Por Eslen Delanogare:


Sou de esquerda ou de direita?


No parlamento francês, durante a Revolução, era simples: eram de esquerda aqueles deputados que se sentavam fisicamente à esquerda, cujas ideias defendidas envolviam a queda do Rei, o fim da monarquia e a ruptura das tradições para a implementação de um novo sistema. À direta, sentavam-se os deputados que defendiam o status quo e buscavam conservar o que estava em vigência.


Apesar de óbvio, vale lembrar que o mundo não se configura da mesma forma que durante a França de 1789. Os estudos econômicos avançaram significativamente após a globalização das relações comerciais, avolumadas pelo nascimento do capitalismo moderno durante a Revolução Industrial do século XVIII e XIX. A ciência política e a sociologia tiveram solo fértil para novos estudos e interpretações do mundo durante as experiências de cunho marxista que ocorreram em diversas partes do globo durante o século XX. O sufrágio universal, realidade recente na maioria dos países ocidentais, pressionou a dinâmica parlamentar e atiçou discursos populistas por parte dos políticos, dado o baixo intelecto do eleitor médio, especialmente na América Latina. Ao contrário de como acontecia na Assembleia Nacional francesa, portanto, intitular-se como de direita ou de esquerda nos dias atuais é tarefa árdua, na medida em que a linha que demarca o começo de uma e o fim da outra está cada vez mais obscurecida.


Durante o começo da minha graduação, em 2013, certamente eu me enquadrava no que popularmente é chamado de esquerda. Era o caricato esquerdomacho pós-moderno, na verdade: achava que o patrão era um imbecil, que as instituições foram criadas para oprimir os menos favorecidos, que a polícia era truculenta e deveria ser punida, que não existia verdade universal e que tudo era construção social e cultural. E, claro, usava e abusava do relativismo para justificar qualquer ideia meia-boca da qual eu não entendia bulhufas. Esse era o meu esqueleto intelectual. Agora coloquemos sobre este esqueleto uma roupagem: a estética da narrativa era estridente, pedante, autoritária e pouco flexível com ideias contrárias. Para fechar o gabarito do esquerdista pós-moderno, faltava-me uma camisa do Che e um boné do MST. Como boa parte dos alunos de psicologia, esse era eu, durante o começo da graduação.


Não teria como ser diferente. Meus professores, em maioria, cuspiam (um deles de forma literal) gotículas de saliva politiqueiras durante as aulas. Não é difícil encontrar na sombra de qualquer traço comportamental descrito acima a figura de um filósofo francês do século XX, aos quais visitamos exaustivamente por meio de livros, filmes e artigos durante a graduação. No Brasil dessa época, vale lembrar, apesar dos movimentos de rua terem começado, ainda era sexy ser de esquerda, especialmente no curso de psicologia — estou certo de que passei em várias disciplinas porque xingava a oposição e falava palavras como neoliberalismo, colonialismo e "patologização" em quase todas as frases.


Com o passar dos anos, não sei exatamente por qual razão — talvez tenha sido o alvoroço social que colocou a lupa nos movimentos políticos —, encontrei-me saindo da bolha, conhecendo novas pessoas e buscando novas perspectivas. Estamos em 2014, talvez 2015. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que conversei com um amigo sobre cotas raciais em universidades. Para mim era óbvio: é preciso ter cotas porque temos uma dívida histórica com os negros. Porém, desprovido do véu da intransigência, meu amigo trouxe novas perspectivas ao debate, que outrora eu nem daria ouvidos. No susto, em uma conversa que parecia despretensiosa, ele abriu fogo dizendo que, na realidade, as cotas deveriam ser no ensino básico, afinal o preconceito começa a ser formado neurobiologicamente na primeira infância, e diversos estudos mostram que expor crianças desde cedo a conviver com pessoas de diferentes cores atenua a formação de viés racial avaliado em testes de associação implícita. Em termos de desconstrução de viés, na ideia dele, o sujeito viver a vida toda só com brancos e, só no ensino superior, conviver com negros, indígenas, etc., é pouco eficiente. Fiquei estupefato! Foi a primeira vez que me abri para o debate e, de fato, ouvi a outra perspectiva com atenção e abertura, e encontrei um oponente com a arma fora do coldre. Como bom esquerdista pós-moderno, relativizei o discurso, usei algumas palavras complicadas ao estilo de Derrida e declarei que nenhum de nós tinha lugar de fala, afinal, não somos negros. Saí como vencedor — ao menos na camada mais superficial da minha percepção. Mais tarde, com o passar dos dias, paguei a conta que todo o sujeito intelectualmente flexível terá um dia que pagar: engoli em seco, entendi que ele estava certo e mudei de opinião.


Nesse dia, perdi a virgindade e concordei com uma ideia que não estava visceralmente de acordo com a minha ideologia, e com todo o pacote que a orbitava.


Sendo classicamente entendido como um sujeito de esquerda, durante a minha crise político-indenitária só restava um pensamento: "se estou duvidando desses preceitos… então eu sou de… direita? Quê?" Enquanto esse pensamento perambulava dentro da minha cabeça, a sensação corporal era de sujeira. Junto ao meu grupo, sentia que minha pele fazia o lugar de um casulo que dentro escondia um traidor, uma espécie de rato. Mas eu não podia dar sinais porque eram eles, os meus colegas e professores, os perfeitos fabricantes das ratoeiras.


Na internet e na TV, nessa época, pipocava uma figura que seria em breve o maior representante do que popularmente chamamos de direita no Brasil, que até então estava abandonada. (Se você é aquele sujeito que chama de "extrema-direita" tudo que não está de acordo com a ideologia de um bigodudo que viveu no começo do século XX na União Soviética, feche este texto.) Com aquele rosto áspero e cor de brasa acesa, a língua pressionando os dentes enquanto fala alguma palavra com muitas letras S, e o memético bordão "tá okay?", saía das masmorras Câmara dos Deputados o então deputado federal (por 28 anos) Jair Messias Bolsonaro. Que desastre seria. Estava escrito. Saímos de um néscio iletrado envolvido em escândalos de corrupção de toda a sorte, passamos por uma estocadora de vento que quebrou o país para chegar ao golpista "ninguém vai pegar meu telefone". Peço profundas desculpas se ofendi a alguém, mas ser conivente com pessoas dessa estofa é jogar minha cidadania na lata de lixo. O parâmetro brasileiro é tão baixo, temos uma autoestima tão pequena, que parte da população se satisfaz passando pano para essa joldra.


Eu estava agoniado. Ser de esquerda demandava comprar um pacote que já estava construído e bem fundamentado em todos os setores, trabalho muito bem feito após a ascensão do PT: em geral, envolvia ser pró-aborto, a favor da legalização das drogas, do estado inchado e do enfraquecimento das polícias; contra o mercado, a liberação das armas, etc. A direita, agora se concretando na figura do capitão, também tinha o seu pacote: em geral, era ser anti-vax, anti-aborto, a favor da liberação das armas, contra qualquer ideia de gênero, pró-mercado e (necessariamente) contra políticas públicas de distribuição de renda. Etc. Também tinha que admirar o Chaminé Humana que morava nos EUA e falava que a Pepsi usava fetos para adoçar os refrigerantes.


Havia um pequeno problema: recusei ignorar meus conhecimentos pretéritos àquela crise identitária-política e comprar um discurso hermeticamente fechado, sustentado por egos fortes, santificados na figura de um personagem político e hostis às ideias opostas, mesmo que tangenciais ao campo ideológico. Daí para frente, foi só para trás: Dilma caiu, Lula foi preso, Bolsonaro se elegeu, depois perdeu a eleição para o seu oponente que estava preso e sem popularidade, ficou pistola e tentou dar um golpe. Hoje, chora no aeroporto porque um ministro do Supremo, ao qual ele ordenou que "pede para sair" (leia o Sair com a linguinha presa nos dentes e faça arminha com as mãos) durante um protesto lotado em 21, tomou seu passaporte e o impediu de viajar para os EUA a fim de acompanhar a posse de Trump. O cenário atual é uma diarreia pós-strogonoff com três latas mornas de Skol: nosso presidente é uma das figuras mais maculadas da política moderna, a oposição é tosca e somos basicamente governados pelo que a ciência política chama de Centrão.


(Você que briga com os tios e tias por causa de Lula e Bolsonaro, saiba que quem manda verdadeiramente no Brasil é o Centrão. Dos 513 deputados, é provável que 70-80% sejam do Centrão, isto é, não têm opinião, votam com o governo ou com quem pagar mais emendas, para que sustentem seus currais eleitorais e consigam a reeleição. Segundo alguns analistas políticos, existem basicamente duas formas de reduzir o poder do Centrão: 1) emancipação intelectual do povo, que reduz voto em político populista que promete pautas vazias, como "defender a democracia" ou "gerar mais bem-estar"; ou 2) desenvolvimento de mais classe média, que reduz a dependência da compra de voto via obras públicas, por exemplo. Estamos, caro leitor, longe das duas.)


Para resolver esse imbróglio intelectual que me assombra até hoje, e para responder a pergunta do título, precisamos recorrer ao lugar que verdadeiramente pode nos dar respostas mais precisas para perguntas complexas: a literatura. Depois daquele rebuliço que a ala à esquerda fez na França de 1789 — a saber: derrubou a monarquia, implementou a laicização do estado, criou uma nova Constituição, mudou diversas unidades de medidas, reformou o sistema educacional, implementou medidas econômicas avessas ao que existia, etc. — emergiram teóricos debatendo os benefícios e os malefícios de uma ruptura institucional abrupta. Por um lado, houve, por exemplo, maior justiça social, aumento da racionalidade em tomadas de decisões públicas, mais educação para o povo e redistribuição de terra na reforma agrária. Por outro, especialmente apontado por Edmund Burke, tido como pai do conservadorismo, em seu excelente "Reflexões sobre a Revolução na França", a ruptura institucional levou o país a uma instabilidade política que demorou décadas para desinflamar, o colapso econômico deixou lastro que só foi corrigido anos depois e, claro, uma quantidade de cabeças foram decepadas usando um instrumento inventado pelo Dr. Joseph-Ignace Guillotin.


Para Burke, um conservador que nada teria de parecido com os conversadores tupiniquins, o avanço da sociedade é inevitável, por isso mesmo precisamos criar mecanismos para que as mudanças sejam graduais e orgânicas, respeitando os costumes e a sabedoria acumulada das gerações passadas, em vez de se basearem em teorias abstratas ou revoluções abruptas. Mudanças apressadas, mesmo que com objetivos nobres, podem gerar mais efeitos colaterais do que benefícios.


Parece-me que a direita brasileira está longe do conservadorismo real e aproxima-se mais do reacionarismo, que postula voltar às tradições passadas, tampando os olhos e os ouvidos para qualquer ideia progressista. Tirando o aspecto religioso — Burke insiste que o fio condutor do conservadorismo é a religião —, concordo com ele em boa parte dos cenários. Com tanta velocidade e distorção desenfreada de valores que fundamentaram as sociedades nos últimos séculos, é prudente fazer reformas somente após ter razoável certeza dos desfechos de tais ações, considerando que o objetivo final seja aumentar o bem-estar social geral. Quem discorda são os conservadores brasileiros que querem, por exemplo, liberar as armas, uma medida teoricamente progressista. Ser conservador é conservar o que já existe: proibição do porte para boa parte dos civis. Aliás, não sou a favor da liberação das armas para qualquer civil e acho que os testes psicométricos usados atualmente são insuficientes para atestar sanidade que justifique dar uma arma a alguém.


O conservadorismo acadêmico, embora com evidentes lados positivos, padece de um mal que salpicou a história: fundir a religião com o debate sobre políticas públicas. Não estou dizendo, caro leitor, que a religião seja ruim, mas usá-la como ponto de tomada de decisão para políticas públicas não é inteligente, uma vez que estas operam no mundo real, com nuances e complexidades muitas vezes esquecidas por aquela. O desfecho mais grave certamente diz respeito às liberdades individuais, especialmente quando envolvem pautas como casamento entre pessoas do mesmo sexo, uso de substâncias ou aborto, por exemplo. Nestas pautas, distancio-me do conservadorismo e me aproximo do liberalismo, certamente.


No campo econômico a maionese desanda. Não só pela complexidade inerente à área, que pouco domino, mas pelo peso moral das decisões, que afetam em larga escala diferentes classes, especialmente as mais pobres e vulneráveis. Em linhas gerais, sou a favor do mercado, mas acredito na tese do imposto como meio de garantir acesso universal e de qualidade a serviços como educação, saúde e segurança pública. Infelizmente, a média do brasileiro não concorda comigo e acha que imposto é roubo. É difícil ter opinião diferente quando se vê um reels do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, condenado a mais de 400 anos de prisão, na piscina de sua cobertura curtindo um dia de sol. Entendo quem pensa diferente de mim, mas tento não perder de vista a ideia final do contrato social: abro mão de certa liberdade (gastar o dinheiro que pago de imposto) para que outras pessoas possam ter acesso a serviços fundamentais. De certa maneira, fui agraciado com isso: não fosse a bolsa CAPES, paga pelo imposto do brasileiro, eu não teria feito mestrado e doutorado. Infelizmente, caminhamos a passos largos para uma sociedade na qual as pessoas julgam ter mais direitos do que deveres. Tal assombração nunca pairou sobre mim. Todos os dias em que chegava ao laboratório, queria honrar o suado dinheiro que o pagador de imposto investiu em mim e espero estar devolvendo para a sociedade o investimento que foi feito.


Há alguns temas que, confesso, preciso refletir mais, mas tenho algumas conclusões prévias. Por exemplo, sempre acreditei que abrir as fronteiras era fundamental para a globalização e internacionalização da experiência humana. Hoje, minha opinião sobre imigração desenfreada mudou: não condeno um estado que tenha políticas restritas de imigração. Há formas economicamente mais sustentáveis e eficientes de ajudar países pobres que abrir as fronteiras para receber imigrantes sem preparo, com baixa educação ou com a saúde psiquiatrica debilitada. Considerando o que sabemos sobre o funcionamento do cérebro, é mais inteligente fazer de forma estruturada do que, mais uma vez, rompendo com o que existe. Se um país busca dar exemplo na luta contra a fome ou por melhores condições de existência social em países subdesenvolvidos, que invista em políticas no país, e não simplesmente abra as suas fronteiras para correr o risco de azedar o que já está funcionando. Por exemplo, em 2023 os EUA receberam 2,8 milhões de imigrantes. Três milhões de pessoas representam 0,035% da população mundial. Ninguém salvará o mundo dessa forma.


Na segurança pública, como mencionado anteriormente, sempre condenei as polícias. Certamente, quando precisei delas, mudei de opinião. Perceba que minha condenação era generalista, não específica. Era aquele discurso imbecil, clássico. Agora, mais maduro, sigo condenando a violência policial que se propaga em cenários específicos e por agentes específicos, que certamente parece maior do que é, uma vez que a mídia torce títulos de notícias para endemoninhar a instituição. Veja este exemplo que saiu no Correio Braziliense: "Paciente é morto por policial após fazer enfermeira refém durante surto." Ora, por que não "Policial salva vida de enfermeira refém de paciente em surto que a ameaçava com uma faca no pescoço"? Mesma situação, diferente forma de informar. Certamente parte da violência policial, aquela violência real, desproporcional, vem do despreparo, da falta de processos modernos de contratação e do baixo investimento nas polícias, a começar pelos salários baixos. Sou adepto à parte do discurso da esquerda que coloca o indivíduo como vítima do meio ao qual ele vive, afinal, eu mesmo prego há três ou quatro anos que o ambiente modula o comportamento. Isso não significa, no entanto, como aquele discurso prega, que deva existir impunidade. Não ter culpa é diferente de não ser errado e passível de repressão.


Se quisermos reduzir a criminalidade, o investimento deve ser na raiz: educação, cultura, redução da desigualdade etc. Até lá, o cidadão honesto não deve ficar vulnerável ao desonesto e criminoso, seja ele fruto do meio ou não.


Com relação ao campo progressista, certamente o que mais me apetece é o entusiasmo com o desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente quando os avanços andam de mãos dadas com pautas que envolvem aumento de justiça social via redução da desigualdade, como, por exemplo, usando os achados para o barateamento de serviços de saúde, transporte, alimentos, segurança, moradia e educação. É difícil encontrar exemplos de crescimento de bem-estar social que não vieram a reboque do desenvolvimento científico. Queria viver em um país com mais ciência. Mas é pedir demais, eu sei.


Assim como sinto asco pelo que se considera popularmente como direta conservadora, empacotada na família Bolsonaro, também nutro profundo nojo do que se chama esquerda brasileira, especialmente a esquerda on-line, que se coloca como baluarte do moralismo, dona de todas as virtudes e senhora do que é certo e do que é errado, enaltecendo figuras como Janjas, Felipes Netos e semelhantes. Brega. Cafona. Triste. Escrevo esses nomes com o semblante de quem bebe um café gelado, esperando que estivesse quentinho.


É difícil, caro leitor. Assim como no final da década passada, sinto-me perdido sobre qual insígnia política devo fincar em meu peito. Sendo preciosista, sempre que perguntado sobre qual campo político me encontro, responderia "depende da pauta". Sobre liberação de armas, talvez eu esteja mais à esquerda. Sobre segurança pública, talvez mais à direita…, mas não quero deixá-lo sem resposta para a pergunta inicial. Se fosse seguir as boas práticas acadêmicas, certamente precisaria de um tratado: esgotaria o conservadorismo de Burke até T. S Eliot, elucidando cada aspecto positivo dessa filosofia de vida. Também precisaria reconstruir as experiências marxistas do século XX para adubar o terreno de por que a (verdadeira) esquerda moderada se mostra interessante, em alguns pontos. Não temos tempo.


Sendo pragmático e usando termos sem definição clara — mas úteis para nosso propósito —, considerando a média das minhas inclinações nos últimos anos, diria que passei de esquerdo-macho da época de graduação para um liberal de esquerda. Atualmente, devido ao cansativo hipermoralismo esquerdista das redes (cuja chatice, francamente, ninguém aguenta mais), meu espectro político tem sido tingido com tons de conservadorismo.


Talvez eu seja um liberal que defende a intervenção estatal em áreas como saúde, educação e segurança, e que entende a importância de conservar ideias do passado que deram certo, sem que inibam pautas progressistas, especialmente quando estas são sustentadas em dados? É difícil se definir quando não se está em uma caixinha fechada. Mas acho que foi suficiente para que o leitor entenda o que penso.


Há um último fenômeno que me preocupa, caro leitor. No último ano, como passatempo, li diversos livros sobre as ditaduras que ocorreram no século passado. Não só livros que narram a história dos protagonistas de tais regimes, como a biografia de Stálin, mas obras que foram influenciadas pela atmosfera autoritária da época, como 1984, Admirável Mundo Novo e A Revolução dos Bichos. Nas entranhas de todos os livros, fica evidente como a liberdade individual no século passado fora ceifada pela raiz. Não havia liberdade de expressão, política ou artística. Em prol de um suposto bem coletivo, as liberdades individuais foram sacrificadas e não mais devolvidas por um considerável período de tempo. Assusta-me dois cenários, relativamente comuns hoje em dia: 1) há um razoável grupo de pessoas enaltecendo regimes autoritários passados, seja no campo da direita, seja no campo da esquerda. O fetichismo pelo autoritarismo certamente advém do desconhecimento ou de vieses sobre o que foram esses regimes, já que poucos de nós vivemos neles; 2) os ideais de liberdade estão sendo patologizados (usando uma expressão de época). Dizer-se liberal soa como ofensa para parte do público, que certamente desconhece que vários avanços significativos nos direitos humanos têm raízes nos movimentos liberais.


Nesse cenário, caro leitor, certamente me aproximo do liberalismo, me opondo a qualquer ideia de regime autoritário.


Certamente seria mais fácil comprar um dos pacotes que ambos os lados oferecem. Não precisaria ponderar sobre cada assunto e suas inerentes complexidades, deixando que outros decidissem por mim. Mas não consigo. Por essa razão, sinto-me tão diferente dos meus conterrâneos que às vezes chego ao desespero, flertando com a ideia de ir embora deste país. Até breve.


Mesmo achando desnecessário, vale assinalar que este texto não teve o objetivo de esgotar o assunto. Certamente o leitor tem diversas dúvidas sobre meus posicionamentos em vários temas que não foram contemplados aqui. Creio, no entanto, que o objetivo geral foi concluído.





Eslen Delanogare

25/01/2025

Brasil.



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