Os bosques proporcionam-nos um grande número de serviços ecossistêmicos. É por isso que, depois de um incêndio florestal se produz uma perda de bosque e com isso a perda dos serviços ecossistêmicos sócios. Por tanto, no caso de produzir-se um incêndio florestal estes serviços perdem-se ou diminuem, e daí, a necessidade de contabilizar este tipo de perdas ocasionadas. É importante ter em conta que parte destes serviços ecossistêmicos não têm um valor ou preço de mercado associado, isso não significa que não impliquem uma perda económica. Daí a necessidade de valorizar economicamente todos bens e serviços que obtemos dos recursos naturais.
Em general, detecta-se uma escassez de estudos que abordem a totalidade dos danos económicos ocasionados pelos incêndios florestais. Neste sentido, cabe destacar o estudo levado a cabo por Bairro, Loureiro e Chas (2007) no que se valorizam os incêndios florestais ocasionados em Galiza no ano 2006 e onde se incluem tanto os danos ocasionados pela perda de madeira, como de armazenamento de CO2, ou danos à biodiversidade, além dos danos ambientais puros (ou valores de uso pasivo). Dada a escassa literatura existente em relação a valoração da perda económica total que causa um incêndio florestal se pode realizar uma análise de transferência de benefícios. Para isso, em primeiro lugar, é necessário realizar um meta-análise.
Um meta-análise é uma ferramenta que nos permite através da recopilación de dados obtidos num grande número de estudos, extrair conclusões gerais a respeito dos mesmos (Glass et a o. 1981), isto é, transferir os benefícios. Esta análise consta de vários passos; o primeiro passo é ter claro qual é a hipótese de interesse ou aspecto que se quer analisar. Posteriormente é necessário fazer uma revisão bibliográfica a respeito do mesmo identificando os estudos originais que se vão ser objecto de estudo. O terceiro passo consiste na codificação dos dados ou das medidas de valoração económica de interesse. No quarto passo, através da estimativa de modelos estatísticos obtêm-se as conclusões gerais sobre o tema de estudo de interesse. Finalmente, num quinto passo encontrar-se-ia a transferência de benefícios, no qual poder-se-ão predizer os valores económicos para os serviços seleccionados.
O objectivo de realizar este meta-análise é poder conhecer o valor económico por hectare dos serviços dos ecossistemas.
Construir uma base de dados através da recolha das informações fornecidas pelos estudos de avaliação que foram realizados sobre a questão de interesse. Base de dados final de 31 estudos.
Para os incluir, foi avaliado que:
fizeram uma avaliação por hectare de serviços ecossistémicos ou que esta podia ser calculada
trataram os serviços ecossistémicos das florestas
utilizaram técnicas económicas para a avaliação dos serviços ecossistémicos
que não eram excessivamente velhos (desde os anos 90)
que a sua localização era tão próxima quanto possível de Portugal ou que eram tipos de floresta semelhantes à sua.
Revisamos artigos que abordaram o tema da valoração económica dos serviços dos ecossistemas publicados em:
WOS;
nas revistas Nature e Science;
no American Economic Review;
na London School Of Economics;
Google Académico;
outros bancos de dados utilizados pelos pesquisadores deste estudo para projectos similares a este pelo mesmo grupo de investigação;
e a bibliografia de Quintas-Soriano et a o. (2016).
Estes trabalhos contêm avaliações de serviços ecossistémicos em diferentes partes do mundo:
Classificação dos serviços ecossistêmicos
De acordo com a classificação de CICES, as principais categorias de serviços ecossistêmicos são:
Provisão: esta é uma secção que contém produtos de sistemas vivos (nutricionais, não nutricionais, materiais e energéticos).
Regulação e manutenção: nesta secção tratam-se "todas as formas em que os organismos vivos podem mediar ou moderar o meio ambiental que afecta a saúde humana, a segurança ou a comodidade junto com os equivalentes abióticos".
Culturais: a secção contém "todos os produtos não materiais, e normalmente não rivais e não consuntivos dos ecossistemas (bióticos e abióticos) que afectam os estados físicos e mentais das pessoas". Representam meios ambientais, lugares, localizações que influem nos estados mentais dos indivíduos.
Haynes-Young e Potschin (2018) explicam na última guia sobre a aplicação de CICES que o marco conceptual da classificação pode especificar num modelo em cascata, tomando como exemplo o proposto por Potschin e Haynes-Young (2016); que se pode ver na Figura 2. O objectivo é classificar os serviços ecossistêmicos, isto significa levar a cabo uma classificação das contribuições que os ecossistemas proporcionam a nosso bem-estar. Também se especifica que estes serviços são os resultados proporcionados para os ecossistemas, portanto, são serviços finais.
2. Classificação do resto de variáveis
A variável dependente, ou seja, a variável a ser explicada é o valor dos serviços ecossistémicos (lnvalor).
As variáveis independentes que explicam esta avaliação representam as características do estudo, as características socioeconómicas do local onde a avaliação foi realizada e, finalmente, os serviços identificados. É possível ver as diferentes variáveis e as suas características no quadro à direita:
Tendo em conta que, nesta base de dados, várias observações provêm do mesmo estudo, estima-se um modelo de quadrados mínimos ordinários (OLS) com um agrupamento que identifica que o mesmo estudo fornece observações diferentes e um modelo de efeitos aleatórios (EA), especificando uma estrutura de dados de painel.