Lição 10: Criação Animal —
Principais Aspectos da Ovinocultura
Principais Aspectos da Ovinocultura
Olá, querido(a) aluno(a)! Nesta lição, você aprofundará seus conhecimentos em relação a uma das criações mais antigas do mundo, a Ovinocultura, nome este atribuído à criação de ovelhas, com o intuito de produzir carne, leite, pele ou lã, além dos seus derivados.
Atualmente, a ovinocultura vem ganhando espaço em regiões onde, antigamente, não eram grandes focos da criação. Ademais, a produção, antes amplamente focada em pequenas propriedades, vem se tornando, a cada dia mais, tecnificada. Por tais fatores, a ovinocultura tende a ser um ramo importante para ser estudado por futuros profissionais na área de agronegócio, visto que a tendência é de aumento no mercado de ovinos, tanto para o produtor como para o consumidor.
Imagine que você queira iniciar uma criação de ovelhas tecnificada em sua propriedade rural. Quais seriam os seus primeiros passos? Em um segundo caso, considere que um produtor rural pediu o seu auxílio para aumentar os ganhos de sua criação de ovelhas para a produção de carne, tanto por meio da implementação de novas tecnologias como por meio do direcionamento do mercado consumidor. Você saberia identificar os principais desafios dessa criação animal para poder auxiliá-lo?
Como em todas as criações, é necessário estudar a cadeia produtiva da criação (lembre-se da Lição 1 sobre a Cadeia Produtiva Animal!), para conhecermos as necessidades do mercado. Além disso, devemos conhecer, a fundo, as necessidades da espécie com a qual você estará trabalhando. Lembre-se, em qualquer criação animal, existirão os pontos básicos a serem estudados, relacionados aos principais pilares da produção animal: genética, nutrição e sanidade!
No case desta lição, conheceremos a história de um produtor, chamado Ademilson, que possuía uma pequena criação de ovelhas criadas soltas a pasto, sem cuidados adicionais. Os animais comiam apenas o que estava disponível no pasto e criavam os seus filhotes sem a interferência humana, além disso, a mortalidade entre os cordeiros (filhotes) era alta. Verificando o cenário que sua criação de ovelha enfrentava, o produtor decidiu contratar um Técnico em Agronegócio para que o auxiliasse a tecnificar a sua produção, para que ela se tornasse lucrativa.
O primeiro ponto avaliado pelo técnico foi em relação à raça dos animais. Como eram da raça Suffolk, o manejo seria direcionado para a produção de carne. Porém, para que o frigorífico aceitasse esses animais, a produção deveria ser constante e o mais padronizada possível. Para isso, primeiramente, um aprisco foi construído de forma a abrigar os animais e facilitar manejos, como a vacinação, a vermifugação, o casqueamento e a tosa dos animais.
O aprisco contava, ainda, com uma maternidade, onde os cordeiros recebiam todos os cuidados. A pastagem foi adequada para os animais, com a plantação de uma espécie que fosse bem aceita pelos animais, além de adequada para o clima da região. Uma estação de monta foi implementada na propriedade, o que permitiu o nascimento do maior número de animais no mesmo período, aumentando a uniformidade dos lotes. Todo esse processo ocorreu de forma gradual, e, com o passar do tempo, o retorno dos investimentos começou a ser observado.
Esse exemplo nos mostra que a ovinocultura, ainda, atua como uma criação de subsistência em muitos locais no nosso país, porém com grande potencial de tecnificação e crescimento!
De acordo com Rovai (2017), a criação de ovelhas é uma das mais antigas formas de criação de animais, sendo denominada ovinocultura. Há uma diversidade de raças ovinas, criadas com o intuito de produzir produtos, como a carne, o leite, o couro e a lã, de acordo com as suas aptidões.
Os ovinos adaptam-se a diferentes vegetações e, até mesmo, em áreas montanhosas e de clima semiárido. No Brasil, boa parte da criação ovina está localizada na região Nordeste. Mas, mesmo com alta adaptabilidade, existem raças que são mais adaptáveis a uma ou outra condição climática. Nesse contexto, o manejo correto, visando as necessidades de cada animal/raça/aptidão e fase da vida, é indispensável para o sucesso da criação (ROVAI, 2017).
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), a Cadeia Produtiva da Ovinocultura não é tão organizada quando comparada à da bovinocultura, por exemplo. Por isso, o Brasil, ainda, importa uma quantidade relevante de carne ovina de outros países. Entretanto a ovinocultura possui enorme potencial para a ampliação de sua produção por meio da implementação de estratégias que melhorem a organização desse setor, aumentando a produtividade das criações e resultando na oferta de produtos padronizados e de qualidade, podendo atender ao mercado interno e, até mesmo, ao externo.
Você, como Técnico(a) em Agronegócio, precisará saber as principais terminologias utilizadas na ovinocultura, por isso, precisamos ter em mente os nomes dados às categorias dos animais utilizadas na criação, antes de seguirmos em frente:
Cordeiro: do nascimento até a época do desmame, entre três e cinco meses de vida, os filhotes são denominados cordeiros.
Borrego/Borrega: nome dado aos animais após o desmame, até o início do período reprodutivo.
Ovelha: nome dado à fêmea já adulta e após seu primeiro parto.
Carneiro: macho adulto já apto para a reprodução.
Matriz: fêmea selecionada para a reprodução, ou seja, para gerar novos filhotes.
Reprodutor: animal macho selecionado para ser o pai das próximas gerações.
Assim como na criação de bovinos, nós podemos dividir as fases de criação da ovinocultura em fases de cria e recria e engorda ou lactação, dependendo da finalidade da criação. Vamos relembrar?
Fase de Cria: do Nascimento até o desmame.
Fase de Recria: fase de crescimento (especialmente em tamanho e conformidade muscular e óssea).
Fase de Terminação (engorda): fase de engorda para o abate, no caso dos animais de corte.
Fase de Lactação: período em que as fêmeas estão produzindo leite e sendo ordenhadas para a comercialização dele.
Assim como em outras espécies, as raças ovinas são divididas de acordo com a sua aptidão, sendo: as Raças de Corte especializadas na produção de carne; as Raças Leiteiras especializadas na produção de leite; e as Raças Lanadas especializadas na produção de lã, além das raças utilizadas para produção de pele (couro). Além disso, há, também, as raças de dupla aptidão (CODEVASF, 2011). Dentre as principais raças de ovinos, estão:
Raças de corte: Suffolk, Hampshire Down, Ile de France, Texel e Dorper, que são raças que costumam atingir um peso maior do que as outras, e seus cordeiros alcançam peso para o abate rapidamente. Essas raças podem ser lanadas (quando o corpo é coberto de lã) ou deslanadas. Dentre as raças lanadas, ainda, há animais que não apresentam lã em suas extremidades (membros e patas). Na Figura 1, podemos observar as características das ovelhas da raça Suffolk.
Raças de Pele: Cabugi, Morada Nova e Santa Inês, que podem ser utilizadas para produção de pele, sendo que a sua carne, também, pode ser aproveitada.
Raças de Dupla Aptidão: Samm e Dohne Merino, que apresentam aptidão mista, produzindo carne e lã.
Raças de Lã: Merino Australino e Ideal, que são os principais representantes de raças especializadas em lã.
Raças Leiteiras: dentre as maiores produtoras de leite, estão as raças Bergamácia, Lacaune e East Friesian (ROVAI, 2017).
Como vimos na Lição 2, o sistema de criação deve ser escolhido de acordo com a raça dos animais e o produto final desejado (nesse caso, a carne, o leite, a lã ou a pele) bem como com o mercado consumidor e o retorno financeiro dos investimentos gastos na criação (ROVAI, 2017).
Os sistemas de criação de ovinos são muito parecidos com os de bovinos. Os ovinos podem ser criados em Sistema Extensivo, sendo este o mais tradicional, e, assim como na criação de bovinos, os animais alimentam-se de pastagens naturais, com o mínimo de investimentos e instalações. Para que esse sistema seja mais lucrativo, é recomendado o plantio de pastagens com alto valor nutritivo, além de ser uma espécie adequada para os ovinos que realizam o pastejo bem rente ao solo. Você pode revisar seus conhecimentos sobre pastagens na lição 7. Os animais, também, podem ser distribuídos em piquetes rotativos, para que parte do pasto descanse enquanto os ovinos pastam na outra parte (ROVAI, 2017).
No Sistema Semi-Intensivo, os animais são criados a pasto, porém com suplementação (mineral, volumosos e concentrados), divisão do pasto em piquetes com cochos e bebedouros, manejo sanitário e sistema creep feeding (sistema semelhante ao utilizado em bovinocultura para alimentação privativa dos cordeiros) (ROVAI, 2017).
Por fim, no Sistema Intensivo, maiores investimentos são utilizados (vide Lição 2) resultando, consequentemente, em maiores índices produtivos. Ademais, em regiões com muitas chuvas (umidade), é recomendado o confinamento dos cordeiros (fase de cria), que são altamente suscetíveis à infestação de parasitas. O confinamento pode, ainda, ser realizado na fase de recria e engorda, visando acelerar o ganho de peso (ROVAI, 2017). Os ovinos podem, ainda, ser criados nos sistemas de consorciação: Silvipastoril, Agropastoril e Agrosilvipastoril, como visto na lição passada sobre bovinocultura.
A principal instalação de confinamento de ovinos é chamada aprisco, que atua como um curral para ordenhar ou, apenas, abrigar os animais, dependendo de suas aptidões. Dentre os benefícios da construção de um aprisco, estão a proteção dos animais contra predadores, chuva e frio e a facilitação do manejo dos animais, como o acompanhamento do nascimento. No caso de abrigos suspensos, ou seja, construídos acima do nível do solo, há diminuição do contato com as fezes, o que diminui a incidência de verminoses, um dos grandes problemas da ovinocultura. Ademais, ovinos criados inteiramente em confinamento e sem acesso ao pasto, também, apresentam menor incidência de verminoses, pois o pasto é o local onde grande parte dos patógenos estão alojados e, como os ovinos realizam o pastejo bem rente ao solo, acabam ingerindo, facilmente, os parasitas presentes nesse.
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A infestação por vermes (verminoses) é um problema muito recorrente na ovinocultura. Os vermes dos ovinos se alimentam de sangue e, em caso de alta infestação, os animais podem apresentar anemia, levando a perdas produtivas. Por esse motivo, além da vacinação, o manejo sanitário visando o problema das verminoses é de extrema importância! Exame de fezes e calendário de vermifugação são muito utilizados, além do método conhecido como Famacha, em que se vermífuga, apenas, os animais com a mucosa ocular pálida (anêmicos). Mas cuidado! As vermifugações não podem ser utilizadas em excesso ou de forma indiscriminada, sob o risco de os parasitas adquirirem resistência aos medicamentos, e estes, consequentemente, não fazerem mais o efeito desejado.
A gestação das ovelhas dura, aproximadamente, 152 dias. Para que os filhotes nasçam em dias aproximados, o que melhora a uniformidade do rebanho, geralmente, os produtores utilizam um manejo reprodutivo, chamado Estação de Monta, com duração aproximada de 45 a 60 dias, dependendo das necessidades e condições da propriedade. Durante esse período, um grupo selecionado de ovelhas ficará em contato direto com o macho reprodutor. Para que esse manejo tenha sucesso, os animais recebem suplementação nutricional, sendo acompanhados para que não fiquem com o escore muito baixo (magros) ou muito alto (gordos), o que não é indicado, pois pode interferir na fertilidade dos animais. O intervalo médio entre os nascimentos é de 12 meses.
Os ovinos, assim como os bovinos, necessitam receber colostro logo após o nascimento, pois este é rico em imunoglobulinas (anticorpos). Na fase de recria, que vai do desmame até a fase de terminação (corte) ou lactação (leite), os animais são, normalmente, criados em pasto de boa qualidade sem suplementação, apenas recebendo as vacinas e os vermífugos necessários. Já na fase de terminação, os animais podem ser criados confinados ou a pasto com suplementação, potencializando a produção (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
O manejo ocorre de acordo com as características da produção, e é por isso que toda criação precisa ser estudada e avaliada antes de implementar alguma mudança ou novo manejo. Por exemplo, os ovinos criados para exploração do couro precisam de um manejo voltado para a conservação do produto (couro). Nesse caso, se os animais possuírem chifres, estes precisam ser extraídos, pois, no caso de brigas, os chifres podem alterar a qualidade do couro. Ademais, os arames das cercas precisam ser lisos, porque um arame farpado, também, pode alterar a qualidade do couro. Ou seja, cada detalhe é importante para a escolha adequada de um sistema de produção (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
O casqueamento, manejo em que os cascos do animal são aparados, deve ser realizado periodicamente. Animais com afecções ou com os cascos muito grandes podem sentir dores, o que, consequentemente, leva a perdas produtivas. Além do casqueamento, o pedilúvio, processo onde os animais caminham sob um local contendo uma solução desinfetante (própria para esse manejo), é indicado, pois ajuda a evitar possíveis infecções.
Se Liga!
Na Produção Animal, ao invés de utilizarmos os termos “magro” ou “gordo”, nós utilizamos o Escore de Condição Corporal (ECC), avaliado de forma visual e subjetiva, de acordo com a cobertura muscular de regiões do animal, como a garupa (parte traseira) e a região da inserção da cauda. O escore corporal varia de um (caquético), com os ossos salientes e bem aparentes, a cinco (obeso) com espessa cobertura de gordura e muscular.
Como dito anteriormente, atualmente, a produção ovina não atende à demanda interna, sendo necessário importar a carne de outros países. Além disso, a carne ovina, culturalmente, não é a mais consumida no Brasil. Com isso, já entramos em dois pontos: a necessidade do aumento da produção no Brasil e o estudo do gargalo dessa produção, envolvendo fatores, como estratégias para incentivar o consumo rotineiro entre a população. Além da produção de carne, a produção de leite, pele e lã, também, possui grande capacidade de expansão, entretanto, assim como a cadeia da carne, essas produções, ainda, estão pouco desenvolvidas em relação a outros países.
O mercado da ovinocultura possui grande potencial tanto para o consumo interno quanto para o externo (exportações), além da diminuição da necessidade de importação da carne ovina. Em alguns países, como os países muçulmanos, a carne ovina é muito apreciada, mas, para que o nosso país possa exportar, os abatedouros precisam ser adaptados para o Oriente Médio, pois, se a criação e, principalmente, o abate não forem realizados de acordo com a religião desses países, a carne não poderá ser exportada! Dependendo da região a ser exportada, o produto precisará possuir a certificação Halal, o que significa que o abate obedece às normas da religião islâmica, ou a certificação Kosher, que significa que o abate obedece às normas da dieta judaica ortodoxa.
Portanto, o país pode, sim, atender à demanda de produtos oriundos da ovinocultura, além de investir na exportação. Porém, para que essa produção alcance o sucesso, a produção precisa ser de qualidade, padronizada e constante, além de atender a todas as exigências do mercado consumidor. Para isso, o produtor precisará investir em mão de obra qualificada para uma gestão eficiente!
Querido(a) aluno(a), a ovinocultura é um sistema de produção que, embora, ainda, esteja engatinhando, possui enorme potencial de crescimento no Brasil. Com o auxílio de profissionais qualificados, nosso país poderá ser capaz de suprir a demanda produtiva interna bem como ser um país competitivo no mercado internacional. Mas, para isso, muito trabalho deve ser feito!
Com o conhecimento dos desafios e das particularidades da criação de ovinos, soluções vão sendo criadas e implementadas, melhorando, assim, o dia a dia dos criadores, aumentando a eficiência e a lucratividade da criação, levando ao sucesso da produção e alçando o nosso país, a cada dia mais, entre os principais produtores do mundo!
Por ser um ramo com tendência de aumento de mercado, você, como futuro(a) Técnico(a) em Agronegócio, deve conhecer as melhores raças, as instalações e todos os detalhes da criação desses animais, pois, futuramente, pode ser contratado(a) para auxiliar algum produtor na criação de ovelhas!
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.
CODEVASF. Manual de Criação de Caprinos e Ovinos. Brasília: CODEVASF, 2011. Disponível em: https://www.codevasf.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/biblioteca-geraldo-rocha/publicacoes/manuais/manual-de-criacao-de-caprinos-e-ovinos.pdf. Acesso em: 7 mar. 2023.
ROVAI, F. M. de O. Caprinocultura e ovinocultura. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional, 2017. Disponível em: http://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/201701/INTERATIVAS_2_0/CAPRINOCULTURA_E_OVINOCULTURA/U1/LIVRO_UNICO.pdf. Acesso em: 7 mar. 2023.