No Mais
No mais, não minuncio ou argumento,
Não tenho dúvida, tenho certeza
Afirmo.
Afirmando-me, desconheço.
No mais, de fato,
Olhos e boca tenho.
Ouvires e olfatos.
Coisa alguma mereço.
Tenho-me, e é por isso:
Nada tenho.
Retenho-me, nada consigo.
Nada posso ser; singularmente, pereço.
Meus olhos não enxergam,
Lábios não vociferam,
Não mais respiro.
E não sou meu espírito....
Sou o que aparento ser, e dói
E aparência não é isto. Isto cravado, feio e cansativo.
Meu âmago me amarra, e não consigo; em mim mesmo, apreendido, remanescido, fico.
Mas, sonho tudo isso, e a liberdade que me obrigo à,
Esta será meu devaneio perdido que irei alçar.
E, se tudo, em imperfeições, realizo,
Águas de Heráclito,
Sequer meus pensamentos, sequer neles eu trisco;
Somem antes disso, pois;
Não há um depois, e eu sou Narciso,
E tento achar algo bom nisso...
Ouso reafirmar, sem mais: sem nada,
Ao nada, e eu não sou nada,
Mas vivo.
Reitero: quem precisa de motivos, quando tudo se faz tão bonito?
(Thiago Milhossi)