O Livro dos Vampiros (Notas do Livro)

O Livro dos Vampiros

A Enciclopédia dos Mortos-Vivos

J. Gordon Melton. Tradução de F. Sunderlank Cook. São Paulo: Makron Books, 1995.

Breve História Cultural dos Vampiros

Hoje, o apelo popular dos vampiros está refletido em mais de vinte organizações ativas, nos Estados Unidos e na Inglaterra, que têm suas próprias publicações regulares.

A fim de se compreender a percepção atual do vampiro, é útil examinar a forma que tem evoluído através do tempo. A crença em criaturas vampíricas provavelmente remonta às experiências humanas muito antes do advento da palavra escrita. Tanto um temor respeitoso em relação aos mortos como uma crença nas propriedades mágicas do sangue podem ser encontradas em culturas do mundo todo. Contos modernos e antigos sobre chupadores de sangue, voadores notívagos e sobrenaturais são característicos, sob muitas formas, de muitas culturas mundiais. Todavia, a maioria dessas histórias envolve seres demoníacos, entidades espirituais, praticantes de amiga negra e outras criaturas sobrenaturais que não precisavam morrer antes de conseguir seus poderes e seu comportamento.

O conceito específico dos mortos retornando para atacar e se alimentar do sangue dos vivos encontrou sua maior expressão na Europa cristã. No século 12, o historiador inglês William de Newburgh relatou diversos casos de mortos retornando para aterrorizar, atacar e matar durante a noite. Identificou esse tipo de espírito maléfico com o termo latino sanguisuga. Na maioria dos casos sobre os quais escreveu, a única solução permanente era desenterrar e queimar o corpo do assaltante acusado.

Acredita-se que a palavra “vampire” ou “vampyre” (extraída de seu uso sérvio) entrou pela primeira vez na língua inglesa quando a história foi publicada dois periódicos ingleses, o London Journal e o Gentleman’s Magazine, em 1732

A pergunta mais importante ainda permanece: o que está por trás dessa tremenda fascinação pelos vampiros? Provavelmente não há uma resposta simples para esta pergunta, uma vez que o vampiro incorpora muitos aspectos relacionados à condição humana. Isso inclui a morte (com todas as suas ramificações psicológicas), a imortalidade, o sexo proibido, o poder sexual e a submissão, a intimidade, a alienação, a revolta e o fascínio pelo mistério.


Prefácio: O Que É um Vampiro?

A definição comum, nos dicionários, serve como referência para investigação: vampiro é um cadáver reavivado que levanta do túmulo para sugar o sangue dos vivos e assim reter a aparência da vida. Essa descrição certamente se adapta a Drácula, o vampiro mais famoso, mas é apenas um ponto de partida e se prova inadequada quando nos aproximamos do reinado do folclore vampírico. De modo algum todos os vampiros se encarnam nessa descrição.

Por exemplo, embora o assunto quase sempre leve à discussão sobre a morte, nem todos os vampiros são corpos ressuscitados. Inúmeros deles espíritos demoníacos desencarnados.

Conforme é do conhecimento geral, a característica básica da entidade vampíricos é a sua necessidade de sangue, que sugam dos seres humanos e dos animais.

Alguns vampiros não tomar sangue, pelo contrário, roubam da vítima o que se julga ser sua força vital. 

O Vampiro Literário e o Cinematográfico

Os escritores românticos do século 19 se propunham à tarefa de explorar o lado escuro da consciência humana.

No movimento do palco e da tela, o vampiro foi transformado ainda mais. O vampiro dramático ganhou um certo grau de sentimento humano e, mesmo como vilão, projetou algumas características admiráveis que proporcionaram a tipos como Bela Lugosi uma legião de admiradores. Lugosi trouxe para o público o vampiro erótico que encarnava a liberação dos desejos sexuais tão suprimidos pela sociedade vitoriana. Nas apresentações originais de Dracula, no teatro e no cinema, a mordida do vampiro substituía a atividade sexual que, não podia ser retratada mais abertamente. 

 

Introdução

 


Vampiros: Cronologia

Pré-história

Crenças e mitos sobre vampiros emergem nas culturas do mundo inteiro.

1047 — Primeiras aparições, na forma escrita, da palavra upir (uma forma primitiva da palavra que mais tarde se tornou “vampiro”) num documento se referindo a um príncipe russo como “Upir Lichy”, ou vampiro perverso.

1190De Nagis Cyrialium, de Walter Map, inclui relatos de seres vampíricos na Inglaterra.

1196Chronicles, de William de Newburgh, registraram diversas histórias de fantasmas vampíricos na Inglaterra.

1428/29 — Nasce Vlad Tepes, filho de Vlad Dracul.

...

1992 — Estreia Blam Stoker’s Dracula, dirigido por Francis Ford Coppola. Andrei Chikatilo, da Rússia, é condenado à morte após matar e vampirizar cerca de 55 pessoas.

1994 — A versão cinematográfica de Interview with Vampire, de Anne Rice, estreia com Tom Cruise no papel do vampiro Lestat e Brad Pitt como Louis.


A

Alho

Assim como o crucifico, acredita-se que os vampiros tinham uma intensa a aversão pelo alho, e as pessoas, portanto, têm-no usado para manter os vampirões afastados. Introduzido no reino da literatura pelo romance de Bram Stoker, o alho tornou-se essencial para o desenvolvimento do mito vampírico durante o século 20.

Anemia

É uma doença do sangue que se tornou associada, em alguns círculos, ao vampirismo.

Animais

O relacionamento do vampiro com o reino animal se manifesta em sua habilidade de se transformar em várias formas animalescas; em seu domínio sobre o reino animal, especialmente o rato, a coruja, o morcego, a traça, a raposa e o lobo.

B

Batman

Assim como o Superman, Batman é um dos heróis mais populares do século 20. Batman (um personagem da DC Comics) criou a imagem popularizada do morcego, cujo desenvolvimento precisa ser creditado de certa forma a Dracula, o livro de 1897 de Bram Stoker, e sua transposição para o palco e para a tela os anos 20 e 30. Batman, todavia, não era um vampiro. Era um herói, provido de recursos humanos, e seus inimigos, embora estranhos, eram igualmente seres humanos.

Bruxaria e Vampiros

Na Europa, a bruxaria e o vampirismo têm uma história entrelaçada desde os tempos remotos. Muitos vampiros apareceram primeiramente entre os seres demoníacos das religiões pagãs politeístas.

Os seguidores das religiões pagãs tinham uma série de nomes e termos que na língua portuguesa significam bruxa ou feiticeira. À medida que as religiões pagãs foram afastadas assim também o foram, até certo ponto, as bruxas e as feiticeiras. A Igreja as via como adoradores de divindades imaginárias.

A magia foi crucial para a crescente atitude concernente às religiões pagãs. As bruxas, as praticantes pagãs, tinham facilidade de realizar mágicas, fora do alcance das pessoas normais. Muitas eram consideradas malignas.

Com a marginalização das bruxas e a destruição dos sistemas pagãos, as funções malignas das velhas entidades tenderam a ser transferidas para as bruxas. Assim, surgem a strega na Roma antiga. A strega, ou bruxa, era inicialmente conhecida como strix, um demônio voador noturno que atacava recém-nascidos e matava-os sugando-lhes o sangue. Durante um certo tempo o strix era identificado como um indivíduo que tinha o poder de transformação para a forma de diversos animais incluindo corujas e corvos, e nesse disfarce atacava recém-nascidos. O strix se tornou , então, a strega da Itália medieval e os stgrigoi da Romênia.

A DESUMANIZAÇÃO DAS BRUXAS: no século 15, a Igreja Católica Romana tinha construído uma grande organização, a Congregação para a Propagação da Fé, mais conhecida como Inquisição, para resolver os problemas dos hereges e, até certo ponto, a abjuração. A heresia era um sistema de crenças que se desviava significativamente da teologia ortodoxa da Igreja. Um apóstata era uma pessoa que tinha sido membro da Igreja mas que tinha renunciado à fé. As novas crenças que a pessoa abraçasse constituíam apostasia. A inquisição estava limitada a ações contra a heresia e a apostasia. Não podia voltar sua atenção para membros de outras crenças que nunca tinham sido cristãs.

Na década de 1480, a Inquisição já tinha feito a maior parte de seu trabalho. Em poucas ocasiões e de forma limitada considerou a feitiçaria e a magia malignas, mas em 1484, o Papa Inocência VIII publicou seu édito Summis Desiderantes Affectibus que tinha o efeito de redefinir a bruxaria. Não era mais um sistema de crença imaginária do paganismo antigo. Tinha se tornado satanismo (adoração do diabo cristão) e, portanto, apostasia.

A identificação medieval de vampiros com bruxas e com Satã também redefiniu o vampirismo como um mal real que podia ser combatido com as armas da Igreja. Os vampiros eram o oposto do sagrado e podiam ser afetados por objetos consagrados como crucifixo, a hóstia eucarística e a água benta.

SECULARIZAÇÃO MODERNA: As leis austríacas aprovadas em meados do século 18, que proibiam a prática de esfaqueamento e a queima de cadáveres de supostos vampiros nos centros urbanos do Ocidente. Ao fim do século seria quase impossível argumentar em termos de vampiros físicos, embora no século 19 espíritas e teosofistas começassem a argumentar pela existência do fenômeno chamado vampirismo psíquico.








C

Crucifixo

través do conto Dracula, o crucifixo entrou para a tradição vampírica como uma poderosa ferramenta contra os vampiros, especialmente quando confrontados diretamente. O surgimento do crucifixo veio diretamente de Bram Stoker, que combinou algumas ideias populares sobre o uso mágico de objetos sagrados para os católicos com a tradição medieval que identificava o vampirismo com o satanismo (através de Emily Gerard, Sotker desenvolveu a noção que Drácula se tornou um vampiro em virtude de seu relacionamento com Satã). Além disso, uma qualidade significativa de devoção católica gerava em torno do crucifixo, e entre os membros da Igreja o crucifixo poderia assumir aspectos não apenas sagrados, mas também mágicos. Não era apenas um símbolo do sagrado, mas a viga mestra do que era sagrado.

Se então, o vampiro pertencia ao reino de Satã, retrocederia com o crucifixo. Para Stoker, a presença do crucifixo fazia com que o vampiro perdesse sua força sobrenatural.

I

Incubus/Succubus

O incubus era uma figura demoníaca intimamente associada ao vampiro. Era conhecida pela hábito de invadir o quarto de uma mulher à noite, deitar-se sobre ela para que seu peso ficasse bem evidente sobre seu peito, forçando-a a fazer sexo. O succubus, a contraparte feminina do incubus, atacava os homens da mesma maneira. A experiência do ataque do incubus/succubus variava de extremo prazer ao absoluto terror. Era, conforme assinalou o psicoterapeuta Ernest Jones, o mesmo espectro de experiências descritas na moderna literatura entre o sonho erótico e o pesadelo. 

A experiência objetiva de incubus/succubus foi sustentada por Tomás de Aquino no século 13 . Argumentava que crianças poderiam mesmo ser concebidas pelas relações entre uma  mulher e um incubus. Acreditava que um espírito maligno poderia mudar a forma e aparecer como um succubus para o homem e um incubus para uma mulher.

Jones, um psicólogo freudiano, juntou o incubus/succubus e o vampirismo como expressões de sentimentos sexuais reprimidos.  

M

Mulheres Vampiros (1)

(1) A palavra vampire, em inglês, não tem gênero. Neste livro, optou-se por usar a palavra “vampira”, em lugar de “mulher vampiro”, para descrever vampiros do sexo feminino. O título desta seção, portanto, poderia ser “Vampiras”. (N. do T.)

A imagem do vampiro, tanto na literatura quanto no contexto cinematográfico, tem sido dominado por figuras como Lord Ruthven, Drácula, Bela Lugosi e Christopher Lee — todos homens. A figura dominante do vampiro macho, atraindo frequentemente mulheres fracas, tende a obscurecer o papel das mulheres como vampiros na criação do mito do vampiro e as importantes figuras femininas que ajudaram a moldar a compreensão contemporânea do vampirismo.

AS VAMPIRAS ORIGINAIS:  Na maioria das criaturas, as mais antigas figuras do vampiro eram do sexo feminino. Elas incluíam a lamia grega, a langsuyar malaia e a judia Lilith, entre outras. Cada uma dessas figuras vampíricas aponta para a origem do vampirismo como um mito explicando os problemas ocorridos no parto. A história da langsuyar, por exemplo, conta sobre uma mulher que dá à luz uma criança morta. Perturbada e irada ao tomar conhecimento da morte de seu recém-nascido, voava para as árvores e vez por outra se tornava a praga das mulheres grávidas e de suas crianças. Meios mágicos eram engendrados para proteger as mulheres que estavam dando à luz, bem como seus recém-nascidos, da sanguessuga langsuyar. Lamia e Lilith também eram os terrores das mulheres grávidas.

A CONDESSA SANGUINÁRIA:

A VAMPIRA LITERÁRIA:

A VAMPIRA CINEMATOGRÁFICA:

OS ANOS 70:

OS ANOS 80 E 90:

A VAMPIRA NA FICÇÃO RECENTE:

CONCLUSÃO: Examinando o vampiro macho como representante dos desejos masculinos de poder e sexo, as mulheres tinham uma tendência de se tornar estereotipadas como vítimas e o mito do vampiro surgiu como uma história misógina para ser constantemente contada.


V

Vampirismo Psíquico

Entre as teorias mais sensacionalistas para explicar a persistência e universalidade dos mitos dos vampiros, a ideia do vampirismo psíquico traçou a crença no vampirismo por vários fenômenos ocultos, psíquicos ou paranormais. Tais explicações têm origem nas lendas que identificavam a entidade vampírica como uma figura fantasmagórica, ao contrário de um corpo ressuscitado. Mesmo voltando aos tempos mais remotos, as figuras vampíricas mais antigas foram descritas como deuses ou espíritos demoníacos, tais como o grego lamiai. Tais entidades estavam intimamente relacionadas ao incubus/succubus medieval.

As explicações psíquicas de vampirismo surgiram no século 19 no rastro da pesquisa psíquica, uma disciplina científica que se atribuiu a tarefa de investigar experiências antes atribuídas ao reino do oculto ou do sobrenatural. Pretendia discernir quais experiências eram ilusórias, quais tinham uma pronta explicação psicológica e quais eram paranormais psíquicas. A pesquisa psíquica retirou muitos termos do espiritualismo e do ocultismo, como parte de sua linguagem de trabalho primário.

VAMPIRISMO ASTRAL: Entre os mágicos e teosofistas dedicados a rituais, o vampirismo era explicado como um resultado do corpo astral...

Olcott também comentou a prática de se queimar o cadáver de um suposto vampiro. Argumentou que o vampirismo, e a possibilidade de sepultamento prematuro, tornava a cremação o método preferido de se livrar dos restos físicos do falecido. A cremação interrompia a ligação entre o corpo-astral e o corpo físico, evitando a possibilidade do vampirismo.

VAMPIRISMO MAGNÉTICO: A forma mais comum de vampirismo psíquico, entretanto, não envolvia um corpo-astral. O vampirismo magnético era a transferência da força vital de uma pessoa para outra. A ideia de magnetismo vampírico estava baseada na experiência comumente relatada de perda de vitalidade causada pelo simples fato de se estar na presença de certas pessoas. Hartmann referiu-se a esponjas psíquicas — pessoas que inconscientemente “vampirizam” qualquer pessoa sensível com as quais mantinham contato.




Apêndices e Índice Analítico

Fontes

Filmes

Dramas

Romances de Vampiros