Avaliando Exposições

Leonardo da Vinci tem sido tema de muitas exposições permanentes e itinerantes, tais como:

Mostra di Leonardo, Uma visita emocionante e divertida para mergulhar nas invenções do grande Gênio - https://mostradileonardo-online.com/it/home/

The World of Leonardo: interactive codices, machines and drawings. Link da empresa que desenvolve modelos para várias exposições: https://www.leonardo3.net/en/exhibitions/ . A empresa comercializa também vários produtos: livros, DVDs, Brinquedos (modelos de montar) e posteres sobre os Codices, - conhecido como projeto Il laboratorio de Leonardo da Vinci Workshop.

Leonardo da Vinci: A Natureza da Invenção, descrição e fotos aqui. E livro aqui.

Museu Interativo Leonardo da Vinci. Site https://www.italy-museum.com/br/florenca/museu-interativo-leonardo-da-vinci

Leonardo Da Vinci Experience Museum , site https://www.leonardodavincimuseo.com/

Museo Leonardo da Vinci - Piazza del Poppolo - https://museodavinci.it/pt-pt/galeria/

Estas exposições compartilham entre si, o foco nas INVENÇÕES e PROJETOS de Leonardo, com modelos construídos de seus esboços - descritos em seus Códices e documentos.

Entretanto, elas se diferenciam quanto a objetivos educacionais claramente, algumas contemplativas do gênio e outras focando a criatividade e processos da invenção, permitindo ao visitante montar e até criar e inventar durante a visita.

A grande maioria é do tipo contemplativo, mas algumas desenvolveram módulos interativos e participativos capazes de fazer o VISITANTE sair da exposição se sentindo GENIAL e não meramente encantado por um dos gênios da humanidade.


A Exposição MOSTRE DI LEONARDO (LEONARDO INTERACTIVE MUSEUM) já diz na porta para que veio https://www.mostredileonardo.com/en/leonardo-da-vinci-museum/

ATIVIDADES são AÇÕES de APRENDIZAGEM e as OPERAÇÕES (MENTAIS) SOBRE OBJETOS permitem CONSTRUIR CONHECIMENTOS como já dizia o velho e esquecido Piaget!

Descrição da exposição no site oficial:

O ambiente único do Museu Interativo Leonardo da Vinci® oferece uma experiência direta, interativa e extraordinária de compartilhamento e aprendizado. (...) Além das interações reais com suas invenções, você pode admirar e comparar, em um contexto único, reproduções em alta resolução das principais obras pictóricas de Leonardo, incluindo a Mona Lisa, a Última Ceia, a Anunciação e a Dama com Arminho. (...) A Sala Principal do Museu é dedicada à excelência da engenharia de Leonardo . Aqui você encontrará mais de 50 máquinas em tamanho real , modeladas com base nos designs revolucionários de Leonardo. Pense: se essas máquinas fossem realmente renderizadas durante a época em que Leonardo as inventou, ele teria revolucionado a história da tecnologia como a conhecemos!

(...) Teste-se reconstruindo algumas das invenções do Gênio Universal! Divirta-se com a Ponte em Arco , a Cúpula e os principais Poliedros de Leonardo ! Coloque sua criatividade e inteligência à prova construindo e criando novas figuras. Com nossos Laboratórios de Instrução, você pode construir sua própria versão das invenções anteriores de Leonardo!

A EXPOSIÇÃO LEONARDO DA VINCI - 500 ANOS DE UM GÊNIO

A EXPOSIÇÃO LEONARDO DA VINCI - 500 ANOS DE UM GÊNIO

A exposição possui uma versão online: https://exposicaodavinci500anos.com.br/#/experience


Os 18 módulos da exposição original foram organizados em ambientes temáticos.


CÓDICES - introdução aos documentos originais de Leonardo da Vinci;


CIVIL - invenções e projetos de natureza cotidiana e civil;

GALERIA MISTA - uma sala ampla que reúne temas bem variados:

O Voo, Vestimentas (Figurinos), Sentidos (Som e Luz); Pinturas e Renascimento, Máquinas Simples

Inclui ainda ANATOMIA que integra a galeria mista, mas um pouco destacada espacialmente.


MILITAR - invenções de cunho militar, invenções de guerra.


SENSORIAL - uma experiência imersiva com projeções gigantescas no salão (paredes, telas e piso) de diferentes obras de Leonardo. No meio desse salão, dois objetos de guerra (em minha opinião totalmente fora de lugar... provavelmente uma solução por serem grandes - o salão é enorme e não caberiam na área militar). Mas a solução ficou no mínimo estranha.


MONALISA - final da exposição dedicada a obra e às pesquisas realizadas no mais famoso quadro de Leonardo, também utiliza recursos de projeção.


RECURSOS DE ACESSIBILIDADE - NÃO FOI O FOCO DA EXPOSIÇÃO

A exposição possui objetos, mas não está claro se são manipuláveis (dá a entender que não, embora o museu de origem da exposição tenha vários modelos interativos . Também aparentemente não possui Braille nas placas de texto.

A exposição possui recursos de audio praticamente para todos os textos da exposição, mas não com foco em AUDIODESCRIÇÃO.

O enquadramento de algumas imagens dos projetos nas janelas deixa a desejar, pequenos e alguns poderiam ser melhor centralizados.

RECURSOS EDUCATIVOS: Potencial Conexões Diretas com Educadores

Caderno Educativo da exposição: https://www.mis-sp.org.br/educativo/materiais-educativos

Vídeo Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8sEa3MXXzw8

Infelizmente a exposição - como a maioria das curadorias expositivas atuais - não adota o compromisso com a educação livre - e não criou uma Exposição Livre - disponibilizando seus recursos para uso livre em ambientes educativos não comerciais. Os textos, as animações e os vídeos NÃO estão disponíveis para download e uso de educadores.

O Catálogo e Livro da Expo$ição é muito caro.

Avaliando a CONCEPÇÃO GLOBAL DA EXPOSIÇÃO

O foco principal da exposição é o FORNECIMENTO DE INFORMAÇÕES


Modelo de Déficit de Informação

A exposição se enquadra bastante neste modelo pois atende a todos os seus indicadores:

Transmissão linear de informações de especialistas para o Público.

SIM. A exposição tem como foco principal apresentar os projetos e ideias de Leonardo registradas em seus Códices ao público.

Crença de que uma boa transmissão de informação leva à redução de “déficit” de conhecimento.

SIM. Pode gerar uma maior informação sobre as ideias e projetos de Leonardo.

Crença de que déficit reduzido leva a melhores decisões e, muitas vezes, maior apoio à Ciência.

SIM. Pode haver uma percepção de como os seus projetos podem melhorar algumas áreas da sociedade.

Entretanto, os processos de criação não são muito evidenciados, apenas os produtos.


Modelo de Contextualização da Informação

A exposição, apesar de conter textos e paineis que ajudam a contextualizar as informações sobre Leonardo, não foi desenvolvida com característica de um Modelo Contextual.


Associado a audiências específicas.

NÃO. A exposição é voltada para um público amplo, sem foco específico.

Entretanto, a exposição tem um caráter histórico documental (Códices) muito forte, o que pode atrair mais historiadores e pesquisadores da Ciência e Tecnologia. Aparentemente não é focada em estudantes da Educação Infantil nem Anos Iniciais do Ensino Fundamental. (a exposição não parece ser HANDS-ON, apesar de a original ser.


Atenta-se às necessidades e situações que podem ser dependentes de tempo, localização, doença e idioma.

NÃO. A exposição contextualiza na forma de textos e vídeos curtos associados a todos os projetos e modelos construídos. Entretanto, não fica tão evidente como um todo na exposição, apesar de haver momentos em que isso fica um pouco mais explícito, como nos projetos e desenhos sobre a Guerra.


Destaca a capacidade das audiências de rapidamente se informar sobre tópicos relevantes.

NÃO. A exposição não promove a pesquisa em sites (com links) ou livros gratuitos. Não tem dentro da exposição espaços para investigar o funcionamento dos modelos com atividades e experimentos.

Foco Principal ENGAJAMENTO DE PÚBLICO


Modelo de Conhecimento Leigo

A exposição itinerante e a virtual não atendem aos indicadores.


Reconhece as limitações das informações científicas.

NÃO. Apesar de não termos lido todos os textos detalhadamente, os problemas e a eficiência dos projetos de Leonardo não são muito discutidos ou explicitados na exposição. Por exemplo, vários projetos como o paraquedas não funcionam (instabilidade, vira ao cair) e podem ser melhorados com pequenas modificações. Mas esse não é o foco da exposição.

Reconhece o conhecimento potencial de audiências específicas.

NÃO. Não busca relacionar os projetos de Leonardo com soluções atuais, nem com outros inventores e profissões atuais e muito menos propõe discussões sobre como as audiências resolveriam problemas.

Destaca a natureza interativa do processo científico.

NÃO. O processo não é focado na exposição.

Aceita a expertise de não cientistas.

NÃO. Apesar de Leonardo não poder se enquadrar dentro do conceito moderno de cientista, questões sobre a natureza e metodologia da Ciência não são abordadas.


Modelo de Engajamento Público

Concentra-se em questões políticas que envolvem conhecimento científico e técnico.

NÃO. Apesar de módulos poderem provocar reflexões dessa natureza (especialmente a Guerra), não é o foco da exposição.

Associado ao ideal democrático de ampla participação pública no processo científico.

NÃO. Apesar de alguns modelos poderem gerar discussões interessantes, tais como a “Cidade Ideal”.

Constrói mecanismos para envolver os cidadãos na formulação de políticas públicas.

NÃO. a exposição não está associada e nem usa ferramentas de indagação, opinião e debate público.

Autoridade verdadeira do público sobre políticas e recursos.

NÃO.

Conclusão

A exposição se enquadra ao Foco de Transmissão de Informação e o Modelo de Déficit.

Eixos Estruturantes da Alfabetização Científica: Dimensões da Compreensão

Eixo 1

Refere-se à compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais e concerne na possibilidade de trabalhar com os alunos a construção de conhecimentos científicos necessários para que seja possível a eles aplicá-los em situações diversas e de modo apropriado em seu dia-a-dia. Sua importância reside ainda na necessidade exigida em nossa sociedade de se compreender conceitos-chave como forma de poder entender até mesmo pequenas informações e situações do dia-a-dia.


SIM. A exposição não se propõe ser um glossário de termos, mas foca principalmente em apresentar vários instrumentos tecnológicos criados ou aperfeiçoados por Leonardo.

Eixo2

Preocupa-se com a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática. Reporta-se, pois, à ideia de ciência como um corpo de conhecimentos em constantes transformações por meio de processo de aquisição e análise de dados, síntese e decodificação de resultados que originam os saberes. Com vista para a sala de aula, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, esse eixo fornece-nos subsídios para que o caráter humano e social, inerentes às investigações científicas, seja colocado em pauta. Além disso, deve trazer contribuições para o comportamento assumido por alunos e professor sempre que defrontados com informações e conjunto de novas circunstâncias que exigem reflexões e análises considerando-se o contexto antes de tomar uma decisão.


SIM, a exposição tem potencial para desenvolver essa dimensão da compreensão.

NÃO. Entretanto, não é o foco do conteúdo da exposição, dos objetos expositivos e nem atividades propostas, mas tem potencial para o Setor Educativo dos museus desenvolverem atividades neste eixo.

Eixo 3

Compreende o entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente. Trata-se da identificação do entrelaçamento entre estas esferas e, portanto, da consideração de que a solução imediata para um problema em uma destas áreas pode representar, mais tarde, o aparecimento de outro problema associado. Assim, este eixo denota a necessidade de se compreender as aplicações dos saberes construídos pelas ciências considerando as ações que podem ser desencadeadas pela utilização dos mesmos. O trabalho com este eixo deve ser garantido na escola quando se tem em mente o desejo de um futuro sustentável para a sociedade e o planeta.


NÃO. Os conhecimentos envolvidos na exposição tem um grande potencial nesse eixo, mas e exposição não tem esse foco.

Indicadores de Alfabetização Científica para Espaços Museais

Indicadores CIENTÍFICOS ("Epistemology On")

ICA – Conhecimentos e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados.

SIM.

ICB – Processo de produção de conhecimento científico.

NÃO. Apesar de no módulo MONA LISA as pesquisas do quadro serem evidenciadas.

ICC – Papel do pesquisador no processo de produção do conhecimento.

SIM. Leonardo como "pesquisador" - criador, inventor.

ICD – História da Ciência.

SIM. (com enfoque limitado, documental, tradicional).

Indicadores de INTERFACE SOCIAL (Social On)

ISA – Impactos da Ciência na Sociedade.

SIM. A tecnologia de guerra, o voo e o mergulhar.

ISB – Influência da Economia e Política na Sociedade.

SIM. A guerra.

ISC – Influência e participação da sociedade na Ciência.

NÃO.

Indicadores INSTITUCIONAIS

IIA- Instituições de Pesquisa envolvidas na produção da Ciência, seus papeis e missões. (Researchs On)

NÃO. Tem um caráter mais focado em Leonardo, não deixando evidente as instituições envolvidas.

IIB – Instituições financiadoras, seus papeis e missões. (Financial On)

NÃO/SIM. Uma boa proposta educativa pode despertar essas conexões.

IIC – Elementos políticos, históricos, culturais e sociais ligados às instituições. (Culturals On)

NÃO/SIM. Uma boa proposta educativa pode despertar essas conexões.

Indicadores de INTERAÇÃO

IAA – Interação Física (Hands-On)

SIM/NÃO.

A exposição original possui muitos elementos analógicos interativos, a exposição itinerante parece não permitir manipulação dos objetos e a virtual não apresenta simulações.

IAB – Interação Estético-Afetiva (Hearts-On)

SIM, especialmente o SENSORIAL, mas parece ser apenas CONTEMPLATIVA e não PARTICIPATIVA.

IAC – Interação Cognitiva (Minds-On)

NÃO. Não existe proposta de investigação dos equipamentos.

COMPROMISSO EDUCACIONAL DA EXPOSIÇÃO

A exposição promove mudanças conceituais?

CC1. Concepções sobre Geração e Justificativa do Conhecimento na Ciência

Quatro indicadores são fundamentais para perceber a presença de PROCESSOS CIENTÍFICOS em uma atividade educativa,

A maioria das exposições não atende a nenhum dos indicadores (infelizmente).

O mesmo ocorre com a exposição Gênio Leonardo.


Indicadores: a exposição promove?

Experimentação

"Os estudantes podem não entender a experimentação como um método de testar ideias, mas sim como um método de tentar as coisas ou produzir um resultado desejado. Mas ações educativas podem fazer entender que a experimentação é guiada por ideias e perguntas particulares e que experimentos são testes de ideias.... Estudantes de todas as idades podem ignorar a necessidade de manter todas as variáveis constantes, embora os estudantes do ensino fundamental já entendam a noção de comparações justas, um precursor da ideia de "experimentos controlados".... Entretanto, os estudantes tendem a procurar ou aceitar evidências que sejam consistentes com suas crenças anteriores e distorcem ou deixam de gerar evidências que são inconsistentes com essas crenças. Essas deficiências tendem a atenuar ao longo do tempo e com a experiência".

Avaliação: A exposição não promove experimentação, possui um caderno educativo mas fica pro professor fazer depois, a exposição não permite Experimentar, apenas observar modelos sem funcionar na visita.


Modelagem

Estudantes normalmente pensam em modelos como cópias físicas da realidade, não como representações conceituais. Eles não têm a noção de que a utilidade de um modelo pode ser testada comparando suas implicações com observações reais. Sabem que os modelos podem testar hipóteses e que a discussão contribui para o sucesso desse objetivo. Por exemplo, Magnusson e Palincsar observam que o estudo da luz permite que as crianças vejam o mundo de forma diferente e desafiem seus preconcepções. A física e genética também ilustram muitas oportunidades ricas para os estudantes experimentarem e entenderem fenômenos a partir de novas perspectivas. Tais oportunidades para que os estudantes experimentem mudanças em sua própria noção, pensamento e compreensão são possíveis por causa de outra característica dos programas discutidos nesses capítulos: todos eles integram a aprendizagem de conteúdo com processos de investigação em vez de ensinar os dois separadamente.

Avaliação: A exposição nasceu do trabalho fantástico de uma empresa que modelou vários projetos de Leonardo. Entretanto essa experiência de modelagem científica ou matemática não é oferecida como uma vivência na exposição.


Interpretação de Dados

Estudantes de todas as idades mostram uma tendência a inferir acriticamente a causa a partir de correlações. Alguns estudantes acham que mesmo uma única co-ocorrência de antecedente e resultado é sempre suficiente para inferir causalidade. Raramente os estudantes do ensino médio percebem a indeterminação de instâncias únicas, embora os estudantes do ensino médio possam facilmente perceber isso. Apesar disso, à medida que os dados covariantes se acumulam, mesmo os estudantes do ensino médio inferirão uma relação causal baseada em correlações. Além disso, estudantes de todas as idades farão uma inferência causal mesmo quando não ocorre variação em uma das variáveis. Por exemplo, se os estudantes são informados de que bolas de cor clara são usadas com sucesso em um jogo, eles parecem dispostos a inferir que a cor das bolas fará alguma diferença no resultado, mesmo sem qualquer evidência sobre bolas de cor escura.

Avaliação: A exposição não explora dados qualitativos nem quantitativos. Não explora por exemplo proporções no corpo, e outras coisas que poderiam facilmente ser incorporadas. As pesquisas sobre a Matemática em Exposições apontam a necessidade de EXPLICITAR os processos e usos da matemática nos museus.

Identificar Inadequações em Argumentos

A maioria dos estudantes aceitará argumentos baseados no tamanho amostral inadequado, aceitará causalidade de eventos contíguos e aceitará conclusões baseadas em diferenças estatisticamente insignificantes.

Entretanto, propostas educativas podem ajudar os estudantes a reconhecer essas inadequações em argumentos após o solicitação (por exemplo, após serem informados de que as conclusões extraídas dos dados eram inválidas e solicitadas a afirmar o porquê).

Avaliação: A exposição não promove debates para que surjam oportunidades de expor e dialogar sobre argumentos.