Grupo Memória e Patrimônio de Garopaba

estudos, pesquisas e valorização cultural

Na pagina Atividades do Grupo, outras atividades, há uma síntese sobre o desenvolvido pelo Grupo nos seis meses de sua existência completados em outubro de 2021.

Na pagina "Publicações" há indicações de vários textos (artigos, dissertações e Teses) sobre Armações Baleeiras. Postamos no dia 06 de fevereiro a Tese "A taxonomia da baleação portuguesa entre os séculos XV e XVIII: Uma história atlântica do mar, das baleias e das pessoas" , da pesquisadora portuguesa Nina Vieira Azevedo. Vale a pena conferir.

No resumo da referida Tese, a autora assim se manifesta:

"A presente tese tem como principal objetivo reconstruir a história da baleação no Brasil dos séculos XVII e XVIII, tendo como problemática central a importância das baleias, enquanto agentes, e da baleação, enquanto estímulo, para a construção da presença portuguesa na América. Este estudo foi motivado por uma lacuna historiográfica relativa à captura de baleias organizada por portugueses, nomeadamente no contexto da História da Expansão Portuguesa, e ainda relativamente à problematização das relações entre as pessoas e o restante mundo natural, na época moderna. Com suporte na História Ambiental, enquanto disciplina emergente na historiografia internacional, e muito recente na academia portuguesa, pretendemos aqui analisar a influência que o ambiente marinho teve sobre as ações humanas e o simultâneo impacto das sociedades nestes ecossistemas e nos recursos naturais que aí existem e dos quais dependem. Do nosso estudo resultam evidências claras de que a abundância de baleias no passado, e a utilidade dos produtos que delas derivam, promoveram a transferência da experiência e técnicas baleeiras bascas para o território sul-americano, estimulando o monopólio régio ibérico da baleação entre 1614 e 1801. O desenvolvimento da atividade ao longo da costa foi promovido pela Coroa e seus funcionários, acompanhando o processo de assentamento no território, clarificando-se, assim, a relação entre a apropriação do território e o estabelecimento e desenvolvimento de armações baleeiras fixas. Com início na Bahia, por negociantes e baleeiros bascos logo em 1602, a atividade baleeira expandiu-se ao Rio de Janeiro, ainda na primeira metade de Seiscentos, e a São Paulo e Santa Catarina nas décadas de 1730 e 1740, respetivamente. Os produtos centrais com valor utilitário e comercial foram o óleo, para iluminação dos principais centros urbanos da América portuguesa, e as barbas de baleia. Mais, durante todo o período analisado, mais particularmente na segunda metade do século XVIII, foram transportadas para Lisboa milhares de pipas de óleo de baleia e fardos de barbas. No período em que decorreu o monopólio baleeiro milhares de baleias foram caçadas, muito provavelmente das espécies baleia-franca-austral (Eubalaena australis) e baleia-corcunda (Megaptera novaeangliae). Na sequência do desenvolvimento da baleação americana para águas do Atlântico Sul, já na segunda metade de Setecentos, promoveu-se nova transferência de conhecimento para o Brasil. Deste modo, integraramse técnicas e instrumentos específicos para a caça de cachalote (Physeter macrocephalus) nas armações brasileiras. Neste período específico, entre 1774 e 1777, a operação baleeira caracterizou-se simultaneamente pelo Estilo-Basco e Estilo-Americano Costeiro. O impacto desta atividade nas populações de baleias começou a ser notado nas últimas décadas do século XVIII, quando a concorrência baleeira entre diferentes nações se intensificou nos mares do sul e, à exceção das águas costeiras adjacentes a Santa Catarina, se começou a sentir a ausência de animais. Pela sua presença ou ausência, pelos seus comportamentos e pelos seus produtos, as baleias foram agentes na construção da presença portuguesa no Brasil e a baleação foi uma atividade com impacto nas finanças da Coroa e dos seus súbditos, na construção da sociedade colonial e da sua relação com o Reino, assim como nos espaços litorais e no ecossistema marinho".