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Laura e Ricardo se conheceram em uma tarde ensolarada no campus da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Laura, uma estudante de literatura, era conhecida por sua paixão pelos livros e por sua personalidade introspectiva. Vinda de uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, ela trazia consigo um profundo amor pela poesia e pelas artes, algo que herdara de sua avó, uma professora aposentada que a incentivara desde criança a explorar o mundo através das palavras.
Naquele dia específico, Laura estava sentada em um banco debaixo de uma frondosa árvore, completamente absorvida em um livro de poesias que estava estudando para um seminário. As palavras no papel a transportavam para mundos diferentes, longe do burburinho do campus universitário. Ela era uma figura serena, com longos cabelos castanhos e olhos expressivos que refletiam a profundidade de seus pensamentos.
Ricardo, por sua vez, estava apressado para uma aula de cálculo avançado, tentando organizar seus pensamentos sobre uma complexa equação que precisava resolver. Com o vento repentino que surgiu, alguns papéis de seu caderno voaram pelo ar, flutuando até pousarem aos pés de Laura. Enquanto se aproximava para recolher os papéis, Ricardo notou o olhar gentil e curioso de Laura, que lhe ofereceu um sorriso tímido ao devolver os papéis. Aquele momento, embora breve, foi suficiente para estabelecer uma conexão instantânea entre os dois. Ele ficou surpreso com a gentileza e a serenidade de Laura.
— Obrigado — disse Ricardo, um pouco sem fôlego e sem saber exatamente como continuar a conversa.
— De nada — respondeu Laura, com um sorriso gentil. — Parece que o vento queria nos apresentar.
Ricardo riu, aliviado pela quebra de tensão. — É, parece que sim. Eu sou Ricardo, estudante de engenharia. E você?
— Laura, literatura. — Ela mostrou o livro de poesias que estava lendo.
— Poesia, hein? — Ricardo disse, curioso. — Eu nunca entendi muito de poesia, mas sempre admirei quem tem esse talento. Você poderia me ensinar um pouco, talvez?
— Claro, quem sabe um dia — respondeu Laura, animada com a curiosidade genuína de Ricardo.
Eles continuaram a conversar por um tempo, esquecendo-se completamente do motivo pelo qual estavam apressados. No fim da conversa, trocaram números e prometeram se encontrar novamente.
No segundo encontro, Ricardo convidou Laura para tomar um café em um charmosa cafeteria próximo ao campus. O lugar era aconchegante, com mesas de madeira polida que exalavam um leve perfume de cera de abelha e paredes decoradas com quadros de artistas locais. Cada canto da cafeteria parecia contar uma história, com livros antigos empilhados em estantes de madeira e pequenos vasos de flores frescas adornando as mesas. O aroma de café recém-moído pairava no ar, misturando-se com o cheiro doce de bolos e tortas que saíam do forno.
Laura chegou primeiro e escolheu uma mesa perto da janela, de onde podia observar o movimento na rua. O vidro da janela estava levemente embaçado pelo calor do interior da cafeteria, criando uma atmosfera ainda mais acolhedora. Ela observava os pedestres apressados, os estudantes carregando pilhas de livros e as bicicletas que passavam apressadas pelo campus.
Ricardo chegou logo depois, sorrindo ao vê-la. — Espero que você goste deste lugar — disse ele, sentando-se e ajeitando a cadeira para ficar mais próximo de Laura.
— Eu adorei. É perfeito — respondeu Laura, apreciando a atmosfera encantadora e o som suave da música instrumental que tocava ao fundo.
Eles pediram seus cafés, Ricardo optando por um expresso forte e Laura escolhendo um cappuccino cremoso com um toque de canela. Enquanto aguardavam, continuaram a conversa do primeiro encontro. Ricardo contou sobre seu interesse por engenharia e como adorava desmontar coisas para entender como funcionavam, desde brinquedos na infância até computadores na adolescência.
— Lembro-me de uma vez em que desmontei o rádio do meu pai só para ver como era por dentro. Ele ficou furioso, mas depois ficou impressionado quando consegui montar tudo de novo e fazer funcionar — disse Ricardo, rindo.
Laura sorriu, fascinada pela paixão de Ricardo. — É incrível como você tem essa curiosidade e habilidade para entender as coisas. Eu sempre fui mais inclinada a me perder nas palavras, criando mundos e personagens únicos — contou ela, seus olhos brilhando de entusiasmo.
— E como você começou a escrever? — perguntou Ricardo, interessado.
— Minha avó era professora de literatura. Ela me incentivou desde pequena a ler e a escrever. Lembro-me de passar horas ouvindo suas histórias e imaginando as minhas próprias. Escrever é uma forma de me expressar e de explorar diferentes perspectivas — explicou Laura, sentindo-se à vontade para compartilhar sua paixão.
Enquanto conversavam, descobriram que compartilhavam muitos interesses além de suas áreas de estudo. Ambos adoravam caminhadas ao ar livre, onde podiam se desconectar do mundo e se conectar com a natureza. Laura mencionou seu amor por trilhas na mata atlântica e como adorava observar a flora e a fauna local.
— Eu também adoro caminhadas. Tem um parque perto da minha casa onde vou para clarear a mente depois de um dia longo — contou Ricardo.
Eles também descobriram uma paixão mútua por filmes clássicos. — Sempre quis assistir a "Casablanca" — comentou Laura, sorrindo. — Já ouvi tantas coisas boas sobre esse filme.
— Coincidência, também está na minha lista! — disse Ricardo, animado. — Que tal assistirmos juntos no nosso próximo encontro?
Eles concordaram em assistir ao filme juntos e continuaram a conversar sobre suas paixões e sonhos. A conversa fluiu naturalmente, e ambos sentiram que haviam encontrado alguém especial, alguém com quem podiam ser eles mesmos. O tempo passou rápido naquele café aconchegante, e quando perceberam, já estavam conversando há horas, envolvidos na magia do momento.
Para o terceiro encontro, Ricardo sugeriu que assistissem a um filme clássico no pequeno cinema local. Originalmente, eles haviam pensado em assistir "Casablanca", mas o cinema não tinha essa opção em cartaz. Em vez disso, escolheram "Meia-noite em Paris", um filme que ambos ainda não tinham assistido, mas que estavam ansiosos para ver.
O cinema era encantador, uma joia escondida no coração da cidade. Com poltronas confortáveis e uma atmosfera que remetia aos tempos antigos, era como se eles estivessem sendo transportados para uma outra era assim que atravessaram a porta. O hall de entrada exibia pôsteres de filmes clássicos emoldurados, e o ar estava permeado pelo aroma irresistível de pipoca recém-feita. As luzes eram suaves, e as paredes estavam decoradas com quadros de cenas icônicas do cinema, criando um ambiente acolhedor e nostálgico.
Sentaram-se lado a lado, as mãos quase se tocando nas poltronas acolchoadas, e durante o filme, compartilharam momentos de risadas e emoções. "Meia-noite em Paris" os envolveu em sua narrativa mágica, transportando-os para a Paris dos anos 1920, repleta de personagens históricos e momentos encantadores. Eles riam juntos das situações cômicas e suspiravam com os encontros românticos, sentindo a magia da história e das atuações.
Quando o filme terminou, ambos estavam imersos em um estado de euforia e contentamento. Saíram do cinema eufóricos, como se estivessem sob o feitiço do filme. Ricardo sugeriu uma caminhada pelo parque próximo ao cinema, e Laura concordou com entusiasmo. A noite estava estrelada, e uma brisa suave acariciava suas faces enquanto caminhavam por entre as árvores e os canteiros de flores.
O parque era tranquilo e seguro, com caminhos iluminados por postes de luz antigos que lançavam um brilho suave e dourado. O som suave da água correndo em uma fonte próxima complementava a serenidade do ambiente. Ricardo e Laura discutiam as cenas e as mensagens do filme, encantados pela profundidade e pela beleza da narrativa.
— Eu adorei o filme — disse Laura, olhando para o céu estrelado. — É incrível como um filme lançado já há vários anos pode ainda ressoar tanto nos dias de hoje.
— Concordo — respondeu Ricardo. — E ainda melhor assistir com alguém que aprecia tanto quanto eu.
Continuaram a caminhar, absorvendo a tranquilidade do parque. Eles passaram por um pequeno lago, onde o reflexo das estrelas na água criava uma visão deslumbrante. Os bancos de madeira ao longo do caminho ofereciam um convite silencioso para que se sentassem e apreciassem a noite.
Chegaram a uma praça no centro do parque, onde uma antiga estátua de mármore se erguia majestosa, rodeada por arbustos bem cuidados e flores que exalavam um perfume suave. Sentaram-se em um dos bancos e continuaram conversando, mergulhando cada vez mais nas nuances do filme e em suas próprias reflexões sobre a vida.
Ricardo, sentindo a conexão crescer a cada palavra trocada, pegou a mão de Laura com delicadeza enquanto caminhavam de volta. O gesto foi natural e confortável para ambos, um símbolo da intimidade e da confiança que estavam construindo.
— Estou realmente feliz que tenhamos vindo aqui esta noite — disse Ricardo, sorrindo.
— Eu também, Ricardo. Esta noite foi especial. — respondeu Laura, retribuindo o sorriso.
Os dois continuaram a caminhar de mãos dadas, saboreando cada momento juntos, sob o céu estrelado. A mágica daquela noite ficaria gravada em suas memórias como um marco especial no início do relacionamento deles.
Nos encontros seguintes, Laura e Ricardo continuaram a explorar suas paixões e a descobrir novos interesses em comum. Eles passaram tardes na biblioteca da universidade, mergulhando no vasto mundo dos livros. Laura, com seu amor pela literatura, ajudava Ricardo a encontrar livros que ele pudesse gostar. Ela apresentava a ele desde romances clássicos até contos contemporâneos, sempre buscando algo que pudesse despertar seu interesse. Ricardo, por sua vez, explicava conceitos de física e matemática de forma simples e envolvente, encantando Laura com a beleza e a lógica das ciências exatas.
— Nunca imaginei que a física pudesse ser tão fascinante — admitiu Laura, enquanto Ricardo desenhava diagramas e explicava teorias com entusiasmo.
— E eu nunca pensei que encontraria tanta magia nas palavras dos livros que você me mostrou — respondeu Ricardo, folheando um exemplar de poesias que Laura havia recomendado.
Além das visitas frequentes à biblioteca, também exploraram museus de arte e ciência na cidade. Um dos museus favoritos de Laura era o Museu de Arte de Blumenau, onde passavam horas admirando as exposições de artistas locais e internacionais. Ricardo, que inicialmente não tinha tanto interesse por arte, começou a apreciar as nuances das pinturas e esculturas, aprendendo mais sobre a história e as técnicas por trás de cada obra.
— Este quadro é incrível. Nunca tinha notado como as cores podem expressar emoções tão profundas — comentou Ricardo, enquanto observavam uma pintura abstrata.
— A arte tem esse poder de tocar a alma de maneiras inesperadas — respondeu Laura, sorrindo.
Outra experiência marcante foi a visita ao Museu WEG de Ciência e Tecnologia, onde Ricardo se sentia em casa. Laura ficou maravilhada com as exibições interativas que explicavam princípios científicos de forma lúdica e educativa. Eles se divertiram experimentando juntos, compartilhando risadas e aprendendo um com o outro.
— É como voltar a ser criança e redescobrir a curiosidade pelo mundo — disse Laura, enquanto manipulava um experimento que demonstrava a força centrífuga.
E como esse museu é em Jaraguá do Sul, ainda tem a beleza da viagem e uma visita obrigatória a "Chiesetta Alpina", uma pequena Igreja Católica localizada em cima do morro Boa Vista, que oferece uma vista espetacular da cidade. E lá de cima, olhando a cidade ao entardecer, Ricardo, com um brilho nos olhos, declara de mansinho para Laura:
— É maravilhoso poder compartilhar isso com você, meu amor!
Certa vez, foram a um concerto de música clássica no Teatro Carlos Gomes, uma experiência nova para Ricardo, que saiu encantado pela beleza e profundidade das composições que Laura tanto amava. O Teatro Carlos Gomes, com sua arquitetura imponente e elegância atemporal, era um verdadeiro tesouro cultural. As paredes internas eram adornadas com molduras ornamentadas e quadros que retratavam cenas históricas. O teto, decorado com afrescos detalhados, parecia transportar os espectadores para uma outra era.
O concerto foi uma noite inesquecível. Sentados lado a lado nas confortáveis poltronas de veludo vermelho, assistiram à orquestra executar obras de compositores renomados, como Beethoven e Mozart. Cada nota parecia ressoar em suas almas, criando uma conexão profunda e mágica entre eles.
— Eu nunca imaginei que a música clássica pudesse ser tão emocionante — confessou Ricardo, visivelmente tocado pela performance.
— Fico feliz que tenha gostado. A música tem uma forma única de nos conectar com nossas emoções mais profundas — respondeu Laura, com os olhos brilhando de satisfação.
Após o concerto, caminharam pelo jardim do teatro, onde grandes árvores e flores coloridas criavam um ambiente sereno e romântico. As luzes suaves dos postes de iluminação e o som distante dos grilos completavam a atmosfera encantadora.
Esses encontros fortaleceram ainda mais o vínculo entre eles, mostrando que, apesar de suas diferenças, tinham uma conexão profunda que os unia. Juntos, Laura e Ricardo descobriram que podiam crescer como indivíduos e como um casal, compartilhando suas paixões, apoiando-se mutuamente e enfrentando os desafios da vida com amor e compreensão.
Cada nova experiência compartilhada, desde a leitura de um livro até a admiração de uma obra de arte, solidificava a confiança e a intimidade entre eles. Eles aprenderam a valorizar as diferenças um do outro e a apreciar as novas perspectivas que traziam para a relação. E, assim, seu amor floresceu, alimentado pela descoberta constante e pelo apoio mútuo.
Após a formatura, vieram os desafios do mundo real, com as peculiaridades que afetam a vida de quem tem responsabilidades e precisa cumprir metas, lutar para ter seu espaço, seu sustento. Ricardo conseguiu um emprego em uma empresa de engenharia, enquanto Laura trabalhava como professora e escrevia nas horas vagas. A vida adulta trouxe consigo problemas financeiros e a pressão de equilibrar o trabalho com a vida pessoal. Ricardo e Laura descobriram rapidamente que a vida fora da universidade era muito mais complexa e desafiadora do que imaginavam. Os salários de ambos eram modestos, e o custo de vida em Blumenau não era exatamente baixo. Logo, eles se viram apertando os cintos para pagar as contas mensais, como aluguel, luz, água e alimentação. As despesas inesperadas também começaram a aparecer, como consertos no carro de Ricardo e a necessidade de comprar materiais para a escola onde Laura lecionava. A falta de dinheiro muitas vezes levava a discussões acaloradas sobre prioridades e gastos, o que gradualmente minava o encanto dos primeiros momentos de namoro. Ambos estavam exaustos de tentar equilibrar suas finanças enquanto se esforçavam para manter um relacionamento saudável e amoroso.
Além das dificuldades profissionais, Ricardo enfrentava cobranças constantes de seus pais sobre sua carreira. Eles tinham grandes expectativas para ele, esperando que rapidamente alcançasse sucesso e estabilidade financeira. Ricardo se via frequentemente pressionado por comparações com os filhos dos amigos da família, que pareciam sempre estar um passo à frente em termos de realizações profissionais e financeiras. Essa pressão se intensificou quando Laura descobriu que estava grávida. A notícia da gravidez, embora inicialmente recebida com alegria, logo trouxe à tona as preocupações sobre suas finanças limitadas e a responsabilidade de criar um filho. Ricardo, ainda jovem e com pouca maturidade, começou a sentir o peso dessas responsabilidades. Ele se via sobrecarregado pelo medo de não ser capaz de prover adequadamente o sustento para sua nova família e de não atender às expectativas de seus pais. As constantes cobranças sobre sua carreira aumentavam a sensação de insuficiência, e ele passou a questionar suas próprias capacidades.
Ricardo, ainda jovem e com pouca maturidade, começou a sentir o peso dessas responsabilidades. Cada dia no trabalho parecia um teste de sua capacidade, e cada dificuldade uma prova que ele temia não passar. Ele se via sobrecarregado e exausto. As cobranças de seus superiores e as comparações com colegas que pareciam prosperar sem esforço só aumentavam sua ansiedade.
Em casa, Ricardo sentia-se como uma bomba-relógio prestes a explodir. As constantes cobranças sobre sua carreira aumentavam a sensação de insuficiência, e ele passou a questionar suas próprias capacidades. Sua mente estava constantemente atormentada por perguntas: “E se eu não conseguir? E se eu decepcionar Laura e nossos futuros filhos? E se meus pais estiverem certos e eu não estiver preparado para tudo isso?” Essas dúvidas o corroíam por dentro, e ele frequentemente se pegava acordado até tarde, revivendo cada pequena falha e erro do dia.
Laura, por outro lado, tinha uma perspectiva completamente diferente. Embora também sentisse a pressão, sua determinação em enfrentar as dificuldades era inabalável. Vinda de uma família que sempre lutou para superar obstáculos, ela tinha uma resiliência natural. Para Laura, cada desafio era uma oportunidade de crescimento, uma chance de provar para si mesma e para o mundo que eles podiam superar qualquer obstáculo juntos.
Quando Laura descobriu que estava grávida, ela foi tomada por uma mistura de alegria e preocupação. Sabia que as coisas seriam difíceis, mas estava decidida a fazer tudo o que fosse necessário para criar seu filho. Ela frequentemente conversava com Ricardo sobre suas preocupações, tentando confortá-lo e incentivá-lo a ver as coisas de uma perspectiva diferente.
— Ricardo, eu sei que as coisas estão difíceis agora, mas nós podemos superar isso juntos. O nosso amor é forte e podemos enfrentar qualquer coisa — dizia Laura, segurando suas mãos com firmeza.
Porém, as discussões entre eles se tornaram frequentes. Ricardo, sentindo-se cada vez mais sufocado pelas pressões e suas próprias inseguranças, muitas vezes reagia de forma defensiva. A situação chegou a um ponto crítico quando Ricardo confessou que não se sentia preparado para ser pai e que os medos e as pressões de sua família o estavam influenciando profundamente.
— Laura, eu não sei se posso fazer isso. Tenho medo de não ser bom o suficiente, de não conseguir sustentar nossa família. Meus pais continuam dizendo que eu não deveria ter estragado minha vida com uma gravidez tão cedo — desabafou Ricardo, a voz trêmula e os olhos cheios de lágrimas.
Laura, com sua habitual força e determinação, respondeu:
— Eu entendo o seu medo, Ricardo. Mas nós temos algo que muitas pessoas não têm: amor e dedicação um pelo outro. Nós podemos aprender e crescer juntos. Vamos enfrentar isso um dia de cada vez, mas precisamos estar unidos.
Ricardo olhou para ela, tentando encontrar a força e a esperança que sempre via nos olhos de Laura. Ele sabia que, apesar de todas as suas inseguranças, não estava sozinho. E, no fundo, desejava acreditar que, com Laura ao seu lado, eles poderiam realmente superar qualquer desafio.
Com os problemas financeiros pairando sobre eles e a pressão familiar se tornando insuportável, Ricardo e Laura se viram forçados a tomar uma decisão difícil e completamente monstruosa, indo contra tudo o que sempre desejaram. Após muitas conversas dolorosas e noites sem dormir, eles tomaram uma decisão que carregava um peso imensurável: interromper a gravidez, acreditando que essa era a única saída para o momento que viviam.
A decisão foi uma das mais difíceis que ambos já tiveram que enfrentar, deixando marcas profundas em seus corações. Cada palavra trocada durante aquelas noites intermináveis estava impregnada de dor, incerteza e desespero. O vazio que essa escolha trouxe consigo era avassalador, um buraco negro que parecia sugar toda a esperança e alegria de suas vidas.
Laura, que sempre sonhou em ser mãe, sentia um vazio imenso e insuportável, como se uma parte de sua alma tivesse sido arrancada. A ausência da vida que ela carregava tornou-se uma ferida aberta, latejante, que lembrava constantemente daquilo que havia sido perdido. Ricardo, por sua vez, sentia-se um fracasso absoluto, incapaz de proteger e sustentar a família que tanto desejava. A sensação de impotência e culpa corroía sua autoestima e sua confiança, transformando cada dia em um desafio emocional.
Após o terrível episódio, o silêncio entre eles passou a ocupar a relação. A dor da perda os consumia, e a culpa e o arrependimento pareciam murmurar incessantemente em suas mentes. Em momentos de silêncio, essas emoções ganhavam vida, sussurrando lembranças dolorosas e questionamentos incessantes. Não havia interesse em conversar, e o ânimo de outrora havia desaparecido. As risadas, os sorrisos e as longas conversas que antes caracterizavam seu relacionamento agora pareciam memórias distantes. O apartamento que dividiam, antes repleto de vida e alegria, transformou-se em um espaço frio e sombrio, onde a presença de ambos parecia agravar a dor e a culpa. Ambos se perguntavam se poderiam ter tomado uma decisão diferente, se havia uma maneira de voltar atrás e desfazer o que estava feito.
Ricardo evitava olhar diretamente para Laura, temendo ver nos olhos dela o reflexo de sua própria incapacidade e covardia. Ele mergulhava no trabalho, chegando tarde em casa e saindo cedo, tentando encontrar refúgio nas responsabilidades profissionais. Laura, por outro lado, isolava-se em suas leituras e na escrita, buscando nas palavras um alívio para a dor incessante que sentia. As conversas, quando ocorriam, eram breves e formais. Os momentos de carinho e intimidade tornaram-se escassos, quase inexistentes. A intimidade emocional que uma vez compartilhavam foi substituída por uma distância crescente, como se ambos estivessem presos em bolhas de sofrimento individual.
As noites tornaram-se especialmente difíceis. Ricardo frequentemente acordava no meio da noite, atormentado por pesadelos e pensamentos sombrios. Laura, ao seu lado, permanecia acordada, olhando para o teto, ou melhor, para o vazio, tentando afastar as lembranças dolorosas. Os momentos que passavam juntos na cama eram preenchidos por um silêncio abafado, onde o peso da decisão tomada parecia esmagar qualquer esperança de reconciliação. A situação tornou-se insustentável quando as discussões começaram a surgir com mais frequência. As pequenas irritações do dia a dia tornaram-se desencadeadoras de brigas intensas e dolorosas. Ricardo, sentindo-se constantemente pressionado e culpado, explodia em frustração, enquanto Laura, com o coração partido e sem saber como lidar com a dor, revidava com lágrimas e palavras ferinas. Cada discussão parecia cavar um abismo ainda maior entre eles, e a esperança de superarem juntos aquele período sombrio começava a se desvanecer.
Com o passar do tempo, Ricardo e Laura perceberam que, se continuassem daquele jeito, perderiam tudo o que um dia haviam construído juntos. Eles estavam em um ponto de inflexão, onde precisavam decidir se iriam lutar para recuperar o amor e a conexão que tinham, ou se iriam se perder para sempre nas sombras do passado. Ambos sabiam que, para superar esse momento, precisariam de ajuda, talvez através de terapia ou apoio de amigos e familiares, e de uma vontade renovada de enfrentar os desafios juntos. Ou algo mais profundo e libertador, que pudesse ajudá-los a reconstruir o que estava perdido.