Querido(a) aluno(a), na lição passada nós aprendemos um pouco mais sobre a avicultura de corte. Agora, nós aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a avicultura de postura, que visa à criação de aves para a produção de ovos para consumo e reprodução.
Assim como a avicultura de corte, a avicultura de postura é muito importante para a economia brasileira. O ovo é um alimento nutritivo e de baixo custo, muito consumido nos lares brasileiros. Além disso, sua produção gera diversos empregos diretos e indiretos. Devido à importância dessa vertente da avicultura, você, como futuro técnico(a) em agronegócio, precisará estar atento(a) aos desafios dessa produção!
Agora que já sabemos como criar aves de corte. Você saberia como garantir uma produção de ovos eficiente? São utilizados os mesmos animais? Quais os sistemas de produção existentes? E com relação à sanidade e biosseguridade?
Você, aluno(a), como futuro técnico(a) em agronegócio, provavelmente já consiga responder a algumas dessas questões com o que já foi estudado nas aulas anteriores. No entanto, as aves de postura apresentam as suas particularidades. Vamos aprender mais!
Um produtor rural de nome Adrian gostaria de implantar uma produção de aves de postura em sua propriedade. Para isso, ele contratou um técnico em agronegócio que pudesse lhe auxiliar sobre os aspectos desta criação.
Decidiu implementar o sistema de produção intensivo, em que as aves ficariam em gaiolas. No entanto, apenas a construção das instalações, como o galpão de postura, o local para armazenamento de ração e o galpão de beneficiamento dos ovos, não era suficiente. Tanto o proprietário como seus funcionários, ou seja, a sua mão de obra, precisariam estar atentos ao manejo das aves e do produto final para que a produção fosse eficiente e lucrativa!
Por essa razão, coube ao técnico em agronegócio auxiliar o produtor desde a construção correta das instalações, as medidas de biosseguridade, o manejo das aves, manejo de luz artificial, manejo nutricional, higiene das instalações, sanidade das aves e manejo dos ovos, além, é claro, de atender a todos os quesitos de qualidade exigidos pelo consumidor final.
Todos os ensinamentos levaram a uma criação econômica, eficiente, lucrativa e de qualidade, e assim como apresentado no case fictício, em uma situação real, caberia a você, técnico(a) em agronegócio, auxiliar os produtores nestes quesitos!
Avicultura de postura é o nome atribuído à criação de aves para a produção de ovos. As aves de postura são chamadas poedeiras. É importante você saber que existem fêmeas que são utilizadas para colocar ovos que darão origem aos frangos de corte ou a novas poedeiras, mas nesta lição, entretanto, nós focaremos no estudo das galinhas de postura que produzem ovos destinados à alimentação humana.
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), as linhagens de postura entram em produção aproximadamente com 19 semanas de idade, com a produção aumentando gradativamente até o pico de postura (período de maior produção, com quase todas as aves botando um ovo por dia) em torno de 28 semanas de idade. Um ovo demora em média 24 a 25 horas para ser produzido.
Você sabia que, quando os ovos não são destinados para a reprodução, ou seja, os ovos que consumimos, as fêmeas não necessitam da presença de um galo (macho) para que botem ovos?
Nas granjas de postura, as aves não estarão em contato com o galo, e por isso nós chamamos seus ovos de não galados (não fecundados). Mesmo se esses ovos forem chocados, não darão origem a um pintinho! Entretanto, esses ovos são nutritivos e excelentes para a alimentação humana.
Relembrando!
Como visto anteriormente, lembre-se: a genética para cada tipo de aptidão é diferente! Por isso, aves de corte não serão utilizadas para produção de ovos, assim como aves de postura não são a melhor opção para a produção de carne, visto que a sua energia estará focada na produção de ovos e não na deposição de musculatura! Ademais, a cor do ovo também é influenciada pela raça ou linhagem da galinha!
De acordo com Amaral et al. (2016), os sistemas de criação de galinhas poedeiras podem ser classificados em Sistema Intensivo e Sistemas Extensivos – ou alternativos.
No Sistema Intensivo, as aves são criadas em galpões – denominados galpões de postura. Essa criação pode ocorrer com as aves alojadas em gaiolas (mais comum) ou sobre o piso. No sistema intensivo convencional, são utilizadas gaiolas de 350 cm² a 450 cm² por ave, podendo formar várias fileiras de gaiolas. Esse modelo de sistema é alvo de críticas devido ao espaço reduzido de cada ave (AMARAL et al., 2016).
Entretanto, esse sistema evita que as aves tenham contato com as excretas, evitando a contaminação por patógenos, além de evitar a quebra dos ovos pela galinha. A diminuição dos custos de produção são outro ponto de interesse neste modelo de criação. De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), esse sistema garante que a população de baixa renda tenha acesso a essa fonte de proteína animal, tendo assim uma grande importância social.
Existem alguns modelos de criações que visam à questão do bem-estar animal, cada vez mais difundida. Entre esses está o sistema alternativo Cage Free. Nesse sistema, as aves são criadas em galpões (confinamento), mas não em gaiolas (AMARAL et al., 2016), de forma que as galinhas fiquem livres para se alimentar e ciscar, exercendo assim o seu comportamento natural, além de possuírem um ninho para botar os seus ovos com tranquilidade e segurança. Entretanto, nesse modelo de criação, há uma maior ocorrência de ovos sujos e trincados, o que dificulta o controle sanitário e causa algumas perdas produtivas. O segundo sistema alternativo é o Free-range, em que as aves ficam soltas no galpão, com acesso a ninhos e poleiros, espaço para movimentação e acesso a piquetes externos para que possam forragear e, no caso de criações orgânicas, com pastagem e alimentação que seguem os protocolos de produção orgânica (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). Por fim, devemos lembrar que em pequenas propriedades rurais ainda existem criações de ovos caipiras, com galinhas criadas soltas e alimentando-se a pasto, por vezes suplementadas com milho ou ração (AMARAL et al., 2016).
A vida útil das aves varia de acordo com o sistema de produção escolhido. No sistema intensivo comercial, as aves são mantidas até 70 semanas de idade; no sistema orgânico, até 120 semanas; e nos sistemas Cage-free e Free-range, até as 90 semanas de postura (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Amaral et al. (2016, p. 174) exemplificam a cadeia produtiva e o manejo de criações comerciais de aves de postura:
A cadeia produtiva se inicia com a obtenção da fonte genética: o fornecimento das aves bisavós, que gerarão as avós, que serão cruzadas gerando as matrizes, as quais geram os ovos que se destinam aos incubatórios, onde nascem as pintainhas. Adota-se em grande escala a incubação artificial, em que a galinha é substituída por máquinas incubadoras elétricas automáticas. Os produtores de ovos adquirem essas pintainhas dos centros de incubação já vacinadas de acordo com suas especificações. As galinhas poedeiras passam por três fases distintas: cria, recria e postura. As aves de idades diferentes não são alojadas juntas. As granjas de cria, de recria e de produção ficam separadas. Essa prática reduz o índice de mortalidade e de doenças nos plantéis, sendo também favorável aos cuidados de vacinação. A coleta dos ovos pode ser manual ou automática (com utilização de esteiras), sendo esta a forma ideal. Essa prática deve ser realizada diariamente, ao menos duas vezes ao dia, a fim de minimizar o tempo de exposição ambiental e consequentes contaminação por sujidades. Depois do descarte dos ovos coletados com casca danificada, os ovos seguem para a higienização. Com a exclusão de unidades fora do padrão aceitável, os ovos seguem para a classificação e são distinguidos, quanto ao peso, em jumbo, extra, grande, médio, pequeno e industrial. Separados por classe, os ovos são embalados, o que garante sua proteção e a manutenção da qualidade. Por último, os ovos, devidamente embalados, são armazenados em salas de estoque/expedição, aguardando o envio para as lojas de varejo.
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), o ambiente possui grande influência no bem-estar animal, sendo a temperatura um fator-chave, que pode comprometer o desempenho produtivo. A temperatura média deve sempre estar entre 20 e 27 graus, no máximo até 30 graus. Outro procedimento utilizado é a debicagem, na qual por meio de uma lâmina aquecida há a remoção parcial do bico. Sua função é a redução do canibalismo causado pela alta densidade nos galpões de aves criadas em gaiolas, diminuição da quebra dos ovos e do desperdício de ração. Para que esse manejo não cause sofrimento às aves, ele deve ser realizado por pessoas experientes e capacitadas. A debicagem deve ser feita entre 7 a 10 dias e, se necessária uma segunda debicagem, esta deve ser realizada até a 12ª semana de vida.
Após um ciclo de produção de aproximadamente um ano, as aves realizam um processo chamado muda das penas. A muda das penas pode ser definida como um período de descanso. A ave diminui sua alimentação, suas penas caem e sua produção de ovos cessa – ou diminui. Na natureza, esse período ocorre antes do início do inverno, servindo como uma renovação das penas para os dias mais frios do ano.
Na criação comercial, utiliza-se um manejo de muda forçada, o que auxilia no aumento do desempenho da ave e aumenta a sua vida produtiva, pois ajuda na renovação do aparelho reprodutivo. Existem várias formas de realizar a muda forçada, que costuma ser realizada por volta das 70 semanas de idade da ave (final do primeiro ciclo de postura), o que faz com que elas tenham mais um ciclo de postura de 25 a 30 semanas (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). Geralmente, a muda forçada é realizada pelo método de restrição alimentar, em que as aves são submetidas a um período de jejum e a um manejo alimentar diferenciado, além da interrupção da luz artificial, o que estimula a muda forçada.
Se Liga!
As galinhas precisam de uma média de 15 a 17 horas de luz por dia, pois isso estimula o seu sistema reprodutivo, aumentando assim a produção de ovos. É por isso que na natureza a maior produção de ovos ocorre na primavera e no verão! Para que essa produção se mantenha constante, os produtores utilizam um programa de luz artificial, no qual lâmpadas do galpão de postura ficam acesas, de forma que as aves tenham até 17 horas por dia de luz! Durante as fases de muda, a luz artificial é desligada e as aves ficam apenas com a luz natural. Para voltar à produção normal, a luz artificial vai sendo ligada de forma gradual, 30 minutos a mais por dia, até voltar nas 17 horas habituais, iniciando assim um novo ciclo produtivo!
De acordo com Amaral et al. (2016), os programas de biossegurança são imprescindíveis para a qualidade e integridade da produção. Assim como na produção de suínos e de aves de corte, a alta concentração de animais aumenta os riscos sanitários. Por isso, medidas de segurança já citadas anteriormente, como desinfecção das instalações, vazio sanitário, controle da entrada e saída de pessoas, animais e veículos e arco de desinfecção, também são utilizadas nessa criação. A vacinação dos animais deve sempre estar em dia, e a limpeza das instalações deve ser diária.
As condições de estocagem, período de armazenamento e idade das poedeiras podem afetar a qualidade dos ovos. O período de armazenamento máximo de um ovo deve ser de 30 dias em temperatura de 4 a 12 graus. Com o passar dos dias, a perda da qualidade do ovo é inevitável. A qualidade da casca é de extrema importância, visto que interfere na durabilidade do produto, dessa forma, para que os ovos possuam boa qualidade de casca, as aves devem ser alimentadas com rações ricas em cálcio, e por isso a importância da formulação de rações específicas (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Os ovos são alimentos de alto valor biológico, contendo uma variedade de nutrientes importantes para a saúde humana (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). A sua composição pode variar de acordo com a alimentação e a sanidade das aves, sendo que o manejo correto, aliado à genética e à sanidade, levarão a uma produção eficiente e lucrativa.
Caro(a) aluno(a), você como técnico(a) em agronegócio poderá auxiliar no estudo e desempenho da cadeia produtiva da avicultura de postura, propondo soluções para desafios sociais e ambientais, visando sempre à eficiência e lucratividade da produção! Lembre-se que a produção de aves, seja de corte ou de postura, é de extrema importância na cadeia produtiva brasileira, levando emprego a diversas pessoas nos mais variados setores.
Ademais, o ovo é um alimento nutritivo e de baixo custo, sendo uma fonte de alimento muito importante para diversas famílias. Cabe aos profissionais técnicos e produtores manter essa cadeia a cada dia mais eficiente e lucrativa, porém mantendo a sua qualidade!
AMARAL, G. F. et al. Avicultura de postura: estrutura da cadeia produtiva, panorama do setor no Brasil e no mundo e o apoio do BNDES. 2016. Disponível em: https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9579/3/BS%2043%20Avicultura%20de%20postura_estrutura%20da%20cadeia%20produtiva_corrigido_P_BD.pdf. Acesso em: 20 fev. 2023.
CASTRO, F. S.; VASCONCELLOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.