SANTA MACRINA
Continuação dos Ditos dos Padres e Madres do Deserto:
Um irmão disse a Pai Theodore, "desejo cumprir os mandamentos." O velho homem contou-lhe o que Pai Theonas lhe tinha dito: "eu quero encher meu espírito de Deus." Pegando farinha da padaria fez pães que deu aos pobres que lhe pediram; outros lhe pediram mais e ele lhes deu as cestas, em seguida o manto que usava e então, retornou à sua cela com seu dorso cingido por uma capa. Depois ele voltou ao trabalho dizendo a si mesmo, que ainda não tinha cumprido o mandamento de Deus."
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O verdadeiro Pai Theophilo, o arcebispo, veio um dia a Scete. Os irmãos que estavam reunidos disseram a Pai Pambo, "fale algo ao arcebispo, de modo que ele fique edificado." O ancião disse a eles, "se ele não estiver edificado pelo meu silêncio, não ficará edificado pela minha fala."
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Foi dito de Pai Thedore, que ele foi feito diácono de Scete e recusou exercer o cargo, tendo fugido para muitos lugares por isso. A cada vez, os anciãos o traziam de volta, dizendo, "não deixe seu diaconato." Pai Theodore disse-lhes, "deixem-me rezar a Deus de modo que Ele me diga, com certeza, se eu devo tomar parte na ligurgia." Então rezou a Deus desse modo, "se é Tua vontade que eu aceite essa posição, dá-me a certeza disso." Então lhe apareceu uma coluna de fogo, que ia da terra ao céu e uma voz lhe disse, "se você puder se tornar como essa coluna, então seja um diácono." Ao ouvir isso ele decidiu nunca aceitar o encargo. Quando voltou à igreja os irmãos se inclinaram diante dele, dizendo, "se você não quer ser um diácono, pelo menos segure o cálice." Mas ele recusou, dizendo, "se vocês não me deixarem sozinho, deixarei este lugar." Então o deixaram em paz.
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Pai Theodore de Scetis disse, "um pensamento me perturba não me deixa livre; embora não seja capaz de levar-me a agir, ele simplesmente me impede de progredir na virtude; mas um homem vigilante o lançaria fora e se levantaria para rezar."
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Pai Theodore dizia, "a privação de alimento mortifica o corpo do monge." Pai Anotherold disse, "as vigílias mortificam ainda mais."
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Mãe Teodora disse, "vamos nos esforçar para entrar pela porta estreita. Como as árvores que não enfentaram as tempestades de inverno e não produzem fruto, assim é conosco; esta vida presente é uma tempestade e é através de muitas tribulações e tentações, que podemos obter a herança no reino dos céus."
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A mesma Mãe disse que um mestre deveria ser um estranho ao desejo dominação, vanglória e orgulho; ninguém deveria se capaz de enganá-lo pela adulação, nem cegá-lo com presentes, nem conquistá-lo pelo estômago, nem dominá-lo pelo ódio; mas ele deveria ser paciente, gentil e humilde tanto quanto possível; ele deveria ser testado e sem partidarismo, imbuído de responsabilidade e amor pelas almas.
Ela também disse que nenhuma forma de ascetismo, nem vigílias, nem qualquer tipo de sofrimento são capazes de salvar, mas apenas a verdadeira humildade o pode fazer. Havia um anacoreta que tinha o poder de expulsar demônios; e ele lhes perguntou, "o que os faz irem embora?" "é o jejum?" Eles replicaram, "não comemos nem bebemos." "São as vigílias?" Eles responderam, "nunca dormimos." "É a separação do mundo?" "Vivemos nos desertos." "Qual poder os expulsa então?" Eles disseram, "Nada nos pode vencer, além da humildade." "Vocês vêem como a humildade é vitoriosa sobre os demônios?"
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Foi dito de Pai John, o Anão que ele se retirou para viver no deserto de Scete com um ancião de Tebas. Seu Pai, pegando um pedaço seco de madeira plantou-o e disse a ele, "molhe-o todos os dias com uma garrafa de água, até que dê fruto." A água ficava muito distante e ele tinha que sair à noite e retornar pela manhã seguinte. Ao final de três anos a madeira reviveu e deu fruto. Então o ancião pegou alguns frutos e levou-os à igreja, dizendo aos irmãos, "peguem e comam o fruto da obediência."
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Dizia-se de Pai John, o Anão, que um dia ele disse ao seu irmão mais velho, "gostaria de ser livre de todos os cuidados, como os anjos, que não trabalham, mas prestam culto a Deus incessantemente." Então, ele retirou seu manto e foi para o deserto. Depois de uma semana ele voltou ao seu irmão. Quando bateu à porta ouviu seu irmão dizer, antes de abrir, "quem é você?" Ele disse, "sou John, seu irmão." Ao que o outro retrucou, "John se tornou um anjo e dessa maneira não mais se encontra entre os homens." O outro pediu para entrar, dizendo, "Sou eu." Contudo, seu irmão não o deixou entrar, mas o deixou lá fora, aflito, até de manhã. Então, abrindo a porta, disse-lhe, "você é um homem e deve novamente trabalhar para poder comer." Então John se prostrou diante dele, dizendo, "perdoe-me."
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Um dia, quando ele estava sentado em frente à igreja, os irmãos foram consultá-lo sobre seus pensamentos. Um dos anciãos viu e tornando-se presa do ciúme disse a ele, "John, seu vaso está cheio de veneno." Pai John respondeu-lhe, "Isto é bem verdade, Pai; e você disse isso vendo apenas o lado de fora, mas se fosse capaz de ver o interior também, o que diria, então?"
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Alguns irmãos vieram um dia para testá-lo, para ver se ele deixaria seus pensamentos se dissiparem e falasse das coisas desse mundo. Disseram-lhe então, "damos graças a Deus, pois este ano tem chovido muito e as palmeiras puderam beber e suas folhas cresceram e os irmãos encontraram trabalho manual." Pai John disse-lhes, "Então, é quando o Espírito Santo desce aos corações dos homens, eles se renovam e produzem folhas por temor a Deus."
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Era dito de Pai John, o Anão, que um dia ele estava tecendo corda para duas cestas, mas sem perceber, ele fez apenas uma, até que chegasse ao teto, pois seu espírito estava absorto em contemplação.
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Pai John disse, "sou como um homem sentado debaixo de uma grande árvore, que vê bestas selvagens e serpentes, vindo contra ele em grande número. Quando não pode mais, ele corre e sobe na árvore e se salva. É a mesma coisa comigo; sento-me em minha cela e estou consciente de pensamentos maus vindo contra mim e quando não tenho mais forças contra eles, busco refúgio em Deus pela oração e sou salvo do inimigo."
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Pai Poemen disse de Pai John, o Anão, que ele tinha rezado a Deus para que retirasse para longe dele as paixões, de modo que ele ficasse livre de preocupações. Então ele foi contar ao ancião isto; "encontro-me em paz, sem nenhum inimigo". O ancião lhe disse, "vá, implore a Deus que lhe envie as lutas de modo que você recupere a aflição e humildade que você possuia, pois é pela luta que as almas progridem." Então, ele implorou a Deus e quando as batalhas vieram ele não mais rezou que elas fossem afastadas, mas disse, "Senhor, dai-me força para a luta."
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Pai John disse, "pusemos a carga leve de um lado, que é a auto-acusação, e nos carregamos com um grande peso que é a auto-justificação."
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Ele também disse, "humildade e temor de Deus estão acima de todas as virtudes."
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Pai John deu este conselho, "vigiar significa sentar-se na cela e estar sempre presente a Deus. Isto é o que significa o dizer, "eu vigiava e Deus veio até mim."
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