História Porto

O morro da Pena Ventosa (literalmente monte dos vendavais) é uma saliência granítica coroada por uma plataforma de cotas máximas na ordem dos 78 m, rodeada de vertentes de acentuado declive que descem para o rio Douro e para o pequeno rio da Vila. Estas características da topografia e da hidrografia constituíam boas condições defensivas e foram decisivas para que o alto da Pena Ventosa tivesse sido o sítio original da urbe portuense, primeiramente chamada Cale e, depois, Portus Cale e Portucale.

Durante as décadas de 1980 e de 1990, as investigações arqueológicas realizadas nas traseiras da Sé, nomeadamente na Casa da Rua de D. Hugo n.° 5, permitiram identificar um perfil estratigráfico que ilustra a evolução do núcleo primitivo da cidade. Destes estudos concluiu-se ter havido uma ocupação quase contínua do local desde os finais da Idade do Bronze.

Estes vestígios arqueológicos documentam:

Do século VIII a.C. até 500 a.C. – a existência de contactos principalmente com os outros povos Atlânticos principalmente da Bretanha e Ilhas Britânicas mas também com o distante Mediterrâneo de populações que viviam no alto do morro da Pena Ventosa;

Entre 500 e 200 a.C. – a presença de um povoado castrejo de casas de planta redonda e a continuação dos contactos com povos Celtas do Atlântico, contactos bastante acentuados evidentes na cultura castreja presente no Noroeste penisular e as suas semelhanças com os outros povos celtas do Atlântico principalmente da Irlanda e Bretanha francesa.

Do século II a.C. a meados do século I d.C. – uma fase de romanização durante a qual o povoado adquire crescente importância, que se revela na função organizativa em relação aos territórios circundantes. Foram provavelmente os romanos que aqui criaram uma primeira estrutura urbana, reorganizando o traçado das ruas, implantando casas de planta rectangular e criando instalações portuárias nas imediações do local onde mais tarde se ergueu a chamada Casa do Infante.

A arqueologia permitiu também encontrar indícios da ocupação da Pena Ventosa nos séculos I e II d.C. e vestígios de uma muralha construída no século III. Pensa-se que o seu traçado fosse idêntico ao da Cerca Velha ou Românica reconstruída no século XII.

Segundo o Itinerário de Antonino, a estrada romana de Olissipo a Bracara Augusta (Via XVI) oferecia nesse passo do Douro uma estação. Não há unanimidade quanto à sua localização, na margem esquerda ou na direita. O mais provável seria a estação estar repartida nas duas margens. Os cavalos das mudas ficariam nos dois altos e os próprios mensageiros teriam de um lado e outro o seu albergue. No século IV assiste-se a uma fase de expansão da cidade em direcção ao vizinho Morro da Cividade e à zona ribeirinha, tendo sido encontrados mosaicos romanos do século IV na Casa do Infante.

No final da época imperial o topónimo Portucale abrangia já ambas as margens e, mais tarde, passou a designar toda a região circundante.

No século V assistimos à invasão dos suevos e, em 585 e seguintes, durante o reino visigótico, verifica-se a emissão de moeda em Portucale e a presença de um bispo portucalense no III Concílio de Toledo, em 589. A relativa importância do lugar nessa época é comprovada por diversas e significativas moedas dos reis visigodos Leovigildo (572-586), Recaredo I (586-601), Liúva II (601-603) e Sisebuto (612-620), cunhadas com a legenda toponímica de Portucale ou Portocale.

Em 716, deu-se a invasão muçulmana e a destruição da cidade por Abdalazize ibne Muça. Julga-se, no entanto, que a dominação muçulmana de Portucale (em árabe: Burtughal — برتغال) terá sido relativamente breve, pois parece ter sido atacada, logo por volta de 750, por Afonso I das Astúrias. Durante um século, a região teria jazido ao abandono e quase desabitada. Até à presúria de Portucale pelo conde Vímara Peres em 868, quando se dá início a uma fase de repovoamento e de renovação urbana. A partir daí, Portucale assume grande protagonismo político e militar, com a criação do respectivo condado. Nesta época, o nome Portucale já tem um sentido acentuadamente lato.

O renascido burgo vive então uma existência difícil entre incursões de normandos e de sarracenos. Estas últimas só deixam de se fazer com a fixação do condado de Coimbra.

Um episódio importante ocorre por volta de 990 com a retomada da cidade por D. Munio Viegas e a armada dos gascões. Por volta de 999 uns nobres e valorosos fidalgos Gascões entre os quais se encontrava D. Nónego bispo de Vendôme em França e mais tarde bispo do Porto, entraram com uma grande Armada pela foz do Rio Douro, para expulsarem os Mouros. Esta armada,que ficou conhecida como a Armada dos Gascões associada a D. Munio Viegas arrancou a cidade do Porto para dedicá-la à Virgem Mãe de Deus. Depois d'esta batalha, D. Munio e os franceses trataram de reedificar o Porto. Ergueram as antigas e fortes muralhas, e na parte mais elevada da cidade fundaram um castelo bem fortalecido que, depois do conde Henrique, serviu de habitação dos bispos, aos quais foi doado. A torre e a porta principal foram obra de D. Nónego, que, em memória da pátria, a nomeou porta de Vandoma, e que na frontaria da torre fez erguer o santuário, onde meteu a imagem de Nossa Senhora do Porto, que já trouxera consigo de França.

As incursões dos viquingues ainda se mantêm nos princípios do século XI. Um dos assaltos dos nórdicos deu-se em 1014, nos arredores do Porto, no próprio coração das Terras da Maia, em Vermoim. Ao sul do Douro estendia-se então uma importante comarca guerreira portucalense, a chamada Terra de Santa Maria. O castelo da Feira, já existente, era o principal núcleo de defesa dessa, então, região estremenha.

Em 1096 dá-se a concessão do governo de Portucale ao conde D. Henrique de Borgonha e a capital desloca-se para o interior. Braga readquire, pela sua posição e pela sua tradicional primazia eclesiástica, um certo ascendente político sobre o burgo portucalense. Nela se sepulta o conde, pai do primeiro rei português, trazido, em cortejo fúnebre, da cidade de Astorga onde falecera.