Se por um lado as mulheres negras e indígenas são mais impactadas pelas mudanças climáticas nos territórios tradicionais, como demonstram diversas pesquisas, por outro lado são elas as guardiãs de lutas, saberes e práticas essenciais à reprodução social e cultural de seus povos e ao enfrentamento das mudanças climáticas. Elas cultivam e processam plantas medicinais; cuidam da soberania e segurança alimentar de suas famílias e comunidades; conservam a sociobiodiversidade; protagonizam ações que mantêm o tecido social em seus territórios; trabalham pela educação e saúde adequada à realidade de seus povos; entre outras ações.
Foto: CLAUDIO KBENE / @CLAUDIOKBENE
Apesar da potência, as contribuições das mulheres são em geral desvalorizadas e invisibilizadas, e sua inserção nos processos decisórios relacionados à gestão territorial e ambiental pode ser limitada. Isso resulta em mais vulnerabilidade, e superar este ciclo vicioso é fundamental para uma transição climática justa. Reconhecer e fomentar o protagonismo das mulheres na gestão territorial e ambiental é essencial, assim como nas Economias da Sociobiodiversidade, a partir dos trabalhos de cuidado e de geração de renda, que também contribuem para sua autonomia financeira.
A experiência nos territórios indica que tratar a equidade de gênero e étnico-racial como tema transversal só é efetivo quando se garante orçamento exclusivo e pessoas responsáveis por impulsionar estas pautas.
As estratégias adotadas devem ser adaptadas a cada contexto e protagonizadas pelas próprias mulheres, respeitando as especificidades sociais e culturais e suas necessidades e direcionamentos.
Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA)
Fomentar o protagonismo das mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de outras populações tradicionais, e de suas próprias organizações, além de espaços específicos e exclusivos para elas se conectarem, dialogarem sobre suas pautas e trocarem experiências sobre a gestão territorial a partir da perspectiva de mulheres, tem contribuído para que se fortaleçam e assumam posições de liderança nas comunidades e instâncias do governo. Este trabalho é ainda mais potente quando feito em rede, com mulheres de diferentes povos e territórios. Concentrar os esforços nos grupos em que as mulheres demonstram maior disponibilidade e engajamento permite gerar exemplos inspiradores, que podem influenciar outras mulheres em diferentes comunidades.
Quando essas mulheres se fortalecem, suas famílias e comunidades também se beneficiam. Ao atuarem em rede, ampliam os impactos regionais, gerando um ciclo virtuoso cujos efeitos reverberam em todo o planeta.