Isaías 35.1-10
Ciclo do Natal
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
uma pergunta para todas as mães aqui presentes: o tempo de gravidez e de espera é triste ou alegre? Pais, agora para vocês: o tempo de espera pelo nascimento dos filhos é um tempo triste ou alegre? (Claro que cada realidade pessoal e familiar é diferente – e ali também sempre está presente a misericórdia de Deus quando as coisas não acontecem como esperado – ou idealizado). Mas, agora, para pais e mães, uma última pergunta: quando há mais alegria, na espera ou no nascimento?
Se a espera já é motivo de tanta alegria, imagina quando chegar o que esperamos.
1 A PROMESSA FEITA NA BABILÔNIA
O povo de Deus aguardava por sua libertação. Estavam exilados/cativos na Babilônia. Estavam longe da sua terra, dos seus valores, do Templo... Ali estão por causa da sua desobediência e dos seus pecados. O motivo do exílio não é apenas econômico, histórico, sociológico ou antropológico, mas espiritual e teológico: Deus não é o culpado do exílio, mas o próprio povo em sua desobediência.
Na Babilônia, a tristeza se tornou uma marca do povo de Deus: “Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores queriam que fôssemos alegres, dizendo: “Cantem para nós um dos cânticos de Sião.” Mas como poderíamos entoar um cântico ao Senhor em terra estranha?” (Salmo 137.1, 3-4). Não há alegria. Não há ânimo. Não há vigor. Como cantar de Sião longe de Sião? Isso não faz sentido! O que esperar do futuro? O que esperar para as próximas gerações? Vale a pena sonhar?
Foi então que, no meio do caos do exílio, o profeta é inspirado por Deus a escrever uma poesia – uma promessa. O profeta converte a espera pela Sião futura na imagem de um deserto transformado. São palavras lindas e cheias de vida: “O deserto e a terra seca se alegrarão; o lugar solitário exultará e florescerá como as flores da primavera” (Isaías 35.1). O deserto receberá a glória do Líbano (uma planície com uma grande floresta), do Carmelo (uma montanha com a encosta verdejante) e de Sarom (uma planície onde o que se planta brota, cresce e dá frutos).
O deserto será transformado. O profeta usa a arte poética para animar seu povo a continuarem esperando no Senhor mesmo em meio aos sofrimentos. Ele usa a arte para transformar a realidade e fazer olhar para o Deus da vida. Deus é capaz de transformar o deserto em um paraíso.
Deus anuncia que vai salvar o seu povo. Deus vai resgatá-los do sofrimento. O que eles têm é uma promessa – e isso é suficiente para que sejam tomados de alegria. O Senhor prometeu! E a certeza de que Deus cumpre o que promete faz o deserto da espera se tornar em um paraíso cheio de flores e águas. Quem conhece as promessas de Deus faz da espera um grande motivo de alegria, pois sabe que seu futuro não vai para o nada, mas para as mãos bondosas de Deus.
A alegria explode! O profeta tem a sua vida preenchida pelo agir de Deus. O extraordinário invade o ordinário: cegos veem; surdos ouvem; aleijados não apenas andam, mas pulam; mudos não apenas falam, mas cantam. É algo difícil de imaginar. É uma alegria imensa – embora ainda seja alegria pela expectativa e pelo anseio do que ainda não chegou: imaginem então quando chegar o que esperam! Se há tanta alegria apenas na espera do agir salvador de Deus, imaginem a alegria quando acontecer o agir salvador de Deus!
2 O CUMPRIMENTO DA PROMESSA EM JESUS
Se apenas a promessa já foi motivo de tanta alegria, imaginem o seu cumprimento! E de fato aconteceu. A promessa se cumpriu. Maria está grávida. Agora a espera é outra: o nascimento do Salvador. Se a espera já é motivo de tanta alegria, imagina quando chegar o que esperamos.
Maria, tomada de júbilo, entoa um cântico ao Senhor: “A minha alma engrandece ao Senhor; e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada” (Lucas 1.46-48). A arte traduz sentimentos que a razão pura não consegue compreender. A mulher simples está grávida do Salvador da humanidade. O que foi prometido a Israel virá de Maria para salvar o mundo inteiro. O que Maria tem é uma promessa. Ela precisa aguardar os meses passarem. Sua confiança e alegria está em Deus, o Salvador.
O reformador alemão Martinho Lutero (1483-1546) escreveu:
O mesmo faz aqui a doce mãe de Cristo, ensinando-nos, pelo exemplo de sua própria experiência e por meio de palavras, como se deve conhecer, amar e louvar a Deus. Pois aqui ela se gloria e louva a Deus com um espírito saltando de alegria, dizendo que ele havia posto o olhar nela, sendo ela humilde e nada.[1]
Pessoas simples recebem a promessa de Deus e se alegram nela. Zacarias entoa um cântico do Salmo 106.48 ao saber que seu filho João Batista iria ser profeta a preparar o caminho para o Salvador: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como havia prometido desde a antiguidade, pela boca dos seus santos profetas” (Lucas 1.68-70). Simeão vai ao Templo e quando vê Jesus nos braços de Maria, entoou um cântico dizendo: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos” (Lucas 2.29-31). Pessoas simples explodem de alegria ao contemplarem o extraordinário de Deus invadir o ordinário das suas vidas. Nesse menino, Deus está trazendo a salvação que ele prometeu. A presença de Deus chegou. Agora, surgiu um novo tempo marcado pela alegria plena.
3 A PROMESSA DA VINDA DE JESUS DOS CÉUS
Se a espera já é motivo de tanta alegria, imagina quando chegar o que esperamos. Nós somos movidos hoje por uma nova promessa: a vinda do Senhor dos céus. Advento é tempo de lembrar que o tempo está próximo – hoje mais do que ontem! Embora não saibamos quando será, a cada minuto estamos mais perto do que estávamos antes. O Senhor virá trazendo novos céus e nova terra.
Essa promessa precisa encher o tempo de Advento de alegria. Deus cumpre o que promete. Seu Filho Jesus virá dos céus. Assim como o deserto era apenas um caminho para Sião, nossa vida também é apenas a trajetória até a Jerusalém celestial. Deus não chamou o seu povo para viver no deserto, mas para passar no deserto. Essa passagem é cheia de símbolos de vida – e vida em abundância – pois podemos ter a certeza de que vai chegar o que esperamos.
Mas, por que o Senhor parece demorar tanto? Por que parece que as promessas de Deus demoram a acontecer? O apóstolo Pedro explica, dizendo: “Mas há uma coisa, amados, que vocês não devem esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos são como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém se perca, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3.8-9). Precisamos nos alegrar e agradecer a paciência de Deus que aguarda mais pessoas chegarem ao arrependimento para receberem a promessa da Salvação do Senhor.
Amados irmãos, amadas irmãs,
Se a espera já é motivo de tanta alegria, imagina quando chegar o que esperamos. Advento é tempo de espera: não pelo nascimento de Jesus. A Igreja Cristã não celebra o aniversário de Jesus. Advento é tempo de lembrar que esperamos a vinda do Senhor dos céus: “Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Apocalipse 1.7). Que maravilhosa promessa! E só a promessa de que ele virá já é capaz de transformar o deserto da nossa vida em um verdadeiro paraíso.
Nós temos uma promessa a receber. E Deus é honesto para cumpri-la. Vamos responder à promessa com fé – que é a confiança nas promessas de Deus. Vamos nos alegrar pela promessa da vida eterna. Vamos exultar ao Senhor pela promessa da glória dos céus. Vamos louvar a Deus pelo cumprimento da promessa no nascimento de Jesus. Vamos testemunhar da promessa para que mais pessoas cheguem ao arrependimento antes do Dia do Senhor.
Quando você experimentar o deserto, lembre-se: Deus fez promessas para você. Ele vai cumpri-las conforme o tempo da sua vontade. Tenha paciência e aguarde com alegria para que já agora o seu deserto se transforme em um lindo jardim enquanto ainda não chegou o que Deus nos prometeu nas sua Palavra. Amém.
[1] LUTERO, Martinho. O Magnificat – 1521. in: LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas: Fundamentação da Ética Política: Governo – Guerra dos Camponeses – Guerra contra os Turcos – Paz Social. v. 6. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal; Canoas: Ulbra; Porto Alegre: Concórdia, 2016. p. 25. Grifo meu.