Conceição Costa

Dizem que quando a gente quer a gente faz.

E hoje, refletindo sobre a biografia que me pediram para fazer naquele coletivo de escritores, me vieram à memória as lembranças de criança e as vontades que eu tenho desde outrora, de escrever um livro, de escrever poemas, de espalhar a alegria. Os livros eu já consegui, a alegria é minha missão de cada dia. Às vezes, nem eu estou feliz, mas tenho vontade de dar um abraço aconchegante em alguém que precisa mais do que eu. Muitas vezes eu gasto o tempo da minha família com aqueles que não tem o pão, que não tem o alimento adequado, que não tem um carinho que o coração deseja, é por isso que muitas vezes eu deixo dormindo a minha filha e o meu marido, o meu amado, sempre tão compreensivo, sempre a minha rota de fuga nos meus momentos de angústia. E quando eu parei para pensar na minha biografia, olhei para dentro de mim e me perguntei: e agora? De quem eles querem que eu fale? Da menina que trepava no cajueiro para encostar no caule e sentir aquele cheiro de caju e ouvir o barulhinho dos passarinhos chupando o néctar daquele fruto, aquela menina que quebrava os galhos tão frágeis de seriguela porque queria sempre a mais difícil, a mais amarela, a mais vermelha, a mais vistosa. Será meu Deus que eles querem saber daquela menina que trepava no pé de caju e no pé de goiaba, ficava no “olho daquele pau” imaginando ser uma pessoa muito importante que morava numa cobertura, porque ela via aquilo nas novelas e alimentava com aquilo os seus sonhos e a sua imaginação. Eu nunca morei na cobertura, mas os meus apartamentos eu já consegui, o meu primeiro foi a maior conquista que eu imaginei ter conseguido na vida de adulta, mas depois eu descobri que a maior conquista mesmo é aquela que o dinheiro não compra. 

E eu ainda estou aqui sem mandar a biografia… Porque eu não sei! Não que eu não saiba quem sou eu, eu não sei é de quem falar, eu não sei de quem eles querem saber. Será que é essa parte desconhecida que só eu alimento na alma, nas lembranças e no coração? Ou será que eles querem saber dessa mulher forte que eles olham nas redes sociais, que admiram, da advogada apaixonada pelo seu ofício ou da escritora que se descobriu fazendo versos desde a tenra idade? Não sei de quem eles querem que eu fale, talvez da mãe realizada, ou seria daquela esposa que foi abandonada por uma aventura carnal, por uma aventura de carnaval, de festa, de fantasia, não sei… Mas, eu vou esperar saber para começar a escrever. 


Bom, sou Conceição Costa, piauiense de origem e brasiliense de coração. Advogada pós-graduada em Direito de Família e Sucessões, mestranda em Educação, escotista, mãe, poeta, escritora e segunda secretária da Academia de Letras de Águas Claras — DF, onde participo como cofundadora e membro efetivo; membro da Academia Independente de Letras — AIL de São João — PE e membro do Coletivo Escribas. Tenho o perfil literário chamado @conversos_e_poesias e o profissional @conceicaocostaadv.  

Em 2016 publicou de forma independente o livro ConVersando em Poesia e participa de várias Antologias, entre elas “100 Anos de Clarice”, “Let it be”, “Mulheres Imortais”, “A Arte de Pintar Palavras”, “Memorial Cecília Meireles”, “Toque Feminino”, “Cora Coralina — Textos de Afeição” e “Brincadeiras de Criança” da Selo Editorial.

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