Baltasar Mateus e Blimunda de Jesus

Baltasar Mateus (Sete-Sóis)

Baltasar Mateus, também conhecido como Sete-Sóis, é um famoso maneta que está presente na obra “Memorial do Convento” pelo seu regresso sem a sua mão esquerda da guerra da sucessão espanhola, que, por sua vez, substituiu por um gancho e/ou por um espigão. Vivendo de esmola, Baltasar encontra trabalho no estaleiro do convento de Mafra, em Lisboa.

Desafiado pelo Padre, Baltasar ajuda-o a construir a passarola na quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira. Baltasar revela-se de fundamental como “o braço direito do Voador” e também porque o gancho pode ser mais útil visto que não sente dores se tiver de segurar um arame ou um ferro, nem se corta, nem se queima. Além disso, Baltasar, com Blimunda destronam gradualmente o rei e a rainha do primeiro plano da narrativa, com a função de representar o coletivo daqueles que, não tendo feito nenhum filho à rainha, são os que pagam o preço da promessa de D. João V, e Mafra, de construir um convento.

Blimunda de Jesus (Sete-Luas)

Blimunda de Jesus, é uma das personagens centrais do romance "Memorial do Convento" , e pertence a uma linhagem de importantes personagens femininas das obras de José Saramago. Inspirada em Pedegache, uma rapariga portuguesa residente em Lisboa no tempo de D. João V, Blimunda de Jesus ou Sete-Luas, como o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão a alcunha, é, provavelmente, a mais conhecida e fascinante mulher da constelação ficcional de José Saramago. No capítulo final do romance surge também nomeada como a Voadora, “por causa da estranha história que contava” (p.241).


Blimunda tem um mistério que é revelado ao leitor no capítulo VIII, que é o facto de que a personagem possui poderes extraordinários que lhe permitem olhar as pessoas por dentro, o que justifica a ligação do romance à categoria das narrativas não naturais e cuja capacidade fará com que Blimunda seja uma peça fundamental na recolha das vontades que fará com que a Passarola voe, concebida pelo Padre Bartolomeu de Gusmão, e concretizada pela técnica física de Baltasar.

Baltasar e Blimunda

Baltasar e Blimunda formam um casal que saía dos cânones da época, isto é, não eram casadas, mas, apesar de tudo, eles amam-se verdadeiramente tal como se fossem casados.

Na capital, Baltasar conhece o padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão e também a sua futura companheira Blimunda (Sete-Luas), no auto de fé em que a mãe desta, Sebastiana Maria de Jesus, é condenada por feitiçaria e degredada para Angola.

É principalmente através do percurso de Baltasar e Blimunda, que conhecemos a vida e tormento do povo. Ambas as personagens compõem o núcleo de onde partirão expansões, como o espaço familiar ou o mundo dos trabalhadores do convento.

Baltasar e Blimunda interrompem a construção da passarola, devido à viagem do Padre Bartolomeu à Holanda, onde busca o segredo alquímico do éter. O casal ruma a Mafra, onde se contruía a fábrica religiosa e aí regressam e permanecem depois do primeiro voo da passarola.

São Blimunda e Baltasar que guardam a passarola enquanto o padre Bartolomeu foge para Espanha. Após uma aventura voadora, a “passarola” ficou danificada e estes remendaram-na, compuseram-na e limparam-na.

O Simbolismo das personagens

O simbolismo de Baltasar na obra é evidente, a começar pelo seu nome: sete é considerado um número mágico e aponta para uma totalidade (sete dias da criação do mundo, sete dias da semana, sete virtudes, sete pecados mortais, etc.). O Sol é o símbolo da vida, da força, do poder do conhecimento, daí que a morte de Baltasar no fogo da Inquisição signifique, também, a negação do processo e o regresso à escuridão. Esta personagem transcende, assim, a imagem do povo oprimido e desprezado, sendo o seu percurso marcado por uma aura de magia, presente na relação que este tinha com Blimunda e no trabalho de construção da passarola.

De uma forma simbólica, o nome da personagem Blimunda acaba por funcionar como uma espécie de reverso do de Baltasar. Para além da presença do número sete, o Sol e a Lua completam-se: são a luz e a sombra que compõe o dia – Baltasar e Blimunda são um só, pelo amor que os une. No entanto, a relação entre os dois é perturbadora aos olhos da sociedade da época, pois não existe casamento oficial.

Vídeo do canal "CRPJF Venda do Pinheiro" sobre a história de Baltasar e Blimunda