Agapē Agape
[tradução de um trecho de Agapē Agape, último romance de William Gaddis]
[tradução de um trecho de Agapē Agape, último romance de William Gaddis]
Não mas veja eu tenho que explicar isso tudo porque eu não, nós não sabemos quanto tempo ainda resta e eu tenho que trabalhar no, terminar esse meu trabalho enquanto eu, por isso que eu trouxe toda essa pilha de livros notas páginas recortes e sabe Deus o quê, arrumar e organizar isso tudo quando eu repartir essa propriedade e as negociações e preocupações que vêm junto enquanto eles me deixam aqui para ser cortado e raspado e grampeado e cortado novamente minha perna maldita olha para ela, camadas de grampos que nem naquela antiga armadura japonesa na sala de jantar parece que estou sendo desmantelado um pedaço de cada vez, casas, chalés, estábulos pomares e todas as malditas decisões e distrações eu tenho os documentos agrimensuras escrituras e tudo o mais bem aqui nessa pilha em algum lugar, acertar e ajeitar tudo antes que tudo entre em colapso e seja tudo engolido pelos advogados e impostos que nem todo o resto porque é disso que se trata, é disso que trata meu trabalho, o colapso de tudo, do sentido, da linguagem, dos valores, da arte, desordem e desarticulação onde quer que você olhe, a entropia afogando tudo que vê pela frente, entretenimento e tecnologia e qualquer criança de quatro anos com um computador, todo mundo seu próprio artista o lugar de onde veio a coisa toda, o sistema binário e o computador de onde a tecnologia saiu para começo de conversa, entende? Eu não consigo nem me aprofundar na questão, veja é nisso que eu preciso me aprofundar antes que o meu trabalho seja lido equivocadamente e distorcido e, e transformado numa caricatura porque é uma caricatura, toda uma massa estupefata lá fora esperando para ser entretida, transformando o artista criativo num ator, numa celebridade como Byron, o homem no lugar de seu trabalho quando a probabilidade veio e jogou todo aquele mundo newtoniano seguro e previsível no caos, em desordem para todos os lados, descontinuidade, disparidade, diferença, discórdia, contradição, o que estão chamando de aporia eles pegaram dos gregos, os acadêmicos pegaram uma palavra dos gregos para esse lamaçal de ambiguidade, paradoxo, perversidade, opacidade, obscuridade, anarquia o relógio sem o relojoeiro e a comédia desesperada do insano Cavaleiro da Fé de Kierkegaard e até mesmo a famosa aposta de Pascal num mundo onde todo mundo está “necessariamente louco que seria outro tipo de loucura não ser louco” onde o artista está hoje, o artista o artista de verdade sobre quem Platão nos avisou, a ameaça para a sociedade e o, leia Huizinga sobre Platão e música e o perigo do artista e o perigo da arte e a música nesse e naquele modo, o modo frígio para te acalmar e o lídio tenor e baixo para te deixar triste e as harmonias suaves e de ouvir bebendo, o lídio e o jônio onde a arte o, o artista tendo dificuldade para respirar aqui eu, saindo da anestesia na sala de recuperação tentei levantar a perna e de repente ela pulou sozinha como uma, como a dor evitar a dor é disso que isso tudo se trata não é? Buscar o prazer e evitar a dor, além do princípio do prazer? Meu Sigi de ouro sua mãe chamava ele, e se Emerson estava certo e nós somos o que nossas mães nos fizeram ser? “As primeiras sensações pueris a serem experimentadas são o prazer e a dor,” as primeiras formas que a virtude e o vício tomam para si, o meu Sigi de ouro não, ele tirou isso do Livro II das Leis de Platão, falando dos seus próprios padrões éticos elevados. “Eu sigo um ideal elevado,” ele conta ao Reverendo Oskar Pfister, “do qual a maior parte dos humanos que eu conheci se distanciam lamentavelmente”. E então só para esclarecer o pouco que ele encontrou de bom nesses humanos, ele diz ao Reverendo Oskar Pfister “Na minha experiência a maioria deles é lixo,” provavelmente perderam de vista seus propósitos nunca tiveram nenhum para começo de conversa além do prazer e lá vem Bentham com “Brincar de pushpin é tão bom quanto poesia se a quantidade de prazer dado é a mesma” viu essa palavra quantidade? A quantidade de prazer não a qualidade o ponto todo da coisa e essas máquinas digitais entram na jogada, a máquina tudo-ou-nada Norbert Wiener chamou, máquina que faz conta traz o sistema binário e o computador, então Wiener nos conta sobre um engenheiro americano brilhante que foi e comprou uma pianola caríssima. Pushpin ou Pushkin, não dá a mínima para a música mas ele está fascinado pelo mecanismo complicado que a produz é disso que se trata a América, do que se trata a mecanização, do que se trata a democracia e a deificação da democracia cem anos atrás toda essa tecnologia a serviço de entreter o lixo estupefato sedento de prazer do Sigi aí afora tocando o piano com os pés de onde tudo veio não foi? Aquele rolo de papel tudo-ou-nada com buracos, 40,000 pianolas construídas em 1909, quase 200,000 dez anos depois mesmo se algum dia as filhas da música foram rebaixadas quer dizer é isso que eu estou tentando explicar, repartir as propriedades em três uma para cada filha tudo resolvido antes da hora antes que os advogados e os impostos engulam tudo com deslocamento e desordem organizar tudo o único jeito de se defender contra essa onda de entropia que se espalhou por toda parte desde o ano em que a pianola veio a ser num campo de batalha da Guerra Civil feito Cristo, seu inventor americano disse, e os seus não o receberam desde que Willard Gibbs nos mostrou a tendência da entropia a aumentar, a tendência da natureza a degradar o organizado e destruir o significativo quando ele chutou as pernas do universo compacto e organizadinho do Newton com seus artigos sobre física estatística em 1876, abriu caminho para esse universo contingente onde a ordem é a menos provável e o caos o mais introduzindo probabilidade e acaso convenceu Wiener de que não era Einstein nem Planck nem Heisenberg mas Willard Gibbs que causou a primeira grande revolução na física do século vinte mas não é disso que eu estou falando não é, não é isso que eu estou tentando explicar, não. Não onde foi que, num arquivo nesse monte em algum lugar sobre a teoria de espera espera espera, meu Deus a pilha toda caindo nunca arrumar tudo de novo eu, eu estaria acabado, os pulmões já foram e o que anda acontecendo nos países baixos não é da conta de ninguém, metastizado até o osso ora eu não tenho tempo a perder, acertar as propriedades para todas as três com a dor de cabeça que vem junto e eu fico com cada uma de uma vez, quatro meses com cada filha trabalhando nesse projeto porque eu preciso arranjar um contrato e algum sinal pra poder terminar antes de, antes que, sabe como é, antes do tema da coisa, antes que tudo vire o tema da coisa toda. Onde é que está, esse lamaçal de ambiguidade, paradoxo, anarquia que eles estão chamando de aporia o livro dele bem aqui em algum lugar vai ver embaixo da pilha era um jogo lá deles, dos gregos, um jogo que não tinha como vencer, não tinha como ninguém vencer, um jogo de palavras propondo perguntas que não tinham nenhuma resposta clara então vencer não era a questão não, não isso é o que a gente quer não é, bem na mosca porque é isso que o jogo é, o único jogo por aí porque é disso que a América espera, cartãozinho caindo ali no, ali! Está vendo? Essa pilha toda de jornal aqui organizando minha pesquisa está aqui afinal, o que eu estava procurando bem do que eu estava falando, 1927, ajeitando a cronologia toda 1876 a 1929 quando a pianola o mundo e tudo o mais entrou em colapso, a primeira demonstração pública da televisão a imagem do cifrão foi projetada por sessenta segundos por Philo T. Farnsworth em 1927, está vendo como eu organizei tudo direitinho aqui acertei em cheio? Eventos vindouros lançam suas sombras e todo o resto para o lixo estupefato do Sigi por aí olhando boquiaberto para a televisão o cifrão é a única coisa que eles conseguem ver onde estamos hoje não é? Esperando por entretenimento porque foi aí que começou e é aí que acaba, evitando a dor e buscando o prazer tocar o piano com o pé, jogar baralho, jogar sinuca brincar de pushpin aqui está, aqui está Huizinga falando de música e jogos ele cita Platão sim, aqui. “Aquilo que não encerra utilidade, nem verdade, nem valor simbólico, mas também não acarreta consequências nefastas, pode ser apreciado mediante o critério do encanto que possui e pelo prazer que provoca. Esse prazer, dado que não tem como consequência um bem ou um mal dignos de nota, constitui um jogo”, continua falando que criancinhas e animais não param quietos, sempre se mexendo fazendo barulho brincando saltitando pulando fazendo algazarra acaba onde começou com brinquedos, brinquedos, brinquedos, toda criança de quatro anos com um computador. Aperta os botões acende várias luzes ela deveria estar aprendendo o quê, a soletrar? Não, ele corrige sua ortografia não precisa saber soletrar, multiplicar dividir achar a raiz quadrada de sabe Deus o quê não tem que ler música diferenciar uma crave de uma corda sol continua bombeando porque foi daí que veio assim como o engenheiro de Wiener, não a música mas como ela é feita, tubos foles martelas toda a máquina digital, todo sistema binário aquele rolo de papel tudo-ou-nada com os buracos passando pelo cilindro mestre foi daí que tudo saiu, brinquedos e entretenimento de onde vem a tecnologia há muito, muito, muito tempo desde o pato de Vaucanson que chacoalhava as penas grasnava bamboleava e cagava, há mil, dois mil anos com as máquinas de venda automática e os órgãos hidráulicos que Heron de Alexandria fez para entreter os cidadãos e as estátuas vivas na ilha de Rodes de que Píndaro fala, as árvores e pássaros artificiais feitos para o Imperador de Bizâncio há milhares anos nada além de brinquedos e jogos aonde você fosse, os fantoches armados de Carlos V tocando trompete e bateria e um canário cantor em tamanho real feito para Maria Antonieta deixava bem óbvio pra quem é que era esse entretenimento frívolo, pássaros artificiais gorjeando gorjeios reais para ensinar pássaros a gorjear? Mozart escrevendo música para relógios flautistas e a Vitória de Wellington de Beethoven escrita para o panarmônico de Mälzel enquanto aqueles relojoeiros suíços de rococó ainda estavam ocupados fazendo presentes principescos com caixas musicias de rapé e pastorais com figuras minúsculas trabalhando na fazenda e os franceses caluniados como sempre por versões obscenas disponíveis do outro lado onde o pato sujo e o pastorzinho de Vaucanson tocavam vinte músicas numa gaita com uma mão e batiam o tambor com a outra e seu flautista, Deus do céu o flautista de Vaucanson! tocava mesmo a flauta? Porque é daí que veio, de onde a tecnologia veio dando direto naquele rolo de papel com os buracos de onde veio o computador, entende? Leva só um minuto para explicar toda essa loucura de computador obcecados com a ciência obcecados com a tecnologia com essa explosão de progresso e a revolução informacional a gente está mesmo obcecado é com gente faturando milhões, faturando bilhões com chips de computador circuitos de computador programas de computador um homem faturando trinta bilhões de dólares em um ano porque é com isso que a gente sempre esteve obcecado, Philo T. Farnsworth estava certo setenta anos atrás não estava? Do que é que se trata a América, do que é que se trata aqueles trinta bilhões de dólares? Do que é que se trata o computador do que é que se trata tudo, estrelas de cinema, jogadores profissionais, do que é que se trata a ciência, tenta botar a culpa num gênio humilde aí o Pascal me aparece com dezenove anos e sua máquina digital de somar, Leibniz com aquela que multiplica e divide e enfim Babbage e sua Máquina Diferencial, Babbage e sua Máquina Analítica com seus cartões furados Babbage o avô do computador moderno então é Babbage Babbage Babbage mas ele pegou a ideia do tear de Jacquard então você só ouve falar disso, tear de Jacquard tear de Jacquard tear de Jacquard te atinge bem na boca do estômago não onde foi que eu, não acredito eu acabei de ver por aqui Flaubert, Flaubert deve ter sido em alfabética com Farnsworth tudo organizado aqui está sim aqui está, carta de Flaubert 1868 pergunta sobre os trabalhadores da seda em Lyon, trabalham sob tetos muito baixos? em suas próprias casas? crianças também trabalham? “O tecelão do tear Jacquard”, ele diz que ouviu “é atingido constantemente no estômago pelo movimento contrário da viga sobre a qual o tecido é enrolado, é o rolo que lhe desfere os golpes?” Aí, está vendo? Foi essa fábrica que Vaucanson colocou perto de Lyon que caiu aos pedaços e Jacquard chega mais tarde, cata os cacos do tear mecânico de Vaucanson para sedas estampadas, cola tudo junto e agora o que temos aqui o tear de Jacquard mas não é disso que eu estou falando, não, não, é o princípio da coisa, oitenta anos antes de Babbage, é o mesmo princípio que Vaucanson usou para o seu flautista, esse tambor com furos e alavancas controlando os movimentos dos dedos e lábio e língua a corrente de ar empurrada através dos lábios contra a beira dos buracos na flauta estava mesmo tocando as notas escolhidas pelos furos no tambor, as notas escolhidas pelos furos naquele rolo de papel porque o piano era a epidemia, era a praga se alastrando pela América cem anos atrás com seu rolo de papel furado no coração da coisa toda, do frenesi de invenção e mecanização e democracia e como se ter arte sem o artista e automação, cibernética já dá pra você ver onde a, merda! Onde os lenços, colocar embaixo da água fria pra parar de sangrar, entende? Um arranhão no pulso na quina dessa gaveta rasga a pele sangue por todo lado não dói, não, pele que nem papel é a prednisona, deixa a pele que nem um pergaminho velho rasga só de encostar é a prednisona, pegar um livro pegar qualquer coisa me partir em mil pegando esse livro escuta, você vai entender o que eu quero dizer, na primeira página você vai entender o que eu quero dizer, “De março a dezembro” ele diz, “enquanto tinha que tomar grandes quantidades de prednisolona,” mesma coisa que prednisona, “eu reuni cada livro e artigo escrito por” você entende o que eu quero dizer? “e visitei toda livraria possível e impossível” essa pilha toda de livros e jornais aqui? “me preparando com a seriedade mais apaixonada para a tarefa, que eu havia temido durante todo o inverno passado, de escrever” onde é que eu estou aqui, sim, “uma grande obra de impecável erudição. Era minha intenção dedicar o estudo mais cuidadoso a estes livros e artigos e só então, tendo os estudado com todo o afinco que o objeto merecia, começar e escrever minha obra, que eu acreditava que deixaria muito abaixo e muito atrás de si todo o resto, tanto publicado quanto não” está vendo do que isso tudo se trata? “Eu fiz planos durante dez anos e tinha falhado repetidas vezes em levar a obra a termo,” mas é claro que não, não essa é a questão a coisa toda! É a minha primeira página, ele plagiou a minha obra bem aqui na minha frente antes mesmo de eu escrever! Não é a única. Não é a única também, ele já fez isso antes, ou depois, palavra por palavra bem nesse monte aqui em algum canto daria pra chamar de plágio um tipo de entropia aqui corrompendo a criação está bem aqui em algum lugar nunca dá pra achar nada nessa bagunça nunca dá para arrumar, nunca pôr em nenhum tipo de ordem mas é disso que se trata a coisa toda para começo de conversa não é? Pôr as coisas em ordem isso é meio caminho andado na verdade é o caminho em si, organizar o essencial e jogar fora o resto essa é a, Phidias? Ó humanos, na pedra dorme uma imagem quem é que, Nietzsche? Probabilidade, acaso, desordem e análise aqui está aquele rolo de papel furado segurando a a, merda! Enchendo de sangue essas páginas de classificados de coisas de que eu acabei de falar não foi? A coisa toda vira uma caricatura? uma caricatura animada? Acaso e desordem num vôo rasante e essa máquina digital de sistema binário com seu rolo de papel tudo-ou-nada mantendo o forte sim era o forte, a questão toda ordenar e organizar e eliminar o acaso, eliminar falhas porque nós sempre odiamos falhas na América como se fosse uma grande falha de caráter disso que se trata a tecnologia, entretenimento musical contagem, contagem, setenta anos atrás um grande pianista cortando um rolo coordenando suas mãos e pedalando no espaço de um quinquagésimo de segundo 1926 uma empresa cortou e vendeu dez milhões de rolos a coisa toda vira uma caricatura, multidão lá fora estouro tiro investindo contra os portões buscando prazer democracia escalando as muralhas aterrorizando a elite que tiveram um naco do entretenimento de alta classe desde Maria Antonieta investindo contra a Bastilha com aqui sim, aqui está um sim, aqui um classificado alemão de 1926 defendendo a ação coletiva contra lá vem eles, lá vem eles, “uma classe ainda maior de pessoas que não conseguem com sucesso operar o tipo comum de pianola, pois falta-lhes um um verdadeiro juízo de valores musicais. Eles ‘não tem ouvido para a música’, e por esta razão tocam de modo atroz pianos equipados até mesmo com ações de alto nível” falando da ação coletiva? de defender esses amantes elitistas de música? Não aqui não, falando do que a gente sempre está falando. Vendas! “Destarte, não raro, vendas potenciais em um bairro são derrubadas por alguém incapaz de fazer jus às possibilidades da pianola que adquirira. Para alcançar os imensos mercados dos não-musicais e meio-musicais e abater o crescente preconceito dos realmente musicais” nós vamos fazer o que, educar essa ralé sedenta de prazer? Lá está Platão mais uma vez concordando que a excelência da música é medida pelo prazer, mas para essa gente por aí tocando You’re a Dog-gone Daisy Girl com o pé? Deus do céu não, para eles Platão rima com mamão, não pode ser o prazer de pessoas ao acaso, ele diz, há que ser a música que deleita os mais educados ou só sobra os poetas compondo para agradar o mau gosto de seus juízes e por fim a plateia instruindo uns aos outros e é disso que se trata essa gloriosa democracia não é? Tentando vender conjuntos de rolos de piano “para estudo” onze e cinquenta por cento e trinta e duas lições para ensinar como é que toca o piano com as mãos nada dando certo não, não, olha só isso, isso é o que eles queriam. “Você vai tocar melhor com o rolo do que muitos com as mãos” está vendo? “E você vai tocar todas as peças enquanto eles só tocam algumas. E agora até quem não tem treino pode tocar”, é de quebrar o coração. “O mais divertido da música é tocar por conta própria. É a sua própria participação que mais te emociona”, a coisa toda é de quebrar o coração, olha outro aqui. “Mantém o ‘sentimento’ artístico por tempo indeterminado”, vem desde a virada do século antes da pianola, quando ainda era uma máquina pianista, coisona de rodinhas que você levava até o piano mesmo rolo furado ela tocava as notas com dedos de madeira, dedinhos de madeira com pontas de feltro tocando Scarlatti, Bach, Haydn e “o bom e velho Handel. O Schubert tristonho fala a eles nos doces tons de Rosamunde. Beethoven, mestre dos mestres, diversões afins” chegando em Chopin chorando o destino da Polônia e respirando “o valor incandescente de seus compatriotas na Polonesa” e aqui Debussy e Grieg prestando homenagens. “Muitos artistas nunca mais vão tocar, mas suas mãos fantasmas viverão para sempre” isso é disso que se trata, não mais dedos de madeira e sim mãos fantasmas. “O que te impede te tocar a música dos mestres?” e depois “Se você estivesse tocando o ‘Coro dos Peregrinos’, não seria lindo ter o compositor, o próprio Wagner, ao seu lado?” Deus do céu! “o grande Wagner chega e, elevando-os para além das nuvens, transporta-os para os soberanos Salões da velha Valhala, na Cavalgada das Valquírias, ou leva-os às verdes e frescas profundezas do clássico Reno em O Anel do Nibelungo” parado ao seu lado? Apavorado, se você tivesse a mínima noção você ficaria apavorado, não mais dedos de madeira aqui estão as mãos fantasmas nas teclas, aqui. “Se pudéssemos ouvir Beethoven hoje tocando suas sonatas” sorte que ele era surdo ele iria, sangue no, olha isso, braço escorrendo até a mão veias parecendo que vão estourar não mais dedinhos de madeira com ponta de feltro não, está vendo o que te quebra o coração? “A Ciência levou a reprodução pianística à perfeição” leia Trilby, acabe com um fisiologista chamado Johannes Müller processado por uma melodia por soprar ar através de uma verdadeira laringe humana preparada com cordas e pesos para a ação muscular achou que as companhias de ópera iam comprar isso porque os cachês das estrelas de ópera estavam lá subindo sem parar que nem agora, que nem tudo é agora, o que foi que aconteceu? O que aconteceu! Lembra daquilo de a maior emoção na música é a sua própria participação quando foi que a coisa virou, quando foi que deixou de ser participar ainda que naqueles abraços tortos com Beethoven e Wagner e, e Hofmann e Grieg e aquelas mãos fantasmagóricas no, quando foi que entreter virou entretenimento? Esse artista fantasma virou essa busca atônita e exausta por prazer, que é de quebrar o coração. “Descubra o seu talento secreto” é isso que quebra o coração, perder toda aquela, aquela perda de um tipo de inocência que entrou de fininho, se distanciando daquela embriaguez romântica que era realmente para lá de ridícula mas era, não, era realmente para lá de maravilhosa, pela primeira vez música nas casas na casa de qualquer pessoa “todo membro da casa pode ser um artista” esse anúncio diz, descobrindo seu talento secreto com os pés, essa ilusão romântica de participação, de tocar Beethoven você mesmo que estava sendo destruída pela tecnologia que a possibilitou para começo de conversa, a mecanização estourando por toda parte e as mãos fantasmas o, Kannst du mich mit Genuss betrügen sim isso, Se eu disser para o instante não vá! Verweile doch! du bist so schön! nenhum páreo para a marcha científica que fez tudo ser possível, marcha em frente e deixa para trás, pianos que ninguém consegue tocar e milhões de rolos de piano largados para trás enquanto suas esplêndidas mãos fantasmas são empurradas para longe pelo gramofone e enfim paralisadas pelo rádio ensinando aves a gorjearem Ó Deus, Ó Deus, Ó Deus, Chi m’a tolto a me stesso isso é Michelangelo, é do meu livro, Ch’a me fusse più presso O più di me potessi isso está no meu livro, que tirou de mim aquele eu que podia fazer mais, e do que se trata seu livro Senhor Joyce? Ele não se trata de alguma coisa, senhora, ele é alguma coisa e adeus àquele talento escondido, àqueles dedos fantasmas duros como madeira petrificada olha os meus, aos níveis de ordem daqueles rolos tudo-ou-nada tornados chips em sistemas gigantescos de computador cujos operadores estão à mercê dos sistemas que eles mesmos desenharam, investimentos programados na bolsa de valores e o mercado quebra, derruba um pontinho na parte errada da tela que era um avião cheio de gente que busca prazer fugindo da dor e essa incrível tecnologia de bilhões de bytes resolvendo qualquer problema que se possa imaginar se torna o cerne do problema em si Deus do céu é tudo, tudo, energia nuclear vai mudar o mundo agora o que é que a gente faz com o lixo nuclear, o lixo, dedinhos de madeira com ponta de feltro tornados pedra olha os meus, deixar a mão parada aqui umas manchas que nem César cruzando os Apeninos não tinha? Sangue respingado aqui e ali nunca dá para saber, tudo parece tão normal não pareço? tudo soa tão normal não soo? Falando do, do que é que eu estava falando do buraquinho da memória às vezes apaga essa cama de hospital me vê sentado aqui num sofá branco, cadeira branca livros e jornais na minha frente? Envelhecendo o único refúgio é o seu trabalho, não dá para ver o raio-x não dá para ver a agulha na veia pinga pinga sabe Deus o quê uma hora depois da outra tratamento novo lá embaixo para arrancar o véu romântico do animal nu sua única função perpetuar a espécie a raça a tribo a, lá na sala de recuperação a perna pulando sozinha não a minha não, não se atreva a levantar que nem cavalos as pernas vão primeiro e querida já se foram teus dias de donzela que nem o, livro bem aqui há um minuto que nem o canguru de Huizinga eu estava lendo agorinha não estava? Não dá para ver o outro lado do quarto tudo borrado é a prednisona estão testando os olhos mas eu consigo ler não é, bem de perto ler fonte dez fonte oito mas o, o, levantar só levantar dar dois passos não consigo não consigo eu, eu não consigo é a, não é minha perna pulando é o canguru, é o selvagem dançando no ritual mágico do canguru ele é o canguru, um deles se tornou o outro, ele não conhece palavras, não conhece imagem nem símbolo, não conhece a diferença entre acreditar e fingir Huizinga diz, ele se tornou o outro e o outro é o, o outro tomou conta dele quando eu me levanto e eu eu, eu sou o outro, dou dois passos não consigo respirar não consigo ficar de pé não consigo fa, falar não consigo andar até o outro la, não consigo não consigo não consigo! Tenho que parar tem que acabar aqui mesmo não dá para respirar o outro não consegue falar não consegue ir até o outro lado do quarto não consegue respirar não consegue, não consegue ir em frente e eu, eu sou o outro. Eu sou o outro. Não nós dois vivendo lado a lado que nem o, que nem um Golyádkin que ele inventou num momento ruim não, não aquelas Zwei Seelen wohnen, ach! in meiner Brust um quer largar o irmão, um se agarra à terra o outro nas derber Libeslust não, não não não, não dá para respirar não dá para andar não dá para ficar de pé eu sou o outro. Lance de escadas espera aterrorizado, dentro do banheiro a banheira a privada aterrorizado, abrir a geladeira se agachar e olhar para dentro terror só, só terror onde é que está o Dodds, devia ter feito duas pilhas aqui para começo de conversa, uma livros e artigos e jornais e recortes que são absolutamente necessários o outro tudo aquilo que não é absolutamente necessário, achei que sabia quais livros e artigos e anotações eram mais necessários para o meu trabalho do que Dodds, essa é a pilha em que Dodds estaria mas não merda! Não, não aqui está ele de novo! Bem ali as minhas palavras bem ali a minha ideia ele estava lá antes de mim antes mesmo que eu conseguisse escrever. Ele até escreve sobre isso esse pensar os pensamentos de outro, me pôr em risco de ensurdecer até deixar de existir essa frase é dele eu simplesmente não tenho existido já que não consegui pensar meus próprios pensamentos porque meu pensamento na verdade tem sido o pensamento dele você entende? Seguindo o pensamento dele aonde quer que fosse de modo que o meu pensamento estava sempre onde quer que o pensamento dele o tivesse levado essas são minhas, essas são suas próprias palavras então eu não estava na menor condição de fazer nada não que eu fosse realmente fazer alguma coisa com essa condição respiratória que eu tive por tanto tempo nem ela era minha tratando com prednisona enquanto os efeitos colaterais inchado de tanta prednisona enquanto ele diminuía a dose ou cortava totalmente perdendo peso e voltando com doses maiores quando eu diminuía até perder metade do peso e ele estava ficando inchado de novo o dia que eu vim eu pensei isso não dá pra continuar assim ou ele pensou, ele pensou isso não dá pra continuar assim essa pilhas de livros e jornais para escapar, para escapar eu estive em Corinto tantos anos antes disso tudo começar esses livros essas anotações e jornais empilhados na minha frente eu ia voltar, eu ia voltar, encaixotar tudo e voltar para Corinto, começar do zero onde tudo começou, me ver correndo pelas ruas fui para Esparta, fui para Pilos me ver em algum café na calçada anotando alguma coisa, lendo todo o tempo do mundo sentado aqui sentado aqui lendo aqui está! Aqui está ele sim, voltando para Palma para trabalhar, se vê em Palma correndo pela rua ele mal consegue ficar em pé e andar até o outro lado do quarto ele fez isso de novo! Minha ideia, minha vida, meu trabalho roubado antes que eu pudesse colocar tudo no papel é a, não. Não! Não, é a, nem Palma nem Corinto nem mesmo o, não, o que está perdido o que se foi o que está berrando na rua é aquela juventude quando tudo é possível meu Deus é isso que não volta nunca. Quando jovem você é criança, adoece melhora, pega varicela pega caxumba pega pneumonia abaixa a cortina toma o remédio e melhora, envelhece e está ali a tua pneumonia esperando logo na esquina a última melhor amiga onde é que, merda. Sangrando aqui de novo, derrama essa água e é o fim, notas recortes livros numa pilha encharcada melhor sangrar até morrer se é só isso que te impede, esse meu trabalho tentando explicar esse outro não é Golyádkin não, não é o sósia dele que sumiu com a cama dele de manhã quando Pietruchka traz o chá e explica que o amo não está em casa, gritando Imbecil! Seu amo sou eu, Pietruchka! e “aquele outro”, Pietruchka enfim vomita, “aquele outro” saiu faz horas não é bem assim, esse sósia de Golyádkin eu nunca cheguei a ver o meu, vi esse plagiador porque eu sou aquele outro é exatamente o contrário, eu sou o outro eu acabei de dizer isso não disse? É exatamente o contrário, sentar aqui papeando que nem Seneca cortando as veias na banheira instante em que me levanto eu sou o outro, nós não somos esses Golyádkins nós não somos sósias, é ou/ou, é tudo-ou-nada, é todo esse padrão binário digitalizado de buracos naqueles milhões de rolos de piano ora eu tenho que achar o Dodds nessas pilhas em algum lugar aqui enquanto minha mente está limpa, você entende? Fala da alma destacada que pode ser separada do corpo, algum tipo de comunidade religiosa que Pitágoras criou com a ideia de vidas por vir, e esses demônios perigosos com vidas e energias próprias segundo Homero não era? Que não são bem parte de você já que você não tem controle sobre eles mas eles podem te fazer fazer coisas que fora isso você não faria antes que a gente chegue nos ventríloquos que você vai achar em Aristófanes e Platão eles, meu Deus sentado aqui sozinho num quarto feito uma coisa trazida pela maré pra ter alguém, pra ter alguém com quem conversar! Essa segunda voz dentro deles com quem conversavam e previam o futuro e vozes roucas e intestinais e e, nomes? eles tinham nomes? Alô? Liga pra ele, alô, Strabo? Liga pra ele, Strabo, alô? Você está aí? Rrrrrrrr. Merda. Fala comigo, me fala o que, está me ouvindo? Vai ver só fala grego, um bobo da corte, tum tum ti tum, tum tum ti ei! Prevê o futuro aí pra mim, está me ouvindo? Essa cirurgia, eu preciso saber, prediga o futuro para mim, será que essa cirurgia e esses químicos fazendo a mesma coisa me estragaram? Tira o véu romântico do animal nu só, só, meu Deus o que eu estou fazendo falando com uma, essa alma destacada, não dá para controlar, não é minha culpa te faz fazer coisas sem conseguir parar. Parar. Preciso parar e voltar começar do zero quando eu encontrar o que eu estava procurando nessa bagunça a questão é antes de tudo, questão é evitar o estresse recuperar, recuperar o fôlego e evitar o estresse, jornais emaranhados aqui no lençol aqui lendo os obituários tem gente morrendo de quem eu nunca ouvi falar, sete anos sem beber. Problema do Platão, quais são as harmonias suaves e quais as de ouvir bebendo? Suavidade indolência ebriedade são impróprias sempre te batendo com a palmatória procurando por avanços morais antes de tudo, questão é antes de tudo é evitar o estresse pra isso que servem aquelas harmonias jônicas e lídias, te ajudam a evitar o estresse, evitar o estresse, evi, não, não, para já com isso. Assim que você começa a procurar alguma coisa, fazer alguma coisa por prazer ele te bate com a palmatória baniu o lídio o jônio, o ritmo, o instrumento, até o fim da lista. A harpa e a lira mas só versões simples sem entalhes elegantes nem escalas complexas só pode estar nessa pilha, tenho que achar Dodds falando dos coribantes aqui embaixo com cuidado, cuidadosamente evitando o estresse pior que todos aqueles instrumentos de cordas juntos, será que tocar a flauta não é uma arte que busca apenas o prazer? Para fora! Banidos de sua República e uma palestrinha ali a respeito da boa cidadania no fim do Críton quando Sócrates diz que o som da flauta zunindo no ouvido ele não consegue ouvir mais nada agora, agora, baixar os ânimos acho que tenho que não é, meu Deus! Quem, meu Deus! Quem é que me bota um copo d’água lá longe! Em cima desses jornais desses grampos japoneses escorrendo na perna e nos meus livros, papéis onde, não consigo levantar não consigo, respirar não consigo, evitar, sim evitar o estresse mas, meu Deus. Ficar sentado aqui falando com essas almas destacadas ventríloquos cangurus, pensando os pensamentos de outro amortecido para além da existência e sou o outro, eu sou o outro, ficar sentado aqui falando com autômatos a dama turca em quatro línguas o flautista de Vaucanson como o paciente de Galen atormentado por alucinações de flautistas que viu e ouviu dia e noite e um outro que Dodds menciona entra em pânico quando tocam uma flauta numa festa mas não é essa a, essa é a, não é o que Dodds chama de um velho catecismo pitagórico, “Prazer”, lê-se. “O prazer em qualquer circunstância é ruim; pois viemos aqui para sermos punidos e devemos ser punidos”, só isso, imagina o corpo como a prisão da alma onde os deuses a mantém trancada até que lhe expurguem a culpa, purgatorio! Loucura, é tudo loucura, quis fugir dessa prisão eu, olha só isso, olha para mim, a pele que nem um lenço manchas que florescem diariamente sangue derramado há uma semana e essa armadura maldita na perna, o pulmão esfacelado e o que anda acontecendo lá embaixo não é da conta de ninguém não dá para ver da outra ponta do quarto os destroços da coisa toda, de cima a baixo, uma prisão dessas fugir dela que nem soprar uma vela eu, eu não consigo não eu, eu não consigo. Purgatório é tudo purgatório do começo ao fim, catarse logo de saída. Flautas e tímpanos! Música orgíaca gente dançando perdendo a cabeça bota tratamentos para estados de ansiedade nisso, bota evitar o estresse bota diagnosticar loucura lá nesses rituais coribânticos batucando várias músicas até acharem aquela que pertence ao deus que possui o paciente o único a que ele responde nesse pandemônio, descobre qual é o deus que o anda atormentando e lhe suborna soa como a beira-mar, soa como a compra de indulgências escolha o teu santo intercede com Maria intercede com Jesus intercede com Deus é quem sabe que culpa toda é essa, o pecado original como uma praga atravessando as eras uma heresia depois da outra mortificando a carne espere tempo o bastante e vai acontecer com você, percevejo ou poesia e lá vem Mary Baker Eddy dizer que a coisa toda é um engano, um erro terrível e pululante e aqui está a sua amostra molhada descendo até meu Deus, meu Deus, meu Deus! Não consigo, ver o que vem depois prever o futuro em que todo prospecto agrada e só o meu é, é como um corredor comprido portas se abrindo se fechando começar do zero ir até uma porta se fecha quando chego até ela correr até a próxima e não! Não, aqui está minha correspondência, encharcada nunca chegou a ser aberta espalhada para secar com o, o que é isso. Pelo amor de Deus o que é que isso está fazendo aqui, escrituras das propriedades agrimensuras seguros de títulos, devia estar no meu cofre como é que isso foi parar aqui misturado com minhas anotações livros jornais o que eu vim usar a trabalho, minha ideia toda não era? Sentar para trabalhar começar do zero não deixar outras coisas atrapalharem evitar estresse portas se fechando se acomodar, estirado como uma prisão como uma tumba onde a cama o catafalco feito por Deus o autor de camas no último livro da República, bota evitar estresse nisso. Três tipos de cama Deus fez uma delas, se tivesse feito duas uma terceira teria aparecido atrás delas, a cama real não uma cama específica, essa é o marceneiro, e então o pintor imitando o que eles fizeram, bem o bastante para enganar crianças ou os simplórios mundo afora esperando entretenimento veja eu tenho que explicar tudo isso porque eu não, nós não sabemos quanto tempo ainda resta e eu tenho que trabalhar na, terminar esse meu trabalho enquanto eu, separo e organizo tudo antes que tudo entre em colapso e seja engolido pelos advogados e impostos que nem todo o resto porque é disso que se trata o colapso de tudo de, de, eu não consigo nem entrar na discussão veja é isso que eu tenho que discutir antes que todas as minhas ideias sejam roubadas antes que eu as coloque no papel antes que meu trabalho seja distorcido mal entendido transformado numa caricatura e, toalha em algum lugar aqui no meio dessa bagunça o lençol está gelado e úmido secar minha perna antes que eu comece a enferrujar, o dorso da minha mão todas essas rugas cruzadas parece anchova assada mas, um pouquinho de música. Música, é realmente onde tudo começa e acaba a próxima vez que eu vir um ser humano vou pedir um pouquinho de música aqui não só por prazer não, procurar aquelas anotações sobre a beleza medida apolínea de Nietzsche nessa em algum lugar dessa pilha mas não é disso que se trata não, é esse eu ou essa alma destacada atormentada no Hades ou essa culpa que Empédocles empresta da escola da recordação de Pitágoras, treinar sua memória para recordar pecados e sofrimentos das suas vidas passadas segundo o catecismo aterrorizante dele nós viemos até aqui para sermos punidos e nós devíamos ser punidos, porque meu Deus! Está em todo lugar que você olhe, o corpo como uma prisão e lá está o estudante rabínico morrendo de amor por uma mulher noiva de outra pessoa de modo que seu espírito habita o corpo dela, entra de fininho enquanto ela está dormindo e seu corpo está desocupado e o rabino vem exorcizar esse dybbuk, que deve estar se divertindo à beça lá dentro. Essa culpa, culpa, culpa dê de cara com ela onde você for em algum lugar nessa pilha, o que é que eu estava procurando, essas páginas falando de Tolstoi não essas eu coloquei aqui embaixo com uns cacos de, com isso de treinar a mente para recordar pecados de uma vida passado até esses casos hoje em dia de memória recuperada, mesma coisa não é? Satanismo e canibalismo e estupro sob a orientação de seu psicoterapeuta, abuso e aborto e abduções alienígenas com a ajuda do seu conselheiro de igreja e essas memórias vívidas e falsas de seitas satânicas onde eles praticam canibalismo e pedem para a coitada da mulher levar a carne e eles vão analisar em busca de proteína humana mas quer dizer de onde foi que esse tal de Satanás veio para começo de conversa?