Este tópico aborda uma variedade de conceitos e técnicas que permitirão uma maior consciência e melhor manejo de proporções. Com treino, visualizar relações visuais-espaciais - tamanhos, distâncias, ângulos, alinhamentos e espaços negativos - se torna mais intuitivo, ágil e eficiente; assim, vale a pena dedicar algum tempo e esforço para entender e aprimorar essa habilidade tão fundamental para o desenho.
Proporção é um componente relacional de um desenho: ao pensarmos sobre proporções, precisamos considerar uma coisa em relação a outra(s). Por exemplo: tamanho da altura em relação ao tamanho da largura; comprimento de uma linha comparado com o comprimento de outra linha próxima; a distância de um ponto a outro comparativamente à distância de outros dois pontos diferentes; a posição de uma parte do desenho no papel e sua relação com a posição de outra parte.
Aqui, usamos a palavra "proporção" como sinônimo de "relações espaciais": o modo como os elementos visuais se integram em um espaço!
O melhor instrumento para visualizar proporções ao desenhar já nasceu com a gente: é o nosso "olhômetro". Idealmente, queremos ser capazes de analisar e julgar as proporções de nossos desenhos apenas com o "golpe de vista".
Para a maioria de nós, porém, calibrar o "olhômetro" leva muitos, muitos e muitos anos. É um processo que vai se concretizando pouco a pouco à medida que praticamos o desenho. Com tempo e bastante treino, é possível que consigamos, em muitos casos, manejar as proporções de nossos desenhos usando apenas o ato de olhar.
Enquanto isso, podemos utilizar um instrumento adicional que ajuda na afinação do "olhômetro" e que, convenientemente, já está na ponta dos nossos dedos: o lápis.
Utilizamos o próprio lápis para aferir - ou seja, visualizar, examinar - quatro principais tipos de relações espaciais que compõem o que entendemos por "proporção" entre os elementos gráficos que constituem o desenho:
Alinhamentos - comparamos duas partes do desenho e observamos se estão alinhadas entre si ou se uma está mais alta que a outra, ou mais baixa, ou mais à direita, ou mais à esquerda, e o quanto.
Tamanhos (às vezes, também chamados, genericamente, de "proporções" mesmo) - usamos o lápis para medir um tamanho de referência (que chamamos de "unidade básica") e o comparamos com os tamanhos de outras partes do desenho e daquilo que estamos observando para desenhar. Por exemplo, podemos medir a altura da cabeça de um personagem e comparar com o altura do corpo: pode ser que o corpo tenha "3 cabeças" de altura, ou "5 cabeças", ou "7 cabeças e meia". Aferir tamanhos vale também para os espaços negativos: podemos medir a distância do topo do objeto até a borda do papel e compararmos com a distância da base desse mesmo objeto até a borda da folha.
Angulações - toda aresta que não é vertical, nem horizontal, é uma diagonal - mas o quão diagonal? Arestas inclinadas estão dentro de um espectro, e, para melhor manejar as proporções no desenho, é útil termos clareza sobre o grau de inclinação das arestas diagonais que desenhamos. Não precisa ser preciso, não queremos saber graus em números; queremos apenas enxergar, visualmente, como é a intensidade da inclinação. Utilizando o lápis, podemos, de forma satisfatória, visualizar as angulações observáveis para desenhar.
Veja o vídeo abaixo para uma explicação mais detalhada, com exemplos visuais, sobre como utilizar o lápis para aferir relações espaciais ao desenhar:
Duração: 12'44"
Aferir relações espaciais com o lápis é super útil, e podemos usar essa técnica sempre que precisarmos. Mas vale lembrar: no final das contas, o julgamento do "olhômetro" é soberano! O olhar é o que queremos treinar e afinar, e o desenho, em termos de proporções, deve funcionar bem visualmente - olhou, colou.
Todo desenho é uma composição: um conjunto de elementos gráficos que compartilham a área da folha de papel em uma "configuração" específica. E toda composição é feita de formas positivas (a figura em si, a coisa que está desenhada) e espaços negativos (áreas vazias em volta da figura).
Por mais que, quase sempre, estejamos mais acostumados a prestar atenção apenas nas formas positivas ao desenhar, é importante lembrar que os espaços negativos também fazem parte da composição. Mais que isso: os espaços negativos são tão importantes quanto as formas positivas no desenho.
Faz sentido: ao desenhar uma figura, estamos definindo como é essa figura no desenho, a forma que ela tem, o espaço que ela ocupa no papel. Automaticamente, ao definirmos essa figura, também estamos definindo tudo o que não é a figura. As áreas não desenhadas - o fundo, o vazio, os espaços negativos - são o "outro lado da moeda" da composição, e são elas que completam o "todo" que é o desenho.
Ao desenharmos, é fundamental nos tornarmos sensíveis à existência e à importância que os espaços negativos têm.
E eis uma vantagem adicional: os espaços negativos ajudam muito no manejo das proporções. Isso, porque os espaços negativos são sempre formas abstratas - apenas formas. E é sempre muito mais fácil desenhar apenas formas aleatórias do que desenhar um rosto, uma mão ou um personagem - né?
Experimente o seguinte: quando for fazer um desenho de observação, em vez de desenhar a figura, comece desenhando os espaços negativos. "Ignore" a figura por alguns minutos e construa o seu esboço a partir das formas abstratas que você perceber observando os espaços negativos.
Tente isto também: sempre que sentir dificuldade com proporções em um desenho, direcione sua atenção para os espaços negativos. Observe a forma desses espaços, seus tamanhos, posições, distâncias. É muito provável que essa mudança de foco te leve a olhar o desenho de maneira diferente e ajude a entender melhor que ajustes precisam ser feitos quanto às proporções.
Veja o vídeo abaixo para mais informações sobre espaços negativos.
Duração: 8'20"
Assista o vídeo abaixo para uma demonstração narrada de um desenho linear a partir da observação no qual utilizei o conceito de espaços negativos de forma combinada às técnicas de aferição de relações espaciais.
Duração: 8'20"
Busque por fotos de objetos, pessoas ou personagens nas quais seja possível visualizar facilmente as formas dos espaços negativos. Ignore o objeto na imagem e desenhe apenas os espaços negativos. Fique atento à forma dos contornos desses espaços: da mesma forma como na prática com arestas, os contornos dos espaços também são apenas linhas retas e curvas.
Dica: para este exercício, é bem melhor se as imagens tiverem fundo liso e se as arestas mais externas do objeto na foto tocarem as bordas da imagem - isso "fecha" os espaços negativos em volta e facilita sua visualização. Veja abaixo alguns exemplos:
Agora, complete os desenhos do exercício anterior adicionando as linhas "internas": as arestas da figura propriamente dita! Inspire-se nos exercícios das aulas passadas e tente "esquecer" o conceito da figura ou o que ela representa - concentre-se apenas nas informações visuais: linhas retas, linhas curvas, espaços, distâncias, alinhamentos, posição, angulação, direção... lembre-se de que todo desenho nada mais é do que linhas no papel.
Procure uma imagem de referência da sua preferência. Faça um desenho linear completo aplicando seus conhecimentos de proporções e espaços negativos de forma integrada. Observe o seu processo de desenho, perceba os pontos em que as dificuldades surgem. Anote suas dúvidas e leve-as para discutir com o professor. É assim que se aprende!
Quer expandir seus estudos? Aqui vão algumas sugestões de que você pode gostar.
(Vídeo) Autor: Proko
Achou mais alguma coisa por aí que pode ser útil como material complementar?
Compartilha com o professor: liandroroger@virtual.ufc.br