Antonio Carrasqueira
Antonio Carlos Moraes Dias Carrasqueira, conhecido como Antonio Carrasqueira e Toninho Carrasqueira (São Paulo, 9 de setembro de 1952) é um flautista brasileiro que transita com a mesma propriedade pelos universos erudito e popular. Toninho é filho do saudoso e virtuoso flautista João Dias Carrasqueiras (1908 – 2000) e irmão da pianista Maria José Carrasqueira.
Um dos flautistas brasileiros mais renomados que estudou na França é Antonio Carlos Carrasqueira. Conhecido pelo apelido Toninho, e filho do aclamado flautista João Dias Carrasqueiras(1908-2000), 97 Toninho Carrasqueira é conhecido por sua versatilidade em tocar choro popular brasileiro, além do repertório tradicional de flauta. Carrasqueira cresceu tocando choro e aprendendo flauta com o pai. Em 1973, aos 21 anos, Carrasqueira mudou-se para a França depois de receber uma bolsa do governo francês. Por recomendação do flautista franco-brasileiro Jean Nöel Saghaard, Carrasqueira contatou dois dos professores de flauta mais importantes da França na época, Christian Lardé, flautista e professor de música de câmara no Conservatório de Paris, e Roger Burdin, flauta. professor do Conservatório de Versalhes.
Depois de chegar na França, Carrasqueira fez o teste para os dois professores e foi aceito como aluno. Com Lardé, ele teve aulas particulares durante todo o seu tempo na França, e com Bourdin, ele estudou no Conservatório de Versalhes. As lições no conservatório sempre foram no formato de uma masterclass. Raramente um aluno tocava por mais de meia hora para o professor devido a um grande número de estudantes no estúdio que tocavam em cada classe principal. Essa era uma ideia que Carrasqueira levaria de seus estudos na França para seus ensinamentos no Brasil. Segundo ele, essa ideia de masterclasses foi posteriormente implementada por ele enquanto lecionava na Universidade de São Paulo. Na sua opinião, um aluno pode aprender muito mais ouvindo seus colegas tocando em masterclasses do que tendo apenas aulas individuais. Os alunos se familiarizam com uma gama maior de repertório com essa abordagem, em vez de se concentrarem apenas em seu próprio repertório. Os alunos também podem aprender, em sua opinião, como controlar melhor seus nervos ao tocar para os outros.98
Em entrevista à revista da Associação Brasileira de Flautistas, Carrasqueira descreve sua vida e os professores na França. Segundo ele, seus dois primeiros professores na França, Lardé e Bourdin, tinham abordagens muito diferentes para a pedagogia da flauta.
Roger Bourdin, que era aluno de Marcel Moyse, estava mais centrado nas idéias da French Flute School. Sendo um admirador de seu professor Marcel Moyse, Bourdin comunicava as idéias de seu mestre, que Bourdin considerava a tradicional e "verdadeira" escola de flauta francesa. Carrasqueira também destaca que Bourdin costumava conversar bastante sobre cores, nuances e timbres, idéias características da French Flute School of Taffanel.
Depois de receber o Premier Prix no conservatório e depois terminar seus estudos lá, Carrasqueira continuou a ter aulas particulares com Bourdin, mas depois que se formou no Conservatório de Versalhes, ele teve que continuar seus estudos em outra instituição.
Segundo ele, naquele ano, o Conservatório de Paris não fazia audições para a aula de flauta, e no ano seguinte Carrasqueira teria idade demais para entrar no conservatório. Por isso, Carrasqueira ingressou na École Normale de Musique de Paris, iniciando seus estudos com Fernand Caratgé. Nessa instituição, Carrasqueira terminaria com a License de Concert, a mais alta honra dada pelo conservatório.
Apesar de ter terminado todos os seus estudos no conservatório, Carrasqueira permaneceu na França, tendo aulas com muitos outros flautistas. Entre os professores, Carrasqueira estudou com Sir James Galway. Ele afirma que Galway se tornou um "guru" para ele, e que o som de Galway era a personificação do som ideal que a French Flute School sempre procurara.
Galway costumava fazer muitas cores, sem mencionar isso. Você pode perceber isso. Então, para mim, a essência da escola francesa, para que você possa definir, é essa busca pelo timbre, pelas cores, pela ênfase no som, um som maleável, flexível. Então, você tem Moyse, que talvez seja o grande mestre da escola francesa, um teórico em termos de metodologia no trabalho que ele fez, nos exercícios que procurou. Podemos sintetizar tudo no maravilhoso trabalho que é "L'Art de la Sonorité", que é a busca desse som, de homogeneidade em todos os registros. Você pode conectar um intervalo de um segundo menor a um maior, com grandes insultos, para que você tenha um som homogêneo e trabalhe em termos de música, tornando-o intenso, transparente ... como pintar ... trabalhar com massa ... eu diria que a característica da escola francesa é um som muito rico em tons e cores.
Segundo Carrasqueira, os conceitos praticados por Marcel Moyse em L'Art de la Sonorité são a base de seus ensinamentos. Ele afirma que "o princípio de Marcel Moyse é tocar primeiro com um som igual, para que possamos fazer em seguida o desigual, conforme a música requer”. Ele diz que esses eram conceitos que mais tarde influenciariam seu ensino no Brasil.
Carrasqueira aponta em entrevista à revista Pattapio que sua experiência em Paris mudou a maneira como ele via a cultura brasileira. Ele disse que naquele momento refletia sobre o fato de que, embora o Brasil seja um país jovem comparado aos países da Europa, devido à mistura de culturas do Brasil, "encanta os europeus", que às vezes são mantidos em uma tradição que lhes dá orientação, mas ao mesmo tempo os imobiliza.
A partir de 1975, Carrasqueira começou a trabalhar em diferentes grupos, como o Grupo de Música Contemporânea de Paris, a Orquestra de Heidelberg, uma dupla com a pianista Helène Mouzalas e outros. Com esses grupos, ele viajou pela Europa e Canadá. Mesmo com uma carreira prolífica na França, Carrasqueira sempre refletiu sobre a idéia de voltar ao Brasil para contribuir como professor e intérprete em seu próprio país.
Em 1979, Carrasqueira voltou ao Brasil com sua esposa, um filho e duas filhas, todas nascidas na França. No Brasil, retomou sua posição como flauta principal da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, uma orquestra com a qual tocou até 1986. Paralelamente às suas atividades na Orquestra Sinfônica Municipal, Carrasqueira também lecionou no Conservatório Dr. Carlos de Campos, um conservatório de prestígio na cidade de Tatuí. Em 1986, tornou-se professor da Universidade de São Paulo e, em 1990, foi convidado a lecionar na Universidade Livre de Música (ULM), integrando a Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, uma orquestra focada principalmente em tocar as obras de compositores brasileiros. Depois de deixar a ULM em 1996, Carrasqueira se dedicou ao ensino de masterclasses nos Estados Unidos, Equador e Peru, entre outros lugares. No mesmo ano, ele participou da “I Convenção Francesa da Flauta” em St. Maur, França, onde, juntamente com Jean-Pierre Rampal, Michel Debost e András Adorján, fez um concerto em homenagem ao seu professor Roger Bourdin. Em 1997, Carrasqueira foi convidado a integrar o Quinteto de Sopros Villa-Lobos, um dos grupos de câmara mais importantes do Brasil, grupo que ele tocou até 2011.
Carrasqueira fez muitas gravações com repertório que abrangiam o repertório francês padrão de flauta para o choro brasileiro. Seu primeiro CD, “In Concert”, foi gravado com sua irmã Maria José Carrasqueira ao piano. O repertório contou com compositores franceses como Chaminade, Debussy, Poulenc e Duttileux, mas também compositores brasileiros como Patápio Silva e Heitor Villa- Lobos. Outro CD que gravou foi chamado “Toninho Carrasqueira toca Pixinguinha e Pattapio Silva”. 105 Ele afirma que a idéia era mostrar os dois grandes mestres da flauta brasileira e revelar as obras de Pattápio Silva que até então não eram conhecidas.
Ao longo da entrevista de Carrasqueira para esta pesquisa, é evidente que ele é altamente influenciado pela French Flute School. Não apenas quando ele fala sobre seus professores, mas sobre os conceitos que ele compartilha. Ele afirma que a busca por diferentes sonoridades é algo que ele sempre procurou ouvindo cantores, como Maria Callas e a cantora brasileira Elis Regina. Ele também diz que o material pedagógico usado por ele no Brasil é principalmente o que ele aprendeu, como o método de Taffanel-Gaubert, as obras de Moyse e a flauta simples de Michel Debost.
Acho que temos que usar esses ótimos métodos, e esses mestres que abriram o caminho, e temos que agradecê-los todos os dias, porque não seríamos nada sem eles, porque teríamos que procurar tudo de novo. Então, ore por meu pai, Rampal, Galway, Taffanel, por todos eles, e agradeça a eles ... mas você tem que ver que ensinar você é uma coisa, ensinar ele é outra coisa, cada pessoa é um universo. Então, usaremos o Taffanel [método], usaremos Moyse, mas de repente o aluno está louco por choro, então vamos dar um choro com a música que você gosta. Você precisa ser receptivo às ideias dos alunos. Eu acho que o aluno tem que fazer as coisas por si mesmo. Você tem que ser receptivo para ver as idéias que ele lhe dá. Veja o que o excita. Portanto, esse é o papel do professor: estimular o aluno para que ele possa construir o conhecimento sozinho.106
Através do discurso de Carrasqueira, percebe-se que o fundamento de seu ensino é altamente influenciado por seus estudos na França, mas ele também é receptivo ao novo e à singularidade de cada aluno e à cultura de seu próprio país. Atualmente, Carrasqueira ainda leciona na Universidade de São Paulo (USP), leciona em festivais e dá masterclass e recitais em todo o Brasil.
Fonte: The Influences of the French Flute School on Brazilian Flute Pedagogy by Fabiana Magrinelli Rocha Dahmer
Baixe a dissertação completa e original no link: https://aquila.usm.edu/dissertations/1401/
Agradeço a Fabiana Magrinelli Rocha Dahmer por excelente obra e permissão para postar neste site.
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