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Após ouvir aquela voz poderosa, permaneço pensativo por alguns minutos, a mente fervilhando com perguntas e o coração acelerado no peito. "Preciso entender a mensagem dessa voz poderosa. Mas como entender esse chamado?" — me indago, enquanto olho ao redor, tentando encontrar a fonte do som.
O entorno está coberto por uma penumbra inquietante. A lua, ainda visível, parece iluminar somente o local onde me encontro, aos pés da escadaria da torre da Catedral, deixando tudo o mais nas sombras. O ar está impregnado com uma leve fragrância de flores silvestres, mas há também um frio úmido que me faz estremecer. Não vejo ninguém por perto, e a atmosfera densa só aumenta a minha apreensão. Decido subir a escadaria, esperando que, do alto, eu consiga avistar algo ou alguém.
A escadaria de pedra parece se estender infinitamente, cada degrau se expandindo sob meus pés. O som dos meus passos ecoa nas paredes da Catedral, criando uma sinfonia de solidão. Ao alcançar o pátio superior, a vista é ampla, mas desoladora. O pátio está vazio, banhado apenas pelo fraco brilho das estrelas e um tímido feixe da luz da lua. As sombras das colunas parecem se alongar de forma sinistra, criando figuras fantasmagóricas que aumentam minha sensação de isolamento.
Observo a arquitetura majestosa da Catedral. As colunas brancas se erguem imponentes, acompanhando paredes majestosas, erguidas com pedras de granito rosa, que parecem contar a história da fé e determinação do povo do vale. Os vitrais coloridos, agora apagados, prometem uma beleza espetacular quando iluminados pelo sol. O teto abobadado, com relevos decorativos, parece vigiar cada um dos meus movimentos.
O silêncio é perturbador, quebrado apenas pelo som distante do vento que uiva entre as construções. Ele traz consigo uma melodia sutil, quase imperceptível, que parece sussurrar uma melodia aos meus ouvidos. Minha pele se arrepia ao sentir a brisa fria, e o gosto de metal se faz presente na minha boca, fruto da tensão crescente.
Ninguém ali. O vazio do pátio e a grandiosidade da Catedral amplificam minha solidão. Sinto a presença de algo mais, algo invisível, mas palpável. Meus sentidos estão em alerta máximo, cada sombra parece ganhar vida, cada som ressoa mais alto do que deveria.
De repente, uma sensação de ser observado toma conta de mim. A mente está inquieta, e o coração pulsa com intensidade. "Quem ou o que está me observando?" — me pergunto, tentando manter a calma. Meus olhos percorrem o ambiente, mas não vejo nada além das sombras inquietas.
Continuo a busca por respostas, movido por uma mistura de curiosidade e determinação. Cada passo é um desafio, cada momento uma oportunidade de descobrir mais sobre esse enigma que me trouxe até aqui. E, enquanto me movo, a voz poderosa ressoa em minha mente, uma lembrança constante de que essa jornada é mais do que uma simples busca por respostas — é uma exploração de mim mesmo, dos meus medos e da minha coragem.
Desço correndo as escadarias, sentindo cada batida acelerada do meu coração reverberar em meus ouvidos. Cada passo ecoa pelas ruas desertas, e o ar frio da noite morde minha pele, tornando cada respiração um esforço consciente. Quando chego na calçada da rua XV, olho na direção do alto da via. Nada além de escuridão e sombras, um vazio opressivo que parece engolir tudo ao redor. Nem mesmo a luz da lua ilumina aquela área, deixando-a imersa em uma escuridão quase palpável. A rua está deserta e sinistra, o som dos meus passos é engolido pela escuridão.
Percebo que não há vozes naquela parte da XV. O som enigmático vem de outro lugar. Concentro-me e sigo o eco, que me guia para a parte inferior da rua, em direção ao centro histórico da cidade, onde a curva do rio se esconde nas sombras. O som das vozes é um farfalhar indistinto, quase como um lamento coletivo, carregado pelo vento. Cada murmúrio parece chamar meu nome, aumentando minha determinação de seguir em frente.
Reluto em caminhar, mas preciso entender o que está acontecendo. O farfalhar das vozes está na parte inferior da rua, a uns 50 metros de mim. Tomo fôlego e começo a descer, sentindo o chão irregular sob meus pés, cada pedregulho e rachadura parece uma pequena barreira a ser superada. À medida que desço a rua XV, as vozes se deslocam, como que me indicando a direção. O som parece flutuar ao meu redor, guiando-me como um farol na escuridão.
Ao mesmo tempo, a escuridão atrás de mim também se move, cobrindo a área que acabei de deixar. É um movimento celeste, pois é a lua que despeja um feixe de seu brilho sobre a área em que estou, e me segue com seu brilho. A luz da lua ilumina apenas alguns metros à minha frente, criando um contraste intenso entre o brilho prateado e a escuridão que parece viva. Esse processo persiste pelo caminho, em direção à ponte sobre o ribeirão chamado Garcia, que cruza o bairro de mesmo nome e despeja suas águas no Itajaí-Açu.
À medida que avanço, sinto uma presença sinistra ao meu redor. Sombras começam a se formar e parecem ganhar vida própria, deslizando e ondulando como se tentassem impedir meu avanço. Elas se arrastam pelas fachadas dos prédios, distorcendo suas formas elegantes e criando figuras grotescas que parecem me observar com olhos invisíveis. As sombras dançam nos postes de luz e se embrenham na fiação elétrica, fazendo as lâmpadas piscarem com uma luz trêmula e inquietante, como se a própria energia estivesse sendo drenada pela escuridão.
Ainda assim, forças celestiais ocultas se manifestam para proteger meu caminho. A luz da lua se intensifica, lançando raios prateados que dissipam as sombras e me envolvem com uma sensação de segurança. É como se anjos invisíveis estivessem usando a luz lunar como uma espada, cortando a escuridão e mantendo as criaturas sinistras à distância. Sinto como se estivesse sendo guiado por uma mão invisível, uma força benigna que me assegura que estou no caminho certo.
O coração ainda acelerado, avanço cuidadosamente, guiado pelo som misterioso que parece chamar por mim. À medida que me aproximo do ribeirão Garcia, a escuridão ao redor parece se intensificar, criando uma atmosfera de suspense e mistério. A água do ribeirão reflete a pouca luz das estrelas e os lampejos da lua, cintilando de forma hipnotizante. O som se torna mais claro, mas ainda não consigo discernir sua origem. É como se a própria cidade estivesse sussurrando mensagens secretas, aguardando que eu decifre o enigma oculto nas sombras.
O movimento das luzes e das vozes não segue além da ponte que cruza o ribeirão, mas me guia em direção ao Rio Itajaí-Açú, para a avenida Beira-Rio. À medida que avanço, a escuridão ao meu redor se desloca, acompanhando-me como uma sombra persistente, tentando me desviar do caminho, mas sendo constantemente afastada pelos feixes de luz prateados que emanam da lua. As sombras continuam rastejando pelas fachadas dos prédios, tentando cobrir sua arquitetura, e causando danos na fiação elétrica, fazendo todas as luzes piscarem de forma errática, para impactar minha determinação. No entanto, as forças celestiais mantêm seu brilho constante, protegendo meu avanço.
Quando chego na curva da Beira-Rio, bem na foz do ribeirão Garcia, paro por um momento para observar o céu. A lua se revela de forma esplendorosa: uma grande lua cheia, brilhante e magnífica, despejando sua luz intensa sobre a área da cidade onde me encontro. mas nesse local vejo que a lua não ilumina apenas minha posição, e sim todo o curso do Itajaí-Açú, criando uma visão incomparável de beleza e harmonia.
O cenário é de tirar o fôlego, com o céu salpicado de estrelas e a lua dominando o firmamento com seu brilho prateado. O rio Itajaí-Açú brilha como um espelho de prata líquida, refletindo a luz da lua em suas águas calmas. Esse rio, que já foi uma rota vital para os primeiros colonos da região, carrega consigo histórias de coragem e perseverança. Seu curso sinuoso e as margens cobertas de vegetação são testemunhas silenciosas do crescimento e desenvolvimento da cidade de Blumenau.
A lua cheia, conhecida por sua majestade e poder, tem uma conexão histórica com os habitantes locais, que acreditam que seus ciclos influenciam não só as marés, mas também os ciclos da vida e da natureza. O brilho da lua parece contar histórias esquecidas, memórias das primeiras noites em que os colonos observaram o mesmo céu, sentindo o mesmo misto de admiração e reverência.
Enquanto fico ali, contemplando a beleza do cenário, sinto uma presença tranquilizadora. As forças celestiais ocultas continuam a agir, afastando as sombras sinistras que tentam se aproximar, criando uma espécie de santuário de luz ao meu redor. A luz da lua se intensifica ainda mais, parecendo quase tangível, como se formasse uma ponte de prata que me conecta ao passado e ao presente, guiando meus passos com uma segurança total.
Neste instante, a frase que ecoou da estátua de São Paulo ressoa em minha mente: "Siga as vozes... siga a precipitação da lua!" Compreendo que estou exatamente onde preciso estar. A lua fulgurante sobre a cidade, está me guiando. O rio Itajaí-Açu reflete o brilho da lua em toda a sua extensão, criando um espetáculo hipnotizante de luzes e sombras que dançam na superfície da água.
Enquanto observo, percebo que o rio parece pulsar com uma energia própria, como se houvesse um movimento sutil sobre sua superfície. As vozes e as luzes, agora mais intensas, parecem emergir do próprio rio, misturando-se com o som da água corrente. A atmosfera é carregada de mistério e um certo magnetismo, me atraindo cada vez mais para perto da margem.
Este local no início da Beira-Rio, logo após a foz do ribeirão Garcia, é um dos pontos mais frequentados por quem gosta de observar o rio e a natureza ainda bela, tão próxima do tumulto cotidiano. As margens do Itajaí-Açú oferecem uma vista panorâmica deslumbrante, onde o rio encontra a cidade, criando um contraste harmonioso entre a tranquilidade da natureza e a energia urbana. O pôr do sol, visto daqui, é uma experiência de tirar o fôlego. O céu se pinta em tons de laranja, rosa e púrpura, refletidos nas águas calmas do rio, criando um espelho líquido que parece amplificar a beleza do crepúsculo. As árvores nas margens do rio balançam suavemente com a brisa, suas folhas sussurrando melodias suaves enquanto o sol se despede no horizonte.
Paro por um instante para organizar as ideias. Ali abaixo, na pequena calçada que contorna o rio, muitas vezes estive com meu pai, quando era criança. Fizemos grandes pescarias naquele lugar. Ele tinha uma velha pasta de material plástico onde trazia todos os apetrechos para uma boa pesca. Era uma pasta marrom, já desgastada pelo tempo, com zíperes enferrujados que rangiam ao abrir. Dentro dela havia muitas linhas e anzóis, alguns novos e outros que ele próprio afiava. Além disso, tinha chumbos e rolhas de garrafas, que ele usava como flutuadores improvisados.
O principal, no entanto, era uma lata cheia de barro úmido e minhocas, que preparávamos antes de sair de casa, cavando no fundo do terreno de nossa casa. Eu adorava a sensação de cavar a terra com as próprias mãos, sentindo a umidade fresca e a expectativa de encontrar as minhocas gordas e perfeitas para a pesca. Meu pai, Zé Rodrigues, sempre dizia que o segredo de uma boa pescaria estava na paciência e na escolha do anzol e da isca certa.
Por um momento, olho na direção do Morro do Aipim, meu local de infância, que fica logo depois da curva do rio. Se fosse dia, seria possível ver o verde exuberante do morro, as casas espalhadas e as árvores que pareciam tocar o céu. Mas agora, na escuridão, não é possível ver nada, apenas as sombras que escondem as memórias do passado.
Fico apenas com a lembrança do velho Zé Rodrigues pescando nas margens da Beira-Rio. Ele sempre conseguia uns bons bagres para um delicioso caldo. Lembro-me de como ele se posicionava pacientemente na beira da água, o olhar fixo na linha, esperando o momento certo para puxar. Sua figura era uma mistura de serenidade e determinação, transmitindo uma sensação de segurança e sabedoria que só os anos de experiência podiam conferir.
Quando finalmente sentíamos o puxão na linha, era como se um mundo de alegria se abrisse diante de nós. Ele me ensinava a arte de puxar o peixe com cuidado, garantindo que não escapasse. Depois de uma boa pescaria, voltávamos para casa satisfeitos, e ele preparava o caldo de bagre com maestria, acrescentando temperos que só ele conhecia. O aroma delicioso invadia a cozinha, e aquele momento se tornava uma celebração de nossas conquistas e do tempo precioso passado juntos.
Essas lembranças trazem um calor ao meu coração e uma lágrima aos meus olhos. O velho Zé Rodrigues me ensinou mais do que apenas pescar; ele me ensinou sobre paciência, persistência e o valor das pequenas coisas na vida. Enquanto estou aqui, na beira do rio, sinto que, de alguma forma, ele ainda está comigo, guiando meus passos e minhas decisões.
Perdido por um breve instante na lembrança desses momentos que ficaram na distância do tempo, sinto uma brisa suave que vem lá da curva do rio. O farfalhar de vozes se eleva, gradualmente se tornando ensurdecedor. O som fica tão alto que me perturbo, e um medo profundo se instala em meu coração. Não sei o que está acontecendo. Vejo o rio se agitar violentamente e a brisa se transformar numa ventania forte, quase arrancando as folhas das árvores.
Olho na direção do prédio da Prefeitura, que fica no outro extremo da Beira-Rio. A arquitetura imponente do prédio, com suas linhas clássicas e elegantes, parece refletir uma história rica e digna. Ao fundo, sobre a ponte que liga a Beira-Rio com o bairro Ponta Aguda, a lua cheia está imensa, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, como se estivesse ao alcance de um salto.
Ela derrama seus raios prateados sobre o rio, transformando as águas em uma tapeçaria de luz e sombra. O brilho das ondas que pulsam suavemente sob a luz da lua cria uma cena hipnotizante, onde cada reflexo parece revelar uma história de noites perdidas no tempo e segredos guardados pelas margens do Itajaí-Açú.
A visão é deslumbrante, calma e serena, um verdadeiro oásis de paz, apesar da imensidão de sombras que me cercam. As margens do rio, adornadas por árvores frondosas e flores silvestres, complementam a cena com sua beleza natural, parecendo absorver a luz lunar e devolvê-la em tons mais suaves e acolhedores. A brisa noturna carrega o aroma fresco das águas e o perfume sutil das flores, criando um ambiente quase sobrenatural.
Os feixes prateados da lua não apenas iluminam a superfície do rio, mas também banham os prédios e a vegetação ao redor, conferindo-lhes um brilho suave e mágico. As sombras se alongam e se movem de maneira quase coreografada, como se dançassem ao ritmo da noite. As fachadas dos prédios à beira do rio brilham com uma luminosidade suave, realçando seus detalhes arquitetônicos e criando uma atmosfera de encanto e mistério.
Enquanto aprecio este momento tão belo, minha calma retorna por instantes. Sinto-me envolto numa paz profunda e efêmera, como se a lua estivesse compartilhando um pouco de sua serenidade comigo. É um instante de conexão com o universo, onde tudo parece se alinhar perfeitamente e os temores causados pela escuridão ao redor se desvanecem na luz prateada.
O som suave do rio correndo, o brilho intenso da lua e a beleza tranquila dos arredores criam uma harmonia perfeita, tornando este um momento inesquecível de introspecção e paz, como se fosse uma pausa para recarregar as energias. Mesmo sabendo que a paz é temporária, aproveito cada segundo, grato por essa graça em meio as perturbações que me cercam.
Volto meu olhar novamente para o prédio da Prefeitura e a ponte ao longe, e por um breve momento, tudo parece possível sob a luz benevolente da lua cheia. Este local, na curva da Beira-Rio, revela-se não apenas como um ponto de observação, mas como um verdadeiro refúgio para a alma, um lugar onde a natureza e a cidade se encontram em perfeita harmonia. Apesar da escuridão à volta, ali, nas proximidades do rio, parece um paraíso de luz e tranquilidade.
Ainda inebriado por essa visão, sinto uma profunda mudança. A lua emite uma onda sonora como um estrondo, uma explosão que reverbera pelo ar. Em seguida gira lentamente, mudando de cor, ficando completamente vermelha. Seus raios brilhantes se transformam em uma cascata de luz rubra sobre o Itajaí-Açu. Numa avalanche crescente, a luz turva as águas, que se tingem de vermelho, criando um contraste aterrorizante com o brilho azul que emanava anteriormente.
A ventania se intensifica, chicoteando minha face e fazendo com que o som das vozes ao meu redor se torne ainda mais caótico. As águas do rio parecem fervilhar, como se algo monstruoso estivesse prestes a emergir das profundezas. A tensão no ar é palpável, e cada sombra, cada reflexo na água, parece ganhar vida, movendo-se com uma vontade própria.
A sensação de paz desaparece totalmente. Sinto a pulsação disparar, e um sentimento profundo de medo se apodera de mim. Desprotegido nesse ambiente que agora parece hostil, estou só diante desta visão fantástica e quero fugir, mas minhas pernas parecem paralisadas, incapazes de me obedecer. Por todos os lados está a escuridão, e fico confuso, ainda perplexo. As vozes desaparecem, mas em minha mente permanece a frase de São Paulo, e meu pensamento se detém na segunda parte: "Siga a precipitação da lua!"
A lua está precipitando uma cascata vermelha sobre o rio. O rio! Agora entendo...é isso! Preciso ir até ele. É um pensamento louco, mas não tenho escolha, preciso seguir esse impulso. Desço rapidamente os degraus da escada de concreto que leva até a pequena calçada da margem, caminho por ela até a beira do rio, até poder tocar as águas.
Que terror! O rio se transformou em sangue. A lua está precipitando sangue sobre o Itajaí-Açu, e observo se formar no centro do rio um grande redemoinho. O sangue que se precipita no rio gira sobre o leito e desaparece no redemoinho, criando uma visão ao mesmo tempo hipnotizante e aterrorizante.
Apavorado ali na margem, não entendo o que está acontecendo. Procuro alguém para me ajudar, mas não vejo viva alma. Penso em me esconder num canto, em algum buraco, mas ouço algo vindo do ribeirão Garcia. O som é distinto, contrastando com o silêncio assustador ao meu redor.
De repente, surge alguém num pequeno barco de madeira. Me parece ser alguém familiar, mas a esta altura, meus sentidos estão abalados e não consigo reconhecer o condutor do barco. Vejo que ele tem uma veste longa e brilhante como a lua, refletindo a luz prateada de uma maneira quase sobrenatural. Não consigo distinguir os traços de seu rosto, que permanecem ocultos nas sombras e no brilho ofuscante de sua vestimenta.
Ele conduz seu barco bem próximo a mim, silenciosamente, e, sem qualquer movimento brusco, me dirige a palavra:
— Teu coração está inquieto e ansiosa está a tua alma. Suba no barco e poderás seguir a precipitação da lua. Ela te levará ao destino que estás buscando. Não temas!
Sua voz é serena e tranquilizadora, contrastando com o caos ao meu redor. No entanto, há uma leve tensão no ar, uma hesitação momentânea antes de decidir o que fazer. O medo e a dúvida lutam dentro de mim, mas a calma e a certeza na voz do condutor do barco começam a dissipar minhas incertezas. Com o coração batendo acelerado, dou um passo à frente, hesito por um instante, mas a luz prateada em sua veste, parece me envolver em uma aura de segurança. A mão que ele estende é firme e calorosa, e ao tocá-la, sinto uma conexão inexplicável, como se ele fosse um guia enviado para me ajudar em minha jornada.
Subo no barco, o coração ainda pulsando forte, mas agora com um misto de medo e esperança. O condutor, sem dizer mais nada, começa a remar suavemente, e o barco desliza pela superfície do rio sangrento que brilha com o reflexo da lua vermelha. A tensão se desvanece gradualmente, substituída por uma sensação de tranquilidade e propósito.