Biografia-Benilde Fontinha
Nascida em 1952, numa pequena aldeia do Distrito de Viseu, onde residi até aos 12 anos.
Nos anos sessenta os fluxos migratórios, para as grandes cidades, eram uma constante, pelo que cheguei a Lisboa no dia 5 de Abril de 1965. Nesse mesmo mês entro no mercado de trabalho na Capital.
Cinco anos depois, também no mês de Abril dou o "salto" para França, digo salto, porque passei a fronteira clandestinamte.
Com o coração apertado de saudades do meu país, das minha gentes, regressei a Portugal cinco anos depois, mais uma vez no mês de Abril de 1975.
Instalei-me no Barreiro, onde ainda resido.
Sempre li bastante, mas o gosto pela escrita é recente, por isso não me posso considerar poeta; vou escrevendo: alguns poemas, crónicas e contos, que se perdem por esses grupos e algumas Coletâneas, imprimi apenas alguns escritos que considerei bem conseguidos e mesmo esses uma parte já perdi, também.
Contudo entranhou-se em mim o gosto pela escrita e de vez em quando dou largas ao sentimento e escrevo.
Portanto, quem sou eu?
Portuguesa , beirã, sou Lusitana
Tenho alma vadia, corpo na prisão
No Barreiro faço a minha cama
Trago Lisboa agarrada ao coração.
Fui emigrante, conheci a saudade
Ao meu país voltei, em manhã de Abril
Vi as pessoas gritando liberdade
Eram tantas... tantas, eram muitas mil
Poetiza! não sou, apenas escrevo
Palavras soltas, para o vento levar
Sinto no peito vontade de partir
Morrer de saudade... e depois voltar.
Escuto o silêncio
A minha estrada
Nas margens da minha estrada
Existem silvas, cardos e flores
Repousa minha alma cansada
De tão voláteis amores…
Quero a estrada só para mim
Como terna dádiva de Deus
Feliz ou infeliz, assim...
Que encanto aos olhos meus!
As silvas de espinhos repletas
Ultrapasso com grande dor
São uma etapa completa
Recompensada com amor.
Os cardos são sobressaltos
Não matam, mas não contenta
É com os baixos e os altos
Que a minha coragem aumenta.
Colho as flores com carinho
Admirável sua beleza
Foi meu ventre o seu ninho.
Tão bela é a natureza!
São dois cravos já libertos
Que adornam a minha estrada
Dois filhos para quem desperto
Desta longa caminhada
Podia dizer-te
És a laranja,na minha bocacom sabor agridoceque me fere os lábiosmas adoça todo o ser,corroi as entranhas,misto de mel e amargor.
Podia dizer-tedo brilho dos teus olhosatrevidos:ofuscam o azul celesteque vemos no Céu envergonhado dirias"são os teus olhos, amor"mas o dourado que deles brotadesenha no ara mais bela tela alguma vez imaginada.
Podia dizer-teque o teu peito é ninhoonde a minha cabeça repousaem soluços de incertezade brisa passageiraou tempestade que arrasa,voar de colibriborboleta colorida,pipilar de passarinhoandorinha que traz a primaveraou planicie de belas flores.
Podia dizer-tedo amor e dos afetosmúsica para o coraçãoda dança dos cisnesuma canção de Sinatraum quadro de Monetesses bens tão preciososque se esfumam pouco a poucoartifícios que se usamter aquela sensaçãode amor sereno e forteporém tudo é efêmeroa paixão é finita.
Assim minha esperança fogePerde-se na incerteza...