Mateus 3.1-12
Ciclo do Natal
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
é bom sentar-se em um sofá, não é? Acho que vou começar a fazer os cultos daqui. Realmente é muito bom sentar-se aqui. Mas, e se acontecer isso: (pegar algumas pedras e colocar sobre o sofá). Alguém vai querer sentar-se? Vai ser confortável? Quanto tempo dá de ficar sentado no sofá com essas pedras?
Bem. É preciso incomodar para desacomodar.
1 A APARIÇÃO DE JOÃO BATISTA
Ideias fermentavam por todos os lados. Na Grécia, a influência dos antigos filósofos ainda era evidente; em Roma, o poder e o direito ganhavam forma; na região da Judeia, diferentes correntes religiosas disputavam seguidores. Entre os judeus, de um lado havia os saduceus que defendiam que a verdade bíblica estava apenas na Torá escrita – nada mais! De outro lado, havia os fariseus que diziam que tanto a Torá escrita quanto a tradição oral dos judeus era a verdade de Deus. A cidade era o lugar onde ideias fermentavam e disputas por seguidores aconteciam. Não faltavam influencers buscando causar algum tipo de influência na sociedade e conquistar seguidores. Multidões passavam pelas cidades buscando a verdade!
Foi então que “naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia”. Naqueles dias de ideias, convicções, influenciadores, influenciados, apareceu João Batista. Onde ele estava antes de aparecer? Não sabemos – e qualquer palpite corre o risco de se tornar uma especulação. Naqueles dias de turbulências ideológicas, João Batista apareceu! O lugar da sua pregação não é em um palco na cidade, mas na areia do deserto! No deserto, João Batista experimenta a comunhão íntima com Deus. “Multidões são sedutoras, mas o deserto é onde o fogo queima, a sarça ardente aparece e Deus fala”[1]. João Batista não escolheu o brilho da cidade, sua ostentação e suas multidões sedentas; João Batista escolheu o deserto para buscar e ter, no silêncio, mais intimidade com Deus. João Batista não está interessado na fama, mas no serviço! Sua mensagem não fala de si mesmo, mas daquele que viria após ele.
2 A MENSAGEM DE JOÃO BATISTA
“Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia”. João Batista fez do deserto o seu púlpito. Não queria o barulho da cidade, mas o silêncio do deserto – lugar de total dependência de Deus. O que ele pregava? “Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus” (Mateus 3.2). No Novo Testamento grego, a palavra arrependimento é metanoia que também significa “conversão” e “mudança de mente”. Em meio à tantas ideias, filosofias e sugestões religiosas, a pregação de João Batista é um chamado: mudem suas mentes e voltem para o Senhor. Não se prendam às verdades pré-estabelecidas, pois o que Deus irá revelar de agora em diante através daquele que vem após de mim irá mudar completamente o mundo!
A pregação do arrependimento é uma pregação que incomoda! Mas é preciso incomodar para desacomodar! Fazer sair da zona de conforto. Fazer sair do lugar de costume. Fazer a mente mudar de pensamento e voltar ao Senhor Deus. “Na queles dias”, todos estavam muito acomodados às suas correntes religiosas, filosóficas e às suas próprias tradições. João batista “apareceu” para dar um chacoalhão naquelas verdades pré-estabelecidas – e mudar tudo!
João Batista anuncia que “está próximo o Reino dos Céus”. Havia entre os judeus uma grande expectativa pelo Reino de Deus através da esperança da vinda do Messias – que deveria ser um descendente de Davi. Eles aguardavam a vinda de um rei que os livraria das mãos dos inimigos e que restauraria a glória de Israel. João Batista está dizendo: “O que vocês tanto esperam está chegando. Mas vocês estão preparados para receber o que tanto esperam? Vão mudar seus caminhos? Vão mudar de direção? Vão aceitar o Messias? Vão mudar as suas mentes? Ou vão ficar confortáveis na zona de conforto?”
Multidões iam ao deserto para ouvir a pregação de João Batista. “E, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão” (Mateus 3.6). Muitas pessoas se arrependiam e recebiam o batismo. O avivamento não estava acontecendo na cidade em seu brilho, em suas vitrines ou em seus shows; o avivamento estava acontecendo no deserto.
Então, chegam a ele os “mestres da zona de conforto”: os fariseus e os saduceus. João Batista não os poupou da verdade que incomoda: “Raça de víboras!” (Mateus 3.7). O que vinha à mente dos religiosos da época quando ouviam algo sobre serpentes? Gênesis 3, a serpente que levou Adão e Eva ao pecado. Com coragem, João Batista está dizendo – vocês são parentes da serpente! Eles acham que serão salvos pelo exagerado cumprimento da Lei – quando, na verdade, não terão salvação sem arrependimento – mudança de mente: sair da zona de conforto! Eles seguem as suas próprias ideias. Estão confortáveis em sua teologia! É preciso acontecer uma mudança em suas mentes. A pregação de João Batista incomoda para desacomodar. A pregação do arrependimento incomoda para desacomodar! “Se existe algo de que tendemos a ser extremamente orgulhosos é de nossas ideias. Às vezes elas estão erradas, e mesmo assim nos gabamos delas”[2]. Nestas situações, eu creio que só o Espírito Santo é capaz de incomodar para desacomodar – e converter mentes para a verdade de Jesus, o Filho de Deus enviado para a nossa salvação.
Amados irmãos, amadas irmãs,
arrepender-se é difícil. Pode doer abandonar as próprias verdades! Mas Deus pode fazer! O apóstolo Paulo tinha convicção de que era correto perseguir os cristãos, até literalmente cair do cavalo após um encontro pessoal com o Senhor Jesus; Agostinho de Hipona tinha certeza de que as ideias da filosofia grega eram a verdade, até ele ouvir a mensagem do Evangelho e se tornar cristão; Martinho Lutero precisou ser desacomodado através de uma tempestade para levar a Igreja de Jesus de volta ao Evangelho da Salvação por graça e fé. E assim aconteceu na vida de tantos outros ao longo da história da Igreja. Eles não saíram da zona de conforto por si próprios, mas foram tirados dela por Deus.
Eu tenho a impressão de que estamos muito acomodados no tempo do Advento. As velas sinalizam que “nestes dias” o “Reino dos Céus está próximo”. O advento está tão cheio de brilho que ficamos acomodados! Nos acostumamos com o movimento da cidade e esquecemos que Advento é tempo de deserto – para ouvir mais intimamente a voz de Deus que clama no deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
O primeiro Natal não foi nada confortável! Maria e José foram acolhidos em uma estrebaria; Jesus nasceu e foi colocado em um coxo de animais; após as visitas dos pastores e magos, precisaram fugir da perseguição de Herodes, indo ao Egito; enquanto isso, bebês recém-nascidos eram mortos em Jerusalém. Definitivamente o primeiro Natal não teve nada de confortável.
A minha oração é que a pregação do arrependimento realmente te incomode hoje. Onde você está confortável demais? Em quais pecados você está confortável demais? Em quais verdades você está confortável demais? Minha oração é que Deus te tire da zona de conforto para um verdadeiro arrependimento e conversão – mudança de mente! Não sabemos quando virá o que Deus prometeu. Estejamos preparados para receber aquilo que esperamos. “Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus”. Amém.
[1] WHITEFIELD, Samuel. Você escolherá o deserto? Vitória: Base Livros, 2022. p. 43.
[2] WILLARD, Dallas. A gentileza que cativa. São Paulo: Mundo Cristão, 2018. p. 28.