História de Faro

Contudo, há investigadores que são da opinião que Ossónoba e Faro não têm relação nenhuma, sendo duas povoações distintas.

Extramuros opera-se uma regressão urbana dos seus arrabaldes, que se densificam, mantendo-se os dois núcleos já existentes anteriormente.

A cidade contém, neste período, uma forte comunidade de cristãos e moçárabes, descendentes dos romanos e visigodos, havendo notícia da sua participação em concílios de Bispos. É provável a manutenção de locais de culto dedicados a Santa Maria.

No ano 870 eclodiram as revoltas moçárabes no Ocidente do Alandalus. O partido Muladi, composto por antigos cristãos islamizados, os Moçárabes (do árabe Nuss-Arabi - meio árabe), com o apoio da comunidade cristã, toma o poder, tornando-se independente do Emirato de Córdoba, por mais de 50 anos.

Ao revoltoso Iáia ibne Becre sucede seu filho Becre ibne Iáia, que executa importantes melhoramentos na cidade. Constroem-se as actuais muralhas, guarnecidas por portas em chapa de ferro, aumentando-se o perímetro da Vila-a-Dentro. Terá sido nesta altura colocada entre as ameias a imagem de Santa Maria, como nos canta Afonso X de Castela, o Rei Sábio. É de crer que neste período a cidade tenha adoptado o nome de Santa Maria do Ocidente ou simplesmente Santa Maria (Xanta Maria).

A revolta Muladi seria esmagada pelo Califa Abderramão III.

Os anos seguintes são marcados pelo poder do hájibe Almançor, primeiro Ministro do Califa Hixame II, que obtém importantes vitórias sobre os cristãos.

A dinastia omíada de Córdoba cai no ano de 1016, fraccionando-se o Alandalus em vários principados independentes - os Reinos das Taifas. A Taifa de Santa Maria é governada por Abu Otomão Saíde ibne Harune. A cidade passa a designar-se por Santa Maria Ibn Harun.

Em 1092 o governador da Taifa de Sevilha, Almutâmide, natural de Beja e ex-governador de Silves, pede ajuda aos Berbereses de Marrocos aquando da luta contra as tropas cristãs de Afonso VI de Castela. Iúçufe ibne Taxufine comanda então a invasão Almorávida, derrota as hostes cristãs e conquista todos os Reinos das Taifas, unificando-os de novo e sujeitando-os a Marrocos.

Quando D. Afonso Henriques vence os Almorávidas na batalha de Ourique, sucedem-se os segundos Reinos das Taifas, com o governo da família Banu Mozaíne, em Santa Maria ibne Harune.

É durante este período que Dreses, geógrafo árabe ao serviço do Rei de Palermo, em visita de espionagem ao Algarbe Alandalus, descreve a cidade: Santa Maria do Ocidente está edificada na orla do mar e o mar vem bater nos seus muros. É de tamanho mediano e muito bonita. Tem uma Mesquita principal e Assembleia de Notáveis. Pelo seu porto entram e saem navios.

Em 1156 os Almóadas unificam de novo a Península, fazendo a fronteira regressar ao Vale do Tejo. Seguem-se os terceiros Reinos das Taifas, prenúncio da reconquista cristã. Poucos vestígios ficaram daquela época, apesar dos mouros terem permanecido séculos em Faro. De registar no entanto neste campo, a introdução de centenas de vocábulos, especialmente referentes à toponímia e ao comércio, o que prova uma certa renovação em determinados sectores. Mas, sobretudo, o período árabe deixou-nos vasta obra literária, principalmente poesia. Citaremos alguns grandes poetas de Faro desse tempo: Alboácem ibne Harune (século XI), ibne Alalam Alxantamari e ibne Sale Alxantamari (século XII) e ibne Almuraal (século XIII).