Biografia-Albertino Galvao


Apesar de ter, apenas, o ensino básico, privilegiou sempre o gosto pela leitura. Graças a ela, foi ganhando mais e melhores conhecimentos literários e, paralelamente, desenvolvendo a sua criatividade, dando, desde cedo, especial atenção à poesia, sem, contudo, descurar contos e crónicas. 

Não se diz poeta, mas sim um contador de histórias, em versos, por uma boa parte do seu acervo poético se basear em factos reais! Histórias de vidas que foi vendo, conhecendo ou vivenciando. 

A poesia livre ou “versos brancos”, é a sua forma preferida de escrever, mas a sua sofreguidão poética faz com que sinta à vontade em praticamente todos os estilos poéticos conhecidos. 

Albertino Galvão apesar de ter, (entre poemas contos e crónicas), centenas de trabalhos, tem apenas 2 livros publicados,(edições limitadas), um deles de caráter infantojuvenil com a particularidade de nenhum deles ter sido vendido em proveito próprio. Conta, no decurso deste ano de 2022, publicar novo livro nas mesmas condições dos anteriores, ou seja, a favor de Instituições de carácter Social. 

É participante assíduo do Horizontes da Poesia do qual já teve a honra e o privilégio de ser um dos gerentes durante vários anos, e vai divulgando o que escreve através das redes sociais. 

Poemas

Grito

Grito, de Albertino Galvao, por Maria Encarnaçao Alexandre.mp4
Grito- Albertino Galvão.docx

Eu dormi em berço de ouro  

Eu dormi em berço de ouro poema de Albertino Galvao.docx

Diz-me

Diz-me, de Albertino Galvão. voz de Joaquim Sustelo.mp4
Diz-me poema de Albertino Galvao.docx

O homem da estrada

O HOMEM DA ESTRADA- poema de Albertino Galvao.docx

O MURO DAS OSGAS

O MURO DAS OSGAS- Albertino Galvao.docx

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol

Em Donetsk, Karkhiv ou Mariupol- ALBERTINO GALVÃO.docx

O velho diário

Meu tempo menino


Meu “tempo menino”Foi parto difícil, dorido e gritadoNum tempo com espinhosSangrando, malvados, o viço das rosas!...Foi tempo de histórias sombrias, pesadas,Em surdina contadas...E outras douradas com coroas e mantosDe reis de princesas, de bruxas e lendasDuendes e fadas, quiçá encantadas! 
“Meu tempo menino”Foi cheiro de mato no corpo suado...Traje de rei num calção rasgado...Jogo com bola de meias e traposEm chão empedrado...Canela amassada e pés calejadosDe saibro e cascalho!
“Meu tempo menino”Foi fisga no bolso, navalha afiada,Cigarro sem filtro fumegando tretas...Lavado e vestido parecendo estar nuCom as mãos nos bolsosTateando esperas, nervosas e longas...Fingindo ter muito no nada que tinhamOs forros, sujos e gastos, em pano cru!

“Meu tempo menino”Foi luz das estrelas na areia deitado...Sede de chuva emprenhando *cacimbas...Rio sem foz, nascente de dor...Barco pesqueiro pescando *calemas...Peito arranhado plas silvas do medo...Coração pulsando teimoso, agitado,Que, cedo, aprendeu o tum tum batucadoDo batuque da vida!





"Meu tempo menino”Foi fome de amor num prato esmaltadoSem forno nem fogo, nem colo de mãeOnde neles pudesse essa fome aquecer!Foi sonho adiado de querer e saber!...Versos e prosas com fé de viverSem nós de mordaças nem grades e amarrasOs querendo prender!
“Meu tempo menino”Foi quadro pintado com tinta vermelhadas flores das acácias...Motivos os sonhos que esse tempo enjeitouGravados a fogo, como estranhos brincos,Nas bochechas fartas duma lua cheiaEm solo africano!Foi pala nos olhos queimados do sol...Lágrimas revoltas salgadas plo mar...Mentiras forjadas nas noites sem luaPra ter cama aberta com colcha e lençol!
"Meu tempo menino" foi tempo sem tempoDe eu menino ser!
*Poço artesanal*Ondulação intensa do mar, típica das regiões costeiras da África
 Abgalvão

(reedição com algumas alterações com relação à versão original) 

E o vento me diz... 


Pergunto p’lo tempo dos sonhos azuis,Com fadas, princesas, amores pueris...P’lo tempo do bibe, da escola, da ardósia,Do quadro e do giz...Mas soprando, o vento, com gozo, me dizJá passou, já passou!
Pergunto p’lo tempo da fisga no bolsoÀ caça da rola e siripipi...Dos “dérbis” de rua com bolas de trapos...Do jogo ao berlinde e corridas com arcosDas “guerras” com pedras, chifutas de grampos...Dos "chapões", em grupo, felizes e nusNa água barrenta do rio cavacoMas soprando, o vento, com gozo, me dizJá passou, já passou!
Pergunto p’lo tempo... por todo esse tempoDo cheiro dos mangues e da cana queimada...Dos saltos nos charcos que a chuva tardiaDeixava no saibro...Do odor gostoso a sal e maréDa morena praia que tive e amei...Mas soprando, o vento, com gozo, me dizJá passou, já passou!
Pergunto p’lo tempo dos banhos na selhaDo da luz da “mecha” cheirando a petróleo...P’lo tempo do tempo das grandes acáciasSombreando as ruas da minha Benguela...Mas soprando, o vento, com gozo, me dizJá passou, já passou!
Pergunto p'lo tempo da "fome" de terO carro de corda, a bola, o comboioTriciclo, pião...Da ânsia de ter, por querer e não terTeu ombro, teu colo onde o choro calar...A ânsia de ter, por querer e não ter,Os beijos, abraços, amor, proteçãoDe ti minha mãeE, o vento, então...
Mais frio, mas brando, afaga-me o rostoE nada me diz!
Pergunto p’lo tempo... p’lo tempo de tiMeu primeiro amor...P’lo tempo das fugas nas tardes morenasDe mão dada, os dois...P'lo tempo dos beijos... do sexo apressadoOs dois enrolados, no meio do mato,Em chão de capim...
Pergunto p’lo tempo, por todo esse tempoQue palpita em mim...E o vento me dizÉ pá, é assim...Já passou, já passou!...O tempo que resta, meu velho, meu kambaÉ tempo saudade!Saudade que tens dos tempos de um tempoEntranhado em ti!