O uso da tecnologia na educação não é uma discussão atual. A palavra tecnologia tem origem no grego[1], tekhné (arte, indústria, habilidade) e logos (argumento, discussão, razão). Atualmente, quando pensamos em tecnologia logo nos vem à mente as tecnologias portáteis e personalizadas, como os smartphones ou computadores.
O interesse por esse tema surge muito antes de eu cursar o mestrado. Faço parte da última geração que teve uma infância sem internet, smartphones e computadores. Aos poucos acompanhei o surgimento desses equipamentos no meu cotidiano, como as aulas de informática na escola, quando aprendi a salvar arquivos no disquete (que em seguida foi substituído pelo pendrive); como acessar a internet e utilizar o Google; qual a posição correta dos dedos no teclado do computador. Quando entrei na universidade em 2012, usava o computador em casa, e precisava imprimir os textos que deveriam ser lidos, pois os tablets ainda eram muito caros e não existiam tantas opções à venda.
Durante toda a minha formação escolar estive rodeada desses avanços tecnológicos. Quando comecei a lecionar em 2016 estavam surgindo alguns recursos educacionais digitais, como o Kahoot! (que será abordado no capítulo 3), o YouTube já disponibilizava diversos vídeos que poderiam ser utilizados em aula, o Instagram estava cada vez mais popular, quase todos os alunos já utilizavam WhatsApp para se comunicar. Aos poucos essas tecnologias digitais passaram a fazer parte do meu cotidiano como professora. A cada novo recurso buscava conhecê-lo para entender como e se poderia utilizá-lo em aula, buscava estar sempre atenta às novas tecnologias que tínhamos à disposição na escola, como a lousa digital. Com o tempo, esses recursos digitais passaram a ser parte das minhas aulas.
Em março de 2020, com o aumento dos casos do novo Coronavírus (Covid-19), as aulas presenciais foram suspensas e precisou-se adotar, de maneira emergencial, o ensino remoto. Todos fomos pegos de surpresa e muitos professores não estavam familiarizados com o uso do computador para o ensino. A partir desse cenário comecei a pesquisar artigos e livros que pudessem explicar melhor sobre o uso desses recursos digitais em aula, pois muitas das coisas que eu fazia anteriormente não haviam sido ensinadas na licenciatura, por exemplo. Muitos dos textos e artigos sobre o uso das tecnologias no ensino de italiano que eu encontrava eram antigos e desatualizados. Muitos mencionavam apenas o uso de e-mail, powerpoint entre outros, mas nenhum mencionava quais seriam as características de uma aula com esses recursos, o que era possível ser feito, como poderia ser feito etc.
Em um primeiro momento, pareceu-me que a única forma de utilizarmos recursos digitais em aula era com o uso de jogos [digitais], com o avanço das minhas pesquisas tive contato com diversos autores que pesquisam o uso desses recursos para a autonomia do aluno, para facilitar o contato dos alunos com a língua alvo, para aumentar a motivação dos alunos, entre outros.
Esta pesquisa tem como objetivo geral entender como o processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras, em especial a língua italiana, pode ser feito através do uso de recursos educacionais digitais (REDs), promovendo a autonomia do professor e aluno. São objetivos específicos (a) quais metodologias o professor deve conhecer, (b) quais características são importantes observar para selecionar esses recursos, (c) como utilizá-los em sala de aula, (d) elaborar um site para a divulgação e disponibilização de tutoriais de como utilizar esses recursos, (e) propor atividades que possam ser utilizadas pelos professores, em especial para o ensino de adolescentes (12 a 17 anos).
Por mais que a temática desta pesquisa seja atual, os recursos digitais mudam constantemente. Por isso, buscamos selecionar e analisar jogos, aplicativos, redes sociais que, se daqui a alguns anos deixarem de existir, poderão ser substituídos por outros semelhantes, para que a pesquisa não se perca. Não temos a intenção de considerar o uso dessas tecnologias como os redentores do ensino de uma língua estrangeira, mas sim apontar a importância e as possibilidades de uso que esses recursos presentam, priorizando, principalmente, a autonomia do professor e dos alunos.
A dissertação está dividida em Introdução e três capítulos, além das considerações finais, referências e sugestões de leitura. No primeiro capítulo apresentamos a fundamentação teórica utilizada na pesquisa. Em seguida apresentamos os recursos educacionais digitais, a metodologia e a análise dos dados.
A fundamentação teórica da nossa pesquisa buscou entender melhor com quais métodos e abordagens o uso das tecnologias digitais poderiam ser relacionados, como a ludicidade, Pós-Método e metodologias ativas.
O primeiro capítulo apresenta uma síntese de como a didática lúdica e a tecnologia são introduzidas nos métodos e abordagens de ensino de língua estrangeira. Apresentamos as abordagens humanista-afetivas de Carl Rogers, apresentamos as cinco hipóteses de Krashen e em especial a hipótese do filtro afetivo. Apresentamos também o Pós-Método de Kumaravadivelu e quais recursos podem se relacionar a ele. Contrapondo-se aos métodos tradicionais, apresentamos as metodologias ativas, em especial a gamificação. Por fim, refletimos também sobre a motivação e como esses recursos podem aumentar a motivação dos alunos.
O segundo capítulo apresenta o que são os Recursos Educacionais Digitais (REDs), o que são as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs); aborda também a inteligência artificial e o ChatGPT; apresenta também os modelos tecno-educacionais TPACK e SAMR; a Taxonomia de Bloom (revisada por Andrew Churches) na era digital e a Padagogy Wheel, modelos de classificação que podem ser utilizados para a seleção e classificação dos recursos.
No terceiro capítulo, apresentamos a metodologia e os procedimentos metodológicos. Selecionamos alguns recursos digitais, que podem ser utilizados de maneira gratuita e por fim analisamos cada um. Além da análise feita na redação desta dissertação, disponibilizamos um site com apresentação, tutorial e proposta de atividade de cada recurso aqui analisado.
Nas considerações finais, retomamos os recursos pesquisados, as principais conclusões e também possíveis desdobramentos.
[1] Sobre a palavra tecnologia cf. o Glossário TDICs: https://www.tdics.epsjv.fiocruz.br/glossario/tecnologia Acesso em 07 de abril de 2024.