Querido(a) aluno(a), nesta lição, você estudará sobre a criação de bovinos para a produção de leite e as particularidades de sua criação! A bovinocultura é um dos principais segmentos agropecuários do Brasil e é por isso que ela será a primeira a ser estudada em nosso curso. Por meio do conhecimento da criação da espécie bovina, você, como Técnico(a) em Agronegócio, poderá auxiliar os produtores de leite a terem uma produção com mais qualidade, eficiência e lucratividade. Nesta lição, o aprofundamento será na Bovinocultura Leiteira, ou seja, na criação da espécie bovina, com a finalidade de produzir e comercializar o seu leite.
A área de atuação do(a) Técnico(a) em Agronegócio é ampla, dessa forma, ao terminar seu curso, você poderá atuar em diferentes segmentos, seja em uma agroindústria, seja auxiliando o agricultor nas plantações, seja atuando na produção de animais. Nesse contexto, imagine que você tenha sido chamado(a) para auxiliar um pecuarista que está precisando aumentar a lucratividade de sua produção leiteira. Como você poderia auxiliá-lo? Quais seriam os conhecimentos necessários para contribuir com o objetivo do produtor de aumentar seus lucros?
Para auxiliar um produtor de leite, você precisa, primeiramente, entender todo o contexto da Bovinocultura Leiteira, ou seja, conhecer todo o caminho pelo qual o animal deve percorrer para que se tenha o produto final (nesse caso, o leite). Sendo assim, precisa compreender a Cadeia Produtiva na qual essa produção está inserida, escolher o sistema de criação (optando pelo semi-intensivo, extensivo ou intensivo), definir a raça dos animais, escolher a nutrição e o manejo de pastagens, planejar as instalações que serão utilizadas e verificar o conhecimento do proprietário e dos funcionários da propriedade em relação a todos os procedimentos relacionados ao manejo e à sanidade dos animais. Além disso, deve se atentar, principalmente, aos cuidados de higiene das instalações e do momento da ordenha!
Com os conhecimentos obtidos em lições anteriores, você compreendeu a Produção Animal de maneira geral, os termos mais utilizados e os pontos importantes do ponto de vista econômico e produtivo, sendo assim, agora, você já está apto(a) a se aprofundar nas criações das diferentes espécies de animais, vamos lá?
No case desta lição, falaremos sobre um pecuarista, chamado André, que possuía uma criação de vacas leiteiras, porém apresentava dificuldades em tornar essa criação rentável e eficiente. O produtor reclamava que, apesar de possuir uma excelente genética em seu plantel (conjunto de animais selecionados pelo criador), com vacas da raça holandesa, consideradas excelentes produtoras de leite, a sua produção não atendia às suas expectativas e estava dando prejuízo.
Com o conhecimento adquirido no decorrer da disciplina, você conseguiria explicar o que poderia estar acontecendo neste caso?
Para solucionar os problemas, André contratou uma Técnica em Agronegócio, chamada Solange, pois precisava de uma gestão eficiente que atendesse às suas expectativas e, obviamente, trouxesse lucro.
Como visto nas lições anteriores, a genética, a produção e a sanidade do animal precisam trabalhar sempre juntas para uma produção animal eficiente. Assim, a partir desse ponto, a técnica iniciou o seu trabalho. Ela começou com a pastagem, dividindo-a em piquetes (espaços predefinidos e limitados na área de pastagem do rebanho), para que uma parte do pasto possa se recuperar e crescer novamente, enquanto a outra porção da pastagem sirva de alimento aos animais. Além disso, os animais foram suplementados com alimentos concentrados, pois, como a raça holandesa possui como característica alta capacidade produtiva, necessitavam de um alto aporte nutricional para que pudessem expressar essa característica.
Em relação aos aspectos sanitários, Solange percebeu que muitas vacas apresentavam mastite (inflamação nos tetos), apesar da ordenha ser realizada em condições ideais de higiene. A técnica começou a procurar a causa e percebeu que, logo após a ordenha, muitas vacas deitavam no chão, dessa forma, como os esfíncteres de seus tetos ainda estavam abertos devido à recente ordenha, ocorria a entrada de bactérias pelo canal. A técnica, então, orientou o proprietário a alimentar as vacas logo após as duas ordenhas do dia, pois isso faria com que permanecessem em pé por mais tempo, aumentando a probabilidade de que o canal do teto estivesse fechado até o momento em que as vacas fossem deitar, formando, assim, uma barreira física contra a entrada de microrganismos.
As mudanças no manejo e na alimentação, apesar de parecerem simples, resultaram em uma melhora significativa na produção e em pouco tempo André observou que suas expectativas começaram a se tornar realidade.
A Bovinocultura é a atividade pecuária que trata da criação de bovinos, sendo dividida entre a Bovinocultura de Corte (produção de carne) e a Bovinocultura de Leite (produção leiteira). Essa divisão é necessária porque existem diferenças entre os dois modelos de criação, especialmente em relação ao manejo e à genética (raça ou cruzamento entre raças).
Nesta lição, focaremos em estudar os principais aspectos da Bovinocultura de Leite, ou Bovinocultura Leiteira. Como visto na Lição 1, a produção de leite é importante também na Cadeia Produtiva de seus produtos derivados (produtos lácteos), como o queijo, a manteiga e o iogurte.
Como estudamos anteriormente, existem raças bovinas com aptidão leiteira, ou seja, que utilizam a maior parte da energia disponível para a produção de leite (como a raça Holandesa), e raças com aptidão de corte (como a raça Nelore), que utilizam a maior parte de suas reservas energéticas para o crescimento muscular, produzindo, assim, leite em pouca quantidade, apenas o necessário para a alimentação do bezerro.
Existem, ainda, raças de dupla-aptidão, como a Simental e a InduBrasil, sendo que esta última foi criada a partir do cruzamento entre as raças Gir, Nelore e Guzerá. As raças de dupla-aptidão produzem carne (musculatura) e leite em quantidades suficientes para fins comerciais. Entretanto a introdução dessas raças na criação deve ser criteriosa, de acordo com as expectativas do produtor, pois, apesar de produzir ambos os produtos, não será um animal com alta produção para a carne (deposição de musculatura) e para o leite, se comparadas a raças de aptidão única.
Outro ponto importante na escolha da raça é a finalidade do leite produzido. A produção de leite em grandes volumes é a principal característica desejada no mercado do leite como bebida. Entretanto, para a produção de derivados lácteos, como o queijo, é importante que o leite tenha boa quantidade de sólidos, ou seja, lipídeos, proteínas e minerais. Dentre as raças conhecidas como boas “produtoras de queijo”, está a raça Jersey, por apresentar uma genética para a produção de leite com alto teor de sólidos.
Para que a vaca produza leite, ela precisa estar prenha ou ter tido, ao menos, um bezerro recentemente. O período de gestação da vaca é de, aproximadamente, nove meses, ou 281 dias — podendo variar em alguns dias de acordo com a raça.
Em cada gestação, o normal é nascer apenas um bezerro (podem nascer dois, mas é raro), e a vaca não produzirá leite de forma contínua, pois há variações na produção durante o período de lactação. Para que você compreenda melhor como ocorre essa variação, iniciaremos pelo chamado Período Seco, que são os dois últimos meses de gestação, período em que as vacas não são ordenhadas. Esse período é fundamental para que a vaca utilize as suas energias para o desenvolvimento final do feto e a recuperação das suas reservas corporais para o parto e o próximo período de lactação.
A primeira fase da produção leiteira, chamada Fase Crescente, se inicia no parto e dura, aproximadamente, entre 35 e 60 dias após o parto. Como o próprio nome diz, há uma crescente produção de leite durante esses dias, aumentando o volume produzido a cada dia. Logo após, acontece o Pico de Lactação, em que ocorre a máxima produção de leite. Em raças mestiças ou zebuínas, esse pico ocorre, em média, 35 dias após o parto e, em raças europeias, como a Holandesa, em 45 ou até 60 dias após o parto.
Após o pico de lactação, a produção vai caindo, conforme os dias vão passando, até o final da lactação, que pode ocorrer de forma natural ou por meio da secagem, aproximadamente, 305 dias de lactação. Para a secagem manual, deve-se esgotar o úbere (ordenhar todo o leite), aplicar um antibiótico próprio para o período dentro de cada teto (intramamário) e transferir a vaca para outro local, longe das vacas em lactação, para que não ocorra mais o estímulo da ordenha. Mesmo se o úbere encher de leite, a vaca não deve ser ordenhada, pois esse manejo estimula a produção.
Dentre os principais desafios do produtor, está a persistência de lactação, que é a capacidade de manter alta produção de leite após o pico (máxima produção) e alcançar o intervalo ideal, entre um parto e outro, de 12 meses, sendo 10 meses de lactação e dois meses de período seco. Porém não é fácil alcançar essa marca sem um manejo eficiente. Fatores, como nutrição da vaca, higiene das instalações e manejo reprodutivo, também podem interferir nesse período.
Para alcançar o menor intervalo entre partos possível, muitos produtores utilizam tecnologias, como a inseminação artificial, para manter as vacas com a média de um filhote por ano. Porém, novamente, para que a inseminação apresente resultados, a fêmea precisa estar saudável e bem nutrida. As vacas que, ainda, não tiveram uma gestação são chamadas de novilhas. Estas alcançam a puberdade, aproximadamente, aos dez meses, quando estão com, aproximadamente, 45% do peso adulto (peso que pode variar de acordo com a raça!). Essas vacas, porém, só podem ser inseminadas quando atingirem a maturidade sexual, que ocorre cerca de 60 dias após a puberdade e após dois ou três ciclos estrais, ou seja, após duas ou três ovulações. Nesse momento, a fêmea já está com cerca de 55% do seu peso adulto.
Atenção! Na prática, o ideal é que as novilhas, especialmente as da raça holandesa, sejam inseminadas, em média, com 15 meses de vida, para que o seu corpo e a estrutura óssea estejam mais preparados, o que aumenta as chances de gestação e parto tranquilos. Após o parto, as novilhas (agora, vacas) são inseminadas, aproximadamente, entre 60 e 90 dias após o parto, pois o útero precisa de um período para se recuperar.
Pensando na produção de leite, é desejável que o bezerro seja uma fêmea, para que esta, também, possa produzir leite em sua idade adulta. Os machos, geralmente, são descartados, doados ou criados para a produção de carne de vitela.
Você deve estar se perguntando: por que os machos não são criados e utilizados para a reprodução depois de adultos? Bom, isso acontece porque se utiliza o macho “reprodutor” para a inseminação das fêmeas. Os animais machos reprodutores são selecionados por meio do melhoramento genético, e as suas filhas, certamente, serão boas produtoras de leite, dessa forma, quando se pensa em lucro para o produtor, os bezerros machos — sem melhoramento genético — não seriam boa escolha. Algumas propriedades, em vez de manterem o macho reprodutor (gastando com criação, manejo e alimentação dele), apenas, compram as doses de seu sêmen para inseminação das fêmeas.
Retomando a criação dos bezerros, logo após o nascimento, machos e fêmeas devem consumir o colostro. Caso você não saiba o que é o colostro, ele é o leite produzido, nos primeiros dias pós-parto, pela vaca. Por ser rico em imunoglobulinas (anticorpos), protegerá o filhote de infecções, até que este produza os seus próprios anticorpos. O consumo do colostro é fundamental, pois os bezerros, ao contrário de outras espécies, não recebem anticorpos pela placenta (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Lembre-se! O ideal é que o bezerro consuma o colostro nas primeiras doze horas de vida; por isso, deve ficar com a mãe durante esse período. Em alguns casos, a fêmea não produz colostro o suficiente, então, pode-se manter um banco de colostro (colostro congelado em garrafas pet) na fazenda. Dessa forma, quando algum bezerro precisar, esse leite poderá ser descongelado em banho-maria.
Outro manejo importante é em relação ao umbigo do bezerro. Este deve ser mergulhado no iodo por, no mínimo, cinco dias seguidos para que seja curado. Isso é essencial, pois o umbigo pode atuar como porta de entrada para microrganismos, e o iodo atua prevenindo as infecções e melhorando a cicatrização.
Em propriedades leiteiras, os bezerros costumam ser alojados em bezerreiros — instalações separadas das mães — onde são alimentados, manualmente, pelos funcionários da propriedade até o desmame. Os bezerros, normalmente, são desmamados entre seis e oito meses de vida e, nas primeiras duas semanas, a alimentação é exclusivamente o leite, que é comumente fornecido em mamadeiras próprias para bezerros.
Após a segunda semana de vida, são adicionados à dieta desses animais os alimentos volumosos e concentrados de boa qualidade para garantir seu crescimento e desenvolvimento. Um ponto importante é que esses animais fiquem em bezerreiros individuais, pelo menos, nos primeiros 60 dias, para evitar a disseminação de doenças e controlar o consumo individual de alimento.
[...] bezerros criados em abrigos individuais apresentam reações mais satisfatórias às condições climáticas, além de comportamento indicativo de melhor bem-estar que os criados em bezerreiros convencionais, o que pode exercer reflexos positivos ao seu desempenho. Vale ressaltar que o manejo inadequado de bezerras certamente levará a perdas econômicas por redução de taxas de crescimento, aumento dos índices de mortalidade ou por redução da vida útil dos animais no rebanho (FAÇANHA et al., 2011; SILVA, 2011 apud LOPES et al., 2016, p. 32).
As instalações necessárias para uma produção leiteira dependem do sistema de produção a ser adotado, que pode ser intensivo, semi-intensivo ou extensivo. Como vimos em lições anteriores, quanto maior a intensificação da produção, maiores serão os gastos com instalações e os ganhos produtivos. De forma geral, é necessário:
Sala de Ordenha: nesta sala, ficam os equipamentos necessários para a ordenha e é também o local em que ocorre a ordenha das vacas para a coleta de leite. A sala de ordenha precisa ser limpa, seca e arejada.
Sala de Leite: local em que o leite é armazenado em um tanque refrigerado até a chegada do caminhão refrigerado para buscá-lo e levá-lo para o beneficiamento (indústria).
Curral de Espera: local em que as vacas ficam antes da ordenha. O ideal é que esse local seja coberto, de fácil limpeza e fresco, para evitar o estresse calórico nos animais que estão na fila de espera. Em regiões quentes, há a opção da instalação de ventiladores.
Instalações para o confinamento: como visto na Lição 2, os animais criados em confinamento não possuem acesso ao pasto, dessa forma, precisam receber toda a sua alimentação no cocho. No caso de uma criação intensiva na bovinocultura leiteira, instalações, como galpões e locais para armazenamento dos alimentos, precisarão ser construídas, de acordo com o sistema de confinamento escolhido, como veremos mais adiante.
Baias de Parição: local em que as vacas, em fase final de gestação, são separadas para o parto, quando criadas em confinamento ou semiconfinamento. No caso das criações extensivas ou semi-intensivas, essas fêmeas podem ficar em um pasto separado, porém perto da sede da propriedade, para que possam ser observadas.
Piquetes, ou Pasto: para alimentação animal, como estudado nas lições anteriores.
Bezerreiro: local em que os bezerros são alojados. Conforme vimos nesta lição, nos primeiros dias de vida, o ideal é que os bezerros não tenham contato com outros animais, pois evita-se a disseminação de doenças. Os animais costumam ficar nos bezerreiros coletivos dos 15 dias até os seis meses de idade.
Anexos: são locais, como o vestiário dos funcionários, a farmácia (local onde ficam armazenados os medicamentos mais utilizados no dia a dia dos animais) e a sala de máquinas, além de uma área de contenção dos animais para a realização de procedimentos veterinários.
Como dito anteriormente, o sistema de confinamento para o gado necessitará de mais instalações, visto que os animais viverão, todo o tempo, confinados, sem acesso ao pasto. Como dito anteriormente, o sistema de confinamento para o gado necessitará de mais instalações, visto que os animais viverão, todo o tempo, confinados, sem acesso ao pasto. A adesão a esse sistema, muito utilizado em países, como os Estados Unidos, vem aumentando por parte dos produtores brasileiros. Lembre-se: os animais precisam, acima de tudo, de conforto, especialmente o térmico. Afinal, animais estressados, com calor ou frio extremos, não produzirão adequadamente!
Dentre os principais sistemas de confinamento, estão Tie-Stall e o Free-Stall. No sistema Tie-Stall, os animais permanecem em baias individuais, sendo alimentadas no cocho e com acesso a bebedouros. Nesse sistema, as vacas são soltas apenas no momento da ordenha. Por ser custoso, por demandar mão de obra para alimentação, limpeza e ordenha e construção de galpões com baias individuais, esse sistema costuma ser utilizado apenas em pequenas criações.
No sistema Free-Stall, os animais ficam em um espaço cercado (geralmente, um grande galpão) com baias individuais para o descanso e há uma área em comum para que as vacas possam se alimentar e se exercitar, chamada área de trato. Nesse sistema, as vacas possuem trânsito livre entre os espaços.
Conforme dito anteriormente, para uma produção leiteira eficiente, apenas a quantidade de leite produzido não é o suficiente. É necessário, também, que esse produto possua qualidade, pois o valor recebido pelos produtores pelo litro de leite oscila de acordo com a qualidade do produto.
De acordo com Araujo et al. (2013), a qualidade do leite é definida por seus parâmetros físico-químicos (teores de proteína, gordura, lactose, minerais e vitaminas) e microbiológicos (ausência de contaminantes, em especial, as bactérias). A obtenção de um leite de qualidade, em termos nutricionais e de segurança, dependerá, portanto, do controle de todas as etapas da sua produção, que envolve a escolha dos animais para o rebanho (genética), como visto nas Lições 3 e 4, a qualidade do alimento fornecido (como visto nas Lições 5, 6 e 7) e a sanidade desses animais (livres de doenças). Os autores, ainda, enfatizam a importância da higiene das instalações, dos equipamentos da ordenha e do local de armazenamento do leite até a chegada do caminhão, para que não ocorra a contaminação do leite, o que, em alguns casos, pode levar ao descarte e à perda produtiva.
Lembre-se: a vaca precisa estar bem alimentada para que possa manter boa condição corporal, crescimento e nutrição do feto (no caso de estar prenha) e boa produção leiteira (em volume e qualidade). Como visto nas lições anteriores, a vaca é um animal ruminante e necessita de fibras na sua alimentação, além de suplementos concentrados, o que aumenta a quantidade de proteína e energia, melhorando a sua produção.
A sanidade é um ponto crucial para a produção leiteira. Para que a criação se mantenha dentro dos padrões exigidos, os animais devem sempre estar com as vacinas e os vermífugos em dia, além da realização de outros manejos sanitários, como a higiene das instalações, em especial, a sala de ordenha e a sala de armazenamento do leite, e o isolamento dos animais doentes.
Um dos maiores problemas na produção leiteira é em relação à mastite, um processo inflamatório que ocorre nas glândulas mamárias. Há duas formas de mastite: a mastite clínica e a subclínica. Na mastite clínica, ao realizar a ordenha, percebe-se a presença de grumos e pus nos tetos e no leite, sendo o seu leite descartado para o consumo humano. Já no caso da mastite subclínica, não há a presença de sinais clínicos, o que dificulta a sua detecção a olho nu.
Ao misturar o leite de uma vaca com mastite, mesmo que subclínica, ao leite das vacas saudáveis, porém, ocorrem mudanças nas características microscópicas do leite, como a diminuição dos teores de gorduras, proteínas e lactose. Ademais, haverá a presença de células somáticas no leite, causadas pela descamação das células da glândula mamária ocasionadas pela inflamação. Por isso, os produtores devem sempre realizar exames de mastite nos animais, para que possam ser tratados e o seu leite, descartado. Esse acompanhamento é importante, pois a lei estabelece um número máximo de CCS (Contagem de Células Somáticas) no leite, e os produtores são proibidos de venderem o seu produto caso não atendam a esses requisitos (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Para que a mastite não seja um problema na propriedade, medidas de higiene são fundamentais. As fêmeas acometidas precisam ser ordenhadas separadamente e, apenas, após a ordenha de todas as vacas saudáveis para evitar a contaminação. O leite dos animais acometidos, também, deve ser descartado.
Outra forma de prevenção da mastite é alimentar as vacas logo após a ordenha. Ao fornecer alimento concentrado após a ordenha, as vacas ficarão em pé para se alimentar, dando maior tempo para que os esfíncteres dos tetos, ainda abertos após a recente ordenha, fechem-se novamente, criando uma barreira física para a entrada de microrganismos. Dessa forma, as vacas poderão deitar e descansar com maior segurança, do ponto de vista sanitário. Você se lembra que essa foi uma das alterações que a Técnica Solange realizou com as vacas de André no case desta lição, não é mesmo?
Por fim, os animais precisam, obrigatoriamente, estarem com a vacinação em dia. Vacinas, como a de febre aftosa, raiva e brucelose, são imprescindíveis. Testes de tuberculose bovina, também, devem ser realizados, pois, ainda, não existem vacinas para essa doença. No caso de animais positivados, estes precisarão ser sacrificados e a sua carcaça deverá ser enviada para o abate sanitário, evitando a propagação da doença.
Atenção! Algumas zoonoses, como a brucelose, podem ser transmitidas pelo leite da vaca e seus derivados, como o queijo, quando consumidos crus, ou seja, que não passaram pelo processo de aquecimento (pasteurização ou processo UHT), para matar as bactérias nocivas. É por isso que é tão importante a higiene e a vacinação dos animais!
O Brasil é um dos maiores produtores de leite do mundo, e a produção leiteira é de extrema importância econômica, servindo como fonte de renda para milhares de produtores. Como dito anteriormente, os produtores de leite recebem o pagamento por litro de leite, e esse valor pode variar de acordo com a qualidade dele. Por isso, para que a sua produção seja eficiente e econômica, o produtor precisará investir em fatores, como ambiência, genética, manejo, nutrição, sanidade e biosseguridade, resultando em um produto de qualidade e, consequentemente, de maior valor. Em alguns casos, os investimentos dos produtores não conseguem ser totalmente sanados pelo maior valor pago no leite, e é por isso que se faz necessário que se tenha uma gestão eficiente, que combine qualidade e lucratividade. Muitas vezes, pequenas alterações no manejo já farão a diferença na produção final.
Caro(a) aluno(a), nas próximas lições, falaremos muito sobre esses dois temas: ambiência e biosseguridade, pois eles são importantes em todas as criações! Vamos aprender mais sobre cada um deles?
É o termo aplicado para a relação entre o animal e o ambiente em que ele vive (COSTA-E-SILVA et al., 2009). Imagine todas as interações que o animal possui no meio em que ele está inserido: espaço, luz, sons, gases, temperatura, etc. Esses fatores podem causar tanto uma sensação de bem-estar como o estresse do animal. Por exemplo: você gostaria de viver em um local com superlotação, pouca comida, água de péssima qualidade, muito quente e sujo? O animal, também, não gostaria! E como ele não pode reclamar por meio de palavras, ele reclama de uma maneira bem significativa: diminuindo a sua produção. Por isso, lembre-se: a ambiência é fundamental!
A biosseguridade é o termo aplicado às medidas que visam impedir a entrada e a propagação de microrganismos patogênicos (que podem causar doenças) no plantel (PEGORARO, 2019). Dentre as medidas de biosseguridade utilizadas, estão a quarentena (isolamento dos animais novos durante um período, para que não transmitam possíveis doenças advindas de outra criação), a higiene do local e a restrição do acesso à propriedade, além da desinfecção de veículos e troca de roupa. Imagine que você, como Técnico(a), ao visitar duas propriedades distintas, carregue, em seu carro, roupas e sapatos, microrganismos de um lugar para o outro? A biosseguridade está, também, nos detalhes! Por fim, podemos dizer que a biosseguridade trabalha em conjunto com a sanidade, que é o cuidado com a saúde dos animais.
Você, como Técnico(a) em Agronegócio, precisará estar atento(a) às particularidades, não apenas de cada espécie animal, mas também em relação ao produto final, visto que há diferenças no modelo de criação, na escolha da raça e, até mesmo, nas instalações utilizadas, bem como ao manejo dos animais de acordo com o produto final desejado.
Poderá auxiliar os produtores de leite em pontos importantes da produção leiteira, por exemplo, na escolha dos melhores animais de acordo com a finalidade, na construção de instalações fáceis de limpar e com conforto térmico, na nutrição eficiente e na higiene, sanidade e manejo adequados, levando à maximização da produção leiteira. Porém lembre-se sempre: independentemente da criação escolhida, do sistema de produção, da raça ou da finalidade, genética, nutrição e sanidade precisam trabalhar juntas! Tendo isso em mente, você poderá se adequar às particularidades de cada criação, resultando em uma produção eficiente e econômica!
ARAUJO, A. P. de. et al. Qualidade do leite na bovinocultura leiteira. PUBVET, Londrina, v. 7, n. 22, 2013. Disponível em: https://www.pubvet.com.br/artigo/787/qualidade-do-leite-na-bovinocultura-leiteira. Acesso em: 14 fev. 2023.
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.
COSTA-E-SILVA, E. V. da. et al. Bem-estar, ambiência e saúde animal. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 1, 2009.
LOPES, M. A. et al. Uso de ferramentas de gestão na atividade leiteira: um estudo de caso no sul de Minas Gerais. Revista Científica de Produção Animal, v. 18, n. 1, p. 26-44, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/rcpa/article/view/42780. Acesso em: 14 fev. 2023.
PEGORARO, L. M. C. A importância da biosseguridade na bovinocultura leiteira. In: SIMPÓSIO BRASIL SUL DE BOVINOCULTURA DE LEITE, 9., 2019, Chapecó. Anais [...]. Chapecó: Nucleovet, 2019. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1115987/a-importancia-da-biosseguridade-na-bovinocultura-leiteira. Acesso em: 14 fev. 2023.