Evento de abertura do semestre 1º/2025
Sessão de cinema: um casa aberta à cidade?
Evento de abertura do semestre 1º/2025
Sessão de cinema: um casa aberta à cidade?
Noite de exibição de curtas:
"Nunca é noite no mapa" - Ernesto de Carvalho, Recife, 2016, 6m
"Filme de Rua" - Joanna Ladeira, Paula Kimo, Zi Reais, Ed Marte, Guilherme Fernandes e Daniel Carneiro, Belo Horizonte, 2017, 24 min.
seguido de roda de conversa com as diretoras Joanna Ladeira e Paula Kimo.
20 de fevereiro, Quinta-feira, 19:30 às 21:30h.
Evento presencial, não é preciso inscrição prévia.
Evento de abertura das atividades do semestre: Uma casa aberta à cidade?
Amanda Malta
Julia Damas
Nos últimos tempos temos nos perguntado “o que é a casa aberta?”. Não mais sobre a proposta idealizada de fundação, mas sobre o que é e como funciona hoje este espaço que se inaugurou e ganhou vida na cidade de Belo Horizonte.
Diante dessas perguntas, recuperamos uma nomeação antiga que acompanhou a proposta do projeto desde o início: “Casa Aberta - espaço de criações psicanalíticas”. Essa apresentação marca muitas de nossas portas de entrada ( portão da casa e bio do Instagram, por exemplo), mas ficou esquecida por nós por um tempo. Hoje a recuperamos, encontrando nela um tanto do que é, para nós, este lugar.
Para aqueles que não conhecem a proposta, a Casa funciona hoje a partir de três principais frentes de trabalho: A Casa Um é a frente voltada à prática clínica, à sublocação dos consultórios por cada profissional e à proposta das supervisões e intervisões. A Casa Transmissão visa a transmissão da psicanálise através de eventos, seminários, cursos, grupos de estudo e espaços de investigação, também em interface com outros campos de saber. O Ateliê da Casa se propõe a trabalhar a interlocução da psicanálise com a arte, através de oficinas e atividades mais pontuais de cunho artístico.
Cada uma destas frentes comporta a abertura à criação e, na maioria das vezes, são propostas de pessoas, transferidas com a psicanálise, que buscam um espaço na cidade que acolha suas propostas e invenções, o que nos faz pensar a função da Casa como causa aberta, como um lugar capaz de acolher e impulsionar desejos de trabalho nos mais diversos âmbitos. Há aqui um espaço, ou uma abertura que convida à invenção, nos coloca a trabalho e traz como efeito, para alguns dos frequentadores da Casa, sentir-se “à vontade para dizer e para propor”.
Pois bem, mas como pensar este espaço de criação na cidade ou para a cidade?
Mais do que pensar numa abertura de um portão ou fantasiar um dia uma casa sem muros, na Casa Aberta, trabalhamos hoje com uma abertura simbólica para a porosidade do discurso do inconsciente aqui neste lugar e quem sabe, nas tramas da cidade. Em um encontro recente com Rogério Passos (arquiteto e urbanista) ele nos contou que, na perspectiva do urbanismo, para que um espaço se torne um lugar, é preciso uma subjetivação, ou seja, é preciso que este espaço seja apropriado pelos sujeitos, fazendo com que cada um, que por aqui circula, o insira em seu próprio mapa, em seu circuito de desejo.
Assim, inaugurando o 3º ano de vida da Casa Aberta, nesta noite, mergulhamos nas possibilidades deste espaço se tornar um lugar, um lugar na cidade, um ponto de referência no mapa, mas que o extrapole, marcando a forma singular como cada um habita este espaço e o demarca em seu próprio mapa, bem como nos convida Ernesto de Carvalho no curta “Nunca é noite no mapa” .
A região no mapa à qual a Casa Aberta pertence, é a mesma onde foi rodado o curta Filme de Rua, que exibiremos também nesta noite , aliás, na pracinha onde boa parte do curta é filmado está uma das casas que visitamos e onde desejamos fundar a Casa Aberta. Hoje um outro coletivo de psicanálise, chamado Uma casa, fundou-se naquele espaço. No recorte dos minutos de rodagem do filme, estamos em um mesmo espaço no mapa, mas sabemos que não ocupamos um mesmo lugar. Essa cisão, não só territorial, o curta retrata com genialidade, deixando a nós perguntas sobre o que nos cerca, o que divide muro com a Casa e acontece do lado fora, tão próximo e tão distante, o que entra, o que sai, o que permeia ou não este lugar.
Finalizamos, instigando o desejo para assistirmos aos curtas, recuperando uma provocação de “Nunca é noite no mapa”. Há uma passagem que diz: “vai sair quem quiser, quem não quiser fica”, isso nos fez pensar como a ética do desejo é mesmo uma ética política, de luta por direitos. Quem são aqueles que têm o direito de operar com o desejo nas tramas da cidade e assim ocupar e fazer de espaços seus lugares?
Termino com essa pergunta e passo a palavra para Heitor, Paula e Joanna.