DOMENICO SCARLATTI

Giuseppe Domenico Scarlatti foi um compositor italiano que nasceu em Nápoles a 26 de outubro de 1685 e ficou conhecido por ter composto 555 sonatas para órgão, para cravo e para violino.


Em 1714 tornou-se maestro da capela do embaixador português e seis anos depois, em 1720, viajou para Portugal, onde foi nomeado maestro da capela da Corte de Lisboa. Um ano depois, foi para Madrid, onde passou o resto da sua vida como maestro da capela da Corte e onde acabou por falecer a 23 de julho a 1757.


Este compositor aparece na obra de José Saramago Memorial do Convento, após ser contratado pelo Rei D. João V para ensinar música à filha, Infanta Maria Bárbara.



Simbologia de Scarlatti

  • Domenico Scarlatti representa a arte e a música e tem o poder da cura, uma vez que foi através das músicas serenas e tranquilas de Scarlatti que Blimunda ficou curada.





Cravo

O cravo, criado por volta do século XIV (antes do piano) é um instrumento de teclado que possui formato semelhante ao do piano de cauda antigo, porém pode ser composto por um ou dois teclados. Difere de o piano pelo fato do seu som ser produzido através de martinetes que beliscam as cordas.


MÚSICA NA OBRA

Música na construção da Passarola

Scarlatti envolveu-se, embora apenas indiretamente, na construção da passarola, onde participa a convite do padre Bartolomeu, como "cúmplice silencioso". Assume um papel crucial nesta construção, pois, com a sua música, inspira os construtores da passarola. Isto, porque sem música as pessoas sentem-se sós e o ambiente torna-se triste e desinteressante.

Na hora da partida da passarola, Scarlatti assiste de perto a este acontecimento. “[…] indo Domenico Scarlatti à Quinta, viu, já chegando perto, levantar-se de repente a máquina, num grande sopro de asas […] só fica uma pungente melancolia, esta que faz sentar-se Domenico Scarlatti ao cravo e tocar. um pouco […] e depois, porque muito bem sabe ser perigoso deixar ali o cravo, arrasta-o para fora […] levou Scarlatti o cravo até ao bocal do poço […](página 131).

Música na doença de Blimunda - o poder curativo da música

De seguida, surge a doença de Blimunda, que através dos seus poderes conseguia ver “o que está dentro dos corpos, e às vezes o que está no interior da terra”. Tinha ficado responsável por recolher 2000 mil “vontades”, que fariam voar a passarola. - “está Lisboa atormentada de uma grande doença, morrem pessoas em todas as casas, lembrei-me de que não teremos melhor ocasião para recolher as vontades dos moribundos” (página 117).


Após recolhidas as “vontades”, Blimunda adoece. No entanto, com o apoio de Baltasar, Blimunda é curada pela música de Scarlatti.


A música funcionou como “musicoterapia” pois transmite a Blimunda serenidade, equilíbrio e paz interior (ideia de harmonia). “[…] Não esperaria Blimunda, que ouvindo a música o peito se lhe dilatasse tanto, um suspiro assim, como de quem morre ou de quem nasce […]” (página 122). Já que a música trazia melhoras à sete-luas, Scarlatti tocava 2/3 horas por dia até esta ter forças para se levantar. "Durante uma semana, todos os dias, sofrendo o vento e a chuva, pelos caminhos alagados de S. Sebastião da Pedreira, o músico foi tocar duas, três horas, até que Blimunda teve forças para levantar-se" (página 122).


Universalidade da Música

No oitavo parágrafo do (considerado) capítulo XIV, é evidenciada a universalidade da música. Tocada (em privado) no cravo por Scarlatti, ouvida em Lisboa, repara-se que todos a entendem independentemente do seu estatuto ou condição social: soldados da guarda portuguesa e da alemã, marinheiros ("marujos"), vadios, "frades e freiras de mil conventos", assassinos e "apunhalados, e até Baltasar e Blimunda.

Tudo isto é mencionado através de um paralelismo anafórico associado ao verbo "ouvir" que confere musicalidade ao texto.

"[...] Domenico Scarlatti, tendo fechado portas e janelas, senta-se ao cravo, que subtil música é esta que sai para a noite de Lisboa por frinchas e chaminés, ouvem-na os soldados da guarda portuguesa e da guarda alemã, e tanto a entendem uns como a entendem os outros, ouvem-na sonhando os marujos que dormem à fresca nos conveses e acordando a reconhecem, ouvem-na os vadios que se acoitam na Ribeira, debaixo dos barcos varados em terra, ouvem-na os frades e as freiras de mil conventos, e dizem, São os anjos do Senhor, terra esta para milagres ubérrima, ouvem-na os embuçados que vão a matar e os apunhalados que, ouvindo, não pedem mais confissão e morrem absolvidos, ouviu-a um preso do Santo Ofício, no seu fundo cárcere, e estando perto um guarda lhe jogou as mãos à garganta e o esganou, por este assassínio não terá pior morte, ouvem-na, tão longe daqui, Baltasar e Blimunda, que deitados perguntam, Que música é esta [...]" (página 107)



Ópera "Blimunda"

Em homenagem a José Saramago e Memorial do Convento, foi criada “Blimunda”, uma ópera lírica do compositor italiano Azio Corghi, que estreou no Teatro Lírico de Milão, no dia 20 de maio de 1990.


Todas as páginas referidas correspondem ao seguinte pdf da obra Memorial do Convento: