(Extrato parcial do projeto completo)
O ensino de Medicina enfrenta variados desafios, como, por exemplo, o de ensinar um conteúdo progressivamente crescente e constantemente mutável. Também o de formar um médico capaz de tomar decisões que implicam a vida e a morte de indivíduos ou comunidades, às vezes com muito pouco tempo para fazê-lo e em condições nada favoráveis.
Isto implica como aponta a Resolução CNE/CES nº 4, de 7/11/2001 (BRASIL CONGRESSO. SENADO, 2001), que o médico deve “possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; (...) habilidades de escrita e leitura”; (...) assim como ‘aprender a aprender’ ”. Para isto, é necessário favorecer seu acesso aos processos internos do aprender. Desta forma, ele poderá, ao longo de sua vida profissional, manter-se a par do perfil acima apresentado. E isto exige o uso de ferramentas que facilitem ao estudante a direção de sua aprendizagem.
A prática da simulação em saúde possui grande potencial como recurso de ensinoaprendizagem ao ofertar experiências complexas que podem ser de difícil acesso durante a graduação (FLATO; GUIMARÃES, 2011). A equipe de saúde, principalmente em urgências, precisa trabalhar de forma integrada. Isto exige organização, muitas vezes de maneira rápida e eficiente.
Estas tarefas podem beneficiar-se da metacognição. O tema surge na literatura durante a década de 1970 (FLAVELL, 1979). A metacognição é definida como um discurso de segundo nível sobre a cognição. A metacognição pode determinar o modo pelo qual o aprendiz organiza seu pensamento ou o texto produzido. Um exemplo é o texto de Holton e Clarke (HOLTON; CLARKE, 2006) no qual propõem um processo de estruturação do aprendizado (scaffolding) sob o viés metacognitivo. Do ponto de vista da resolução de problemas, monitorar a compreensão é também benéfico (DOMINOWSKI R L, 1998). Solicitar ao estudante que descreva e explique suas ações durante a execução (pensar alto) pode auxiliá-lo a achar uma solução.
A metacognição traz benefícios educacionais significativos em variadas áreas e seus processos, mas em medicina ela é pouco explorada. Este projeto busca aprofundar o estudo destes fenômenos. Buscamos descreve-los em detalhe de modo a compreender a cognição em ação. Saber como se dá a construção do raciocínio clínico do ponto de vista metacognitivo. Para tal precisaremos analisar o discurso dos sujeitos, submetendo–o às codificações necessárias. Deste modo pretendemos estabelecer um “trajeto metacognitivo” para o pensamento clínico destes sujeitos.
Dos estudos em outras áreas, e em parte o que aqui descrevemos corrobora, que a metacognição pode ser explicitada, ensinada e é benéfica para processos de aprendizagem e resolução de problemas. Sabemos ainda, pelo menos por conta dos modelos defuncionamento atualmente aceitos, que ela organiza, modula e controla o agir cognitivo. O que emerge destas descrições é um sistema de pensamento que implica em um trajeto de coleta, processamento e ação cognitiva. É portanto consequência lógica que se estes modelos e fluxos são corretos, então o seu funcionamento adequado resulta em processos cognitivos também adequados e eficientes. Prosseguindo no mesmo caminho e por dedução lógica, é razoável supor que o funcionamento inadequado deste sistema conduza a impropriedades, erros e baixa eficiência no desempenho cognitivo. Ou ainda seguindo pelo caminho inverso, que comportamentos cognitivos inadequados sejam o resultado de algum tipo de alteração no funcionamento normal do sistema metacognitivo. Do ponto de vista pragmático então pretendemos exercitar o “bom olhar”, que no dizer de Heráclito consiste em “ver no visível, o invisível”.
Desta forma então é que, neste projeto, e nos limites do contexto em que trabalharemos, temos a hipótese de que o uso adequado ou não dos recursos e ferramentas metacognitivas está associado respectivamente ao bom e mau desempenho em contextos de ensino-aprendizagem.
Descrever e analisar o papel da Metacognição em contextos de ensinoaprendizagem
Identificar e descrever os eventos metacognitivos;
Estabelecer ligações entre os eventos metacognitivos e o desempenho das equipes com o objetivo de fornecer descrições do papel da metacognição no desempenho das equipes
O CONTEXTO será o da “Olimpíada de atendimento a pacientes críticos”, evento realizado frequentemente como parte da programação de congressos e seminários ligados a saúde. A estrutura básica da olimpíada consiste em propor casos clínicos simulados aos participantes sob a forma de OSCE (exame clínico objetivo estruturado),organizados em equipes de atendimento.
A UNIDADE DE ANÁLISE será a equipe de atendimento, sendo os seus componentes considerados, individualmente e na relação com os outros componentes. Neste sentido os dados obtidos com cada um dos participantes serão considerados como propriedade emergente do sistema. Isto é, dados que não representam apenas o indivíduo, mas a equipe se expressando pela voz e ação daquele componente, naquele momento específico.
Os SUJEITOS serão estudantes de graduação e graduados de Medicina.
O TAMANHO DA AMOSTRA não é definido a priori. Incluirá na fase de dos questionários e e filmagem todos os participantes que preencherem os critérios de inclusa. E posteriormente quando das entrevistas dependerá do número e composição das equipes selecionadas.
Para a ANÁLISE DOS DADOS será utilizada a Análise de conteúdo (BARDIN, 2011) Segundo esta autora, "A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações..." e no caso deste estudo visando "...uma análise dos “significados"..." sob o viés metacognitivo. E também segundo Berelson este tipo de análise é "...uma técnica de investigação que através de uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações tem por finalidade a interpretação destas mesmas comunicações".
Os questionários serão tabulados em planilha Excel© e analisados quantitativamente por meio do cálculo de frequência absoluta e relativa, assim como pela construção de tabelasde distribuição percentual. Para a citada análise de conteúdo as entrevistas serão gravadas e transcritas e as transcrições serão codificadas pelo software de análise qualitativa Atlas-ti©, segundo as categorias teóricas de Efklides seguidas da extração das categorias empíricas. Esta, auxiliada pelo editor de mapas mentais SimpleMind©. A filmagem será usada para esclarecer pontos obscuros dos grupos focais e talvez identificar com maior precisão os eventos e ações descritos nas narrativas conjuntas obtidas.
O projeto visa investigar o processo de aprendizagem no ser humano, com ênfase especial na área da saúde. Neste sentido seu campo de atuação estende-se por ambientes hospitalares e ambulatoriais, e também por aqueles mais acadêmicos tais como salas de aula, simulações de procedimentos e contextos de educação à distância. Os sujeitos da pesquisa podem ser estudantes e profissionais da saúde, assim como clientes destes serviços. Neste sentido, entende que o cuidado à saúde implica, pelo menos em parte, no aprendizado de novos hábitos de vida. Interessa-se pela motivação, formas de raciocínio, hábitos e fontes de estudo e estratégias de aprendizagem. Além disto procura aplicar os conhecimentos resultantes dos estudos, implementando algumas de suas aplicações. Faz uso de metodologia quantitativa e qualitativa, a depender da natureza do tema específico da pesquisa e de suas questões norteadoras. Neste sentido pode trabalhar tanto com métodos estatísticos, como com análise do discurso. Por isto suas técnicas de coleta de dados variam. Podem ser questionários, escalas e testes psicométricos, como também entrevistas semi-estruturadas, filmagens e observação participante. De forma geral, seu método aproxima-se da Fenomenologia e seu referencial teórico fundamenta-se principalmente nos autores cognitivistas. Dentre estes em particular, aqueles oriundos do movimento metacognitivo. Metacognição é um termo cunhado por Flavell para definir o conhecimento sobre os processos e produtos cognitivos. Abrange ainda qualquer forma de monitorização do sistema cognitivo e emocional. A metacognição como proposta educacional , é um movimento relativamente novo e incide sob um aspecto ainda pouco trabalhado em termos do ensino - aprendizagem; a consciência. Assim é que consciência é um conceito chave em nossos estudos, mais especificamente, a consciência dos processos cognitivos e emocionais de aprendizes em situação de aprendizagem. Para os metacognitivistas quando aprendizes tornam-se mais conscientes de sua própria aprendizagem, esta se torna melhor. Esta consciência deve incluir conhecimento do como, porque e para que estão a aprender. Metacognição é então um discurso de segundo nível sobre o processo de aprendizagem. É também uma proposta educacional.
1- O Processo de Aprendizagem em ambientes presenciais
Objeto
Metacognição, estilos de aprendizagem e motivação na atuação do aprendiz em seu cotidiano de estudo
Questões de estudo
O que que é estudar e aprender do ponto de vista do estudante ?
Como se dá o aprendizado do proceso diagnóstico em enfermagem e fonoaudiologia ?
Qual o efeito das diferenças individuais no desempenho acadêmico e atuação profissional do estudante ?
Metodologia e Técnicas de pesquisa
Análise de conteúdo e métodos quantitativos. Entrevistas semi-estuturadas e testes psicométricos
2- O Processo de Aprendizagem em ambientes virtuais
Objeto
Metacognição, interação e estratégias de aprendizagem em ambientes de aprendizagem formal e informal
Questões de estudo
Como a metacognição se expressa em registros escritos ?
Quais são e como se expressam as estratégias de aprendizagem em ambientes de aprendizagem informal ?
A expressão metacognitiva potencializa a interação em ambientes informais ?
Quais são as dificuldades e como se dá a transição para ambientes virtuais formais de aprendizagem de estudantes habituados ao ensino presencial?
Metodologia e Técnicas de pesquisa
Análise de conteúdo e métodos quantitativos. Entrevistas semi-estuturadas, análise de conteúdo das interações em espaços de comunicação online