A linha é o elemento mais básico do desenho. Se aprender a desenhar é, antes de tudo, aprender a ver, vamos começar compreendendo e praticando a habilidade mais básica do desenho: visualizar os contornos das formas e representá-los através de linhas. Vamos também explorar como usar o lápis de formas diferentes para produzir diferentes tipos de linhas, pois cada tipo é importante para as diferentes etapas e objetivos no processo de desenhar.
Para desenhar, existe mais de um jeito de segurar o lápis.
Durante o processo de desenho, há momentos em que queremos maior precisão e controle, e, para isso, seguramos o lápis da forma "tradicional" - do mesmo jeito que usamos para escrever: com dois ou três dedos, próximo da ponta, e fazemos movimentos curtos utilizando a articulação do punho ou até somente movimentos com os dedos. Geralmente, essa forma de segurar permite um bom apoio, mas restringe a área que conseguimos alcançar com nossos traços. É uma boa forma de usar o lápis em um momento posterior do processo desenho - por exemplo, quando queremos dar definição às linhas ou adicionar detalhes.
Contudo, há outros momentos do processo de desenhos nos quais, em vez de controle ou precisão, o que queremos é soltura, amplitude, leveza e expressividade. A forma tradicional de usar o lápis não ajuda nisso, e é por isso que é útil treinar uma outra forma.
Para começar, experimente, simplesmente, segurar o lápis mais longe da ponta do grafite. Só essa pequena mudança já pode ajudar a produzir um traço mais leve, extremamente útil durante a fase de esboço.
Para dar um passo além disso, em vez de segurar como se fosse para escrever, imagine que você vai pegar no lápis como quem pega no guidón de uma bicicleta - só que, em vez de pegar com a mão inteira, pegue apenas com a ponta dos dedos. Esse é o chamado overhand grip, ou "pegada com a mão por cima". Essa é a forma mais eficaz de segurar o lápis para produzir traços realmente soltos e expressivos - se, algum dia, você já sentiu dificuldade ao desenhar círculos ou linhas longas, praticar um pouco essa pegada pode ajudar muito. Com essa pegada, você não desenha usando a ponta do grafite, e, sim, a lateral - o resultado é um traço mais fluido e menos definido, o que é justamente o que buscamos ao fazer um esboço. Junto com o overhand grip, é importante notar que, ao riscar, todo o seu braço deve se movimentar: a origem do movimento do seu braço vem do ombro, não do punho. Movimentar o braço a partir do ombro vai te permitir movimentos amplos, fluidez e segurança para desenhar qualquer linha que queira.
No começo, talvez pareça meio estranho segurar o lápis de uma forma nova. Mas procure relaxar, ter paciência e praticar um pouco; aos poucos, você vai pegar o jeito, e, com o tempo, vai perceber um grande salto na sua habilidade de fazer esboços.
Veja, abaixo, uma demonstração dessas diferentes formas e algumas variações delas.
Duração: 13'48"
Linhas não existem no mundo real. Elas são um artifício que utilizamos, no desenho, para descrever a forma visual das coisas.
Ao observar objetos tridimensionais, conseguimos perceber arestas - limites, bordas, separações entre as coisas. E, ao desenhar, representamos as arestas que percebemos com o uso de linhas.
Mas a percepção de arestas é algo relativamente subjetivo. O desenhista não é um "espelho puro" daquilo que vê. Entre as arestas observáveis e as linhas que usamos no desenho para representá-las, existe o filtro criativo da percepção e interpretação do desenhista. Ao tentarmos desenhar algo a partir da observação, inevitavelmente, "destilamos" e, em algum nível, modificamos o que vemos a partir de nossa compreensão para poder desenhar. O desenho é, sempre, uma representação, e, por isso, não é o objeto real que ele representa - e nem precisa ser. Nesse sentido, todo desenho é fruto da interpretação subjetiva do desenhista. É por isso que, se duas pessoas desenharem uma mesma coisa, cada uma produzirá um desenho diferente.
Assim, nosso trabalho, aqui, será: 1) observar; 2) identificar arestas visíveis a partir de nossos conhecimentos e experiência; e 3)"traduzir" essas arestas em linhas.
Veja abaixo uma explicação com exemplos visuais.
Duração: 8'29"
Em 1979, a artista e educadora Mona Brookes elaborou uma síntese dos "elementos básicos da forma". Eles funcionam como um conjunto de partes, componentes que podem ser modificados e combinados e a partir dos quais podemos construir as formas que comporão um desenho linear - seja ele qual for.
Resumindo ainda mais, podemos reduzir o "alfabeto" do desenho a dois elementos essenciais: linhas retas e linhas curvas.
É importante notar que, dentro dessas duas categorias, existem inúmeras possíveis variações. Uma linha reta pode ser horizontal, vertical, diagonal em diversas angulações, longa, curta, firme, oscilante... da mesma forma, uma linha curva pode ter uma forma similar à letra C, ou à letra S, pode ser uma curva suave ou intensa, longa ou curta, pode ser uma espiral, uma sequência de ondulações, pode ser uma curva regular ou aleatória, simétrica ou assimétrica... o treino da observação atenta é o que nos permitirá discernir e escolher que tipo de linha usar em cada momento e em cada parte do desenho.
O vídeo abaixo traz uma proposta de exercício que pode ajudar a entender como identificar os "elementos básicos da forma" (essencialmente, linhas retas e curvas) até mesmo em formas extremamente complexas como uma fotografia de rosto.
Duração: 2'28"
Nos vídeos abaixo, você pode assistir algumas demonstrações do processo de desenho a partir da utilização dos conceitos de arestas e elementos básicos da forma no intuito de se produzir um desenho linear - construído apenas com linhas.
Obs.: os vídeos não têm som.
Duração: 3'55"
Duração: 4'16"
Depois de "soltar a mão" e se sentir confiante para criar esboços, é bem provável que chegue um momento em que vamos querer que o nosso desenho não tenha mais tanto uma "cara de esboço". Que possa ser um desenho mais polido, finalizado, conforme nossas intenções de como desejamos que ele seja visto.
Assim, há mais dois conceitos relativos a linhas com os quais podemos nos familizar: valor linear e expressão linear.
Valor linear é o quão clara ou escura é uma linha. Em geral, quando falamos de "valor" no desenho, consideramos uma escala crescente do escuro para o claro: uma linha escura tem uma "baixa valoração"; uma linha clara tem um "valoração alta". Ou, simplesmente, nos referimos à qualidade da linha como clara ou escura.
Expressão linear é o conjunto dos demais aspectos visuais que caracterizam uma linha. Grossa, fina, mecânica, orgânica, segura, trêmula, variante, contínua, interrompida, dispersa, rígida, suave, áspera... todas as qualidades estéticas que podemos perceber visualmente e semanticamente por meio da forma como uma linha é desenhada.
Após fazer um esboço, para finalizar o desenho, você pode direcionar sua atenção para esses aspectos e, assim, começar a ter uma consciência mais deliberada sobre o tipo de acabamento que você espera alcançar.
Abaixo, veja explicações adicionais e um exemplo de como utilizar diferentes tipos de linhas na hora de finalizar um desenho.
Duração: 12'23"
Faça um desenho livre organizando conscientemente o seu processo de desenho nas seguintes etapas: 1) esboço; 2) desenvolvimento; e 3) acabamentos.
Partindo de um esboço já iniciado antes, experimente finalizá-lo usando diferentes tipos de valores e expressões lineares.
Olhe para o mundo à sua volta e tente perceber os contornos das coisas. Você consegue identificar os elementos básicos da forma? Onde você vê linhas retas? E curvas? Talvez linhas angulares, círculos ou pontos?
Pense um pouco sobre o seu próprio processo de desenho: você consegue "esquecer" o conceito daquilo que você está vendo e enxergar tudo apenas como linhas, arestas e formas? Por exemplo: ao desenhar um rosto, é possível (por alguns momentos, que seja) não pensar que aquilo é um rosto, e sim apenas um conjunto de arestas, linhas retas e curvas, em diferentes tamanhos e direções?
Busque por imagens que você ache interessantes. Utilize-as como referência para praticar o desenho de observação.
Se não souber onde procurar imagens, recomendo estes sites:
...ou o bom e velho "Google Imagens". Apenas pesquise um tema ou palavra-chave que te interesse.
Quer expandir seus estudos? Aqui vão algumas sugestões de que você pode gostar.
(Vídeo). Autor: Proko
GRATUITO
(Vídeo) Autor: Proko
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