Lição 7: Forragicultura: Principais alimentos volumosos utilizados na Produção Animal
e a importância o Manejo de Pastagens
e a importância o Manejo de Pastagens
Olá, aluno(a), na lição 6, você aprendeu sobre os principais alimentos utilizados na fabricação de rações e concentrados para os animais. Porém, como visto na lição 5, algumas espécies, como os bovinos, ovinos, caprinos e equinos, precisam também se alimentar de alimentos volumosos para manterem o seu sistema digestivo saudável.
Os alimentos volumosos são aqueles com alto teor de fibras, ou seja, as plantas, desta forma, as plantas que servem como alimento para os animais são chamadas de forragens ou forrageiras e o conhecimento das diversas forragens e suas particularidades é importante, pois a utilização destas de forma correta melhora a produção e o lucro das criações.
Na lição anterior você aprendeu sobre os principais alimentos utilizados na Nutrição Animal. Agora você sabe quais são os principais alimentos utilizados para a produção da ração de animais não ruminantes, como as aves e os suínos, e para a produção do concentrado para os ruminantes como os bovinos. Porém, como você aprendeu na lição 5, os bovinos, ovinos e equinos também precisam de alimentos volumosos na dieta! Porém, como adquirir esses alimentos? Por que eles são tão importantes?
Como você aprendeu, animais ruminantes e até mesmo alguns monogástricos como os equinos, necessitam de alimentos volumosos para manter o seu sistema digestório saudável. E é neste ponto que entra a importância da pastagem. Animais criados em sistema extensivo alimentam-se exclusivamente dela. Em outros sistemas de produção, essa pastagem pode ser oferecida diretamente no cocho do animal, na forma de forragem.
Ao iniciar uma criação de ovinos, por exemplo, você saberia escolher qual a melhor espécie de planta para ser plantada no local da criação? A mesma planta que alimenta eficientemente um bovino, é suficientemente boa para um equino ou um ovino? Todos esses pontos precisam estar claros em sua mente, para uma gestão eficiente da pastagem e da sua utilização.
Uma produtora rural de nome Odette possuía uma extensa área, onde criava bovinos de corte. Essa produtora também possuía alguns cavalos, os quais se alimentavam no mesmo pasto que os bovinos. Porém, essa produtora percebeu que seus cavalos estavam comendo pouco e emagrecendo, enquanto os bovinos continuavam a se alimentar normalmente. Se você é uma pessoa questionadora e está atendo ao que está sendo estudando nesta e em algumas lições anteriores, já deve estar pensando no que poderia estar acontecendo neste caso, e se chegou à conclusão que o problema envolve ao que está sendo consumido pelos animais, você acertou!
O problema é que ambas as espécies foram criadas em um pasto com Brachiaria decumbens. O bovino alimenta-se da planta dessa espécie, porém, elas são rejeitadas pelos equinos, que a consumiam apenas para não morrerem de fome. Ademais, o consumo de Brachiaria por equinos pode levar inclusive a problemas de deficiência de cálcio e aumento da fotossensibilização (quando os animais ficam mais sensíveis à luz do sol). Neste caso, uma solução seria a separação dos animais por piquetes (espaços pré-definidos e limitados na área de pastagem), e a plantação de uma forragem nutritiva para os equinos, separadamente dos bovinos.
Forragem é o nome das plantas que podem ser fornecidas aos animais. Como visto na lição 5, algumas espécies de animais como os bovinos, ovinos e equinos, precisam alimentar-se não apenas com rações concentradas, mas também com alimentos volumosos, com alto teor de fibra, para que possam manter o seu sistema digestório saudável. Os volumosos fornecidos aos animais são as forragens e essas podem ser fornecidas de diferentes formas:
Pastagem: Os animais podem ser soltos no pasto, onde caminham por ele e alimentam-se conforme a sua necessidade.
Forragens picadas: As forrageiras também podem ser colhidas, picadas e fornecidas verdes (frescas) diretamente no cocho dos animais.
Silagens: As silagens são fabricadas em um processo chamado de ensilagem. Nesse processo a planta é cortada, colocada em um silo (estrutura construída para armazenar a silagem), compactada e vedada para que não entre oxigênio e ocorra a fermentação, o que as mantém conservadas por um longo período.
Fenos: São forragens conservadas através da desidratação. As plantas são colhidas, secas ao sol e armazenadas em galpões que os mantém livres da umidade. A figura 1 mostra vários fardos de feno no campo.
A criação de bovinos utiliza como base a exploração de pastagens. Para que essa exploração seja eficiente e sustentável, há a necessidade de escolher a planta forrageira correta. O Brasil possui vários biomas diferentes, portanto, uma espécie de forragem que é ótima em uma região, pode não apresentar resultados satisfatórios em outro local. Existem inúmeras espécies forrageiras utilizadas no Brasil, e a escolha de uma espécie de planta dependerá, além das condições climáticas, da espécie de animal e do sistema de produção utilizado (FONSECA E MARTUSCELLO, 2010).
Em sistemas de produção extensivos, os animais irão até o pasto se alimentar, portanto, a forragem escolhida precisa ser resistente à influência direta do animal, como o pisoteio, pastejo e dejetos (fezes e urina). Já no sistema intensivo, os animais não irão até a pastagem se alimentar, pois estas serão cortadas e oferecidas aos animais frescas (verde) ou conservadas na forma de feno ou silagem. Neste caso, a planta forrageira não é afetada pelo animal, mas precisa ser escolhida com base na sua produção e qualidade, visto que animais criados em confinamento são mais produtivos, e consequentemente, necessitam de uma forragem com maior concentração de nutrientes (FONSECA E MARTUSCELLO, 2010). Existem também criações onde o animal passa uma fase da vida em sistema extensivo, e depois em sistema intensivo. Como exemplo, podemos citar os bovinos de corte que crescem em pastagens e depois de adultos são confinados para a fase de terminação (período em que os animais ganham peso para o abate) (SANTOS E NEIVA, 2022).
Outras criações como caprinos, ovinos, equinos e até mesmo criações de aves caipiras são dependentes das pastagens (SANTOS E NEIVA, 2022). Neste ponto, o fator animal entra em ação. Uma espécie forrageira utilizada na criação de bovinos, pode não ser adequada para a criação de outras espécies, devido a fatores nutritivos ou de aceitação do animal. De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), animais como os caprinos preferem se alimentar de folhas e cascas de árvores (plantas lenhosas), os ovinos preferem ervas e gramíneas e bovinos, preferem as gramíneas. Os autores também citam a importância do modo de captura do alimento na preferência das espécies. Por exemplo, os ovinos são mais seletivos na escolha do alimento, porque eles os apreendem com os lábios. Já os bovinos pegam o alimento com a língua, formando um êmbolo, e por isso, selecionam menos.
Independente da criação e do sistema de produção escolhido, a planta precisa ser produtiva, de boa qualidade e estar adaptada a cortes frequentes, seja pelo pastejo dos animais ou o corte para o fornecimento no cocho (FONSECA E MARTUSCELLO, 2010). Por fim, devemos ter em mente que o Brasil é um país de dimensões continentais, sendo improvável que uma espécie de planta forrageira seja sempre a melhor e mais produtiva em todas as regiões (SANTOS E NEIVA, 2022).
Os autores Santos e Neiva (2022) apontaram algumas características desejáveis em plantas forrageiras, e estas estão listadas abaixo:
Elevada produção de forragem: Uma maior produção de forragem aumenta a taxa de lotação (mais forragem, mais animais em um mesmo espaço) e a produtividade da propriedade. Forrageiras mais produtivas tendem a ser mais exigentes em relação a fertilidade do solo, pois necessitam de mais nutrientes para crescer.
Boa distribuição de forragem: Significa a escolha de plantas que crescem de maneira uniforme ao longo do ano, o que seria o ideal. Porém, há uma grande variação de crescimento delas de acordo com as estações, sendo a sazonalidade da produção uma das características indesejáveis das forragens, pois impacta diretamente os sistemas de produção baseados em pastagens.
Ser Perene: Plantas perenes são plantas de ciclo de vida longo, que duram vários anos ou são permanentes. Essas plantas possuem capacidade para rebrotar após o corte ou o pastejo sucessivos. Estabelecer uma pastagem custa caro (preparo da terra, compra de sementes, etc), o que faz essas espécies serem interessantes do pontos de vista econômico.
Tolerância a temperatura e umidade extremas: Além da importância em locais muito quentes ou frios, é importante devido às projeções de mudanças climáticas.
Boa resposta à adubação: Importante devido aos custos de implantação de uma espécie forrageira em uma pastagem.
Alta produção de sementes de boa qualidade: Grande parte das forrageiras em nosso país são dispersas por sementes. O uso de sementes próprias diminui os custos de produção com a compra de novas sementes, transporte e mão de obra em relação a compra de mudas prontas.
Valor nutritivo e persistência do valor nutritivo: O valor nutritivo da planta pode ser afetado especialmente por fatores ambientais e de manejo, portanto, é interessante a escolha de uma planta que, além de ser nutritiva, mantenha o seu valor nutritivo mesmo em condições adversas.
Tolerância ao corte e ao pastejo: A capacidade de crescerem novamente após serem cortadas (pelo animal ou mecanicamente).
Boa aceitabilidade pelos animais: Essencial para termos a certeza de que a forragem e seus nutrientes foram ingeridos pelos animais. Afinal, de nada adianta uma forragem ser extremamente nutritiva, se os animais não se alimentarem dela.
É impossível reunir todas essas características em uma única planta forrageira, mas tais características podem orientar na escolha da melhor espécie forrageira no sistema de produção animal. Deve-se ter cuidado também ao mudar a espécie cultivada na propriedade. Realizar a troca de pastagem sem os ajustes necessários no solo, pode inclusive contribuir para a degradação das áreas de pastagens (SANTOS E NEIVA, 2022).
Existem dois importantes grupos de plantas forrageiras utilizadas para a alimentação animal: as Gramíneas (Família Poaceae) e Leguminosas (Família Fabaceae). As gramíneas sempre foram comumente utilizadas, porém o seu baixo valor nutritivo pode limitar a expressão do potencial produtivo de um animal. Nesse quesito, as leguminosas entram como uma fonte maior de nutrientes, sendo muitas vezes utilizadas em conjunto (consórcio) com as gramíneas.
Gramíneas: São espécies que possuem as folhas de formato semelhante a lâminas. são muito utilizadas por apresentarem um ciclo de vida longo, sendo anuais (duram uma estação, meses ou um ano) ou perenes (duram anos). A figura 2 mostra o formato das folhas das gramíneas.
Leguminosas: São plantas que produzem sementes dentro de suas estruturas, chamadas vagens. São utilizadas para aumentar o teor de proteína na dieta dos animais criados à pasto. Podem ser utilizadas em consórcio com as gramíneas ou oferecidas de forma separada (como fonte de proteína). Podem também ser conservadas na forma de feno e silagem. Em climas temperados, o consórcio entre leguminosas e gramíneas é harmônico. Já em clima tropical, as leguminosas não produzem tão bem quanto em consórcio com a gramíneas.
O consórcio de gramíneas e leguminosas aumenta a oferta de forragem, além de melhorar a qualidade nutricional da pastagem por um período maior, visto que as duas pastagens possuem picos de produtividade que se completam. Além disso, elas ajudam a diminuir os custos com a adubação, pois as leguminosas auxiliam a implementar a nutrição do solo, o que também auxilia na recuperação de pastagens degradadas. O consórcio pode ainda melhorar o aproveitamento de água, luz e nutrientes disponíveis, aumentando a massa (quantidade) de pastagem na área (OLIVEIRA et al., 2019). Porém, deve-se sempre ficar atento às espécies consorciadas e a região, para que não ocorra competição de nutrientes, luz e água pelas plantas e que o consórcio realmente ocorra de forma satisfatória.
As principais gramíneas forrageiras são listadas abaixo:
Gênero Brachiaria: As plantas do gênero Brachiaria são uma das mais utilizadas no Brasil, sendo as principais a Brachiaria brizantha, Brachiaria decumbens e Brachiaria humidicola. É muito utilizada na criação de bovinos, porém não são bem aceitas pelos equinos.
Capim Elefante: Muito utilizada em rebanhos leiteiros servidos na forma picada no cocho ou na forma conservada, e também em pastejo rotacionado (quando o animal é mudado periodicamente de uma área de pastagem para outra, para que o pasto “descanse”).
Capim Colonião: Possui boa produtividade e se adapta a diferentes tipos de clima. É utilizada na alimentação de bovinos, equinos e ovinos. Pode se tornar uma planta invasora dependendo do local onde nasce, pois compete por luz, nutrientes e espaço com outras plantas cultivadas, como feijão, milho e soja, entre outras culturas.
Aveia: É muito utilizada como pastagem de inverno, por ser resistente ao clima frio e a geadas. Pode ser utilizada verde no cocho, pastejo, na forma de feno ou silagem.
Azevém: Muito utilizado na alimentação de bovinos de corte e de leite, é consumido na forma de pastagem, feno ou silagem.
Milho: Como visto na lição 6, não só os grãos, mas a planta do milho também é muito utilizada na alimentação animal, especialmente para a produção de silagem.
Algumas das leguminosas utilizadas na alimentação animal são listadas abaixo:
Alfafa: Conhecida mundialmente como a rainha das forrageiras, possui alto valor nutricional, palatabilidade (os animais gostam de se alimentar dela), produz grande quantidade de forragem e cresce em clima temperado, subtropical e tropical, e sua produção é maior no verão. É rica nos minerais cálcio e fósforo e nas vitaminas A e C (FONTANELI, FONTANELI E SANTOS, 2012).
Amendoim Forrageiro: Possui boa aceitação pelos animais, sendo utilizado na alimentação de bovinos, ovinos, caprinos e equinos. Também é uma boa opção para criações de galinhas e porcos caipiras. Auxilia na recuperação de pastagens degradadas pois absorve nitrogênio, que é convertido em adubo para as plantas.
Ervilhaça: Planta de inverno, consegue se desenvolver mesmo na presença de geadas. Pode ser utilizada para recuperação de pastagens e também para a alimentação de bovinos, ovinos e equinos. A leguminosa pode ser visualizada na figura 3.
Há uma imensa variedade de plantas forrageiras no mercado, e caberá ao produtor a escolha da melhor espécie (ou espécie, no caso de consórcios) que se adaptem a espécie, região, clima, solo e, de forma abrangente, ao sistema de produção utilizado.
Agora você compreende a importância do manejo de pastagem na Produção Animal! No Brasil, aproximadamente 85% das criações de bovinos, especialmente, ainda são feitas no sistema extensivo, o que aumenta ainda mais a importância do manejo de pastagem.
Lembre-se: as forrageiras não servem apenas como alimento para os animais. Em muitos casos, elas podem auxiliar na restauração de pastagens degradadas, um problema que acontece muito em nosso país.
Você como futuro(a) técnico(a) em agronegócio terá um papel fundamental na escolha das melhores plantas forrageiras em um sistema de produção, mantendo a produtividade e a qualidade dos pastos pelo nosso país!
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. 2019. Acesso em: 22 nov. 2022
FONSECA, D. M.; MARTUSCELLO, J. A. Plantas Forrageiras. Editora: UFV, 2010.
FONTANELI, R. S.; FONTANELI, R. S.; SANTOS, H. P. Leguminosas forrageiras perenes de verão. Forrageiras para integração lavoura-pecuária-floresta na região sul-brasileira. Brasília: Embrapa, p. 335-349, 2012.
OLIVEIRA, A. P. T. et al. Características e utilização do azevém (Lolium multiflorum l.) na alimentação de ruminantes–revisão de literatura. Revista Científica Rural, Bagé, v. 21, n. 3, p. 347-365, 2019.
SANTOS, M. V. F.; NEIVA, J. N. M. Culturas Forrageiras no Brasil: Uso e Perspectivas. 2022. Disponível em: http://www.ppgz.ufrpe.br/publicacoes. Acesso em: 14 nov. 2022.
PEXELS. Lote de fardo redondo. Disponível em: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/lote-de-fardo-redondo-289334/>. Acesso em: 10 fev. 2023.
PEXELS. Lote de fardo redondo. Disponível em: <https://www.pexels.com/pt-br/foto/folha-de-grama-graminea-grama-verde-13255771/>. Acesso em: 10 fev. 2023.
ENVATO. Ervilhaça. Disponível em: <https://elements.envato.com/pt-br/purple-vicia-cracca-blooming-flowers-in-summer-fie-68CG8C5>. Acesso em: 10 fev. 2023.