LIÇÃO 6: Principais alimentos utilizados
na Produção Animal — os alimentos concentrados e a formulação de rações
na Produção Animal — os alimentos concentrados e a formulação de rações
Olá, aluno(a)! Como visto nas lições anteriores, os animais de produção necessitam de maior aporte de nutrientes para que possam manter-se saudáveis, além de expressar todo o seu potencial produtivo. Por isso, as rações são balanceadas de forma a atender a todas as suas necessidades. Além do milho e da soja, que são os alimentos comumente utilizados, há uma variedade de alimentos alternativos que podem ser usados sem prejudicar o animal.
Nesta lição, conheceremos os principais alimentos utilizados na formulação de rações e concentrados para os animais de produção e a sua importância! Você verá o quanto esse assunto é importante para você, pois, como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, precisará estar atento(a) aos alimentos mais viáveis a serem utilizados nas rações, de acordo com a região em que está, além de entender o quanto é importante estar atendo à qualidade nutricional e ao valor pago por esses alimentos.
Imagine que você tenha uma criação de aves e alimente seus animais com ração à base de milho e farelo de soja. Porém, devido a fatores externos, o preço desses alimentos aumentou consideravelmente, sendo, economicamente, insustentável a utilização desses dois alimentos na fabricação da ração, devido aos custos. O que você faria nesse caso? Como alimentar seus animais, de maneira eficiente e econômica, até que o preço dos principais ingredientes (milho e soja) se estabilize?
Como visto na lição anterior, os custos com alimentação são responsáveis por até 70% da Produção Animal. É importante que você conheça os alimentos mais utilizados na alimentação dos animais de produção, seus principais benefícios e, principalmente, seus possíveis substitutos, pois, ao conhecermos outras alternativas de alimentação animal, podemos substituir alguns alimentos, de forma parcial ou integralmente (de acordo com a espécie animal, a disponibilidade e o preço no mercado), por outros com valores nutricionais aproximados, o que pode levar à diminuição dos custos com a alimentação, um dos grandes pilares da Produção Animal.
Para que você compreenda melhor a importância de conhecer os alimentos utilizados como ingredientes na nutrição animal, podemos citar o exemplo fictício de um produtor, chamado Milton, que precisa inovar a alimentação de seus suínos confinados, por questões econômicas. O Sr. Milton possui uma fábrica de rações em sua propriedade e costuma usar a mistura de milho e farelo de soja (mais outros ingredientes em menores quantidades, como óleo, vitaminas e minerais) para a produção da ração de seus animais. Porém este ano houve uma alta no preço do milho e da soja, o que aumentou muito o custo da ração e, consequentemente, diminuiu os seus lucros. Por causa disso, ele contratou um Técnico em Agronegócio para auxiliá-lo a encontrar uma solução.
Nesse caso, é necessário o conhecimento dos possíveis substitutos para o milho e a soja na ração, sem que ocorra uma perda produtiva. Existem outras culturas que podem ser utilizadas, como a aveia, o trigo e o algodão, assim como resíduos industriais, como a polpa cítrica e o resíduo de cervejaria, entre outras alternativas. Tais alimentos podem substituir os alimentos, comumente, usados em 10 a 100%, dependendo da espécie e da fase do animal. Encontrar alternativas rentáveis, nesse caso, é primordial. No caso do Sr. Milton, com a substituição parcial dos ingredientes da ração, ele pode manter a nutrição dos seus animais até que o preço de seus principais ingredientes (milho e soja) se normalizem.
Para o seu bom desenvolvimento e produção, os animais necessitam de nutrientes, como carboidratos, proteínas, lipídios (gorduras), vitaminas, minerais, fibras e água, essencialmente. Como vimos na lição anterior, cada animal necessita de uma quantidade diferente de cada um desses nutrientes, de acordo com a sua espécie e categoria, ou seja, a fase de sua vida. Alguns nutrientes são necessários em maiores quantidades, por isso, são chamados macronutrientes. As proteínas, os lipídeos, os carboidratos e a água são macronutrientes. Já as vitaminas e os minerais são necessárias em menor quantidade, sendo chamados micronutrientes.
Antigamente, era comum apenas alimentar os animais com o que estivesse disponível na fazenda, mas, com o melhoramento genético e consequente aumento produtivo das espécies, isso já não é mais o suficiente. Isso ocorre porque alguns alimentos são ricos em alguns nutrientes, porém pobre em outros, o que pode levar o animal a ter deficiências nutricionais, afetando a sua produtividade.
Alguns alimentos possuem maior quantidade de carboidratos energéticos do que outros. Carboidratos, como a glicose e o amido, são as principais fontes de energia de uma célula, por isso, os alimentos com grandes quantidades desses compostos são chamados alimentos energéticos. No exemplo do milho, seus grãos são uma excelente fonte de energia.
Existem, também, os chamados carboidratos estruturais, ou carboidratos fibrosos, como a celulose e a hemicelulose, sendo estes as fontes de fibra na alimentação. Eles fazem parte da estrutura da planta e são digeridos apenas por microrganismos presentes no rúmen dos animais ruminantes ou no intestino dos monogástricos. Alimentos, como as forragens (pastagens verdes ou conservadas na forma de feno e silagem), são classificados como fibrosos e, consequentemente, volumosos, por possuírem mais de 18% de fibra bruta.
As proteínas são formadas por um conjunto de moléculas, chamadas aminoácidos. Existem 20 diferentes aminoácidos que se ligam entre si de inúmeras formas, para formar as proteínas. Alguns aminoácidos, os chamados não essenciais, são sintetizados pelo próprio organismo, enquanto outros, os aminoácidos essenciais, precisam, obrigatoriamente, serem adquiridos por meio da alimentação. Por isso, no caso de uma dieta apresentar a deficiência de algum aminoácido, este pode ser suplementado separadamente. As proteínas possuem importância, especialmente, no metabolismo e na formação tecidual. Na deficiência das proteínas, o animal perderá a massa muscular, além de apresentar diversos problemas de saúde. Por isso, é necessário que ocorra a adição de um alimento rico em proteína na dieta, como o farelo de soja.
Atualmente, para uma nutrição eficiente, é utilizada a mistura de mais de um alimento (que atua como ingrediente), além da adição de vitaminas, minerais e aditivos, de acordo com a necessidade. Por meio dessa mistura, as rações são formuladas.
Como visto na lição anterior, animais, como as aves e os suínos, costumam ser alimentados, exclusivamente, com uma ração concentrada, exceto em alguns casos, como nas criações mais caseiras, como a de galinha caipira. Nesse caso, plantas, como ervas, repolho, couve e espinafres, também acabam sendo fornecidas aos animais.
Já a ração de animais ruminantes, como o bovinos e os ovinos, é composta de uma mistura de: volumoso, oferecida por meio da pastagem a campo ou de forragens conservadas na forma de feno e silagem (dependendo do sistema de criação), mais uma suplementação de concentrado energético e proteico, no caso dos animais confinados ou semiconfinados. Animais herbívoros não ruminantes, como os equinos, também necessitam, obrigatoriamente, de volumoso (pastagem), podendo ser suplementados com ração para que tenham mais energia. Nós aprenderemos mais sobre os alimentos volumosos na próxima lição.
Lembre-se: animais ruminantes, como os bovinos, podem viver, tranquilamente, apenas se alimentando de plantas (pastagem) como no caso dos animais criados no sistema extensivo. Porém, se esses animais forem suplementados com concentrado (sistemas intensivo e semi-intensivo), receberão maior aporte de nutrientes e, consequentemente, serão mais produtivos! Porém, em hipótese alguma, devem faltar os alimentos volumosos, pois eles são necessários para o correto funcionamento do sistema digestório desses animais. Sem volumoso, um bovino pode vir a óbito!
Uma infinidade de alimentos de diferentes origens, tipos e composições é utilizada na alimentação dos animais de produção (PESSOA, 2014). Os alimentos utilizados vão desde os cereais até os resíduos de indústrias. Em criações, como a avicultura, a suinocultura e a bovinocultura, a mistura de milho e farelo de soja é a principal composição de suas rações, com o milho atuando como principal fonte energética e a soja, como principal fonte proteica. Em geral, alimentos com altos teores de proteína são mais caros em relação aos alimentos energéticos. Para você não se confundir, lembre-se das definições da Lição 5: ração é tudo o que o animal ingere em um período de 24 horas (menos a água)!
O milho é o grão de cereal mais amplamente utilizado na alimentação de animais ruminantes e não ruminantes (PESSOA, 2014), além de ser um dos cereais mais produzidos em escala mundial. Cerca de 70% da produção mundial de milho é destinada à alimentação animal (PAES, 2006).
O grão de milho é pobre em proteína e em fibras, mas é rico em carboidratos energéticos (PESSOA, 2014), por isso, ele é considerado um alimento energético concentrado padrão (GOES; SILVA; SOUZA, 2013), atuando como a principal matéria-prima para produção de rações nos segmentos de suinocultura, avicultura e bovinocultura (ARTUZO et al., 2019). De acordo com Pessoa (2014), os grãos de milho podem ser utilizados moídos ou inteiros, dependendo da espécie.
Em ruminantes, além do grão, a planta em si, também, é utilizada na alimentação. Geralmente, utiliza-se a planta do milho inteira para o processo de ensilagem. Nesse processo, a forragem é compactada e colocada em um local com a ausência de oxigênio, para que ocorra um processo, chamado fermentação, o que preserva o seu valor nutritivo, além de poder ser conservado por grande período. Após um período, o produto resultante, chamado silagem, poderá ser oferecido como alternativa para a fração volumosa da dieta, especialmente nos períodos de seca, em que a pastagem é escassa.
A soja é um grão rico em proteína, essencial para os animais. É muito utilizada na formulação de rações para aves e suínos e, na forma de concentrado, para bovinos. Animais, como os bovinos, podem ingerir a soja crua, porém ela precisa passar por um tratamento térmico antes de ser fornecida aos monogástricos, para que ocorra a inativação de alguns compostos que não fazem bem à saúde desses animais. Dentre as principais formas de utilização da soja, estão o farelo de soja, produto resultante da extração do óleo dos grãos de soja, e a casca da soja (PESSOA, 2014).
Além do milho e da soja, há outros cereais que podem ser utilizados em sua substituição na formulação de rações e concentrados. Existem casos em que outro alimento estará mais barato do que o milho, devido, por exemplo, à sua alta produtividade em uma safra ou região específica. Nesse caso, ao realizar a substituição dos ingredientes, a ração ficará mais em conta. A seguir, estão listados os principais substitutos do milho e da soja na alimentação animal:
Sorgo: o grão de sorgo pode ser utilizado como fonte de energia para ruminantes (concentrado) e suínos, substituindo 100% o milho. Em frangos de corte e postura, ele pode substituir até 50% do milho da ração desses animais (PESSOA, 2014). A planta do sorgo, também, pode ser utilizada como fonte de volumoso.
Trigo: o trigo em si é um cereal de alto custo, por isso, para a alimentação animal, utiliza-se, principalmente, os produtos resultantes da indústria (subprodutos), como o farelo de trigo, que pode substituir o milho da dieta (PESSOA, 2014).
Arroz: seus grãos e subprodutos, como o farelo e a quirela de arroz, são utilizados, especialmente, na alimentação de suínos e aves.
Algodão: a planta do algodão e os seus subprodutos, como o caroço do algodão e a torta de algodão, são ricos em proteína de boa qualidade e energia. São muito utilizados na alimentação de bovinos.
Mandioca: a raiz da mandioca apresenta alto teor energético, e a planta apresenta alto teor proteico, podendo, ainda, ser utilizada na forma de silagem (PESSOA, 2014).
Polpa cítrica: é um subproduto da indústria de alimentos cítricos, como cascas, sementes e bagaços de laranja, após a extração do suco. Muito utilizada na criação de bovinos em confinamento, para substituir os grãos mais caros (PESSOA, 2014). Em aves, ela pode substituir, no máximo, 10% do milho.
Resíduo de cervejaria: é um subproduto resultante dos processos de fabricação da cerveja e apresenta bons teores proteicos e energéticos.
Farinha de carne e ossos: é o resultado do cozimento de subprodutos dos animais, como carne, ossos e algumas vísceras permitidas de acordo com a legislação. Pode ser adicionada na ração de animais não ruminantes por ser boa fonte de proteína, cálcio, fósforo e lipídeos. É proibida para ruminantes.
Fora os, aqui, listados, há uma gama de alimentos que podem ser utilizados na alimentação animal. A população humana e, consequentemente, a produção de alimentos de origem animal têm aumentado a cada dia, o que tem levado ao desenvolvimento de alimentos que substituam os cereais tradicionais. Atualmente, diversos produtos vêm sendo testados, como a farinha de insetos, por apresentarem boa fonte proteica. No entanto muito ainda deve ser desenvolvido antes da produção em larga escala.
Tendo em vista essas necessidades, o nutricionista animal, geralmente um zootecnista, será responsável pela formulação da dieta do animal, ou seja, qual a quantidade de cada alimento estará na ração fornecida. Primeiramente, será realizada uma Análise Bromatológica, que é uma análise que mostra a quantidade aproximada de cada nutriente no alimento analisado. Por exemplo: o alimento X possui 10% de proteína, 2% de minerais etc. Essa análise é necessária, pois, apesar de conhecermos o teor médio de cada nutriente do milho, por exemplo, ele pode mudar de acordo com a safra, a região, o clima e o solo plantado. Com esses dados em mãos, a quantidade de cada alimento na ração será calculada. As rações podem possuir diferentes características, de acordo com o seu processo de fabricação. As duas principais formas físicas das rações são apresentadas a seguir:
Ração farelada: possui o menor custo de fabricação, sendo, muitas vezes, processada na propriedade. Os ingredientes são moídos, pesados e misturados, formando uma ração com o aspecto de farelo, como o próprio nome diz. São comuns em criações de suínos, aves e bovinos.
Ração peletizada: após o processo de pesagem, moagem e mistura, os ingredientes são compactados (por meio de um processo que utiliza pressão, umidade e temperatura) para a formação de pellets, que são pequenos pedacinhos da ração, de forma circular e oval. O processo de peletização, também, aumenta o valor nutritivo e a digestibilidade da ração, além de diminuir o desperdício. Rações peletizadas são muito utilizadas na criação de coelhos, peixes e bovinos, mas também podem ser utilizadas para suínos e aves.
Por fim, para que você consiga entender melhor, imagine que serão fabricados 1.500 kg de ração para codornas em fase de postura. Para obter essa quantidade, serão utilizados (valores aproximados): 850 kg de milho (grão moído), 500 kg de farelo de soja, 15 kg de fosfato bicálcio (fornece o mineral fósforo), 115 kg de calcário calcítico (fonte de cálcio), 25 litros de óleo de soja (melhora a palatabilidade e fornece alguns lipídios necessários), 6 kg de suplemento vitamínico e mineral, 6 kg de sal comum e mais alguns kg de aminoácidos essenciais. Viu quantos ingredientes foram utilizados? E, principalmente, percebe a enorme quantidade de milho e de soja utilizada para fabricar essa ração? Por isso, é importante formular dietas e saber os valores dos ingredientes e seus possíveis substitutos!
Caro(a) aluno(a), você, como Técnico(a) em Agronegócio, precisará estar atento(a) aos possíveis alimentos disponíveis em sua região bem como às qualidades nutricionais e seus valores no mercado, pois, muitas vezes, o aumento no preço de um ingrediente (alimento) pode tornar a produção inviável. Nem sempre a substituição de um ingrediente apresentará os mesmos resultados produtivos, porém, em alguns casos, ela é necessária para manter a produção viável até que as coisas melhorem.
Você pode exercitar seus conhecimentos em casa. Inicie pesquisando, mais a fundo, sobre os alimentos aqui listados e os benefícios de sua escolha. Lembre-se que alguns alimentos não podem substituir totalmente o milho, cereal considerado nobre para a produção de energia. Você perceberá, em sua pesquisa, vários outros alimentos possíveis de serem utilizados na alimentação animal e, como Técnico(a) em Agronegócio, poderá auxiliar o produtor rural na gestão de sua criação!
ARTUZO, F. D. et al. O potencial produtivo brasileiro: Uma análise histórica da Produção de Milho. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v. 12, n. 2, p. 515-540, 2019.
GOES, R. H. T. B; SILVA, L. H. X; SOUZA, K. A. Alimentos e alimentação animal. Dourados: UFGD, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/3074/1/alimentos-e-alimentacao-animal.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023.
PAES, M. C. D. Aspectos físicos, químicos e tecnológicos do grão de milho. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2006. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/489376/1/Circ75.pdf. Acesso em: 10 jan. 2023.
PESSOA, R. A. S. Nutrição Animal: Conceitos Elementares. São Paulo: Saraiva, 2014.