Sinceramente, Einstein temia que os alemães aumentassem seu poder bélico de maneira incomensurável graças à fissão nuclear, mas ele também não sentia a mesma segurança e fé pelo governo norte-americano que seu colega Leo Szilard aparentava ter. Embora o físico não desse muito crédito às comparações entre a política de recuperação de Rooselvet com o corporativismo de Benito Mussolini – assunto que ficara no recente passado – ele ainda sentia que todo o pragmatismo presidencial poderia acabar causando o efeito contrário pretendido, fazendo com que além dos alemães os estadunidenses também se lançassem à procura do apocalipse explosivo.
Por não se sentir confortável com a proposição de Szilard, Einstein recusou cordialmente o convite do amigo e decidiu calar-se diante das pesquisas nazistas. No fundo, no fundo, ele considerava que, como cientista, seu papel pouco tinha a ver com decisões políticas e seria melhor ele se recolher a suas recentes pesquisas e deixar a governança para os governantes.
A recusa de Einstein enfraqueceu a força de vontade de Szilard, que acabou escrevendo uma carta tímida, sem tanto poder político, e que, por isso, foi praticamente ignorada pelo gabinete presidencial. Enquanto isso, o reich trabalhava com tenacidade e disciplina nas pesquisas nucleares, esgotando seus cientistas e calando qualquer pessoa que se erguesse contra seu uso.
A batida na porta de entrada da casa de Einstein denunciava. O garoto que entregava os jornais de bicicleta acabara de passar, arremessando cilindros de papel nas portas dos assinantes em dia. Einstein era um desses. Gostava de ler pela manhã, enquanto tomava sua xícara de café da manhã na varanda da casa. A capa do jornal trazia a imagem de um cogumelo. Um cogumelo de fogo, de calor, de destruição. Era o resultado da explosão da bomba Fett mann em Paris, no dia anterior. Dia 06 a kleiner Junge destruíra grande parte da Normandia.
O jornal estampava no canto da imagem a fotografia de um Leo Szilard desfigurado pela dor, embaixo da qual a legenda entre aspas explicitava sua revolta “eu avisei! Eu avisei Roosevelt!”. Einstein sentiu o peso das milhares de mortes sobre seus ombros. Albert deu origem ao projeto – ainda em 1905, quando publicou o artigo “Ist die Trägheit eines Körpers von seinem Energieinhalt abhängig?” (A Inércia de um Corpo Depende do seu Conteúdo Energético?) sobre a conversão de massa em energia E = m.c² – e ele poderia ter juntado forças com seu colega e assinado a carta, juntamente com Szilard, para o presidente Rosevelt, alertando-o sobre as investidas nazistas no artefato. Ele poderia, ele deveria, mas não fez.
Foi ao quarto, onde abrigava a irmã, Maja, que ainda dormia. Depois do falecimento de Elsa, Maja fazia companhia a Eintein, e vice-versa. Abriu a porta e o ranger da dobradiça despertou a senhoria de sono leve. Entrou com o jornal em mãos, atordoado com a matéria que revelava sua covardia e fraqueza – Que pai é esse? Um pai que permite que haja milhares de órfãos, que permite que crianças morram? – pensou enquanto sentava-se ao lado da irmã, que já o tinha em mira.
- O que houve Albert?
- Lançaram mais uma bomba atômica na França. Desta vez em Paris. A cidade está em ruínas, todos foram pulverizados... o jornal conta que por algum motivo os alemães descobriram sobre a operação Overlord, bateram em retirada da Normandia, antes dos Aliados chegarem e, como forma de reprimenda, decidiram mandar Paris pelos ares. Ninguém sabe quantas bombas os nazistas possuem, quais são os planos deles, mas agora eles podem qualquer coisa. Eles podem bombardear a Inglaterra, ou mesmo os Estados Unidos. O poder é todo deles. E pensar que eu, que eu tive a chance de intervir, de fazer alguma coisa...
- Você não tem culpa, não foi você quem ordenou o lançamento da bomba na França. Nem quem as projetou. Aliás, você sempre foi contrário ao uso da fissão nuclear em bombas atômicas. Como você iria saber o que os alemães fariam? Como você ia saber que a inteligência americana estava no escuro?
- Eu contribuí com o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia que as criaram. E eu poderia ter avisado o presidente, poderia ter orientado em como fazer uma bomba, poderia ter dado esse poder aos aliados. Isso é imperdoável – abaixou a cabeça, olhando para a café na xícara, já escasso.
Deu o último gole e soltou a xícara no chão. Levantou da cama e voltou para a varanda, onde passou o resto do dia, sozinho, pensando naqueles que perderam as vidas e em todos aqueles que ainda perderiam. Pensando em como a vida é tão frágil que em segundos ele, sua irmã, sua casa, cidade, tudo, poderia ser apenas passado.
Não demorou muito tempo para que o poder do Eixo aumentasse em uma escala nunca antes pensada. Sob a bandeira do füher somavam-se tantas outras, várias dizimadas e conquistadas sobre rios de sangue, outras que se juntaram voluntariamente. Salazar, Franco, um punhado de ditadores latinos, todos os que flertavam com a ideia do fascio rapidamente juntaram vozes com o Eixo e declaravam seu apoio irrestrito. Outros países buscavam uma política de neutralidade, advinda do puro horror à bomba e a sua radioatividade monstruosa. Alguns poucos países ainda tentavam se opor e resistir, sendo comandados ainda pelos Estados Unidos.
Como resposta aos ataques do ano anterior na França, o presidente Roosvelt decidiu iniciar um projeto nuclear próprio, denominado Projeto Manhattan, conduzido por um proeminente físico, Robert Oppenheimer. Porém o projeto mal teve tempo de sair do papel, pois o Eixo, então, decidiu que a única coisa entre eles e a dominação mundial era aquele país inconveniente e insistente. No dia 18 de abril de 1945, o próprio Adolf Hitler autorizou o bombardeamento de centros-chave da produção bélica e científica do país: a ilha de Manhattan, Cambridge, New Haven e Princeton.
Pouco antes de se deitar, Einstein começa a sentir fortes dores abdnominais. Ligou para seu filho Hans, que morava próximo à casa do pai, já solitário. Enquanto falava com o filho, percebeu um brilho estranho no céu. Não chegou a se despedir do filho e nem a pousar o telefone no gancho. A bomba Nachtblitz atingiu o chão do centro da cidade em segundos, devastando tudo com um clarão ígneo.
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