Filosofia da Mente 2018-II

HUM01024, terças e quintas, 16:30-18:10, sala 109, prédio das salas de aula (43324), Campus do Vale, Prof. Rogério Severo, Dept. Filosofia - UFRGS

Este é um curso introdutório à filosofia da mente , dividido em três partes. Na primeira, são apresentadas algumas das principais concepções filosóficas a respeito do que é uma mente; na segunda, discute-se como conciliar nossas essas sobre a mente com o que atualmente sabemos sobre a evolução biológica e psicológica das mentes; e na terceira, apresentam-se alguns atributos centrais da mente humana.

Programa (sujeito a alterações, conforme o andamento das aulas):

I. O que é uma mente?

1. (07, 09 e 14/08) Dualismo de substância

Leituras obrigatórias: Descartes, Meditações II e VI e Correspondência de Elisabeth a Descartes (1643)

Leituras recomendadas: Lycan (2009), "Dando ao dualismo o que lhe é devido"; Foster (1989), "Uma defesa do dualismo" (pp. 205 ss.); W.D. Hart (1988), The engines of the soul; Robinson (2016), "Dualism"; James (1898), "Human immortality"; Almeder (2013), "Objeções materialistas contra o dualismo cartesiano"; Lommel et al. (2001), "Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands"; Martin & Augustine, The myth of an afterlife; Loose et al., The Blackwell companion to substance dualism.

Vídeos indicados: Chalmers, On consciousness e Como explicar a consciência?; atenção seletiva

Gravação das aulas: dia 07/08 ((1) em mp3 ou no youtube), dia 09/08 ((2) em mp3 ou no youtube), dia 14/08 ((3) em mp3 ou no youtube)


Exercício para ser entregue no dia 28/08, terça feira: escreva uma página caracterizando e justificando a versão mais forte possível do dualismo de substância; em seguida, escreva uma página criticando os seus próprios argumentos (faça cada uma das partes separadamente, tentando fortelecer ao máximo os argumentos em cada uma das páginas). No dia 23/08, quinta-feira, não haverá aula; em vez disso, estarei em minha sala (205, prédio do ILEA, 2º andar) das 16:30 às 18:10 para resolver dúvidas ou tratar de assuntos relativos a esta disciplina.


2. (16 e 21/08) Behaviorismo

Leituras obrigatórias: Hempel (1935), "A análise lógica da psicologia" e Ryle (1949), "O mito de Descartes"

Leituras recomendadas: Graham (2010), "Behaviorism"; Chomsky (1959, 1967), "Review of BF Skinner's Verbal Behavior"; Skinner (1957), Verbal behavior; Quine, "Mind and verbal dispositions", Abath (2011), "Quine contra a semântica mentalista"; Justi e Araújo (2004), "Uma avaliação das críticas de Chomsky ao Verbal Behavior à luz das réplicas behavioristas"; Heil, Filosofia da mente (cap. 3); Hacker, "O argumento da linguagem privada"; Lakoff & Johnson, Metaphors we live by; Manifesto do Círculo de Viena.

Gravação das aulas: dia 16/08 ((4) em mp3 ou no youtube), dia 21/08 ((5) em mp3 ou no youtube)


3. (28 e 30/08) Teorias da identidade mente-cérebro

Leitura obrigatória: Place (1956), "É a consciência um processo cerebral?"

Leituras recomendadas: Smart, "Sensações e processos cerebrais"; "The mind/brain identity theories"

Gravação das aulas: dia 28/08 ((6) em mp3 ou no youtube), dia 30/08 ((7) em mp3 ou no youtube)


4. (04/09) Funcionalismo e inteligência artificial

Leituras obrigatórias: Fodor (1981), "O problema mente-cérebro" [original em inglês aqui]; Searle (1980), "Mentes, cérebros e programas" [em inglês aqui]

Leituras recomendadas: Turing (1950), "Computing machinery and intelligence" [em português aqui]; Churchland & Churchland (1990), "Uma máquina poderia pensar?" [original em inglês aqui]; Fodor, "Searle sobre O que só os cérebros podem pensar"; Searle, "Resposta do autor [a Fodor]"; Oppy (2011), "The Turing test"; Levin (2018), "Functionalism"

Para ouvir: Cérebro eletrônico

Gravação das aulas: dia 04/09 ((8) em mp3 ou no youtube), dia 11/09 ((9) em mp3 ou no youtube)


5. (13/09) Dualismo de predicados e dualismo de propriedades

Leitura obrigatória: Jackson (1982), "Qualia epifenomenais" e (1986) "O que Mary não sabia?" [original em inglês aqui]

Leituras recomendadas: Fischborn, "Monismo anômalo"; Nagel, "Fisicalismo"; Nagel (1974), "Como é ser um morcego?"; Chalmers, "O enigma da experiência consciente"; Chalmers, (1996) "Facing up to the problem of consciousness", (1997) "Moving forward on the problem of consciousness"; Robinson (2011), "Epiphenomenalism"; Robinson (2011), "Dualism"; Nida-Rümelin (2009), "Qualia: the knowledge argument"

Gravação da aula do dia 13/09 ((10) em mp3 ou no youtube)


6. (18/09) Pampsiquismo

Leituras recomendada: Goff et al. (2017) "Panpsychism"; Chalmers (2015), "Panpsychism and panprotopsychism"

Gravação da aula do dia 18/09 ((11) em mp3 ou no youtube)


7. (25/09) "Enativismo", por Rodrigo Ulhôa (UFRGS), no miniauditório do IFCH

Resumo: O Enativismo defende a tese geral de que a ação é constitutiva da cognição. Trata-se de uma ideia que perpassa a filosofia da mente, a fenomenologia, a ciência cognitiva e a biologia evolutiva. Sua origem pode ser rastreada na psicologia ecológica de Gibson (1979), embora tenha ganho destaque apenas com a obra The Embodied Mind (1991). Ele foi concebido originalmente como uma teoria da percepção visual, cujo propósito era minar a tese de que toda cognição envolve conteúdos representacionais. A partir disso, o enativismo foi estendido para se aplicar a outras formas de cognição e se desenvolveu em variedades mais ou menos radicais.

Leitura obrigatória: Noë, “The Enactive Approach to Perception: An Introduction” e “Enacting Content” In: Action in Perception, pp. 1-34 e 75-122. [disponíveis no dropbox]

Leituras recomendadas: Rolla, “Enativismo Radical: exposição, desafios e perspectivas”; Varela, Thompson, & Rosch, “A Fundamental Circularity: In the Mind of the Reflective Scientist”; Ward, Silverman & Villalobos, “Introduction: The Varieties of Enactivism”. [disponíveis no dropbox]

Vídeos indicados: Gallagher, An Introduction to 4E Cognition; Noë, Out of Our Heads

Gravação da palestra de Rodrigo Ulhôa, dia 25/09 ((12) em mp3 ou no youtube)


8. (27/09) "Esmiuçando o argumento da concebilidade contra o fisicalismo", por Wilson Mendonça (UFRJ), no miniauditório do IFCH

Resumo: O argumento da concebilidade (também conhecido como argumento do zumbi) é a tentativa mais engenhosa de basear uma tese sobre a realidade fundamental em considerações epistêmicas. A partir da concebilidade de um ser fisicamente idêntico a um ser consciente, mas desprovido de consciência fenomenal (um zumbi), o argumento infere a possibilidade metafísica de um mundo de zumbis e, portanto, a falsidade do fisicalismo sobre a fenomenalidade. Mediante uma reconstrução do argumento da concebilidade, o presente trabalho procura isolar uma de suas assunções mais centrais: que todo e qualquer cenário epistêmico (todo e qualquer modo maximamente específico como as coisas poderiam ser, de acordo com tudo que sabemos a priori) corresponde necessariamente a um mundo metafisicamente possível (um modo maximamente específico como as coisas poderiam ter sido objetivamente). O trabalho argumenta que uma justificação adequada dessa assunção não foi fornecida. Portanto, o argumento da concebilidade é, na melhor das hipóteses, inconclusivo.

Leitura recomendada: Chalmers, "The two-dimensional argument against materialism"

Gravação da palestra de Wilson Mendonça, dia 27/09 ((13) em mp3 ou no youtube)


9. (04/10) Discussão das palestras: mente extendida, externalismo, concebilidade

Gravação da aula do dia 04/10 ((14) em mp3 ou no youtube)


II. A evolução das mentes, tipos de mentes

10. (09, 23 e 25/10) A evolução biológica da mente

Leituras recomendadas: E. O. Wilson, A conquista social da Terra, cap. V; Dennett, Tipos de mentes; Pinker, Como a mente funciona; Tomasello, A natural history of human thinking [todos no dropbox]

Dias 15 a 19/10: semana acadêmica

Exercício 2 [para ser entregue no dia 23/10; no dia 11/10 não haverá aula]: Escreva uma página defendendo (com os argumentos mais fortes que puderes formular) o fisicalismo em filosofia da mente. Em seguida, escreva uma página criticando o argumento da página anterior.

Gravação das aulas dos dias 09/10 ((15) em mp3 ou no youtube), 23/10 ((16) em mp3 ou no youtube) e 25/10 ((17) em mp3 ou no youtube)


III. Como a mente funciona?


11. (30/10) Palestra de Marcelo Fischborn (UFSM): "Livre-arbítrio e ciência: experimentos de Libet, filosofia experimental e outras alternativas" -- no miniauditório do IFCH

Leitura obrigatória: Libet, "Nós temos livre-arbítrio?" [original em inglês disponível aqui]

Resumo: Nos últimos cinquenta anos, a combinação de trabalho empírico e conceitual se intensificou no tratamento de questões sobre o livre-arbítrio. Nesta palestra, distinguirei três maneiras em que essa combinação pode se dar que serão especificadas a partir de minhas sugestões sobre as relações entre a filosofia e a ciência da responsabilidade moral (Fischborn, 2018). Uma primeira abordagem atribui à filosofia a tarefa de dizer quais são as condições necessárias e suficientes para que uma decisão ou ação seja livre, enquanto que se delega à investigação empírica questões sobre se algumas daquelas condições são ou não satisfeitas. A discussão em torno dos resultados de estudos como os de Benjamin Libet (Libet et al., 1983; Libet, 1999) exemplifica essa abordagem. Um segundo tipo de combinação entende que a investigação empírica pode (também ou apenas) ajudar na investigação sobre quais são as condições necessárias ou suficientes para que uma ação ou decisão seja livre. Uma vertente na chamada filosofia experimental exemplifica essa abordagem (Nahmias et al., 2005; Nichols & Knobe, 2007). Finalmente, um terceiro entrelaçamento possível envolve atribuir à investigação empírica questões sobre como aumentar a liberdade. Essa abordagem é sugerida, por exemplo, por Mele and Shepherd (2013).

Referências e outras leituras

Gravação da palestra de Marcelo Fischborn, dia 30/10 ((18) em mp3 ou no youtube)


12. (01, 06 e 08/11) Percepção, intuição, ação, reflexão

Leituras recomendadas: Kahneman, Pensar: rápido e devagar; Damásio, O erro de Descartes; de Waal, Eu primata; Tomasello, Origens culturais da aquisição do conhecimento humano; Lakoff & Johnson, Philosophy in the flesh

Gravação das aulas dos dias 01/11 ((19) em mp3 ou no youtube), 06/11 ((20) em mp3 ou no youtube) e 08/11 ((21) em mp3 ou no youtube)


13. (13/11) Sentimentos e emoções

Leituras recomendadas: Damásio, O erro de Descartes; Prinz, The conscious brain

Gravação da aula do dia 13/11 ((22) em mp3 ou no youtube)

Dias 20 e 22/11: não haverá aula


14. (27/11) Perspectivas corporais, mentais e espirituais

Leituras recomendadas: Edinger, A criação da consciência; James, Variedades da experiência religiosa [no dropbox]

Vídeos recomendados: Hanczyc, "A linha entre vida e não vida"; Haidt, "Religião, evolução e o êxtase da autotranscendência"

Gravação da aula do dia 27/11 ((23) em mp3 ou no youtube)


15. (06/12) Palestra por Laura Nascimento (UNICAMP): "É possível compreender a fenomenalidade de maneira naturalista?" -- no miniauditório do IFCH [esta palestra faz parte de uma jornada: ver programação completa aqui]


06/12: Entrega do trabalho final (no miniauditório do IFCH, às 16:25): apresente e defenda uma tese em filosofia da mente, respondendo a objeções possíveis [máximo de 4 páginas] -- estarei em minha sala de segunda a quinta de tarde para devolver trabalhos já entregues e responder perguntas sobre o trabalho final. Minha sala agora é a 208 do prédio da secretaria do IFCH (2º andar).


Notas finais estão disponíveis no Portal do Aluno. Entrarei em contato por e-mail com os que precisarem fazer recuperação.


Bibliografia em português:

Ariely, Dan. Previsivelmente irracional.

Damásio, António. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Descartes, René. Meditações.

Elisabeth, Correspondência a Descartes.

Fischborn, Marcelo. "Monismo anômalo: uma reconstrução e revisão da literatura", Principia 18.1 (2014): 53-66.

Gulick, Robert van. "Consciência".

Jackson, Frank. "O que Mary não sabia".

Kahneman, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar.

Miguens et al. (coords.). Filosofia da mente - uma antologia. Porto, 2011.

Nagel, Thomas. "Como é ser um morcego?"

Pinker, Steven. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

_____. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Rolla, Giovanni. "Enativismo radical", Princípios 25.46 (2018): 29-57.

Sacks, Oliver. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.


Bibliografia complementar em inglês:

Bennett, M.R.; Hacker, P.M.S. Philosophical foundations of neuroscience. Oxford: Blackwell, 2003.

Chalmers, David. The conscious mind.

Fodor, Jerry. The modularity of mind.

Foster, John. The immaterial self.

Goff, Philip et al. Panpsychism.

Lakoff, G.; Johnson, M. Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago Press, 1980.

Lakoff, G.; Johnson, M. Philosohy in the flesh: embodied mind and its challenge to Western thought. Basic Books: New York, 1999.

Prinz, Jesse. The conscious brain.

Quine, Willard. "Mind and verbal dispositions".

Ryle, Gilbert. The concept of mind.

Tomasello, Michael. A natural history of human thinking.

Waal, F. Chimpanzee politics.