicar, quebrar seus ovos ou sujá-los com excretas, o que diminuiria a qualidade do produto. Você pode expandir estes fatores a outras criações animais, como os suínos ou os bovinos, por exemplo, cujos animais criados soltos caminham mais e, consequentemente, gastam mais energia ao invés de utilizá-la para produzir carne, leite ou ovos, ou seja, dessa forma, a produção será mais baixa e, dependendo das condições de criação, o produto final poderá aumentar de preço. É por este motivo que criar animais no sistema intensivo é mais eficiente e lucrativo.
Braga et al. (2018), entretanto, alertam que estes sistemas intensificados têm limitações para atender às necessidades físicas, psicológicas e comportamentais dos animais, o que vai contra o bem-estar deles. Os autores atentam que o bem-estar animal está cada dia mais em pauta, tornando-se uma tendência mundial crescente.
De acordo com vários autores, devido ao avanço da internet e das informações, o consumidor começou a exigir, a cada dia, mais alterações nos sistemas de criação, para que os animais sejam criados em condições de bem-estar. Por este motivo, alguns países vêm criando novas leis para a regulamentação da criação animal dentro das vertentes do bem-estar, inclusive exigindo algumas questões relacionadas a este tema, na hora de comprar produtos de outros países, o que afeta a questão da importação e exportação de produtos de origem animal. Por isso, cabe aos profissionais do agronegócio aliar estes dois fatores: o bem-estar animal e a eficiência (lucratividade) da produção.
A questão do bem-estar animal vai além das “perdas econômicas”. Na verdade, novos estudos contradizem esta visão, demonstrando que o bem-estar animal pode ter impacto positivo sobre a qualidade do produto final. Segundo os autores Couto, Coqueiro e Martins (2020), melhorar o bem-estar animal traz benefícios para a cadeia produtiva e existem diversos exemplos que comprovam isso nas criações. Um desses exemplos é quando os animais são abatidos sem sentir dor, medo ou estresse, o que resulta em carne de melhor qualidade em termos de aspecto e suculência. Além disso, animais que sofrem com fome, sede ou calor também têm sua produção comprometida devido ao estresse, afetando o produto final. Portanto, criar animais em condições de bem-estar é essencial tanto do ponto de vista econômico quanto social.
De acordo com Pereira et al. (2020), as cinco liberdades dos animais foram desenvolvidas como um método de avaliar o grau de bem-estar dos animais, as quais podem ser basicamente definidas como os direitos dos animais. Ademais, elas orientam as práticas de bem-estar nas criações animais e as suas legislações. São elas: Liberdade Nutricional, Liberdade Sanitária, Liberdade Ambiental, Liberdade Comportamental e Liberdade Psicológica. Vejamos com mais detalhes cada uma delas:
De acordo com Pereira et al. (2020), as cinco liberdades dos animais foram desenvolvidas como um método de avaliar o grau de bem-estar dos animais, as quais podem ser basicamente definidas como os direitos dos animais. Ademais, elas orientam as práticas de bem-estar nas criações animais e as suas legislações. São elas: Liberdade Nutricional, Liberdade Sanitária, Liberdade Ambiental, Liberdade Comportamental e Liberdade Psicológica. Vejamos com mais detalhes cada uma delas:
Liberdade Nutricional → Livre de sede e fome: o animal deve ter acesso à água e à comida de qualidade, em quantidade e frequência ideais.
Liberdade Sanitária → Livre de dor, injúria ou doença: o animal deve viver livre de dores, doenças ou ferimentos, por meio da prevenção desses (ex.: vacinação) ou do tratamento adequado.
Liberdade Ambiental → Livre de desconforto: o animal precisa viver em um ambiente que possua temperatura, superfície e área confortáveis.
Liberdade Comportamental → Livre para expressar o seu comportamento natural: o animal precisa ser livre para exercer o seu comportamento natural.
Liberdade Psicológica → Livre de medo e estresse: o animal deve viver livre de situações que causem estresse, medo ou ansiedade.
A questão do bem-estar está ganhando cada vez mais importância na cadeia produtiva animal, mas não apenas em relação a questões básicas, como fome e sede, pois, como dito anteriormente, devido ao avanço da tecnologia e da conscientização das pessoas, muitos consumidores já não aceitam consumir produtos advindos de animais criados em algumas situações de confinamento.
Um exemplo disso são as gaiolas de gestação de suínos, onde as fêmeas ficam confinadas em gaiolas individuais, sem a possibilidade de se virar ou se movimentar. Embora essas gaiolas tenham sido justificadas como uma forma de reduzir a mortalidade dos filhotes por esmagamento — um problema comum na criação de suínos — Galvão et al. (2019) relatam que diversos países, além de já proibirem o uso dessas gaiolas por violarem as diretrizes de bem-estar animal, estabeleceram prazos para a mudança das instalações dos produtores.
Outro ponto importante: esses países também não aceitam mais comprar um produto criado fora destas diretrizes, o que impacta significativamente a exportação brasileira. Algumas alternativas vêm sendo estudadas, como a utilização de baias maiores e com proteção metálica nas paredes para as fêmeas suínas, a fim de evitar o esmagamento dos filhotes.
Os autores Galvão et al. (2019) atentam ao fato de que os profissionais da suinocultura precisam ser treinados para proporcionar as condições de bem-estar aos animais, evitando o estresse para as criações e, consequentemente, as perdas econômicas, garantindo um produto final que atenda às expectativas dos consumidores internos e externos. Entretanto essas diretrizes valem para todas as espécies, como os bovinos, as aves, os coelhos etc.
De acordo com Oliveira et al. (2022), a produção animal, quando pautada no bem-estar, assume um papel de destaque no mercado de produtos de origem animal, por meio da disponibilidade de produtos de qualidade advindos de animais tratados de forma digna. Nesse contexto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a Instrução Normativa nº 56, que estabelece, no art. 3º (BRASIL, 2008, [s. p.]), os princípios gerais de práticas de bem-estar para os animais de produção:
I - Proceder ao manejo cuidadoso e responsável nas várias etapas da vida do animal, desde o nascimento, criação e transporte.
II - Possuir conhecimentos básicos de comportamento animal, a fim de proceder ao adequado manejo.
III - Proporcionar dieta satisfatória, apropriada e segura, adequada às diferentes fases da vida do animal.
IV - Assegurar que as instalações sejam projetadas apropriadamente aos sistemas de produção das diferentes espécies, de forma a garantir a proteção, a possibilidade de descanso e o bem-estar animal.
V - Manejar e transportar os animais de forma adequada, para reduzir o estresse e evitar contusões e o sofrimento desnecessário.
VI - Manter o ambiente de criação em condições higiênicas.
Por fim, Oliveira et al. (2022, p. 4) concluem:
Os animais de produção apresentam necessidades distintas que interferem em seu bem-estar e consequentemente na qualidade dos produtos obtidos. A partir destas concepções relacionadas à cadeia produtiva, o bem-estar animal proporciona maior lucratividade sem expor os animais a condições insalubres. Assim, o consumidor que deseja adquirir produtos de origem animal, opta por aqueles provenientes de animais que estiveram em condições de bem-estar durante seu ciclo de vida até o abate; além de proporcionar à indústria brasileira a possibilidade de competir com produtores internacionais.
Podemos concluir que o bem-estar dos animais na indústria pecuária é um assunto cada vez mais relevante e que não se resume apenas às questões básicas de alimentação e cuidados físicos. Com o avanço da informação e da conscientização crescente das pessoas, há uma demanda por produtos de origem animal que sejam produzidos de forma ética e respeitosa. Portanto, é evidente que o bem-estar dos animais pecuários não é só uma questão ética e moral, ela também tem impacto direto sobre a sustentabilidade econômica da indústria e sobre a reputação dos produtos no mercado global. A busca por alternativas e práticas mais conscientes e responsáveis é fundamental para atender às demandas dos consumidores bem como garantir um futuro sustentável para a produção animal.
Nesta lição, você aprendeu sobre as diretrizes do bem-estar animal e a sua importância tanto em nível econômico quanto em nível social. Muitas práticas de bem-estar animal já são utilizadas no dia a dia da criação, como: o controle de temperatura, a densidade animal, a alimentação, os cuidados com a saúde etc. Entretanto, a cada dia que passa, os consumidores — nacionais e internacionais — estão mais atentos às práticas de manejo dos animais bem como às instalações e, com isso, novas diretrizes vão sendo implementadas para que os produtos de origem animal sejam produzidos de forma ética e respeitosa.
O papel do(a) Técnico(a) em Agronegócio, no bem-estar animal, é fundamental para garantir que os animais sejam criados de forma ética e responsável, levando em consideração o cuidado e o respeito. Caberá a você, como Técnico(a) em Agronegócio(a), aliar as necessidades dos consumidores com a produtividade e a lucratividade da criação, além de desempenhar diversas outras funções relacionadas ao bem-estar animal, por exemplo, implementar boas práticas de manejo animal nos locais onde identificar a falta deste cuidado, monitorar as condições dos animais por meio de avaliações periódicas das condições de vida deles, realizar treinamentos e capacitações com produtores e trabalhadores envolvidos na criação, destacando a importância do bem-estar animal, verificar normas e regulamentos sobre o assunto, com o intuito de assegurar que todas as normativas estão sendo cumpridas, e acompanhar as inovações e avanços no campo do bem estar-animal, pois, como mencionado na lição, é muito provável que novas tecnologias cheguem para melhorar ainda mais as condições de vida dos animais. Lembre-se sempre: os animais são seres vivos e devem ser tratados com dignidade!
BRAGA, J. da S. et al. O modelo dos “Cinco Domínios” do bem-estar animal aplicado em sistemas intensivos de produção de bovinos, suínos e aves. Revista Brasileira de Zoociências, [s. l.], v. 19, n. 2, p. 204-226, 2018.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Gabinete do Ministro. Instrução Normativa nº 56, de 6 de novembro de 2008. Estabelece os procedimentos gerais de Recomendações de Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico - REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2008. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/in-56-de-2008.pdf. Acesso em: 15 jun. 2023.
COUTO, L. A.; COQUEIRO, J. S.; MARTINS, N. C. G. Bem-estar animal na bovinocultura de corte: uma revisão sistemática. Profiscientia, [s. l.], n. 14, p. 176-193, 2020.
GALVÃO, A. T. et al. Bem-estar animal na suinocultura: Revisão. Pubvet, [s. l.], v. 13, n. 3, ano 289, p. 1-6, mar. 2019.
OLIVEIRA, V. J. de. et al. Bem-estar animal no contexto da cadeia produtiva de alimentos. Pubvet, [s. l.], v. 16, supl. 1, ano 1319, p. 1-6, 2022.
PEREIRA, K. C. de A. F. et al. Maus-tratos animal e as cinco liberdades: percepção e conhecimento da população de Pelotas/RS. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 2, p. 7503-7515, 2020.