AUMENTAR SALÁRIOS NÃO RESOLVE OS PROBLEMAS DA CRISE DE SUPERPRODUÇÃO
AUMENTAR SALÁRIOS NÃO RESOLVE OS PROBLEMAS DA CRISE DE SUPERPRODUÇÃO
Seria simplesmente uma tautologia dizer que as crises ocorrem devido à falta de consumo de solventes ou de consumidores solventes. O sistema capitalista não conhece outros tipos de consumo além do consumo remunerado, com exceção do consumo sub forma pauperis ou do consumo do “vigarista”. O facto de os bens não poderem ser vendidos significa apenas uma coisa: não há compradores solventes para estes bens; consumidores (porque, em última análise, os bens são comprados para consumo produtivo ou individual). Contudo, quando se tenta dar a esta tautologia a aparência de uma justificação mais profunda, afirmando que a classe trabalhadora recebe muito pouco do seu próprio produto e que, consequentemente, o problema pode ser resolvido se ela receber uma parcela maior do seu próprio produto, produto, ou seja, se os seus salários aumentam, basta responder que as crises são sempre preparadas justamente por um período em que há um aumento geral dos salários e a classe trabalhadora recebe efectivamente uma parte maior daquela parte do produto anual que se destina a consumo. Tal período – do ponto de vista destes cavaleiros do bom senso e do “simples” (!) sentido humano – deveria, pelo contrário, adiar a crise. Assim, é claro que a produção capitalista contém condições que não dependem da boa ou da má vontade e que permitem o bem-estar relativo da classe trabalhadora apenas por um curto período de tempo, e mesmo assim apenas como um petrel da próxima crise.
O DINHEIRO ADIANTADO PARA A CIRCULAÇÃO DE CAPITAL SEMPRE RETORNA AOS INVESTIDORES.
“No curso normal dos negócios, o dinheiro adiantado para a circulação do produto excedente retorna pro tanto (apenas na medida) aos vários capitalistas do grupo B na mesma proporção em que cada um deles avançou esse dinheiro para a circulação de seus respectivas mercadorias. Se o dinheiro circula como meio de pagamento, então apenas a diferença do saldo nos pagamentos deve ser paga, uma vez que as compras e vendas mútuas não se anulam. Mas é importante em todos os lugares, como fazemos aqui, assumir primeiro a circulação metálica na sua forma mais simples e mais primitiva, porque graças a ela, o fluxo e o refluxo do dinheiro, a liquidação das diferenças de equilíbrio, em suma, todos os momentos que, sob o sistema de crédito, aparecem como processos conscientemente regulados, aqui aparecem como existindo independentemente do sistema de crédito, e toda a questão aparece em sua forma original, e não em uma forma refletida posterior.
[O que estamos falando aqui é que o dinheiro sempre retorna para onde foi lançado na circulação (produção) de mercadorias. Assim, se o credor de última instância colocar dinheiro em circulação, então, sob todas as outras condições, não importa quantas mãos estejam, no curso normal dos negócios, o dinheiro retornará para ele... e também para garantir a circulação de uma nova massa de bens produzidos, com dinheiro metálico (ouro), era necessário extrair ouro adicional e utilizá-lo como dinheiro para uma troca estável de bens e a continuação da produção, mas em escala ampliada. Nas relações desenvolvidas, o dinheiro metálico, e depois o papel-moeda, e mais tarde, são substituídos por um simples crédito do credor de última instância. Um crédito que corresponde exatamente à nova massa de bens produzidos, para a qual é necessário dinheiro novo para circulação.]
“O fato de o capital monetário adiantado como capital variável retornar diretamente apenas aos capitalistas da subseção IIa, que produzem os meios de subsistência necessários – este fato é apenas uma manifestação da lei geral acima mencionada, modificada por condições especiais, de acordo com quais os produtores de mercadorias que adiantam dinheiro para circulação, esse dinheiro é devolvido no curso normal da circulação de mercadorias. A propósito, segue-se daí que se um capitalista monetário está por trás do produtor de mercadorias em geral, que, por sua vez, avança capital monetário (no sentido mais preciso deste conceito, isto é, valor de capital na forma monetária) para o setor industrial capitalista, então o verdadeiro ponto de retorno desse dinheiro é o bolso desse capitalista monetário. Assim, embora o dinheiro em circulação passe em maior ou menor grau por todas as mãos, a massa de dinheiro em circulação pertence aos capitalistas monetários, isto é, aos capitalistas monetários. a divisão do capital monetário, organizado e concentrado na forma de bancos, etc.; a forma como esta divisão avança o seu capital provoca, em última análise, um retorno constante deste capital em forma de dinheiro, embora o elo intermédio nisto seja novamente a transformação inversa do capital industrial em capital monetário. 2)
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1. Marx K., Engels F. Obras. Segunda edição. T.24 K.Marx. Capital. T.2. - M.: GIPL, 1961. - P. 570.
2. Marx K., Engels F. Obras. Segunda edição. T. 24. / K. Marx. Capital. - M.: GIPL, 1961. - P. 466.
CAUSAS DA CRISE DE SUPERPRODUÇÃO
As causas da crise de superprodução estão, por um lado, na estrutura da composição orgânica do capital, por outro, na disposição desigual dos meios de produção que produzem bens para consumo individual, e nas condições modernas, bens para consumo final pessoal e público.
A estrutura moderna da composição orgânica do capital, a partir de 1825, tende a expulsar o trabalho físico do homem da produção material, ao mesmo tempo que aumenta a produtividade do trabalho humano numa ordem de grandeza a cada novo ciclo de desenvolvimento. Isto aumenta simultaneamente o custo dos bens duráveis e reduz o custo dos bens de uso diário. Neste desenvolvimento contraditório do volume de negócios capitalista, uma pessoa, mesmo recebendo mais rendimentos do que antes, relativamente ao ciclo tecnológico anterior, não pode adquirir bens duradouros com o seu salário sem recorrer a um empréstimo. Toda vez, bens duráveis acabam sendo “caros”. A mesma estrutura da composição orgânica do capital exige um aumento do capital inicial para iniciar um negócio (faturamento), o que impossibilita a concorrência do pequeno capital com o grande capital, aumentando a já gigantesca concentração da produção e a monopolização de todo o processo. [...]
A retirada desigual de circulação de parte do capital monetário, devido à necessidade de depreciar os meios de produção na Divisão II, reforça as condições para a inevitabilidade da próxima crise de superprodução.
“Se a forma capitalista de reprodução for eliminada, então a questão será reduzida ao facto de que a dimensão da parte do capital fixo que está a desaparecer e, portanto, sujeita a substituição em espécie (aqui o capital que funciona na produção de bens de consumo) ) mudanças em anos diferentes e sucessivos. Se num ano esta parte for muito grande (ultrapassa a taxa média de extinção, tal como acontece com a mortalidade humana), então no ano seguinte será sem dúvida muito menor. Supondo que as demais condições não tenham mudado, então a quantidade de matérias-primas, produtos semiacabados e materiais auxiliares necessários à produção de bens de consumo durante o ano não diminui em decorrência dessas mudanças na reposição de capital fixo; consequentemente, num caso, toda a produção dos meios de produção teria de ser expandida; no outro, teria de ser reduzida. Estas flutuações só podem ser evitadas através de uma superprodução relativa constante; ao mesmo tempo, por um lado, produz-se capital fixo por uma certa quantia a mais do que o imediatamente necessário, por outro lado, cria-se uma reserva de matéria-prima, etc. que excedam as necessidades imediatas de um determinado ano (isto aplica-se em particular aos meios de subsistência). Este tipo de superprodução equivale ao controle da sociedade sobre os meios materiais de sua própria reprodução. Mas numa sociedade capitalista, a superprodução é um dos elementos da anarquia geral. Este exemplo de capital fixo – com a mesma escala de reprodução – é muito convincente. A discrepância entre a produção de capital fixo e circulante é uma das razões favoritas que os economistas utilizam para explicar a ocorrência de crises. E que tal discrepância possa e deva surgir com uma simples conservação do valor do capital fixo, que possa e deva surgir sob o pressuposto de uma produção normal ideal, com a simples reprodução do capital social já funcional, isto é algo novo para eles . 1)
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1. Marx K., Engels F. Obras. Segunda edição. T. 24. / K. Marx. Capital. - M.: GIPL, 1961 - S.532-533.