2. O Olhar de Professores Online sobre as Práticas Pedagógicas

Filomena Barbosa*

filadebar@gmail.com

Filomena Pestana**

fpestana@portugalmail.pt

Resumo

Temos vindo a assistir a um desenvolvimento tecnológico, abrindo possibilidades inimagináveis e com impactos não previstos, ao nível da comunicação e da informação. As potencialidades das tecnologias interativas, como resposta sócio cultural, alteram os meios tradicionais de divulgação do conhecimento e surgem como um motor dinamizador de novos domínios educacionais, nomeadamente da EaD.

Para Peters (2004) em Mattar (2007), no caminho a uma EaD reformulada importa garantir a (re)elaboração dos métodos, dos conteúdos, dos modelos pedagógicos, para estruturar os espaços virtuais de acordo com a visão de uma aprendizagem centrada no estudante e nas necessidades de uma educação que responda às exigências de uma nova era. Neste sentido, Machado et al (2005) apontam a EaD como “aquela que se expressa via redes de comunicação, particularmente, via Internet e pelo uso do AVA, que caminha na lógica do mundo contemporâneo” onde convergem mudanças sociais e culturais com um forte impacto na conceção das aprendizagens.

Apresentando-se este artigo direccionado para a compreensão dos fenómenos que estão subjacentes às práticas pedagógicas efectivas, concretizadas online por quatro professores de ensino superior, à luz da moldura conceptual integrada na Unidade Curricular Processos Pedagógicos em eLearning.

Palavras-chave: Práticas pedagógicas online, EaD, AVA, tecnologias interativas.

Abstract

We have been witnessing a technological development, opening up unimaginable possibilities and with unforeseen impacts on the level of communication and information. The potential of interactive technologies, as socio-cultural response, changes the traditional means of disseminating knowledge and emerge as a dynamic engine of new educational domains, namely distant education.

According to Peters (2004) in Mattar (2007) on the way to a reformulate distant education it is important to guarantee the (re)elaboration of methods, content and pedagogical models for structuring the virtual spaces in accordance with the vision of a student centered learning and the needs of an education that meets the requirements of a new era. In this sense, Machado et al (2005) point distant education as “that which expresses through communication networks, particularly through Internet and the use of VLE, which moves in the logic of the contemporary world” where social and cultural changes converge with a strong impact on the conception of learning.

Presenting this article aimed at understanding the phenomena that are underlying to the effective teaching practices implemented by four teachers in online high education, in the light of the conceptual framework integrated into the Unidade Curricular Processos Pedagógicos em eLearning.

Key-words: online Teaching Practices, Distant Education, VLE, interactive technologies

1. Introdução

Este artigo tem como objetivo a análise crítica sobre práticas pedagógicas reais online. A análise tem como suporte a contribuição, de quatro Professores do Ensino Superior que lecionam em regime de eLearning, às questões abertas, enviadas por email. Apresentando-se três publicadas neste site e que por si só se apresentam como objetos de aprendizagem valiosos, pela visão que os professores partilham acerca das práticas pedagógicas, podendo ser analisadas com vantagens efetivas em trabalhos, com uma envergadura diferente. Uma das entrevistas está ainda em processo de conclusão, pelo que oportunamente se procederá à sua integração. No entanto, dado ao contributo relevante, mesmo que parcial, considerou-se importante integrá-lo nesta fase.

A análise do conteúdo é feita tendo como base partes selecionadas que se relacionam e que se constituem como relevantes para os objetivos que nos propomos analisar, considerando a moldura conceptual integrada na Unidade Curricular Processos Pedagógicos em eLearning.

O desenvolvimento da reflexão crítica encontra-se segmentado em quatro partes que identificam as ideias chave, tidas como base, no desenvolvimento das práticas pedagógicas em EaD:

O passado, o presente e o futuro no EaD e o desafio que as inovações tecnológicas poderão trazer para as práticas pedagógicas; A formação específica do professor online e sua relação com a prática pedagógica; As estratégias de ensino e aprendizagem adequadas ao estudante adulto; Práticas pedagógicas online - Desafios.

2. O passado, o presente e o futuro no EaD e as práticas pedagógicas potencializadas pelas inovações tecnológicas

2.1. O passado, o presente e o futuro no EaD

"No contexto do EaD, as tecnologias e o potencial que lhes está associado são determinantes quer em termos de mediatização dos conteúdos, quer em termos de mediatização da relação pedagógica” segundo Gomes (2008), neste contexto e num percurso evolutivo deste fenómeno Travassos (2011) refere que do ponto de vista pedagógico coexistem diferentes formas de conceber o ensino e a aprendizagem, sendo a concepção construtivista a que tenderá a ser prevalecente e do ponto de vista tecnológico "podem-se abrir possibilidades que ainda mal se vislumbram". Pela sua adaptabilidade, o EaD, permite o acesso a públicos a uma educação formal que de outra forma não seria possível, manifestando preocupação pela impossibilidadede de acesso aos excluidos sociais através das tecnologias (info excluidos) no continente Africano.

Para Malheiro (2011), existe uma "relação entre o nível de evolução tecnológica e o modo como a utilizamos enquanto ferramenta para troca de informação (…) para comunicarem e efectuarem a mediação do ensino e da aprendizagem, os quais possibilitam novas formas de ensinar e aprender", tendo o EaD sofrido "metamorfoses evolutivas", oriundas dos suportes tecnológicos que esbatem a distância, quer física, quer temporal, aproximando visivelmente estudantes e professores.

Dias (2011) refere que o "e-learning enquanto forma de EaD do séc XXI (...) é uma abordagem à educação/formação que potencia a utilização das tecnologias de informação e comunicação enquanto forma de minimizar a distância física, temporal e emocional (...) aumentado as possibilidades de aprendizagem, comunicação e interação"entre os atores envolvidos no processo conferindo-lhes uma flexibilidade ao nível do tempo e do espaço.

Apontando Mattar (2011) neste contexto evolutivo e de forma prospectiva o uso de tecnologias em educação, presencial ou a distância e para quem o futuro se apresenta "promissor em coisas como mobile learning, mundos virtuais 3D, Web 2.0 e redes sociais, Personal Learning Environments, realidade virtual e aumentada" e não no EaD.

Segundo Dias (2011) "o e-learning tem evoluído muito positivamente, uma vez que, a quantidade de utilizadores das plataformas e-learning (mais formais) e mesmo das plataformas web 2.0 (mais informais) tem aumentado significativamente nesta primeira década do século XXI", verificando-se da parte dos professores e formadores "cada vez mais sensibilidade e competências para a utilização de tecnologias de forma pedagógica (...) como o facebook e o twitter para fins educativos" para aprendizagens formais e informais ou aceder a conteúdos através dum simples telemóvel. Importa referir neste contexto a visão de Franciscato (2008) que coloca o mLearning como uma extenção do eLearning e que graças às características de portabilidade, ubiquidade e conectividade, favorecem perspetivas pedagógicas inovadoras.

Apresentando-se a tecnologia e a pedagogia como duas faces do EaD, "a primeira oferecendo os meios e as potencialidades e a segunda conferindo coerência, sentido e eficácia à sua utilização” segundo Pereira et al (2003), podendo-se potenciar e garantir ao EaD um futuro em expansão, que associa padrões de qualidade elevados a uma aceitação pela generalidade da comunidade ciêntífica, como evidencia Travassos (2011).

Segundo Paulsen (2003)“ we may see that the major development in future online education could come from a new revolutionary innovation that none of us can foresee” e embora, o EaD tenha vindo a aumentar consideravelmente, “from small acale to large scale”, Paulsen (op cit), adverte para a existência de um escasso progressso ao nível da pedagogia online, na medida em que a tendência é aplicar os métodos pedagógicos tradicionais, com passos individuais, no novo ambiente de aprendizagem, que se pretende, à luz do EaD, dinamizador de estudanes autónomos, enquadrados num grupo e protagonizadores de processos de aprendizagem colaborativa.

2.2. As práticas pedagógicas associadas às inovações tecnológicas

Estes Professores com prática efetiva em eLearning, não somente enfatizam as novas formas tecnológicas mas também a mudança pedagógica que impulsionam, questionando-se as abordagens tradicionais de velhas práticas pedagógicas, ancoradas à comunicação de caráter unilateral.

Dias (2011) defende a exigência de e-formadores e de e-formandos autónomos com "competências tecnológicas, (pedagógicas e emocionais)" salientando que o e-learning implica uma aprendizagem ativa, orientada para a interatividade entre todos os atores do processo, constituindo "as exigências de autonomia e de gestão do tempo nas aprendizagens e-learning um factor novo ao qual os formandos têm de se adaptar".

Malheiros (2011) refere que o EaD sempre dependeu de uma infraestrutura tecnológica, no entanto na sua prática efetiva constata que é a pedagogia que orienta o uso das tecnologias enquanto instrumento de suporte à operacionalização do processo ensino/aprendizagem originando uma imagem reconstruida e tridimencional resultado do processo evolutivo da tecnologia, da pedagogia e do fruto das necessidades educativas, geradas por novos contextos sociais, concretizando-se com os meios tecnológicos que possibilitam o desenho de novas formas de ensinar e aprender.

Para Mattar (2011) "uma das questões mais importantes em EaD me parece ser a da interacção" colocando o "desafio no design de ambientes e atividades interativas, de conectar professores, alunos, conteúdos" (...) penso que infelizmente acabamos em geral mantendo o modelo do fordismo (descrito por Otto Peters)".

O ensino/aprendizagem em EaD, segundo Travassos (2011) implica da parte do professor a aquisição de competências de planificação e de competências pedagógicas. As primeiras prendem-se com "estruturar as unidades curriculares atendendo às exigências científicas e ao ambiente próprio de uma plataforma de aprendizagem; seleccionar materiais relevantes e motivadores; calendarizar adequadamente as atividades". As competências pedagógicas, têm em conta o "envolvimento dos alunos nas aprendizagens, adequar os métodos e técnicas de avaliação, fornecer feedbacks personalizados aos alunos apostando na componente formativa da avaliação e apostar no desenvolvimento da autonomia do estudante".

Desta forma, a educação a distância, em regime online, passa por uma nova forma de pedagogia que avança para uma situação, de um professor, que apenas tinha que dominar assuntos, para uma outra, implicando um professor voltado para os processos de aprendizagem dos alunos e para a utilização das boas práticas educativas, uma vez que e segundo Travassos (2011), "os interfaces que estão disponíveis atualmente permitem desenvolver um ensino com padrões de qualidade elevados, assentes em aprendizagens significativas". Como refere Dias (2011) "a utilização de diferentes ferramentas de comunicação e plataformas e-learning (chat, fórum, correio eletrónico, etc) permite a todos melhorar e actualizar o conhecimento numa abordagem construtivista, mas tal exige dos formandos uma postura ativa e de construção (re-construção de conhecimentos prévios)" sendo necessário para uma aprendizagem efetiva um aluno que interaja com o material de aprendizagem.

A colocação do potencial tecnológico ao serviço da comunicação "multi-direcional" e de "interações entre os intervenientes" poderão "dar origem à criação de grupos/comunidades no espaço virtual e à ocorrência de trabalho colaborativo", como salienta Dias (2011).

Numa perspetiva de gerações do EaD defendidas por Anderson e Dron (2011) detetamos claramente práticas pedagógicas associadas ao sócio-construtivismo, onde se privilegia a apropriação do saber individual marcado pela experiência de trocas sociais de aprendizagem e de práticas pedagógicas em ambiente online, potenciando-se as atividades interativas síncronas/assíncronas, para operar a informação em conhecimento, sublinhando-se o incremento das atividades colaborativas e a criação de comunidades virtuais, que vão ao encontro de um objetivo comum e de auto-responsabilização da aprendizagem. Não deixando de identificar simultaneamente práticas conectivistas segundo Siemens e Downes (2007) em Anderson e Dron (2011) que colocam a aprendizagem como um processo flexível de construção da informação, conectada em redes para a construção do seu conhecimento.

3. A relação entre a formação específica e a prática pedagógica do professor online

A questão da formação específica, tendo em vista o desenvolvimento da actividade online, está presente na literatura especializada sobre o tema, identificando-se a visão de Chickering e Gamson (1978) em Gautreau et al (2008) que evidencia na sua investigação o escasso apoio aos professores no que se refere ao desenvolvimento da sua actividade online, esperando-se que seja o professor a estabelecer a ponte entre o ambiente face-a-face para o online, sem uma preparação significativa no desenho instrucional e nas suas práticas.

Sobre a questão relativa à passagem do ensino face-a-face para o ambiente online, Dias (2011) pressupõe uma formação docente através de "workshops ou sessões de formação (a distância preferencialmente), frequentando cursos de formação de e-formadores, de produção de conteúdos e de tecnologias educativas" atribuindo uma maior relevância "às práticas pedagógicas a distância que o professor tenha ou adquira" devendo para tal primeiro "ser aluno online e ser professor online" evidenciando para além das plataformas mais institucionais - LMS, as que são concretizadas em ambientes mais pessoais e informais da Web 2.0 - PLE que cada professor estabelece de acordo com as suas necessidades e especificidades.

Mattar (2011) defende um professor embuído em "processos de formação continuada adequados" munido de ferramentas tecnológicas e pedagógicas apropriadas, seja em EaD ou não, apresentado o PLE como uma das ferramentas adequadas à sua formação.

Este foco foi também dado por Travassos (2011) que refere “como nas outras áreas do conhecimento, a pedagogia do elearning não se aprende num curso (…) deve ter um caráter contínuo, permitindo a atualização e a troca de experiências”.

Malheiro (2011) evidencia as particularidades que o processo de ensino/aprendizagem assume no ambiente online necessitando os professores tanto da formação inicial e contínua, através de Instituições/Profissionais credíveis na área, como um processo consciente e reflexivo sobre as suas práticas.

À semelhança do ensino/aprendizagem identifica um perfil de competências de natureza técnico-científica, didáctico- pedagógico e de psico-emocionais a que se associam "um conjunto de mais-valias que se tornam essenciais e que se não desenvolvidas, podem, "hipotecar" todo o processo."

4 - As estratégias de ensino e aprendizagem adequadas ao estudante adulto

Pretende-se analisar neste tópico a aplicação de estratégias de ensino/aprendizagem centradas no aprendente, como um actor activo, participante, valorizando as aprendizagens ao longo da vida, suportadas nas próprias experiências e resultantes das necessidades sentidas, privilegiando a resolução de problemas, com ritmo próprio e significado para o seu desenvolvimento pessoal e grupal, ou seja, uma aprendizagem ampla, flexível e autodirectiva com maturidade e motivação intrínseca, segundo Knowles em Gautreau et al (2008) e Courela (2007).

Neste âmbito, todos os professores definem estratégias que se adequam ao grupo: Dias (2011) refere que utiliza "diferentes estratégias de acordo com o grupo de formandos, e as estratégias podem mudar de acordo com o fluxo de aprendizagem do grupo, mas no essencial tento utilizar materiais sóbrios e referenciais em conjunto com materiais muito apelativos e motivadores (vídeos, jogos, ilustrações, etc), especifico tarefas semanais (para mobilizar aprendizagens) e prazos fixos, bem como tarefas colectivas via fórum e wikis. O design pedagógico dos meus módulos é centrado na aprendizagem baseada em projectos ou problemas (“project/problem based learning”) e numa sequência de tarefas simples, que juntas levam a uma aprendizagem mais complexa. No final os formandos têm de desenvolver um projecto geral que reflecte a sequência de tarefas e de aprendizagens mais simples, ajudando-os a consolidar as aprendizagens fundamentais".

Mattar (2011), da mesma forma refere "muitos debates e diálogos. Projetos - elaboração e construção de textos, vídeos, imagens, áudios etc. Atendimento personalizado. Flexibilidade - conduzo minhas classes em função dos interesses dos alunos, das almas dos grupos.

Travassos (2011) diferencia as estratégias tendo em conta os tipos e níveis de ensino em ambiente virtual, identificando: "Tipos-Fóruns de discussão moderados pelos alunos ou pelo professor (incentivar a discussão com questões polémicas, fornecer textos com opiniões contraditórias, redireccionar o debate; Trabalhos de grupo. Trabalho individual; Feedbacks avaliativos numa perspetiva formativa; Avaliação contínua com um carácter formativo. Os tipos e critérios de avaliação contemplam os seguintes elementos: a pesquisa individual; a autonomia e a responsabilidade individual; o trabalho colaborativo; o espírito crítico; o domínio dos conteúdos, etc"

Os professores orientam as estratégias de ensino/aprendizagem dentro de uma abordagem pedagógica, que além do trabalho individual integram o trabalho colaborativo e a interação concretizados através de tarefas a desenvolver (coletivas, discussões em fóruns, questões polémicas) mediadas por ferramentas comunicacionais síncronas/assínconas, permitindo aos estudantes numa plataforma mais formal - LMS, ou mais informal - facebook, twitter, para incrementar aprendizagens com a flexibilidade espáçio-temporal necessária de forma a adequar os conteúdos e o fluxo de trabalho às características individuais de cada elemento do grupo, conferindo ao estudante um papel dinamizador, ativo e autónomo no processo de construção do próprio conhecimento.

A avaliação segundo Santos e Pinto (2006) "(...) faz hoje parte do vocabulário mais utilizado em termos pedagógicos (...) O erro e/ou a dificuldades do aluno são elementos-chave de informação no processo de comunicação e a sua interpretação e análise permitem identificar as condições necessárias à superação dessas dificuldades". Neste contexto, salientamos Travassos (2011) que ao devolver feedback avaliativo fornece uma assistência às aprendizagens do estudante, uma vez que a avaliação formativa é uma avaliação regular e reguladora do processo ensino/aprendizagem e está sempre presente, detetando motivações, esforços, dificuldades e apresentando-se como um importante instrumento de reflexão, de construção e subsequentemente de ressignificação, abrangendo competências cognitivas, psico-motoras e afectivas.

5 - Práticas pedagógicas online - Desafios

O EaD coloca exigências ao professor online, para poder desenvolver um papel amplo e diversificado, no processo e para o sucesso do ensino/aprendizagem e como responsável da dinamização de um clima propício a um ambiente interativo e colaborativo.

Para Mattar (2011) o professor online deverá estar em permanente atualização, conhecendo o que se está a fazer nesta área sem perder de vista o que os clássicos podem trazer para a compreensão do fenómeno. "Temos que revisitar os clássicos para compreender no que eles podem nos ajudar (ou atrapalhar!)", evidenciando o caráter evolutivo e em constante mutação que assumem e no qual sublinha a importância da qualidade da interação, do relacionamento e da colaboração neles desenvolvido." Temos que mapear os modelos e decidir o que queremos: mandar informações para alunos com que não nos relacionaremos ou criar ambientes e atividades de relacionamento, interatividade, colaboração."

Integrando nesta perspetiva a visão de Machado et al (2005) que encontra nas aprendizagens tanto em ambientes presenciais como em virtuais um conjunto de "ações, reações e interpolações de fenômenos e acontecimentos psico-político-sócio-culturais no interior desses ambientes" (...) e como elas podem interferir positivamente ou negativamente na aprendizagem online".

Travassos (2011) identifica "o carácter particular que o tempo assume" no ensino virtual, privilegiando menos os conteúdos e mais a profundidade. Da mesma forma selecionar o essencial é um dos aspetos fundamentais, assim como dar tempo aos alunos para trabalharem autonomamente ou em grupo, considerando importante a estruturação do curso prevendo, antecipando o máximo possível, uma vez que identifica as mudanças como fator de enorme entropia no ambiente. Conclui com "a necessidade de manter o contacto, de responder, de dar feedbaks, criando um ambiente de credibilidade e de confiança."

Dias (2011), aconselha a frequência de um curso de e-formadores formal em ambiente virtual, a par da elaboração de pesquisas e análise de práticas pedagógicas de cada formador, assim como de uma atualização permanente sobre a temática e " ponham em prática um curso ou uma experiência informal de aprendizagem a distância, experimentem no skype, no facebook, no telemóvel, sejam criativos, inventem, usem a imaginação, leiam e partilhem com outros as vossas experiências. Vão ao grupo do Facebook para analisar as práticas pedagógicas de cada formador no sentido a fazer melhor ou ver o que parece mal. O professor deve experimentar as tecnologias e ser criador, inventivo e proceder à partilha das experiências como por exemplo recorrer ao "e-learning gurus-Portugal".

Perspetiva-se um e-professor dinamizador e mobilizador de instrumentos pedagógicos, de organização e gestão de aprendizagens, com características pessoais ligadas à curiosidade e à formação permanente, ao invés de transmissor de conhecimentos espartilhados e enformados em pacotes distribuídos pelos aprendentes, assimiladores passivos da informação, alargando as oportunidades para os aprendentes evoluírem numa aprendizagem interativa e se envolverem na construção dos conhecimentos.

6. Considerações Finais

A análise às questões apresentaram-se como um projeto desafiador, uma vez que estávamos perante um manancial de informação que professores com práticas efectivas online, se permitiram partilhar. Tendo-se identificado uma linha condutora ao longo de todas as respostas que evidenciam as práticas efetivas, suportadas na interação e na construção do conhecimento com clara consistência e abertura para a (re)construção de novos contextos de EaD.

Surgindo da análise das respostas efectuadas às questões, sobre as práticas pedagógicas, no EaD, a evidência de um percurso evolutivo do processo de ensino/aprendizagem como forma de compreender o presente para poder evoluir de modo sustentado para percursos futuros, numa relação estreita entre o binómio pedagogia/tecnologia, como motores que se influenciam mutuamente.

Muitos desafios foram evidenciados no EaD, mais concretamente os aspectos económicos com os quais as instituições e os professores se deparam, ou mesmo, os escassos meios tecnológicos que existem em países Africanos impeditivos da concretização real do sucesso educativo dos formandos.

A educação a distância apresenta-se como uma área em expansão, seja num processo totalmente a distância, ou em associação com o presencial, mas sempre, numa evolução positiva, agregando as possibilidades que a tecnologia disponibiliza ao potencial de qualidade do processo de mediação do ensino/aprendizagem, que proporciona nos diferentes contextos.

Para este processo contribuem práticas pedagógicas em consonância com o grupo, apresentando-se este factor de diferenciação como um aspecto relevante, uma vez que, as aprendizagens, nomeadamente no estudante/formando online adulto se reveste de particularidades próprias. Com vista a este objetivo realizaram-se práticas pedagógicas que se orientam numa construção da comunidade de aprendizagem, com “alma" própria, em que se valoriza a experiência e a vivência de cada um, onde se socorrem da partilha de informação, através de fóruns ou outras ferramentas que permitam a colaboração, a partilha, os projectos conjuntos, que se fundam numa óptica sócio-constuctivista do conhecimento e facilitador das aprendizagens.

Neste contexto, poderemos salientar o papel que o professor assume nestes ambientes virtuais, como facilitador do processo, que para além da necessidade de formação inicial requer uma experiência efetiva, tendo um dos professores focado que antes de se ser professor online se deve ser estudante online.

Desta forma, o eProfessor requer competências específicas a nível tecnológico, pedagógico e emocional. Da mesma forma que se requer no eEstudante/eFormando a existência de um perfil específico em que a autonomia e o envolvimento na construção do seu processo de aprendizagem seja ativo e efetivo.

Este novo ambiente virtual onde se desenrola o processo de ensino/aprendizagem necessita da parte do professor uma atualização constante, com características desafiadoras, como o caráter particular que assume o tempo nestes espaços, a seleção dos conteúdos, o planeamento que deverá existir para que o processo possa fluir de acordo com a própria comunidade de aprendizagem.

Em paralelo, torna-se importante a análise de práticas pedagógicas dos/com os pares, assim como a partilha entre os eProfessore/eFormadores, não esquecendo a criatividade como forma de potenciar os resultados.

A contemporaneidade suporta-se na rede. A esta cultura digital, a que se alia a necessidade de aprendizagem ao longo da vida, pesa a rápida obsolescência que o conhecimento adquire e a disponibilidade de Recursos Educacionais Abertos.

Estamos perante uma rede que se posiciona como uma interface educativa, portadora de conhecimento seja através do LMS ou distribuído pelos nós, pelos fluxos proporcionados pela conexão, que cada indivíduo é capaz de concretizar.

Desta forma, este ambiente de aprendizagem a distância permite como nunca antes o acesso à informação, ao conhecimento, aos outros. Concretizando produtores e não só consumidores ou reprodutores, emergindo as Redes Sociais que se estabelecem na Internet como um terreno fértil e capaz de concretizar espaços de aprendizagem, em espaços formais e informais que se constroem em comunidades virtuais de aprendizagem.

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Travassos, M. (2011). Questões sobre a prática pedagógica totalmente realizada online.

* Mestranda em Pedagogia do eLearning - Universidade Aberta - Portugal

** Mestranda em Pedagogia do eLearning - Universidade Aberta - Portugal