Querido(a) aluno(a), nesta lição, nós iremos aprofundar nossos conhecimentos sobre a Apicultura, nome atribuído a criação de abelhas com o objetivo de produzir mel, própolis, pólen, cera de abelha e ou geléia real.
O mel é um alimento muito consumido em diversas partes do mundo desde a antiguidade, sendo conhecido pelos seus benefícios para a saúde, além de ser utilizado como medicamento natural. À apicultura, cabe a criação e o manejo da colmeia, para a produção de um mel de qualidade. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa produção e a relação da atividade com sua futura área de atuação.
Imagine que você atenda um produtor que queira implementar um apiário em sua propriedade. Como você poderia auxiliá-lo? Qual seria o objetivo da criação? Quais seriam as características do mel produzido, de acordo com a flora da região? Como iniciar essa produção e como mantê-la? Quais os cuidados são necessários?
Muitas perguntas seriam feitas, não é mesmo? Neste momento, você saberia responder todos esses questionamentos? Provavelmente não, mas fique tranquilo(a), ao final desta lição, você estará apto(a) para responder a todas essas questões! Vamos lá?
Um técnico em agronegócio, de nome Juan, foi contratado para auxiliar um produtor rural de nome Leandro, que havia acabado de adquirir uma propriedade rural de pequeno porte, e gostaria de iniciar uma produção que fosse lucrativa.
Ao avaliar a propriedade, Juan percebeu que esta ficava próxima a uma floresta de eucaliptos, além de apresentar um lago próximo. Por tais motivos, e aliado ao clima da região, entraram em consenso que a melhor criação seria a de abelhas. Foi escolhido um local para a instalação das colmeias, de fácil acesso e ao mesmo tempo isolado, para evitar possíveis acidentes com pessoas e/ou animais.
As caixas utilizadas como colmeias foram adquiridas de uma empresa especializada, e os primeiros enxames foram capturados. Com o passar do tempo, cuidados com manejo e aumento dos enxames, esses puderam ser divididos em novos enxames, aumentando a criação e consequentemente a produção de mel.
Com essa produção, Leandro iniciou a sua venda de mel de eucalipto, além da venda de própolis e geleia real. Com o aumento das vendas, a criação foi a cada dia aumentando, junto com os lucros! Esse case, apesar de fictício, nos mostra como uma criação de abelhas pode ser eficiente, econômica e lucrativa!
Apicultura é o nome atribuído a criação de abelhas com o objetivo de vender os produtos produzidos por esses animais invertebrados. Existe uma variedade de espécies de abelhas que produzem mel, como as abelhas Apis (abelhas com ferrão), além de espécies de abelhas sem ferrão da família Meliponinae, nativas brasileiras, como a abelha Jataí. Entretanto, a produção em quantidade difere muito entre as diferentes espécies. Enquanto uma colmeia de abelha Jataí produz em torno de 500 gramas a 1,5 kg de mel por ano (o que aumenta consideravelmente o preço do produto no mercado), uma colmeia de Apis pode produzir mais de 40 kg de mel por colmeia por ano.
Nesta lição, nós iremos focar nos estudos sobre a criação das abelhas da espécie Apis mellifera. As abelhas Apis criadas para a apicultura no Brasil são híbridas (oriundas de cruzamentos genéticos) entre várias raças de abelhas europeias e africanas trazidas para o Brasil ao longo dos anos.
A colônia das abelhas Apis é formada por uma abelha rainha, abelhas operárias e zangões (machos), sendo que somente as fêmeas possuem ferrão. A função da rainha é botar ovos, sendo ela a única abelha fértil na colmeia. Aos zangões cabe a função de fecundar a rainha, enquanto as operárias coletam o néctar, produzem o mel e a geleia real e fazem todo o trabalho de defesa da colmeia. Dentro da colmeia, as operárias constroem os favos utilizando cera, e armazenam o mel e o pólen nos alvéolos (estruturas em formato hexagonal) dos favos, pois estes servem para alimentar as larvas (filhotes) e as próprias abelhas. Os alvéolos também servem como "berçários" para o desenvolvimento de novas abelhas.
Quando as abelhas necessitam de uma nova rainha, elas depositam alguns desses ovos fecundados previamente escolhidos em um alvéolo maior, chamado de alvéolo real, onde alimentam essas larvas exclusivamente com geléia real. Após crescerem, as rainhas disputarão entre si, e a abelha rainha vencedora expulsará ou matará as outras rainhas que nasceram juntas.
Uma abelha rainha será alimentada com geléia real durante toda a sua fase larval e vida adulta. Já as larvas das operárias e dos machos, são alimentadas com geléia real apenas até o terceiro dia de vida. Ou seja, qualquer ovo poderá se tornar uma abelha rainha, dependendo da sua alimentação! Para a produção tanto da geleia real como do próprio mel, as abelhas necessitam do néctar das flores, que é metabolizado por enzimas que estão no sistema digestório das abelhas.
Para criar abelhas, precisamos de um espaço verde para instalar o apiário, tendo em mente que as abelhas voam atrás de flores, para que possam coletar o néctar. Ademais, uma fonte de água deve estar a até 500 metros das colmeias. O mel é classificado de acordo com a flora do local, pois isso altera a consistência e a coloração do produto. Por exemplo: um apiário localizado próximo a eucaliptos, será um mel de eucalipto, e ele terá uma cor, consistência e sabor diferente de um mel de laranjeira, por exemplo.
Em relação às instalações, o modelo de caixa de madeira, chamado de Langstroth, é o mais indicado, pois além de imitar uma colmeia natural, facilita o trabalho do apicultor. Nesse modelo, a colmeia é dividida em: tampa, sobrecaixa (melgueira ou sobreninho), ninho, fundo e quadros (caixilhos). Os quadros são feitos de placas de cera alveolada, onde as abelhas constroem os favos para fazer de ninho e armazenar o mel. O ideal é que as colmeias sejam compradas de fabricantes especializados, pois possuem detalhes e medidas que não interferem no manejo e na produção (EMBRAPA, 2007).
De acordo com a EMBRAPA (2007), existem alguns métodos utilizados para iniciar o povoamento do apiário, sendo eles: a compra de colmeias já povoadas, captura de enxames ou divisão de famílias fortes.
A captura de enxames pode ser realizada de três formas: a primeira é a captura passiva, utilizando caixas-iscas colocadas em pontos estratégicos (perto de fontes de água ou locais com floradas) para que durante a época natural de enxameação (período em que ocorre a divisão de um grande enxame em enxames menores, e deslocamento desses enxames atrás de um local para construir a nova colmeia) as abelhas escolhem a caixa como novo lar.
A segunda forma de coleta é através da captura ativa, em que um enxame migratório é colocado dentro de uma caixa contendo quadros com cera alveolada. A migração é o período em que as abelhas estão mudando para outro local, e se instalando provisoriamente em árvores, postes ou telhados durante a “viagem”, momento este em que são capturadas. A terceira forma é a coleta de enxame fixo, sendo esta mais trabalhosa, pois é necessário retirar os favos e transferir para a colmeia do apiário.
No caso de colmeias muito populosas em um apiário, o apicultor pode dividir a mesma em colônias menores, tomando o cuidado para não diminuir demais o tamanho da colmeia. De acordo com EMBRAPA (2007, p.59):
Ao fazer uma divisão, o apicultor deve repartir igualmente o número de quadros contendo favos de cria e alimento nas duas colméias, deixando o maior número de ovos 59 (crias abertas) para a colônia que ficar sem rainha, pois eles serão necessários para a formação de uma nova rainha. Somente os ovos ou larvas de até 3 dias podem gerar rainhas. As operárias também devem ser divididas e o espaço vazio das caixas, preenchido com quadros com cera alveolada. A colônia que ficar com a rainha deve ser instalada a uma distância mínima de 2 metros da outra.
Seja qual for a maneira escolhida para o povoamento, a EMBRAPA (2007) recomenda pincelar o interior da caixa com uma mistura de própolis e água ou com extrato de capim-limão ou capim-cidreira, ou esfregar folhas no interior da caixa, para deixar a madeira com um cheiro mais atraente para as abelhas.
Para uma produção eficiente, o apicultor deve sempre estar atento a situação das colmeias em relação a disponibilidade de alimento, presença e qualidade de postura da rainha, o desenvolvimento das crias e a ocorrência de doenças ou pragas, para que assim, medidas preventivas possam ser tomadas, através de técnicas adequadas de manejo (EMBRAPA, 2003).
Ao avaliar a colméia, o apicultor deve estar atento às condições gerais desta, e se há a ocorrência de anormalidades. Esse manejo deve ser realizado apenas quando há a necessidade, como no caso de enxames recém coletados e antes, durante e depois das principais floradas do ano. No período de entressafra a revisão pode ser mensal, apenas para verificar possíveis anormalidades e se há a necessidade de alimentar as abelhas com xarope artificial, próprio para essa finalidade (EMBRAPA, 2003).
O manejo é realizado sempre de forma a interferir minimamente no enxame. A fumaça utilizada durante o manejo simula uma situação de perigo, o que faz com que a maioria das abelhas abandonem a colmeia, mas não sem antes armazenar a maior quantidade de alimento possível no papo, o que distende o abdômen e dificulta a utilização do ferrão. Entretanto, o manejo resulta no aumento da mortalidade de abelhas adultas, em uma tentativa de defesa da colônia, aumento da mortalidade das crias quando os quadros são expostos ao meio ambiente e a interrupção da postura da abelha rainha (EMBRAPA, 2003).
A extração do mel ocorre quando aproximadamente 80% do quadro está operculado (com os favos fechados pela cera). A cera então é retirada com cuidado e guardada para reutilização. O mel colhido é centrifugado para a retirada de resquícios de cera e vai para o beneficiamento.
No Brasil, apesar da facilidade da apicultura devido ao clima e a diversidade de espécies de flores, o que permite a produção durante o ano todo, a produção ainda é vista como uma fonte de renda alternativa entre a maioria dos produtores. Dessa forma, grande parte dos apicultores são considerados produtores de pequeno porte, possuindo até 50 colmeias, sendo que a média nacional é de 21 colmeias por apicultor, um número considerado baixo, pois indica que para a maioria dos produtores a apicultura não é considerada a primeira fonte de renda (TREVISOL et al., 2022).
TREVISOL et al., (2022) pontuam que a produção de mel no Brasil ainda é pouco explorada e pouco avançada tecnologicamente. Há a necessidade de uma maior organização em sua cadeia produtiva, levando ao aumento da produção de forma sustentável, além de estudar estratégias para uma produção mais competitiva, tanto a nível nacional como a nível internacional. Ademais, os autores citam a importância de aumentar os hábitos de consumo do brasileiro, que consome menos mel do que a média mundial. Em relação à exportação, os Estados Unidos são o maior país comprador do mel brasileiro.
Querido(a) aluno(a), nesta lição, você aprofundou seus conhecimentos sobre a apicultura, que é a criação de abelhas para fins de comercialização de seus produtos, como o mel.
A apicultura, como vemos, ainda é uma produção secundária para a maioria dos produtores rurais, entretanto, possui um grande potencial de crescimento, ajudado pelo clima e diversidade de flora em nosso país, o que para você é um sinal de alerta, visto que, futuramente, pode se tornar sua área de atuação.
Lembre-se sempre, as abelhas são muito importantes para o nosso ecossistema, e ao cultivar e cuidar desses pequenos invertebrados, também estaremos cuidando da vida na Terra!
EMBRAPA. ABC da Agricultura Familiar Criação de abelhas (apicultura). 2007. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/11943/2/00081610.pdf. Acesso em: 10 maio 2023.
EMBRAPA. Manejo Produtivo das Colméias. 2023. Disponível em: http://fap.if.usp.br/~vvuolo/A%20-%20HOME%20-%20Fisica/FMT0458/%202013/Provas/P3/Abelhas-manejoprodutivo.html. Acesso em: 10 maio 2023.
TREVISOL, G. et al. Panorama econômico da produção e exportação de mel de abelha produzidos no Brasil. Revista de Gestão e Secretariado, v. 13, n. 3, p. 352-368, 2022.