Fábula

A Cigarra e a Formiga

Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou: 

- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para gente aproveitar! O verão é para gente se divertir! 

- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno. 

Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer. 

Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha. 

A cigarra então aconselhou: 

- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar! 

A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga. 

Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa. 

A rainha das formigas falou então para a cigarra: 

- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio. 

A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou: 

- Hum!! O inverno ainda está longe, querida! 

Para cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo. 

Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga. 

Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio. 

Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa. 

Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra: - No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós. 

Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas. 

(Adaptado da obra de La Fontaine) 

A cigarra e a formiga boa 

fábula de Monteiro Lobato

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas. Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas. A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tique, tique, tique…

Aparece uma formiga, friorenta, embrulhada num xalinho de paina.

– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.

– Venho em busca de um agasalho. O mau tempo não cessa e eu…

A formiga olhou-a de alto a baixo.

– E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um acesso de tosse:

– Eu cantava, bem sabe…

– Ah! … exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?

– Isso mesmo, era eu…

– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

Releitura da fábula "A Cigarra e a Formiga",

 de La Fontaine: 

  Era uma vez uma formiguinha e uma cigarra que eram muito amigas. 

Durante todo o Outono,  a formiguinha trabalhou sem parar, a fim de armazenar comida para o período de Inverno. Não aproveitou nada do Sol, da brisa suave do fim da tarde, nem da conversa com as amigas. Só vivia para o trabalho!

    Enquanto isso, a cigarra não desperdiçou um minuto sequer: cantou durante todo o Outono, dançou, aproveitou os tempos livres, sem se preocupar muito com o Inverno que estava a chegar. 

  Então, passados alguns dias, começou a arrefecer. Era o Inverno que estava a bater à porta. 

    A formiguinha, exausta, entrou na sua singela e aconchegante toca, repleta de comida.  Entretanto,  alguém chamava pelo seu nome do lado de fora da toca e, quando abriu a porta, ficou surpresa: era a sua amiga cigarra,  vestida com um maravilhoso casaco de lã e com uma mala e uma guitarra nas mãos. 

   - Olá, amiga! - cumprimentou a cigarra. - Vou passar o Inverno em Paris. Será que você podia cuidar da minha toca? 

- Claro! Mas o que aconteceu para você ir para Paris?  

A cigarra respondeu-lhe: 

- Imagine você que, na semana passada, eu estava a cantar num restaurante e um produtor gostou tanto da minha voz que fechei um contrato de seis meses para fazer espectáculos em Paris. A propósito, amiga, deseja algo de lá?  

A formiguinha respondeu: 

- Desejo, sim: se você encontrar por lá um tal de La Fontaine, o que escreveu a nossa história, mande-o esfregar-se  em urtigas...

 

© Prof. Vaz Nunes - OVAR - Portugal . 2003 

SAIBA MAIS!