O clima mais ameno de Los Angeles sempre agradou a Einstein e, ao lado de Lillian, os passeios por Hollywood eram ainda mais agradáveis. Durante uma caminhada matinal, os dois faziam graça a respeito de um grande letreiro que estava sendo construído em Hollywood Hills.
– Isso é um outdoor? O que estão construindo ali? – Perguntou Lillian enquanto tentava ler, contra o sol, as grandes letras que eram erguidas no alto da Cahuenga Peak Moutain.
– Parece um letreiro publicitário de um conjunto habitacional. HOLLY.... ahh esse sol na cara... WOODLAND... Deve ser um desses novos planos de habitação com a intenção de especulação de capitais imobiliários. Poderiam caprichar mais nessa grafia...
– Siiiim querido, se pedissem uma assessoria para você certamente seria muito mais estiloso...
– E eu tenho cara de artista de letreiro?
– Desculpe meu bem, não queria ofender... – e riu sutilmente com sua pequena boca de lábios bem desenhados – Aliás, quem iria morar aqui no meio dessas montanhas semiáridas e com vista para esse letreiro esquisito, quando se pode morar ao lado do mar?
– A que horas temos que estar nos estúdios da Keystone – interrompeu Einstein, lembrando do coquetel de lançamento do novo filme estrelado por Lillian (The White Sister) – Estou ansioso para ver seu novo filme.
– Creio que será às 19h. Será um evento pequeno, para umas 50 pessoas, não mais do que isso.
Lillian e Einstein voltaram para o hotel para um rápido almoço com um jovem ator e produtor que procurava por espaço nos Estúdios de Hollywood.
– Albert, Albert – chamou Lillian do outro lado do saguão, enquanto puxava o amigo pelo braço – Este é meu amigo, de quem tinha falado mais cedo. Ele veio de Londres e está procurando algum papel para atuar. Vou levá-lo hoje à noite ao coquetel e apresentá-lo a alguns amigos e diretores.
– Prazer, meu nome é Einstein, Albert Einstein.
– O prazer é todo meu sr. Einstein. Quem que não te conhece? Você é o gênio da arte moderna. Mal posso acreditar que estou diante de você.
– Imagina rapaz. Só estava no lugar certo, na hora certa e com as pessoas certas – falou Einstein lembrando da discussão que tivera com o sr. Thebas. Perdão jovem, qual é seu nome?
– Charles, Charles Chaplin.
Sentaram-se em uma mesa reservada, em uma saleta escondida, no fundo do saguão. Einstein e Lillian começaram a conversar sobre os detalhes do lançamento do novo filme que ela protagonizava. Deslocado, Charles espetou dois garfos em pequenos pães que foram servidos na entrada. A música do piano, tocada no restaurante, serviu de fundo musical para uma pequena dança que simulou sobre a mesa, com um singelo boneco de pães e garfos. Subitamente, Einstein parou de falar, silenciou-se, fitou maravilhado o jovem que brincava com os pães e disparou.
– Genial, genial.... "o que mais admiro em sua arte é a sua universalidade. Você não diz uma palavra e ainda assim.... o mundo lhe entende" . Como pode, com pães e garfos representar uma dança tão expressiva? Quem sabe eu não entre para esse tal mundo do cinema.
– CORTAAAA!!!!! – gritou o diretor de cena após Chaplin passar pelas engrenagens e voltar para a esteira de produção no set de filmagem.
– E agora sr. Einstein, o que achou desta tomada? Indagou o diretor de cena, Roland Totheroh.
– Ficou melhor, ficou muito melhor. Gostei da forma como o Charlie improvisou a saída da esteira, sensacional.
– E quanto ao nome do filme, já o tem decidido?
– Ahhh.... essa tarefa fica a encargo do meu amigo Charlie. Eu sou somente um artista plástico brincando de fazer filmes. O dono da bola (e do Estúdio) é o Charlie.
- – Tempos modernos, tempos modernos será o nome – chegou correndo Charles, enquanto largava as chaves de boca sobre a câmera – pare de modéstia Albert, todo mundo sabe que desde que você assinou aquele contrato com a Keystone, o cinema se abriu para o mundo... é a sétima arte graças a você.
– É a sétima arte graças à Lillian. Desde que ela me deixou para ficar com o sr. Kurt Keystone, não paramos um minuto de produzir. Lembra dos filmes que produzimos em 1930? Foram 17 curtas em 2 meses... aquilo sim foi uma loucura...
– E aí Albert, onde vamos almoçar hoje? Parece que tem um restaurante novo na Boulevard. Hoje será servido pratos típicos da gastronomia brasileira. Sempre quis conhecer a gastronomia tropical.
– E eu sempre quis conhecer o Brasil. Quem sabe não vamos para lá passar alguns dias. Aliás, ouvi dizer, uma vez, que tem um pessoal produzindo boa arte por aquelas bandas. Em 1922, quando nos conhecemos, fui convidado para passar uma semana em São Paulo. Na ocasião não pude ir... ainda bem...
A batida na porta de entrada da casa denunciava. O garoto que entregava os jornais de bicicleta acabara de passar, arremessando cilindros de papel nas portas dos assinantes em dia. Einstein era um desses. Gostava de ler pela manhã, enquanto tomava sua xícara de café na varanda da casa. A capa do jornal trazia a imagem de um cogumelo. Um cogumelo de fogo, de calor, de destruição. Era o resultado da explosão da bomba Fat Man em Nagasaki, no dia anterior. Dia 06 a Little Boy destruíra Hiroshima.
– Você já está sabendo Charles? Einstein, com a fisionomia abalada, mostra a capa do jornal para Chaplin.
– Mais uma bomba?
– Sim, desta vez em Nagasaki. Espero que seja a última. A estimativa é que tenham morrido mais do que 150.000 pessoas ao todo. Isso não tem cabimento...
– Quem são os nossos inimigos Albert? Hitler, Mussolini, Churchill, Roosevelt?
– Todos eles são, Charlie, todos eles...
– Sempre imaginei que o vilão era o Hitler... só ele... Mas soltar uma bomba em civis? O que os americanos estão querendo? Por que fazer isso?
– Não sei... não sei... escrevi um pequeno texto. Acho que poderemos usar em algum filme. O que acha Charlie?
- Deixa eu ler:
Volte para o início da história se você quiser tentar outro caminho para Einstein