• O 46º ano foi o culminar e a interrupção inesperada de uma vida intensa votada à família, aos amigos, à realização profissional da justiça onde, por mérito próprio, assumiu lugar destacado. Nesse trajeto vivencial, quebrando o manto espesso e espartilhante da vulgaridade, voou, com notável frequência, aos domínios etéreos da arte, quer improvisando poesia, quer desenhando, bem assente que estava numa plataforma sólida da consciente fuga à rotina flatulosa e à mediocridade vegetativa e anódina. Com o seu modo natural, simples, digno, sereno, discurso eloquente, enchia o palco com o gesto expressivo e a voz segura, inflamando os versos que dizia e animando-os de um fulgor insuspeitado. Do seu talento criador nasceu o logotipo da nossa Associação e o desenho dos cartões de identidade. Ao naipe dos tenores e aos cantares emprestou a sua voz de notável timbre e o ouvido seguro. No relacionamento social emergia a espontaneidade do chiste perspicaz e inteligente, a bonomia galante e atenciosa.
• A morte prematura quis derrubá-lo inesperadamente. Nós, seus companheiros de sonho, "com os olhos rasos de sonho e uma contida emoção", nas suas palavras, não aceitaremos jamais tamanha injustiça. Com os olhos agora rasos de água e de arreigado inconformismo, vingamo-nos, instalando a sua personalidade forte, de modo permanente e vivo, na memória indefetível de cada um dos elementos do seu Grupo Coral da Justiça.

[Pereira da Graça]