Um Café com Sêneca: Um Guia Estoico para a Arte de Viver
Um Café com Sêneca
Um Guia Estoico para a Arte de Viver
David Fideler
Tradução de Heci Regina Candiani
Rio de Janeiro: Sextante, 2022
Prefácio
Sêneca ensina a seus leitores como superar a preocupação e ansiedade, como ter uma vida boa em qualquer condição, como viver com propósito e cultivar a busca da perfeição, como contribuir para a sociedade e como superar a tristeza.
Sêneca enfatizava que a filosofia e a amizade devem andar juntas. Baseado em Sócrates, que acreditava que a filosofia e o diálogo são uma jornada compartilhada, uma colaboração entre amigos.
Introdução — Uma vida que verdadeiramente vale a pena ser vivida
Sêneca (c. 4 a.C.-65 d.C.) foi um dos maiores e mais cultos escritores de sua época. Na condição de descontente conselheiro do malfadado regime do imperador Nero.
Este livro apresenta novas traduções de sua obra e expõe as ideias-chave e os sábios ensinamentos de Sêneca. Também é uma introdução à filosofia estoica em geral.
O estoicismo não tem nada a ver com “manter-se impassível” ou “reprimir emoções”
Algumas ideias estoicas importantes remontam ao filósofo grego Sócrates, para quem “a vida não examinada não vale a pena ser vivida”.
Essas duas ideias — autoconhecimento para ser feliz e para viver uma vida boa, e filosofia como uma espécie de terapia para a alma — foram os alicerces do estoicismo.
Essa ênfase no “viver bem” também separa o estoicismo da filosofia acadêmica contemporânea, que deixou de lado as preocupações humanas práticas em prol de temas teóricos abstratos.
Oito princípios iniciais
1 — Viva de acordo com a sua "natureza” para encontrar a felicidade.
2 — A virtude, ou a excelência do caráter interior, é o único bem verdadeiro.
3 — Algumas coisas “dependem de nós” ou estão inteiramente sob nosso controle, outras não.
4 — Embora não possamos controlar o que acontece conosco no mundo exterior, podemos controlar nossos juízos interiores e o modo como reagimos aos acontecimentos da vida.
5 — Quando acontece algo negativo ou quando somos atingidos pela adversidade, não devemos nos surpreender, e sim enxergar o fato como uma oportunidade para criar uma situação melhor.
6 — A virtude, ou caráter excelente, é uma recompensa em si mesma. Mas também resulta em eudaimonia, ou “felicidade”, um estudo de tranquilidade mental e alegria interior.
7 — A verdadeira filosofia envolve “progredir”.
8 — É essencial que nós, como indivíduos, contribuamos para a sociedade.
Se você ler a obra de Sêneca, uma das coisas mais impressionantes que vai observar é que, mesmo tendo sido escritas há 2 mil anos, suas Cartas retratam com precisão o nosso mundo atual.
O que torna Sêneca único na tradição estoica é sua profunda percepção psicológica da condição humana, incluindo ambição e os medos.
Capítulo 1 — A arte perdida da amizade
"Coisa alguma jamais me satisfará, por mais excelente ou benéfica que seja, se eu precisar guardar apenas para mim o fato de que a conheço... Não há prazer em possuir uma coisa boa sem amigos com quem compartilhá-las." (Sêneca, Cartas 6.4)
Lucílio, sob a direção de Nero, governava a região da Sicília. Quis se aconselhar com Sêneca. Lucílio se perguntava se tinha recursos financeiros suficientes para manter o seu estilo de vida na aposentadoria ou se deveria trabalhar por mais alguns anos para aumentar suas economias.
Embora nunca mencionada por estudiosos, essa é a história por trás das cartas de Sêneca a Lucílio. As Cartas são um curso introdutório, engenhosamente preparado, sobre o entendimento de Sêneca a respeito da filosofia estoica.
Para Sêneca, a filosofia envolvia relacionamentos pessoais. Nesse sentido, teceu críticas aos filósofos acadêmicos de sua época, pois estes reduziam a filosofia a argumentos lógicos desinteressantes. Eles se concentravam em analisar detalhes e discutir minúcias em vez de explicar ideias que poderiam melhorar a vida humana.
Instrumentos da Amizade
"Sempre que suas cartas chegam, parece que estou com você. Sinto que estou prestes a falar minha resposta em vez de escrevê-la." (Sêneca, Cartas 67.2)
Na Antiguidade, a carta era um instrumento para construir, manter e fortalecer amizades, uma ponte para a distância física. Os e-mails, ao contrário das cartas, são uma reunião de comentários.
Há mais de 2 mil anos, Aristóteles já tinha enfatizado a importância da amizade. Ele a classificou em três níveis:
Amizades por vantagens — mais básica, gera benefícios mútuos.
Amizades por prazer — são aquelas que geram prazer mútuo (ir ao cinema, por exemplo).
Amizades por caráter — é o nível mais profundo, pois confere uma admiração mútua.
Progredindo juntos
Para Sêneca, quando duas pessoas puderem dar suporte uma à outra, aprimorar o caráter e progredir juntas, terão o tipo ideal de amizade.
Estar perto de pessoas boas também nos ajuda a desenvolver um caráter adequado.
Traçando um caminho: estoicismo como progresso
Como Sêneca percebeu, só é possível progredir de verdade quando você tem consciência de seus defeitos ou do que possa lhe faltar. No fim das contas, só é possível buscar sabedoria se você percebe que há algo faltando.
No que diz respeito ao estoicismo, pode-se dizer que há três grupos de pessoas: os sábios, as pessoas que progridem para se tornarem sábias e as pessoas que não progridem (não questionadoras)
Visualizemos um triângulo:
no topo estão os sábios;
na parte intermediária, as pessoas que progridem para se tornarem sábias;
na base, os não questionadores.
Se não é impossível encontrar um sábio, embora sejam incrivelmente raros, qual o valor prático de sua existência? No fim das contas, o sábio é um modelo — uma bússola ou estrela guia — para dar aos estudantes um objetivo, para que se mantenham na direção certa.
No nível oposto e menos filosófico da pirâmide, os não questionadores correspondem ao que Sócrates descreveu como grupo dos inconscientes: por não perceberem que carecem de sabedoria, essas pessoas nunca desejarão buscá-la.
O termo que os gregos antigos usavam para se referir ao estudante do estoicismo era prokoptôn, que significa “alguém que progride”.
“A maior parte do progresso consiste no desejo de progredir”.
Crise, uma perda pessoal, fracassos recorrentes... provocam no indivíduo a busca do progresso.
Fazendo progressos diários
“Não exija que eu seja igual aos melhores, mas melhor do que os piores. Para mim, basta reduzir o número de meus vícios e corrigir meus erros a cada dia.” (Sêneca, A vida feliz 17.3)
O estoicismo não deve ser uma prática a ser adotada, mas a ser exercitada — como um músico, um atleta — para que você se torne melhor no que faz.
As Meditaçoes de Marco Aurélio destacam que o estoicismo é uma prática diária gradual.
Vivendo a experiência de um sábio
Para Sêneca, progredir não é uma experiência isolada: envolve amizade, compartilhar o tempo com espíritos semelhantes e receber ajuda dos outros.
Capítulo 2 — Valorize seu tempo: não adie a vida
Nosso bem mais valioso
Sêneca acreditava que o tempo é nosso bem mais valioso. Como a vida é finita, resta a cada indivíduo um tempo limitado.
Carta 1 ... alguns momentos nos são tirados, alguns nos são roubados e alguns simplesmente nos escapam.
Estamos enganados em pensar que a morte está no futuro. Grande parte da morte já passou por nós despercebida. Os anos que ficaram para trás já estão nas mãos dela.
Época que escrevia sobre esse tema era a época em que Nero queria envenená-lo.
Sêneca está se referindo a seu trabalho para Nero. Pois, embora tenha lhe sido altamente lucrativo do ponto de vista financeiro, no fim das contas Nero se cansou dele e queria vê-lo morto.
Perdendo tempo
Tempo é o único bem que nos pertence. Mas quando a vida se dissipa pela displicência e pela busca do luxo e quando a morte finalmente nos ameaça, percebemos que a vida passou antes de percebermos que ela estava passando.
Realizações inúteis.
O culto à vida agitada no passado e no presente
Sêneca desconfia muito de pessoas que se envolvem em “atividades” constantes, correndo de um lado para o outro como se tivessem muitas tarefas a cumprir ainda que realizem poucos feitos significativos nesse processo.
Como observou Sêneca, algumas pessoas “acreditam que estar ocupadas é a prova de seu sucesso”.
Sêneca escreveu: “Devemos reduzir a correria a que muitas pessoas se entregam, vagando por teatros, casas e mercados”.
Sobre a aposentadoria. “Depois de fazer 50 anos, vou me aposentar para me divertir. E depois de fazer 60 anos, vou abandonar todas as funções públicas”.
Viciados na riqueza.
Vencendo a servidão: um caminho estoico para a liberdade
“Continue, caro Lucílio, a se libertar: recupere e preserve seu tempo, que até agora vinha sendo tirado de você, roubado de você, ou simplesmente se dissipava.”
Zenão afirmava: “Apenas as pessoas sábias são livres; todas as demais são servas.”
Se você vive zangado, brigando com as pessoas à sua volta, dia após dia, você é servo das emoções.
Vivendo o tempo em sua plenitude
Para Sêneca, “é preciso uma vida inteira para aprender a viver”. O maior obstáculo a uma vida plena, segundo Sêneca, “é a expectativa, que se baseia no amanhã e desperdiça o presente”.
Entre todas as pessoas, apenas aquelas que encontram tempo para a filosofia realmente têm tranquilidade.
Sêneca acreditava que, tendo acesso às mentes filosóficas do passado, uma pessoa poderia experimentar uma sensação profunda de felicidade até o dia de sua morte.
Podemos compreender que a alternativa à “preocupação” e à correria em meio ao turbilhão de tarefas é aprender a viver de forma mais profunda.
Capítulo 3 — Como superar a preocupação e ansiedade
Todos já passamos por preocupações e ansiedades
E se...?
Sêneca estudou atentamente o modo como surgem a preocupação e a ansiedade, e como é possível reduzi-las ou eliminá-las usando técnicas da filosofia estoica.
Por que as pessoas se preocupam
Preocupar-se com o futuro (ou com a possibilidade de algo acontecer) pode provocar um quadro de ansiedade. Não é conveniente transformar a “antecipação, uma bênção da espécie humana”, em fonte de ansiedade.
Como neutralizar o surgimento do medo e da ansiedade?
Algumas coisas “dependem de nós” [estão sob nosso controle]; outras estão fora do nosso controle. “Livre-se do juízo “Fui prejudicado” e a sensação de ter sido prejudicado desaparece.
Um carro passa na rua sobre uma poça de água e nos dá um banho: “Acabei de levar um banho”. Qual será a nossa reação?
A única vida que temos de fato acontece no momento presente (Marco Aurélio)
Como o passado e o futuro estão ausentes e não podemos sentir nenhum deles, só as emoções, as opiniões ou a imaginação podem ser fonte de dor.
Uma casa de espelhos imaginária
Como outros filósofos, Sêneca às vezes propõe um exercício de imaginação ou visualização que pode ser psicologicamente benéfico. Uma das práticas, que Marco Aurélio tornou famosa, é chamada hoje de “visão de cima”: envolve imaginar-se muito acima do nosso planeta e olhar para a Terra...
Quando a imaginação reflete o medo e o medo reflete a imaginação, podemos nos referir à situação como uma casa de espelhos imaginária, alimentada pela emoção.
Como superar a preocupação
Monitorar seus juízos internos e as emoções que eles provocam enquanto o processo acontece. Epicteto chamou essa técnica de prosochê, “atenção plena” ou “mindfulness”.
O estoicismo foi um precursor da terapia cognitivo-comportamental contemporânea.
Sobre a morte, o medo surge da opinião de que a morte é assustadora.
Estar no momento presente
Quando você vive no momento presente, é porque finalmente se encontrou e está vivendo de acordo com quem realmente é, seu centro, seu eu mais essencial.
Capítulo 4 — O problema da raiva
Uma insanidade temporária
Para os estoicos, a raiva (a que eles se referiam como ira) era a pior e a mais tóxica das emoções negativas extremas, que eles chamavam de “paixões” (pathê). “Uma forma temporária de insanidade”.
Em se tratando da raiva, Sêneca escreveu um extenso livro [Sobre a ira]. Neste livro, podemos observar a seguinte frase: “Basta observar os sintomas das pessoas dominadas pela raiva para perceber que elas estão insanas”.
O resultado da raiva intensa é a loucura, escreve Sêneca.
A raiva é “o mal maior” e o “vício que supera todos os outros.”
Um foco hostil: os efeitos devastadores da raiva
A raiva faz com que alguns pais ameacem seus filhos com a morte ou vice-versa.
A raiva nasce de um juízo mental do tipo “fui prejudicado” ou “sofri uma injustiça”. Busca-se vingança ou retaliação como forma de “devolver a injustiça”. O problema da raiva é que ela se recusa a ser controlada.
“Sentimentos” versus “paixões”: a teoria estoica das emoções
Para os estoicos, os sentimentos humanos primordiais são a afeição e o amor pelos outros.
Para os estoicos, os sentimentos são apenas sentimentos, não são bons nem ruins, e todas as pessoas os têm. As emoções saudáveis são boas e se baseiam em juízos sólidos, corretos. Para os estoicos, os verdadeiros inimigos são as emoções negativas extremas ou paixões, que se baseiam em opiniões falsas e prejudiciais ao caráter da pessoa.
Como curar a raiva
O mais importante é conseguirmos desacelerar o processo no início, na primeira sensação de que a raiva pode estar surgindo.
Justiça sem raiva
Ao contrário de Aristóteles, que admitia uma quantidade moderada de raiva, Sêneca demoliu essa visão ao observar que a verdadeira raiva ou ira é um vício que nunca pode ser moderado. Sêneca ressalta que um juiz não deve ter raiva ao punir quem errou, e sim ter esperança de que a punição encoraje o infrator a se tornar uma pessoa melhor.
Capítulo 5 — Você sempre presente: é impossível fugir de si mesmo
"Aqueles que cruzam depressa o mar mudam de ares, mas não suas mentes." (Horácio, Epístolas 1.11.27)
Sêneca dizia: “Você precisa mudar a mente não o lugar.” As falhas, as doenças, os problemas acompanham o sujeito...
Pessoas “distraídas” e “ocupadas” vivem desperdiçando o dom do tempo.
Ter uma direção real
Sêneca enfatiza que o indivíduo deve ter uma direção real, ter um foco, da “não distração”.
Para Sêneca, tanto as viagens quanto as leituras podem ser prejudicadas pela divagação, quando não se tem um direção real.
“Não estude para saber mais, mas para saber melhor.” (Sêneca)
O desejo de viajar constantemente é sinal de “inquietação” ou “espírito instável”.
Diferença entre o estudante de estoicismo e o não estoico
Sêneca escreveu o livro Sobre o ócio
Ter um propósito norteador
Para Sêneca, ter uma direção real é como ter um proposito norteador, que é o primeiro e verdadeiro objetivo do estudo da filosofia estoica.
Sêneca preconiza um “estilo de vida estável e calmo que siga um único caminho”.
“Quando não se sabe em direção a qual porto se navega, não existe vento favorável.”
Busca do Bem Maior significa o esforço constante de viver de modo honrado e racional, com excelência de caráter, alinhando sua vida às quatro virtudes cardeais: sabedoria, coragem, prudência e justiça.
Capítulo 6 — Como domar a adversidade
A cidade que desapareceu em um instante
No verão de 64, houve um grande incêndio na colônia romana de Lugduno — atual Lyon, na França. Sêneca observou como tudo pode ser transformado em seu oposto rapidamente. “A realidade”, escreve ele, “é que as coisas são construídas lentamente, mas o caminho da ruína é rápido”.
Como devemos reagir quando coisas ruins acontecem com pessoas boas?
Virtude e serenidade: como os estoicos encontram o bem mesmo em situações adversas
"Não deseje situações difíceis, e sim a virtude que permite suportá-las." (Sêneca, Cartas 15.5)
A primeira ideia-chave é a virtude, ou excelência interior, como único verdadeiro bem.
Virtude — aretê — significava para os antigos gregos “bem” ou “excelência”. A aretê de uma faca é ser afiada e cortar bem. A aretê do cavalo pode ser força e velocidade. No ser humano, acrescentamos o termo racional.
Na época de Platão, os gregos identificaram quatro virtudes primárias ou “cardeais”: sabedoria, coragem, prudência e justiça.
A segunda ideia-chave é que algumas coisas “dependem de nós” ou estão dentro de nossa competência, enquanto outras não. Os estoicos atuais chamam isso de dicotomia do controle, e é uma ideia central ao estoicismo romano.
Sobre a dicotomia do controle
Tanto para Sêneca quanto para Epicteto, Virtude ou Caráter interior “dependem de nós”; Fortuna ou acaso “não dependem de nós”.
Para um estoico, qualquer coisa que seja um verdadeiro bem, como a virtude, nunca pode ser tirada de nós; tudo o que pode ser tirado de nós é apenas um benefício. Epicteto foi categórico: “Não busquem o que é bom fora de vocês, busquem dentro de si mesmos, ou nunca o encontrarão.
Sêneca: “A filosofia não exclui nem escolhe ninguém. Sua luz brilha para todos.”
Preparando-se para a adversidade
Se você não quer que uma pessoa entre em pânico durante uma crise, treine-a com antecedência Sêneca, Cartas 18.6
Uma abordagem estoica para reduzir o impacto de acontecimentos negativos é a chamada praemeditatio malorum, “premeditação de adversidades futuras”. Quando se prevê um desastre, seu peso é maior.
Marco Aurélio: “Diga a si mesmo todas as manhãs: hoje vou me encontrar com pessoas intrometidas, ingratas, arrogantes, falsas, invejosas e antissociais. Elas têm esses defeitos porque ignoram o que é bom e o que é mau”.
O universo nos põe à prova: adversidade como treino
Sêneca: “O fogo coloca o ouro à prova, a adversidade coloca os homens valentes à prova”
Adversidade transformadora
"Não importa o que a Fortuna coloque em seu caminho, o sábio o transformará em algo admirável." (Sêneca, Cartas 85.40)
Nossas ações podem ser tolhidas... mas nada pode tolher nossas intenções ou disposições. Porque podemos nos acomodar e nos adaptar. A mente se adapta e transforma os obstáculos à ação de acordo com seus propósitos.
O obstáculo à ação promove a ação.
O que coloca no caminho se torna o caminho.
Capítulo 7 — Por que você não deve reclamar
"Uma coisa não o irritará se você não adicionar irritação a ela." (Sêneca, Cartas 123.1)
Sêneca e outros estoicos se opunham a reclamações, queixas e resmungos de toda a espécie.
A pessoa que reclama vive cercada por uma nuvem de energia psíquica negativa que a acompanha por toda parte.
“Um dia ruim no trabalho”
Para muitas pessoas hoje, o ambiente de trabalho é um terreno fértil para irritações e reclamações.
De acordo com um estudo de Marshall Goldsmith, citado na Harvard Business Review, a maioria dos empregados passa pelo menos 10 horas por mês reclamando de seus chefes ou da gerência ou ouvindo as reclamações dos colegas. Quase um terço de todos os empregados passa 20 horas ou mais por mês se queixando ou ouvindo reclamações.
Quanto mais reclamamos, maior a probabilidade de que a frustração aumente.
A proposta de ficar 21 dias sem reclamar, com a condição de começar tudo de novo, leva em média oito meses para completar o desafio de 21 dias.
“Siga a natureza” e não reclame
Zenão, o fundador do estoicismo, disse que o objetivo de sua filosofia era “seguir a natureza” ou “viver de acordo com a natureza”. Usar da racionalidade.
Por isso os estoicos se opunham tanto à reclamação: considerando que tudo na natureza segue um padrão racional, ainda que não possamos enxergar sua totalidade de uma só vez, reclamar de um acontecimento banal é insultar a bondade do próprio universo.
No início da escola estoica, seus filósofos se utilizava de uma história para ilustrar a natureza do Destino. Cachorro preso a uma carroça por um guia. No começo da corrida, o cachorro segue tranquilo; porém, depois de algum tempo é arrastado. Nas palavras de Cleantes (c. 330-230 a.C.), o segundo líder da escola estoica de Atenas: “O Destino guia aqueles que o aceitam, mas arrasta os que o recusam”.
Amor fati: ame o seu destino
Para um estoico, tudo o que recebemos do universo é uma dadiva, um empréstimo, que um dia precisaremos devolver. Mas nossa atitude mental mais profunda deve ser de gratidão. Porque, mesmo se tropeçarmos ao longo da jornada da vida ou se um pouco de lama respingar em nós, não há motivo pra reclamar do belo mundo que nos permitiu existir.
Capítulo 8 — A batalha contra a fortuna: como sobreviver à riqueza extrema e à pobreza
“O pobre não é aquele que tem muito pouco, mas alguém que sempre anseia por mais.” (Sêneca, Cartas, 2.6)
Como Sêneca observou, o que a Fortuna lhe dá não é verdadeiramente seu. Pode ser tirado de você. O caráter bom vem de dentro do indivíduo. Pessoas que enriquecem repentinamente muitas vezes perdem o equilíbrio psicológico. Observe os ganhadores de loteria.
Na Idade Média, a Roda da Fortuna era um famoso símbolo da imprevisibilidade da riqueza. A roda eleva as pessoas pobres, que estão na parte de baixo, à riqueza extrema dos reis, ao mesmo tempo que arrasta as ricas do topo para o nível dos pedintes.
Dinheiro, posição e influência — guardei em um lugar em poderiam pegá-las de volta sem me perturbar.
Antes que o dinheiro governasse o mundo, tudo era de graça
Nada de que necessitávamos para viver era difícil de obter. Tudo era preparado para nós desde o nascimento.
A ideia de que “as necessidades são poucas” permeia todas as obras de Sêneca.
O problema surge quando as pessoas poderosas e gananciosas “passaram a dominar as mais fracas”.
Convém sempre medirmos todas coisas pelas necessidades naturais.
Os perigos da riqueza extrema
“Qualquer pessoa que tenha se entregado ao poder da Fortuna se pôs ao alcance de uma grande e inevitável turbulência mental.” (Sêneca, Cartas 74.6)
A prosperidade é uma condição de inquietude, que atormenta a si mesma. Hoje, referimo-nos à inflação psicológica.
Outro problema associado à extrema riqueza é o desafio de mantê-la.
Como superar a preocupação financeira: a “prática da pobreza” e a simplicidade voluntária
“Se você deseja ter tempo livre para sua mente, precisa ser pobre ou viver de forma semelhante ao pobre. O estudo não pode ser útil sem a cautela com a vida simples, e a vida simples é a pobreza voluntária. (Sêneca, Cartas 17.5
De acordo com uma pesquisa recente realizada pela H&R Block, 59% dos norte-americanos “têm sempre algum grau de preocupação com dinheiro”.
É totalmente válido ter cautela financeira, mas preocupação não é o melhor termo a ser usado.
Usando as dádivas da fortuna
“A virtude não vem da riqueza, mas a virtude torna a riqueza e todas as outras coisas boas para os seres humanos.” (Sócrates, Apologia de Platão 30A-B)
Você pode usar as dádivas da fortuna, desde que não se torne servo delas.
Frase de um industrial nos Estados Unidos: “Adoro trabalhar nesses projetos para tornar as coisas melhores. Meu foco maior é tentar eliminar a pobreza, penso nisso com muita frequência.”
Se minha riqueza desaparecer, levará apenas a si mesma.
Capítulo 9 — Multidões cruéis e laços que unem
“Você pergunta o que deve evitar acima de tudo? Uma multidão.” (Sêneca, Cartas, 7.1)
Hora de cortar algumas gargantas
Quando disse a Lucílio que ele deveria evitar multidões, Sêneca tinha acabado de retornar dos jogos de gladiadores. Lá, ele viu ouviu multidões torcerem para que outros seres humanos fossem assassinados diante de si, como forma de diversão.
Estava falando de evitar turbas ou multidões cruéis, que podem ter um efeito terrível sobre o nosso caráter interior. Nada mais prejudicial ao bom caráter do que assistir às lutas públicas, pois aí o vício se insinua mais facilmente no decorrer de nosso prazer.
Sêneca explica que esperava “diversão, inteligência e relaxamento”, mas tudo se transformou em massacre. Sêneca apresenta-nos um argumento importante: nosso caráter é profundamente influenciado por quem nos cerca na vida cotidiana.
Usando uma metáfora da medicina, Sêneca explica que podemos ser “infectados” com as más qualidades dos outros. Uma pessoa gananciosa pode transferir seu caráter infectado aos vizinhos. A nicotina, como apontam os cientistas, é tão viciante quanto à heroína.
Nas redes sociais o espaço onde atualmente nos comportamos como multidão. Imagens hipnóticas, emoções cruas e raiva muitas vezes parecem se espalhar pelas redes e ganhar vida própria.
Tarde e Le Bon introduziram a ideia de mentalidade de rebanho, também conhecida como mentalidade de turba.
Tony D. Sampson, aponta, é por causa do poder hipnótico da imitação que emoções e sentimentos se espalham de forma viral pelas redes digitais, infectando outras pessoas.
Analisando influências invisíveis
Socialização é o processo pelo qual as pessoas assimilam os valores da sociedade ou as normas de um subgrupo menor.
Pais podem socializar uma criança para que ela seja honesta e justa, mas outra família pode socializar uma criança para que ela tenha pontos de vista racistas.
O bocejo é contagiante.
“Infecções invisíveis”, “pestes”, “hábitos contagiosos” que, quanto transmitidos “sem que estejamos conscientes”, podem afetar nosso caráter.
Busca por boas companhias
O conselho de Sêneca: “Passe algum tempo com aqueles que o tornarão melhor e receba aqueles que você pode melhorar.”
Uma só humanidade: pertencimento versus tribalismo tóxico
Ideias estoicas colaboraram para acabar com a servidão e garantir a igualdade das mulheres no Ocidente e em escala global.
Aristóteles acreditava que a plena razão era exclusiva dos homens. E as mulheres?
A lei natural é universal: não foi inventada por humanos. Diferente disso, foi descoberta.
Quando Jefferson escreveu as palavras: “Todos os homens são criados iguais”, suas palavras refletiam a ideia estoica cósmica de igualdade humana.
O maior inimigo contra o qual devemos lutar agora é nosso passado tribal. Nas palavras de Sêneca: “Você deve viver para o outro se deseja viver para si mesmo.”
Laços que unem: sentir-se à vontade com todas as outras pessoas
Eu família cidadãos na mesma comunidade compatriotas toda a humanidade cosmos
Capítulo 10 — Como ser autêntico e contribuir para a sociedade
O jardim epicurista versus a Cosmópolis estoica
O estoicismo se tornou a filosofia mais difundida e bem-sucedida do Império Romano porque prometia uma sensação de tranquilidade interior em um mundo estressante que, assim como o nosso, parecia perigosamente incontrolável.
Epicuro (341-270 a.C.), fundador do epicurismo, afirmava o mesmo. Tanto os estoicos quanto os epicuristas estavam em busca da eudaimonia, ou felicidade duradoura.
Hoje, o epicurista se refere a quem busca o prazer.
Há pontos convergentes e divergentes entre essas duas filosofias de vida.
Os estoicos viam o universo como semelhante a um organismo inteligente, do qual todas as coisas vivas, inclusive nós, fazemos parte.
Para os epicuristas, o universo é feito de átomos — ou minúsculas partículas da matéria — que colidem aleatoriamente e se juntam ao acaso.
Em se tratando da contribuição para a sociedade, os epicuristas eram como desertores sociais, vivendo no jardim.
Epicteto fez a seguinte brincadeira: “Vocês conseguem imaginar uma cidade de epicuristas? ‘Não vou me casar’, diz um, ‘Nem eu, porque não se deve casar’, diz outro. ‘Nada de filhos!’ ‘Tampouco devemos cumprir nossos deveres cívicos!’”
Para os estoicos, levar uma vida autêntica significa contribuir para a sociedade de modo a beneficiar os outros.
Conheça a si mesmo
“Cada pessoa adquire seu caráter por si mesmo, mas o acaso controla seus deveres.” (Sêneca, Cartas 47.15)
Como posso viver de forma autêntica e contribuir para a sociedade?
Sobre o conhecimento si mesmo, Panécio (c. 185-110 a.C.), filósofo estoico romano, aborda quatro fatores: o primeiro fator que nos influencia é a nossa natureza universal; segundo fator são todas as qualidades que a natureza nos concede como indivíduos; o terceiro fator que nos influencia é o acaso; o quarto fator que nos influencia é a nossa própria vontade ou ação pessoal.
De acordo com a visão estoica, devemos compreender nossos traços para não lutarmos contra a natureza nem tentarmos alcançar algo além de nossas capacidades.
Autocoerência
“Acima de tudo, esforce-se para ser coerente consigo mesmo.” (Sêneca, Cartas 35.4)
Para Sêneca, viver com autenticidade implica ter uma personalidade estável.
Consistência e algum tipo de “direção” são um subproduto de ter uma verdadeira filosofia de vida.
Uma característica do bom caráter é que ele “está satisfeito consigo mesmo e, portanto, perdura ao longo do tempo.
É melhor ser desprezado por seu estado natural do que ser atormentado por fingimentos constantes.
Liberdade intelectual
“Não devemos simplesmente seguir o rebanho à nossa frente, como ovelhas.” (Sêneca, Da vida feliz, 1.3)
Uma das maneiras de viver com autenticidade, utilizada pelo próprio Sêneca, é abraçar intensamente a liberdade intelectual.
Para Sêneca, ser filósofo significa ser um pensador crítico e não apenas um adepto.
Persistência estoica — “tornando-se invencível”
“Há milhares de casos de persistência superando todos os obstáculos: nada é difícil quando a mente decide resistir.” (Sêneca, Sobre a ira 2.12.4)
Os estoicos acreditavam que coisas externas não conseguem prejudicar uma pessoa sábia virtuosa, desde que sua virtude permaneça intacta.
A palavra latina patientia significa “persistência”. Pode-se falar de persistência mental
Um estoico, como qualquer outra pessoa, experimentará adversidades e infortúnios. O que torna um estoico invencível é que ele não desiste.
Como contribuir para a sociedade
O que é melhor, uma vida dedicada a ajudar o governo romano ou uma vida de ócio, dedicada à filosofia?
Epicuro disse que uma pessoa sábia deve evitar, se possível, assumir um cargo político, pois isso ameaçaria sua tranquilidade mental. Já os primeiros estoicos gregos diziam que uma pessoa sábia deveria ocupar cargos políticos, exceto quando isso fosse impossível, porque a política dá ao filósofo uma oportunidade de contribuir para a sociedade.
Capítulo 11 — Viver plenamente apesar da morte
“Para onde quer que eu olhe, vejo sinais da minha velhice”, escreveu Sêneca a Lucílio.
A velhice avançada, segundo ele, é como uma longa doença da qual você nunca se recupera.
Um estoico deseja viver bem — e viver bem também significa morrer bem. Um estoico vive bem tendo um bom caráter, e a morte é a prova final desse caráter.
Por sofrer de tuberculose e asma desde muito jovem, Sêneca deve ter sentido a certeza e a proximidade da própria morte durante toda a vida.
Memento mori: lembrar-se da morte
A expressão latina memento mori significa literalmente “Lembre-se de que você vai morrer”.
Se Sócrates quisesse teria fugido da prisão. Mas isso iria contra tudo o que acreditava. Além disso, a fuga teria prejudicado permanentemente a sua reputação. Um dos principais objetivos de Sócrates era melhorar a sociedade, e isso implicava seguir as leis dessa sociedade, mesmo sendo tratado de forma injusta.
Frase memorável de Sócrates: “Se vocês me matarem, vão prejudicar menos a mim do que a vocês”.
Epicuro dizia: “Ensaie para a morte”.
Superando o medo maior
“Primeiro, liberte-se do medo da morte... depois, liberte-se do medo da pobreza.” (Sêneca, Cartas 80.5)
Com o medo da morte fora do caminho, outros medos também perdem o poder.
Sêneca afirma que a morte é a prova final do caráter.
Lembretes úteis:
1. A morte é apenas uma parte natural da vida.
2. Não importa o que aconteça no momento da morte, ficaremos bem de qualquer maneira.
3. O que há de terrível em se voltar para o lugar de onde você veio?
O que torna a vida digna de ser vivida?
“O bem da vida não depende da sua duração, mas do uso que fazemos dela.” (Sêneca, Cartas 49.10)
Enfim, para Sêneca, é a qualidade, não a duração da vida, que nos permite viver plenamente.
Viver cada dia como se fosse o último
“Pretendo viver cada dia como se fosse uma vida completa.” (Sêneca, Cartas 61.1)
“A pessoa feliz e dona de si, escreveu Sêneca, “aguarda o dia seguinte sem ansiedade. Aquele que diz ‘Vivi completamente’ levanta-se todas as manhãs com uma vantagem: ganhou um dia a mais”.
Capítulo 12 — Dê ao luto o seu devido valor
“As lágrimas caem mesmo se tentamos contê-las, e chorar alivia a mente.” (Sêneca, Cartas 99.15)
Deixe as lágrimas brotarem
Sêneca considerava as lágrimas de luto muito apropriadas. Elas são resultado de sentimentos humanos naturais no nível mais profundo do nosso ser. Sêneca acreditava que o choro é apenas de uma resposta natural, fisiológica a um sentimento humano. Como levava o luto muito a sério, acabou escrevendo 5 obras sobre o tema.
A abordagem básica de Sêneca para o luto é que devemos dar a ele seu devido valor. Além disso é possível quando se está tranquilo e em paz.
Em busca do meio-termo
“Até mesmo o luto tem sua forma de moderação.” (Sêneca, Consolações a Márcia, 3.4)
Sabemos que chorar libera oxitocina e endorfina. Essas substâncias químicas ajudam a aliviar a dor e, como elevam o humor, fazem as pessoas se sentirem melhor e mais calmas.
Lembrete à mãe que perdeu seu filho: “Você abraça e agarra à sua dor, mantendo-a viva no lugar de seu filho.”
Reduzindo o choque do luto
“Há alguém que chore por algo que sabe ser inevitável? Reclamar da morte de alguém é reclamar porque a pessoa era mortal.” (Sêneca, Cartas 99.8)
Quando uma criança vem ao mundo deveríamos dizer: “Eu dei à luz um ser mortal.”
Segundo Epicteto: “Nunca diga ‘Perdi algo’; diga apenas devolvi”, mesmo que seja uma pessoa querida.
Transformando luto em gratidão
“Não reclame sobre o que foi tirado, mas agradeça pelo que recebeu.” (Sêneca, Consolação a Marcia 12.2)
Em vez de lamentar, agradeça todos os momentos felizes que você viveu com uma dada pessoa.
Capítulo 13 — Amor e gratidão
Amor e afeto estoicos
O estereótipo de que os estoicos são frios e insensíveis não é verdadeiro. Na opinião de Sêneca, os estoicos tinham mais amor pela humanidade do que qualquer outra escola filosófica. Sêneca escreveu: “A sociedade só pode permanecer saudável por meio da proteção mútua e do amor de seus integrantes.”
Os estoicos definiam um tipo de amor: philostargia. Esse termo pode ser traduzido como “amor pela família”, “afeto humano” ou “amor familiar”. Os estoicos dedicavam esse tipo de amor à humanidade como um todo.
Cícero dizia que “a gratidão não é apenas a maior virtude, é a mãe de todas elas”. Sêneca, por sua vez, escreveu: “Entre nossos muitos e grandes vícios, a ingratidão é o mais comum”.
Amor e gratidão andam juntos porque ambos envolvem apreço. Apreço e gratidão definem como um estoico vê o mundo.
Compreendendo a gratidão
“Devemos fazer todos os esforços para sermos os mais gratos possível.” (Sêneca, Cartas 81.19)
O que torna a gratidão interessante é que ela é tanto uma emoção quanto uma virtude.
Tipos principais de gratidão
1. Pessoal ou cívica porque é dirigida a outra pessoa.
2. Gratidão teísta porque ela é dirigida a Deus ou deuses.
3. Gratidão cósmica, existencial ou não pessoal porque é dirigida à natureza, cosmos ou existência.
Um sentimento diferente de gratidão
Sêneca acreditava que os seres humanos deveriam ser gratos a “Deus” e à “Natureza”. Mas, como os estoicos eram panteístas, Sêneca observou cuidadosamente que os termos “Deus” e “Natureza” são intercambiáveis.
Apreço estoico
Em alguns casos, a gratidão pode ser uma forma de amor. Dizer para outra pessoa “Sou grato pela sua existência” é equivalente a expressar um tipo de amor. Às vezes, como forma de demonstrar amor, digo apenas: “Tenho apreço por você”.
Capítulo 14 — Liberdade, tranquilidade e alegria duradoura
Tornando-se livre
A maior e mais radical promessa do estoicismo é de que a verdadeira felicidade está totalmente ao nosso alcance neste exato instante.
Autossuficiência e vida feliz: estar acima da fortuna e do acaso
“Devemos escapar rumo à liberdade. Mas isso só pode acontecer por meio da indiferença à Fortuna.” (Sêneca, A vida feliz 4.4-5)
A maneira de alguém se tornar livre, ou autossuficiente, é se colocando acima da Fortuna.
Alegria estoica e felicidade duradoura
“Acredite em mim, a verdadeira alegria é assunto sério.” (Sêneca, Cartas 23.4)
Para os estoicos e outros filósofos gregos, a verdadeira felicidade, ou eudaimonia, diferia significativamente de nossa ideia atual de felicidade. Hoje em dia, a felicidade é vista como um sentimento temporário, um estado de espírito ou um estado emocional passageiro. Para os gregos, porém, a eudaimonia era a excelência permanente do caráter.
Exercícios filosóficos do estoicismo
Lembre-se da dicotomia do controle. Algumas coisas dependem de nós, outras não. Dedique sua atenção ao que você pode controlar, como o desenvolvimento do caráter bom, e não em elementos do acaso ou da Fortuna, que escapam ao seu controle.
Lembre-se do papel do juízo. As coisas em si não nos irritam. São o juízos ou opiniões sobre elas que causam sofrimento.
Contemplação do sábio. Imagine que uma pessoa sábia como Sócrates está observando suas ações. Ao enfrentar uma situação difícil, pergunte-se como essa pessoa sábia reagiria.
Diário filosófico. Crie seu próprio caderno de meditações e ensinamentos estoicos, como Marco Aurélio fez, com lembretes para si mesmo. Pegue as ideias filosóficas centrais e as reformule com suas próprias palavras, ou detalhe em seu diário como você pode fazer uso delas.
Reavaliação diária. Ao fim de cada dia, reflita sobre suas ações. Faça a si mesmo as seguintes perguntas: O que eu fiz bem? O que fiz mal? Como posso melhorar? O que deixei de fazer?
Transforme a adversidade em algo melhor. Quando você encontrar a adversidade, transforme-a em algo melhor. É possível criar o bem em qualquer situação, se reagirmos com virtude.
Premeditação da adversidade. Imagine brevemente quaisquer adversidades que você poderá enfrentar no futuro. Depois, deixe os pensamentos se dispersarem. Ao contemplar as adversidades antecipadamente, você tira o poder delas, caso venham mesmo a acontecer.
Cláusula de reserva estoica. Quando você iniciar um projeto, viajar, fizer um planejamento, diga a si mesmo: "Aceito o destino." Tenha em mente que, apesar de suas intenções serem as melhores, algo fora do seu controle pode interferir nos seus planos.
Contemplação do todo. Perceba que você é apenas uma parte minúscula de um universo inteiro, mas, ainda assim, parte do universo. Por um momento, abra sua mente para abarcar todo o cosmos e vivencie sua conexão com o todo.
Visão do alto. Imagine que você está muito acima da Terra, no espaço, olhando-a do alto. Então lembre-se de como seus problemas pessoais são pequenos no grande esquema das coisas.
Contemplação da mudança. Medite sobre como todas as coisas na natureza estão em constante mudança, e como tudo passa por uma transformação contínua por períodos curtos ou longos.
Contemplação da impermanência. Perceba que tudo que você possui lhe foi dado por empréstimo. Lembre-se de que é certo apreciar os dons da Fortuna enquanto eles estão conosco, emprestados, mas que um dia teremos de devolvê-los.
Memento mori. Reflita sobre sua própria condição mortal, a condição das pessoas que você ama como seres mortais, e sobre a morte como sendo apenas o estágio final e natural de estar vivo. Agradeça pelo tempo que você tem pela frente e se esforce para usá-lo com sabedoria.
Viva com gratidão. Perceba, a cada dia, que tudo que você tem é um presente do universo. No fim da vida, olhe para tudo que viveu como uma dádiva, com o sentimento de gratidão.
Viva no momento presente. Não permita que sua mente se antecipe ou se preocupe com o futuro, pois isso é fonte de ansiedade. Em vez disso, planeje o futuro de forma racional e lembre-se de que o momento presente é tudo que temos. Caso comece a sentir ansiedade, tenha consciência disso e volte sua atenção para o presente. Lembre-se de que, quando o futuro chegar, você enfrentará os acontecimentos com a mesma racionalidade que enfrenta hoje.
Aja pelo bem comum. Lembre-se de que você é parte da comunidade humana e de que nascemos para ajudar uns aos outros. Lembre-se de agir pelo bem das outras pessoas.
Analise suas impressões com cautela. Não aceite as coisas por seu valor aparente nem faça juízos precipitados. Recue um passo e tenha cautela ao analisar as evidências antes de formar uma opinião. Se as evidências não forem firmes o suficiente, interrompa totalmente qualquer juízo.