ESTRUTURA EXTERNA

Apesar da obra "Memorial do convento" não ser oficialmente numerada, é possível dividi-la em 25 capítulos.

ESTRUTURA INTERNA

A obra pode ser dividida em três linhas de ação que são de imediato apresentadas pelo texto que o autor redige na contracapa da obra.


1ª PARTE

A construção do convento e a epopeia do trabalho

"Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra Era uma vez a gente que construiu esse convento."

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· Nesta primeira parte, a obra começa por abordar a construção do convento, que irá ser realizada em Mafra como resultado do cumprimento de uma promessa do rei. D. João V, confrontado com a dificuldade da rainha D. Ana Maria Josefa em engravidar e movido pelas palavras do bispo inquisidor, D. Nuno da Cunha, vê-se “forçado” a prometer a construção de um convento para os franciscanos caso a rainha lhe desse um filho no prazo de um ano. Cumpre assim o desejo da Ordem Franciscana, que aguardava há mais de cem anos para poder construir um convento em Mafra.

D. João V

" Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano (...) "

Capítulo I, pág. 14

Esta linha de ação incluí também a escolha do local onde será construído o convento, que é determinado pelo rei: "El-rei foi a Mafra escolher o sítio onde há de ser levantado o convento. Ficará neste alto a que chamam da Vela, daqui se vê o mar, correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta, que não hão de os franciscanos de cá ser de menos que os cistercienses de Alcobaça em primores de cultivo, a S. Francisco de Assis lhe bastaria um ermo, mas esse era santo e está morto. Oremos." (Capítulo VIII).

O projeto do mosteiro foi entregue ao arquiteto João Frederico Ludovice que se encontrava em Lisboa, ao serviço dos Jesuítas e a construção do mesmo é o reflexo de uma época em que Portugal beneficiava de muita prosperidade e riqueza devido ao ouro proveniente do Brasil. Apesar do projeto inicial se tratar de um convento que albergava cerca de 13 frades, pelo sonho de D. João V de construir uma obra grandiosa, comparável à basílica de S. Pedro de Roma, este aumenta o projeto do convento, passando agora a poder albergar 300 frades.

Está ainda presente o medo que D. João V tem de morrer, pois esse facto impedi-lo-ia de assistir à sagração do Convento. É por isso que determina que o dia da sagração da obra será no dia do seu aniversário: " (…) e então el-rei mandou apurar quando cairia o dia do seu aniversário, vinte e dois de Outubro, a um domingo, tendo os secretários respondido, após cuidadosa verificação do calendário, que tal coincidência se daria daí a dois anos, em mil setecentos e trinta, Então é nesse dia que se fará a sagração da basílica de Mafra, assim o quero, ordeno e determino, e quando isto ouviram foram os camaristas beijar a mão do seu senhor, vós me direis qual é mais excelente, se ser do mundo rei, se desta gente." (Cap. XXI).

CONCLUSÃO: Na obra, o Mosteiro de Mafra simboliza para Saramago o espaço da servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para cumprir a sua promessa e alimentar a sua vaidade, estando presentes as condições deploráveis em que os cerca de quarenta mil portugueses que foram obrigados a abandonar as suas casas e a erigir o convento viviam,

PARTE

Blimunda e Baltasar e a sublimação do amor

"Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes"

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A história do casal está presente em todos os capítulos, com exceção dos três primeiros. Trata-se de uma relação controversa e que choca com os padrões sociais da época, uma vez que não existe casamento oficial, não procriam e os dois são descritos com os mesmos direitos, o que não acontecia no século XVIII. Vivem, portanto, um amor sem regras e sem limites, físico e espiritual, que contrasta com a relação de pouco afeto e meramente contratual entre o rei D. João V e a rainha D. Maria Ana Josefa.

Na obra aparecem representados como um todo, completando-se um ao outro, sendo isto explícito desde logo pelos seus nomes Blimunda Sete-luas e Baltasar Sete-sóis que compõem o dia: a lua que representa a sombra e o sol que representa a luz.

Conhecem-se num auto-de-fé, onde se apaixonam instantaneamente, sendo o seu amor posteriormente "oficializado" pelo padre Bartolomeu numa cerimónia invulgar e simbólica. Mais tarde, o amor de Blimunda por Baltasar é posto à prova quando este desaparece e ela percorre Portugal, durante nove anos à procura dele. Finalmente, ao voltar ao Rossio, no mesmo local onde conhecera Baltasar, encontra-o num auto de fé onde ele é condenado, prestes a ser morto. É nesse momento que Blimunda recolhe a "vontade" de Baltasar, marcando assim a junção destes dois seres para sempre, simbolizando a perpetuação do seu amor e a iniciação de uma outra vida de plenitude que demonstra que "o amor existe sobre todas as coisas" (capítulo XXIII).

3ª PARTE

A construção da Passarola e o elogio do sonho

"Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido"

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Nesta terceira parte esta presente o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora por parte do padre Bartolomeu de Gusmão. O invento ao qual chamou de passarola por ter a forma mista de um pássaro e de um balão, fê-lo o pioneiro da aviação

Desta forma, esta terceira linha de ação relata que o Padre Bartolomeu Lourenço parte para a Holanda em busca de mais conhecimentos para poder concretizar o seu sonho, que é construir uma máquina voadora. De regresso a Mafra, traz com ele a informação de que o éter de que necessita alcança-se através das vontades dos vivos. Assim, Blimunda recolhe as duas mil vontades necessárias, e por isso, o voo realiza-se.

Deste modo, a passarola é movida pelas vontades dos seres humanos e pela conjugação de saberes: o cientifico (o padre Bartolomeu) o artesanal (Baltasar) o sobrenatural (Blimunda) e o artístico (Scarlatti), concluindo que o imaginário sobrenatural está afinal na própria realidade, ou seja, no humano, e não no divino.

Este propósito de voar através de conhecimentos técnicos, por opor-se à mentalidade clerical da época, leva à fuga e enlouquecimento do Padre Bartolomeu ("Vim-te dizer, e a Baltasar, que o padre Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, que é em Espanha, para onde tinha fugido, dizem que louco" capítulo XVII). Na obra, para além dos dados verídicos, temos a ficção, o imaginário, a magia, elementos que irão dar o sentido do maravilhoso e fantástico ao romance.