Querido(a) aluno(a), nesta lição, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a criação de coelhos, chamada de cunicultura. A criação de coelhos pode ser direcionada para a produção de carne, pele, pelos, animais de laboratório ou animais de companhia, além de outros coprodutos que veremos nesta lição. Vamos aprender um pouco mais?
Imagine que você possui uma pequena propriedade e queira iniciar uma criação de coelhos para venda de carne e pele, além da venda de outros subprodutos, como as orelhas e patas desses animais, a fim de confeccionar petiscos para cães e chaveiros. Como você iniciaria essa criação? Qual sistema seria o mais adequado, de acordo com as suas perspectivas? Qual a raça a ser escolhida? Quais instalações seriam necessárias?
A cunicultura tem algumas particularidades em sua criação e, no Brasil, há reclamação dos produtores de coelhos sobre escassez de assistência técnica qualificada nessa área. Como Técnico(a) em Agronegócio, você pode auxiliar esses produtores! Vamos em frente!
Para o case desta lição, trago a você a história de uma produtora de alimentos orgânicos que estava buscando uma alternativa para adquirir adubo orgânico às suas plantas bem como uma fonte de renda extra por meio da criação de uma espécie animal que fosse de fácil manejo e necessitasse de menor investimento em relação a outras criações, como a bovinocultura.
Ao contratar uma Técnica em Agronegócio, ela sugeriu a criação de coelhos com o objetivo de venda da carne e da pele dos animais e, também, a utilização do esterco deles como adubo. Após o estudo de mercado para avaliar a viabilidade da criação naquela região, foi escolhida uma raça de porte médio, a fim de atender adequadamente a demanda tanto de carne quanto de pele. O sistema de produção escolhido foi o intensivo e, para isso, um galpão foi construído, onde gaiolas suspensas foram instaladas. Dessa forma, o esterco era recolhido e levado à preparação do adubo, e os animais eram manejados de forma eficiente.
Em pouco tempo, o retorno financeiro foi o suficiente para pagar os investimentos iniciais, e a criação tornou-se eficiente e lucrativa, ou seja, uma renda extra para essa produtora de orgânicos!
Este case, apesar de fictício nos mostra como a cunicultura pode ser uma boa alternativa em muitas propriedades, especialmente como uma fonte extra de rendimento para pequenos e médios produtores. Vamos aprender um pouco mais sobre esses animais e a sua criação!
Cunicultura é o nome atribuído à criação de coelhos domésticos. Atualmente, os objetivos mais conhecidos dessa produção são para o consumo de carne ou a venda de coelhos como animais de estimação, entretanto existem muitos outros produtos que podem ser gerados pela cunicultura. Ao produtor caberá direcionar a sua criação segundo os objetivos de produção.
De acordo com Ferreira et al. (2012), os principais usos atribuídos à produção de coelhos são:
Produção de carne: para produção caseira ou comercial.
Pele: produção de artesanatos, roupas, tapetes e afins.
Pelos: Para feltros de roupas ou acessórios.
Genética e melhoramento genético: para venda de matrizes e reprodutores.
Animais de laboratório: em alguns países, coelhos ainda são utilizados em testes de laboratório. Entretanto a tendência é a proibição total no futuro.
Animais de companhia: cunicultura pet.
Couro: utilizado, principalmente, na confecção de roupas.
Orelhas: produção de gelatina e petiscos para cães. Por exemplo, a orelha pode ser desidratada e servida para o animal roer, auxiliando no gasto de energia, na limpeza dos dentes e, até mesmo, no enriquecimento ambiental.
Patas e cauda: confecção de amuletos e chaveiros.
Sangue e cérebro: uso para finalidades específicas em laboratório.
Fezes: podem ser utilizadas em adubação orgânica.
Urina: pode ser utilizada como fixador de aroma na confecção de perfumes.
Ao iniciar uma criação de coelhos, a escolha da raça é um ponto muito importante devido às suas diferentes aptidões. As raças de coelhos são divididas de acordo com o seu tamanho em: raças gigantes, médias, pequenas e anãs (SOUZA, 2012; KLINGER; TOLEDO, 2020).
Os animais atingem, no mínimo, 5 kg, podendo chegar até 10 kg. Devido ao seu tamanho, são considerados bons para o abate, entretanto o seu rápido crescimento costuma afetar a qualidade da pele. Alguns exemplos de raças gigantes são o Gigante de Bouscat e o Borboleta Francês.
Os animais atingem de 3,5 a 5 kg na idade adulta. As raças médias são mais precoces, rústicas e boas produtoras de carne e pele. Por tais motivos, este grupo é considerado o mais importante, especialmente em relação à produção industrial. Alguns exemplos são as raças Nova Zelândia, Califórnia e Angorá.
Atingem de 1,5 a 3,5 kg na idade adulta, não sendo um bom tamanho para a produção de carne e outros produtos. Entretanto as fêmeas de raças pequenas são consideradas boas mães (habilidade materna) e, por isso, costumam ser usadas em cruzamentos com outras raças, para melhorar essa habilidade (melhoramento genético!). Alguns exemplos são as raças Polonês e Holandês.
Os minicoelhos chegam ao peso máximo de 1,5 kg na idade adulta, não sendo interessantes para a produção industrial, por isso são comumente criados como pet. Alguns exemplos são as raças Mini Angorá e Mini Rex.
Se Liga!
Muitas pessoas acreditam que coelhos e lebres são iguais, entretanto são duas espécies distintas e, como tal, não podem se reproduzir entre si! As lebres apresentam orelhas e patas traseiras mais longas e costumam viver em campos abertos sozinhas ou com seus parceiros, enquanto os coelhos, na natureza, vivem em grupo e em túneis subterrâneos.
Ao iniciar uma criação de coelhos, deve-se, primeiro, fazer a compra dos reprodutores. Ferreira et al. (2012) recomendam adquirir esses animais de empresas confiáveis que possuam garantia de qualidade, além de adquirir fêmeas e machos de locais diferentes, para melhor variabilidade genética.
A reprodução dos coelhos pode ser realizada pela monta natural (um coelho para 10 fêmeas, de acordo com o tamanho da produção). Aos 6 meses de idade, já é possível utilizar o macho como reprodutor. As fêmeas, por sua vez, costumam iniciar a sua vida reprodutiva próximo aos 5 meses de idade. Na monta natural, o macho é colocado na gaiola da fêmea 2 vezes por dia, de manhã e ao final da tarde, durante 3 dias. As coelhas têm ovulação induzida, ou seja, a estimulação do macho para o acasalamento é o que as faz ovular.
A inseminação artificial também é utilizada na cunicultura. Neste caso, o cio da fêmea é induzido pela aplicação de hormônios ou pela utilização de machos inférteis ou vasectomizados.
A gestação da coelha dura, em média, 31 dias e, após 14 dias do parto, um novo acasalamento já pode ser realizado, porém esse número varia de acordo com as características da criação (FERREIRA et al., 2012). Aproximadamente 3 dias antes do parto, um ninho deve ser colocado na gaiola, para que a fêmea os prepare à chegada dos láparos (nome dado aos filhotes de coelho).
Geralmente, esse ninho é feito de madeira no formato de caixa, contendo feno ou algum material macio e absorvente. As fêmeas também costumam arrancar seus próprios pelos para fazer o ninho. A desmama ocorre, em média, aos 35 dias de idade, após esse período, os filhotes vão para uma gaiola com 5 a 6 coelhos, dependendo do tamanho (FERREIRA et al., 2012).
A alimentação dos animais é feita pelo fornecimento de ração formulada especialmente para esses animais e com ingredientes de origem vegetal, visto que são animais herbívoros. Os coelhos não são animais ruminantes, por isso a fermentação microbiana voltada à utilização dos nutrientes das plantas ocorre no seu intestino grosso, mais especificamente, no ceco.
Você sabia?
Ao observar os coelhos, você, talvez, se depare com algo, aparentemente, inusitado: eles comem as próprias fezes! Entretanto isso é normal e auxilia no bom funcionamento do sistema digestivo deles! Os coelhos produzem 2 tipos de fezes: as comuns e os cecotrofos, os quais costumam ser ingeridos diretamente do ânus. Os cecotrofos são considerados alimentos fermentados e enriquecidos pelas bactérias que vivem no ceco desses animais, sendo, portanto, uma fonte de nutrientes, ao contrário das fezes comuns, que não são adequadas para a (re)ingestão.
A criação de coelhos, assim como as outras, também pode ser dividida em sistema extensivo, semi-intensivo e intensivo.
Os coelhos são criados soltos, alimentando-se, geralmente, de restos de legumes, sem controle sanitário ou alimentação balanceada. De modo geral, o sistema extensivo é utilizado apenas para consumo próprio.
Nesse sistema, os animais ficam parte do tempo soltos em um local cercado, onde se alimentam de forragens disponíveis nesse campo. Entretanto os animais recebem suplementação alimentar com ração e, também, ficam alguns períodos em gaiolas.
Nesse sistema, os animais ficam o tempo todo em gaiolas coletivas ou individuais ou em galpões. No sistema intensivo, o controle dos animais é maior, especialmente em relação ao acasalamento indiscriminado.
Ao planejar construir um galpão para o alojamento de coelhos, deve-se levar em consideração fatores como: a localização (em relação ao escoamento do produto e acesso aos consumidores), a facilidade de acesso ao local, a obtenção de energia elétrica e água potável, além da boa ventilação, o que auxilia no conforto térmico e dificulta o risco de doenças.
De acordo com Souza (2012), o isolamento térmico é um fator muito importante, pois auxilia a manter o ambiente quente no clima frio e fresco no verão. Além disso, o galpão deve ter ventiladores e grandes janelas, permitindo tanto a ventilação quanto a troca de ar eficiente. As janelas devem possuir cortinas, geralmente, feitas de lona, para impedir a entrada do frio e do vento durante o inverno, mantendo os animais aquecidos.
Dentre os equipamentos utilizados na cunicultura, a gaiola utilizada é de extrema importância. De acordo com Ferreira et al. (2012, p. 47):
O ideal é o emprego do galpão com gaiolas de arame galvanizado, pois permite maior número de gaiolas por unidade de superfície, facilita o trato, a limpeza, permitindo fácil desinfecção, melhor proteção contra o sol, contra a chuva, contra os ventos e outros. Para granjas de média escala é aconselhável a utilização de galpões separados para engorda e maternidade ou, pelo menos, a divisão física dentro de um mesmo galpão.
As gaiolas utilizadas na cunicultura, geralmente, são suspensas e têm comedouros, bebedouros e repouso de patas, que são pequenos retângulos ou quadrados de plástico onde os coelhos descansam essa parte do corpo. O descanso de patas é essencial, pois, com o crescimento e aumento de peso dos coelhos, há mais chance de ocorrer feridas nas patas devido ao piso vazado das gaiolas, o qual é aberto no fundo para o escoamento das fezes e da urina.
O ninho é outro item de extrema importância, porque é nele que o parto ocorre bem como é onde os láparos ficam alojados. Geralmente, é feito de caixas de madeira ou plástico resistente, forrados com palha ou feno. São colocados 3 dias antes da data provável do parto e retirados entre 18 e 21 dias de vida. Em regiões frias, os ninhos podem ser fechados, com apenas uma porta para a entrada e saída da coelha.
A produção de coelhos possui vantagens como a facilidade em seu manejo e instalações relativamente simples, resultando em uma variedade de produtos a serem comercializados. Entretanto, como desvantagem, a cadeia produtiva da cunicultura ainda é desorganizada, no Brasil. Sendo assim, a maioria das criações são realizadas como atividade alternativa ou secundária a outras criações (SOUZA; SILVA, 2022).
A carne de coelho é muito consumida em todo o mundo, por ser considerada uma carne saudável, com baixo teor de gorduras, colesterol e sódio, entretanto o seu consumo no Brasil ainda é baixo se comparado a outros países (SOUZA; SILVA, 2022). O principal desafio é em relação ao hábito cultural dos brasileiros, que não costumam consumir carnes consideradas exóticas. Ademais, fatores como a escassez de pesquisas e de incentivos do governo também vão na contramão do desenvolvimento desse setor (FERREIRA et al., 2012).
De acordo com Souza e Silva (2022), a produção de coelhos de corte passa por diversos entraves, visto que essa espécie é considerada, cada dia mais, um animal de companhia. Ademais, no Brasil, faltam pesquisas voltadas a essa criação.
A criação não precisa de altos investimentos, e o ciclo de vida curto permite um retorno rápido com a venda não apenas da carne, mas também de outros subprodutos. Por tais motivos, a criação de coelhos é uma boa alternativa, especialmente, para o pequeno produtor. Por outro lado, a criação de coelhos como animais de estimação (pets) vem ganhando mais espaço. A produção voltada a esse fim vem aumentando significativamente, o que movimenta a compra de produtos de petshop, além do alto valor agregado, especialmente, às raças anãs (MACHADO, 2012).
Caro(a) aluno(a), nesta lição, você aprendeu um pouco mais sobre a cunicultura, que é a criação de coelhos com o objetivo de aproveitar a sua carne e os seus produtos.
A criação de coelhos possui atrativos, como: a facilidade de manejo e o menor valor de investimento, sendo uma opção interessante, especialmente, como uma produção secundária em uma propriedade, atuando como uma renda extra.
A cunicultura tem potencial de crescimento, entretanto há muitos desafios que devem ser superados para que essa criação seja mais econômica e lucrativa, com possibilidade de entrar no rol de grandes produções no nosso país. Cabe a você, como Técnico(a) em Agronegócio(a), auxiliar a construir o futuro da cunicultura no Brasil!
FERREIRA, W. M. et al. Manual Prático de Cunicultura. Bambuí: Associação Brasileira de Cunicultura, 2012.
KLINGER, A. C. K.; TOLEDO, G. S. P. Cunicultura: didática e prática na criação de coelhos. Santa Maria: UFSM, 2020.
MACHADO, L. C. Opinião: panorama da cunicultura brasileira. Revista Brasileira de Cunicultura, v. 2, n. 1, p. 1-17, 2012.
SOUZA, G. C. C. F. de. Dossiê Técnico Cunicultura: criação de coelhos. Curitiba: TecPar; BRT, 2011. Disponível em: https://www.bibliotecaagptea.org.br/zootecnia/cunicultura/livros/DOSSIE%20TECNICA%20CUNICULTURA.pdf. Acesso em: 3 maio 2023.
SOUZA, J. F.; SILVA, J. S. Cunicultura: uma alternativa rentável para pequenos produtores?. In: TITTO, C. G.; BRANDI, R. A. (org.). O papel da Zootecnia no cenário mundial. Pirassununga: Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, 2022. (Série Coletânea de Atualidades em Zootecnia, v. 2). p. 77-92.