3.1. Ana Dias

Ana Dias | Coordenadora do Centro e-learning da TecMinho/Gabinete de Formação Contínua da Universidade do Minho em Portugal e co-autora das publicações "e-learning para e-formadores", "e-conteúdos para e-formadores", "instroduction to mobile learning" entre outras publicações.

    • É licenciada em Engenharia de Sistemas e Informática e fez uma especialização em Educação - Tecnologia Educativa (pós-graduação na UM).

    • No centro elearning gere e coordena uma equipa de técnicos e e-formadores que implementam cursos e-learning in-campus (na UMinho) e off-campus (Instituições Nacionais e Internacionais).

@anasilvadias

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e-learning gurus Portugal (grupo no facebook)

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Questões sobre a prática pedagógica totalmente realizada online

1 – Com vasta experiência no eLearning, gostaríamos de saber como é que a Professora Ana Dias lê a evolução do ensino a distância tendo em conta o seu passado, o presente e como perspectiva o futuro?

Uma vez que a minha especialidade é mais orientada ao e-learning vou falar do EaD focando essencialmente no e-learning enquanto forma de EaD do século XXI.

O e-learning é uma abordagem à educação/formação que potencia a utilização das tecnologias de informação e comunicação enquanto forma de minimizar a distância física, temporal e emocional entre pessoas, aumentando as possibilidades de aprendizagem, comunicação e interacção entre Professores/formadores e Alunos/formandos a qualquer hora e em qualquer lugar.

Do nosso ponto de vista, o e-learning deve ser analisado como uma forma de aprendizagem no domínio da educação a distância (beneficiando, assim, de uma herança de conhecimento com mais de 150 anos). Assim o termo e-learning refere um tipo de aprendizagem que nos seus princípios gerais obedece aos parâmetros da educação a distância, tal com esta é definida por Desmond Keegan (1986), entre outros autores:

“Educação a Distância é uma forma de educação caracterizada por:

· A quase permanente separação entre professor e aluno, ao longo do processo de aprendizagem (o que distingue a educação a distância da educação presencial);

· A influência de uma organização educativa, tanto no planeamento, como na preparação de materiais de aprendizagem, e na disponibilização de serviços de suporte ao aluno (o que distingue a educação a distância do estudo privado e dos programas faça você mesmo);

· A utilização de média técnicos - materiais impressos, áudio, vídeo ou computador - destinados a harmonizar conceitos entre professor e aluno e a disponibilizar o conteúdo educativo;

· A provisão de comunicação em dois sentidos, de forma a que o aluno possa beneficiar de, ou possa iniciar um diálogo (o que distingue a educação a distância de outras utilizações de tecnologias em educação).”

Tomando como referência as características da educação a distância definidas por Keegan, diríamos que o e-learning vem acrescentar as componentes da comunicação, da colaboração e da interacção via Internet entre todos os intervenientes, não só como uma possibilidade viável do ponto de vista económico e tecnológico mas também como uma potencial estratégia pedagógica particularmente adequada ao domínio da formação de adultos e da formação ao longo da vida. Esta componente pode traduzir-se pelas seguintes características atribuíveis ao e-learning:

· A provisão de oportunidades de comunicação entre os vários intervenientes em cenários e-learning é mediada pela utilização de tecnologias de informação e comunicação multi-direccionais, passíveis de permitir todas as “combinações” possíveis de interacção entre todos os intervenientes (desde a comunicação de “um para um” até a comunicação de “muitos para muitos”);

· As interacções entre os intervenientes podem dar origem à criação de grupos/comunidades no espaço virtual e à ocorrência de trabalho colaborativo;

· As características ou dimensões do e-learning que acabamos de evocar só serão todavia maximizadas se houver a consciência das implicações associadas a este processo no que concerne aos materiais de formação adoptados e ao tipo de função a desempenhar pelo e-formador.

Associado ao e-learning (aqui tido como 100% online) surgiram uma série de designações das quais destacamos o blended learning (b-learning) que pode ser definido como uma modalidade de formação a distância que implica a existência de algumas sessões presenciais, o que torna esta modalidade num modo “misto” de formação. O b-learning poderá definir-se como a combinação obtida pela articulação mais adequada entre aprendizagem presencial e a distância, entre conteúdos online, livros, CD-ROMs e outros materiais, bem como formadores capacitados simultaneamente para dinamizar grupos presenciais e online.

O e-learning, enquanto forma de educação/formação baseada num conjunto de instrumentos online, é, assim, uma modalidade de aprendizagem que permite aproximar comunidades, partilhar documentos, conteúdos, lógicas e construções, e especialmente permite aproximar pessoas com diversas experiências, provenientes de diferentes contextos, em volta de um interesse, fenómeno ou acção de aprendizagem comum, normalmente mediada por uma instituição educativa e por professores orientadores dos percursos de aprendizagem.

Na minha perspectiva o e-leaning tem evoluído muito positivamente, uma vez que, a quantidade de utilizadores das plataformas e-learning (mais formais) e mesmo das plataformas web2.0 (mais informais) tem aumentado significativamente nesta primeira década do século XXI.

Os Professores e formadores têm cada vez mais sensibilidade e competências para a utilização destas tecnologias de forma pedagógica, não só em sala de aula mas em modalidades a distância. Prova disso são as diferentes utilizações de tecnologias como o facebook e o twitter para fins educativos, que permitem a professores e alunos aprenderem de formas mais ou menos informais, e de forma rápida, partilhando ideias e conhecimento. Por outro lado, a produção de conteúdos educativos é cada vez menos complicada, uma vez que as tecnologias são cada vez mais “amigas do utilizador”. Com um simples telemóvel é possível produzir e aceder a conteúdos, jogar, aceder à internet E na minha opinião tudo isso é aprendizagem a distância.

A tendência de futuro será, na minha opinião orientada à integração cada vez maior de aprendizagens, entre experiências ao vivo e experiências virtuais (online), presenciais e a distância, em qualquer lugar, até porque as nossas aprendizagens são cada vez mais móveis e deslocalizadas.

2 - De que forma o contexto de mudança cultural introduzido pela transformação tecnológica influencia/desafia o comportamento nas práticas pedagógicas do professor de EaD? Neste âmbito quais as abordagens que defende?

Para além de novos desafios no que concerne às funções didácticas do formador, um novo cenário de formação como é o e-learning, vem (re)lançar todo um conjunto de problemáticas, nomeadamente no que diz respeito às competências tecnológicas (pedagógicas e emocionais) e à autonomia exigíveis aos e-formadores e aos e-formandos.

Neste aspecto importa esclarecer que o e-learning não é para todos, isto é, não é ainda para todos os formadores, nem para todos os formandos, nem se adequa a todas as áreas e contextos de aprendizagem.

“A modalidade e-learning baseia-se no pressuposto que os formandos, enquanto sujeitos da aprendizagem, são induzidos a ser agentes activos da aprendizagem (e não passivos), que aprendam fazendo e não simplesmente observando. A interactividade implica que o processo de aprendizagem seja, em alguma medida, modificado pelas acções dos formandos, transformando os papéis de formando e formador. Assim, e em contextos de aprendizagem online, a interactividade mostrou incrementar a velocidade de assimilação e a amplitude e grau de retenção da informação e conhecimento. Criam-se oportunidades para os formandos expressarem o seu próprio ponto de vista, explicar os assuntos nas suas próprias palavras e formular argumentos diferentes ou opostos, o que, sempre foi relacionado com grandes níveis de aprendizagem e com o desenvolvimento do sentido crítico.” (Mason, 1998).

As exigências de autonomia e de gestão do tempo nas aprendizagens e-learning são um factor novo ao qual os formandos têm de se adaptar. E este é muitas vezes um factor crítico nesta modalidade de aprendizagem. Os formadores interagem com os formandos utilizando diferentes estratégias, podendo orientar os formandos na utilização e estudo dos materiais do curso em modo de auto-formação, ou desenvolvendo projectos orientados à aprendizagem (project based learning), ou criando diferentes actividades de aprendizagem ao nível individual e de grupo, etc.

Adicionalmente, a utilização de diferentes ferramentas de comunicação e plataformas e-learning (chat, fórum, correio electrónico, etc) permite a todos melhorar e actualizar o conhecimento numa abordagem construtivista, mas tal exige dos formandos uma postura activa e de construção (re-construção de conhecimentos prévios).

"A maior parte da teoria de aprendizagem sugere que, para que o processo de aprendizagem seja efectivo necessita de ser activo, por outras palavras, o aluno tem de interagir, de alguma forma, com o material de formação. Não é suficiente simplesmente observar ou ler; os formandos têm de fazer algo com o material de aprendizagem. Os formandos poderão necessitar de demonstrar (nem que seja para eles próprios) que compreenderam, ou podem necessitar de re-processar novo material para o incorporar com conhecimento já existente, ou para aplicar a novas situações o conhecimento que tenham adquirido com sucesso." (Bates, 1991).

Hoje em dia com o advento das tecnologias web2.0 estas perspectivas são cada vez mais fáceis de implementar uma vez que alunos e professores, formadores e formandos podem partilhar de forma aberta opiniões e aprendizagem, podem produzir conteúdos colaborativos e angariar a participação de um número exponencial de peritos que estão abertos a participações informais em processos de aprendizagem colectivos e distribuídos.

3 – A passagem do ensino face-a-face para o ambiente virtual de aprendizagem, pressupõe uma formação do docente. Como considera a professora Ana Dias esta questão da formação, de forma a tornar as suas práticas pedagógicas mais efectivas?

Parece-me que a questão da formação docente é uma questão de práticas, há um conjunto de conceitos e questões básicas de aprendizagem a distância que podem ser ensinados através de workshops ou sessões de formação (a distância preferencialmente), frequentando cursos de formação de e-formadores, de produção de conteúdos e de tecnologias educativas. Na minha opinião no entanto, aquilo que é essencial são as práticas pedagógicas a distância que o professor tenha ou adquira. O professor tem de praticar, tem de experimentar ser aluno online e ser professor online, deve fazer experiências online, partilhar com outros docentes as suas práticas pedagógicas e-learning. E embora seja útil a existência de uma oferta sistemática de cursos de formação de e-formadores, só quem está motivado e pratica estará em condições de mobilizar as aprendizagens de uso de tecnologia da sua vida pessoal e profissional para ambientes virtuais. O uso do ambiente virtual é algo muito prático e será só através da prática que os docentes entenderão as dinâmicas das teorias do ensino a distância.

Além disso as tecnologias de aprendizagem estão a evoluir, de ambientes mais formais, institucionais e do Professor – LMS (Learning Management Systems), para ambientes mais pessoais, Web 2.0 e centrados nas pessoas, sendo o PLE (Personal Learning Environments) a expressão dessa centralidade nas escolhas pessoais na aprendizagem.

Os PLEs são tidos como pessoais, ou seja, identificam opções pessoais de aprendizagem, tanto em termos de tecnologias educativas a usar, como em termos de processo e de opções pedagógicas, representando um ambiente mais livre e flexível. Os LMSs representam essencialmente o ambiente institucional, da sala de aula e-learning, do formal, do Professor, da turma, da avaliação das aprendizagens e da respectiva certificação pela instituição.

Parece-nos que estes ambientes pessoais e web2.0 podem melhor servir os professores nas suas aprendizagens virtuais e informais, num ambiente por eles seleccionado, que se adequa ao seu estilo e às suas opções de aprendizagem específicas e podem ser o ponto de partida para experiências de aprendizagem face a face e virtuais cada vez mais significativas.

4 – Que estratégias utiliza a professora para potenciar as aprendizagens numa classe virtual para adultos?

Costumo utilizar diferentes estratégias de acordo com o grupo de formandos, e as estratégias podem mudar de acordo com o fluxo de aprendizagem do grupo, mas no essencial tento utilizar materiais sóbrios e referenciais em conjunto com materiais muito apelativos e motivadores (vídeos, jogos, ilustrações, etc), especifico tarefas semanais (para mobilizar aprendizagens) e prazos fixos, bem como tarefas colectivas via fórum e wikis.

O design pedagógico dos meus módulos é centrado na aprendizagem baseada em projectos ou problemas (“project/problem based learning”) e numa sequência de tarefas simples, que juntas levam a uma aprendizagem mais complexa. No final os formandos têm de desenvolver um projecto geral que reflecte a sequência de tarefas e de aprendizagens mais simples, ajudando-os a consolidar as aprendizagens fundamentais. (KISS – keep it short and simple - ou Keep it simple and sexy)

Adicionalmente, a utilização de diferentes ferramentas de comunicação existentes na plataforma e-learning (chat, fórum, wiki, correio electrónico, etc) e no facebook e twitter permitem a todos melhorar e actualizar o conhecimento numa abordagem construtivista, exigindo aos formandos uma postura muito activa e pensante.

5 – Que conselhos daria a quem enfrenta o desafio de concretizar as práticas pedagógicas num ambiente totalmente online (aspectos tecnológicos, motivacionais, instrucionais, entre outros)?

Inscrevam-se num curso de formação de e-formadores formal e sejam “e-formandos”, analisem as práticas pedagógicas de cada formador, vejam o que lhes parece mal, pensem no que poderiam fazer melhor, tentem fazer melhor…leiam uns livros e uns artigos online sobre a temática, ponham em prática um curso ou uma experiência informal de aprendizagem a distância, experimentem no skype, no facebook, no telemóvel, sejam criativos, inventem, usem a imaginação, leiam e partilhem com outros as vossas experiências. Vão ao grupo do Facebook “e-learning gurus –Portugal” (que criei há uns anos) e peçam opiniões aos cerca de 1000 amigos que lá andam….e bom trabalho!

Ana Dias